• Nenhum resultado encontrado

4 RETRATO JARDINEIRO

4.3 SER JARDINEIRO

Para concluirmos este capítulo, apresentamos as respostas dos jardineiros à seguinte pergunta: “O que você pode dizer pra quem quer começar a praticar a jardinagem e ser um jardineiro? Tem um conselho?”. Escolhemos concluir com estas citações ao perceber que, de maneira geral, ao aconselhar, os jardineiros destacam o que consideram relevante na própria formação. Além disso, esses conselhos retomam praticamente todos os pontos abordados nos tópicos anteriores e, juntamente com eles, serviram de base para a identificação do que entendemos como fundamental na formação de bons jardineiros, por exemplo, o que destacamos nas citações a seguir:

(...) o conselho é procurar saber as coisas, conhecer para poder você… a pessoa quer fazer um jardim em casa, ou então coisa simples em um vasinho, até na internet hoje também tu aprende tudo, até com garrafa pet faz uns jardins dependurados na parede, comprar terra, terra boa, ter a terra boa também é muito bom. (...) A habilidade você aprende no dia a dia mesmo (...). (Alan, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) se dedique mesmo, porque é muito interessante, muito bom e eu experimentei assim, no caso aqui. Muita gente vem para cá para começar por aqui, aqui é um lugar muito bom para se começar, tem bastante pessoas antigas que tem muita experiência, não falo nem de mim, tem pessoas que tem muita mais tempo do que eu aqui dentro. É uma área muito interessante, muito bom você trabalhar com a natureza. (Aldir, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) se dedicar mesmo, é procurar as pessoas que sabem, ler um pouco sobre, porque, tem livros de Burle Marx… vem pro sítio fazer estágio, pede à direção, faz um estágio nem que seja voluntário, acho que o pessoal que está aí ainda tem bastante coisa para passar e deve se passar, o que aprendeu com Burle Marx. Porque o que aprendeu com ele, só quem aprendeu para poder passar, então a hora é agora, aprender e passar para outros. É um belo trabalho, deve continuar. Procurar saber como Burle Marx trabalhava e tentar trabalhar como ele trabalhou. (Carlos, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) o primeiro aspecto é a pessoa ter consciência da responsabilidade que ele tem com a planta, outro, ela depende da gente, depende e vai beneficiar, e você vai amar, porque ela vai te beneficiar em tudo. (...) Vamos supor, você vai montar uma firma de jardim para ganhar dinheiro, a pessoa tem que ter em mente que é daquela planta que você vai sobreviver (...) Você vai ter que lidar com ela porque ela que vai trazer o rendimento para você, independente do benefício que você vai ter nesse sentido, [há também o] benefício de saúde, de vida, de oxigênio, o benefício que ela vai trazer em si em forma de vida. Então o ponto prioritário é a pessoa aprender a amar aquilo que faz, o amor é a razão de tudo. (Delci, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) vai que é muito bonito você trabalhar com a natureza, e procura cada dia mais estudar sobre a natureza aquilo que você quer conhecer dela, e conhecer da natureza é a coisa mais linda do mundo.Isso é coisa essencial para o ser humano, então é o que eu digo, a pessoa quer ser um jardineiro, vai de braços abertos, com todo o carinho e goste daquilo que está fazendo, se não gostar, não adianta. (...). Então você tem que gostar da profissão, o jardineiro principalmente, é uma coisa que você tem que lidar com a terra, você tem que se machucar tem hora, e

muitas pessoas não gostam. Mato para eles é… olha assim: - ‘mato, isso aí…’ Mas é uma maravilha. (Elias, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) a gente tem que ensinar ele a mexer com as plantas, vai indo ele aprende. (...) para mexer em planta não precisa bicho de sete cabeças não, pega um dia, já ensina um dia, no outro dia ele já está treinado ali para plantar as plantas, limpando as plantas. (Jorge, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) tem que ter força de vontade, tem que gostar e ter força de vontade, porque a jardinagem não é muito fácil, depende de esforço físico, depende de você ter o prazer de fazer aquilo, porque você mete a mão na terra, às vezes você pega coisa indesejável: - ‘peguei numa minhoca!’ Isso tudo acontece, então é ter cuidado, prestar atenção no que está fazendo e gostar de fazer, porque se você não gostar de fazer, até o médico também faz o serviço errado (...) (José Eli, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) todas as pessoas que for trabalhar com plantas ele tem que gostar, porque é a mesma coisa é você trabalhar com animais. Vamos supor, você trabalha como uma criação de galinha, de pintos, você não pode jogar eles no chão. A mesma coisa é a planta, planta é idêntico a gente, ela sente a mesma dor que você sente também se alguém te jogar no chão, é isso aí. Então a planta, você tem que ter carinho com ela, tem pessoas que acham que a planta é (...) um monte de pedra. Pedra é que você joga aí no chão. (José Romeu, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) tem que ensinar como é que planta, a profundidade (...) depende da planta, se for de raiz mais assim ‘coisa’, você planta mais funda, mas se for planta sensível, que dá assim quase na flor da terra, tem que plantar um pouco raso, tem que ensinar que a pessoa às vezes não conhece aí planta fundo demais, aí morre. (Paulo, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) a pessoa cuidar bem da natureza, principalmente na casa dele. Vê uma árvore, vê um pai ou um filho querendo arrancar uma árvore, não deixa arrancar, plantar mais além de arrancar, não pode arrancar. (...) tratar bem a terra, principalmente a folhagem, não queima a folha, não queima nada em casa, bota tudo na terra, mistura com a terra que a folha com três meses já é um adubo muito bom, melhor que o bovino, muito bom mesmo. É uma maravilha pura. (Pedro, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

(...) o principal é você gostar, gostar, ter amor ao que você faz. Pessoa se não gosta, se você não gosta de planta, você trabalha agora mas não vai fazer bem feito, vai fazer de qualquer jeito, não vai dar certo, tem que gostar. Acho que o principal é amor à planta, você gostar do que faz, se dedicar, dedicação para você aprender. (Sinval, nformação verbal, 2017, grifo nosso)

Em virtude do que foi discutido até aqui, chegamos ao entendimento de que para se executar e manter um jardim é necessário, em síntese: conhecer as técnicas de jardinagem (plantio, irrigação, adubação etc.) e saber identificar o que cada planta precisa a fim de executar adequadamente essas técnicas. Embora isso possa parecer simples, adquirir autonomia nessas competências demanda um longo tempo de prática interessada e constante estudo, sobretudo, através da observação. Mesmo que, inicialmente, o conhecimento técnico básico seja adquirido por meio de instruções diretas, cursos, livros e afins, o domínio de como executá-las bem só é desenvolvido no campo da experimentação, observando os gestos de profissionais mais experientes, sua própria prática e principalmente, o resultado do que se faz, isto é, como as plantas respondem aos cuidados que estão recebendo. Aliás, a compreensão

da vida vegetal, de seu comportamento - conforme clima, estação, ambiente em que está inserida etc. - é resultado deste exercício contínuo de observação a partir do qual se aprende a perceber e sentir o que cada planta necessita em diferentes momentos.

Baseado nisto, podemos afirmar que para se formar um bom jardineiro, é necessário, basicamente: lhe oferecer acesso a materiais de estudo (livros, cursos e afins); convívio com profissionais mais experientes e, principalmente, condições para que ele pratique o ofício, exercite sua observação e, assim, desenvolva percepção e sensibilidade para compreender as plantas. De forma complementar, para se tornar um bom jardineiro, além do interesse, é preciso dedicar-se à jardinagem por um longo período de tempo. Quanto maior o amor pelo que faz, mais fácil é ter essa dedicação. Todos os entrevistados destacam que para ser jardineiro é preciso, primeiro, amar o ofício. Todavia, entendemos que este amor é mais uma consequência de uma boa prática do que um pré-requisito. O Aldir, por exemplo, não se interessava pela jardinagem e se tornou jardineiro pela necessidade, mas com o tempo ele aprendeu a gostar do que faz.

Na verdade, pela análise feita, percebemos que a afinidade inicial pelas plantas e pela jardinagem favorecem uma boa prática e esta, por sua vez, é a base da relação afetiva que o jardineiro estabelece com seu ofício, com o jardim, com as espécies das quais cuida. O amor ao que fazem é uma consequência da consciência que adquirem a respeito dos benefícios da natureza, de sua importância para a manutenção da vida de forma geral e também para o bem- estar e, sobretudo, consciência dos efeitos de seus gestos sobre a natureza, a qual gera um senso de responsabilidade e, ao mesmo tempo, de satisfação em contribuir para conservação da natureza e todos os benefícios associados a ela: vida, bem-estar, beleza etc. Por fim, chegamos a conclusão de que uma boa prática gera amor ao ofício e consequentemente, todo bom jardineiro ama o que faz porque é consciente do valor da vida que torna as plantas tão parecidas com o ser humano: capazes de sentir e necessitadas de atenção e carinho.