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Jeitos e trejeitos de buscar se aproximar da maturidade

No documento A prática teorizada e a teoria praticada (páginas 65-69)

Para dar conta desse propósito, realizamos uma pesquisa- ação com um grupo de 19 mulheres, com idades entre 42 e 77 anos (média de 56 anos de idade). Esclarecemos que a cha- mada para este projeto alertou que as pessoas tivessem idade cronológica a partir de 45 anos. Entretanto, desde já é impor- tante salientar que não enten-

demos que as fases da vida são determinadas cronologicamen- te, mas para delimitar o pú- blico-alvo e o foco de pesqui- sa foi necessária a definição da idade.

Com esse grupo, realiza- mos intervenções duas vezes por semana, durante uma hora cada sessão, no período de março a julho de 2006. Nas aulas-encontro, abordamos diferentes e variados conteú- dos, como ginástica, dança, caminhada, massagem, yôga, meditação, capoeira, futebol, artes circenses e brincadeiras.

Destacamos fundamentalmente que estes conteúdos foram trabalhados sob uma nova perspectiva, ou seja, buscamos re-significar essas práticas corporais a partir da compreen- são de interesses, condições e necessidades da etapa da vida

chamada maturidade2.

Além das práticas dos conteúdos, as aulas-encontro se constituíram como um espaço para a reflexão e problematização de questões referentes à maturidade. Vale salientar que dois dos objetivos do subprojeto de pesquisa “Prá- ticas Corporais na Maturidade” eram: I) construir um entendi- mento acerca do corpo na maturidade como merecedor de cuidado, sob a perspectiva do “cuidar de si” como atitude res- ponsável diante do mundo, em contraponto à idéia de culto ao corpo; e II) problematizar as concepções de maturidade/velhi- ce ou amadurecimento/envelhecimento, em relação às trans- formações que ocorrem no corpo nessa etapa da vida, sob o viés da superação da idéia de busca pela imagem de juventude disseminada cotidianamente pelos meios de comunicação.

Sendo assim, a fim de atender a esses objetivos, utiliza- mos alguns instrumentos para coleta de dados. O primeiro de- les foi um questionário inicial composto por dados sócio-eco- nômicos, questões acerca dos hábitos de vida e pessoais, além de expectativas com relação ao subprojeto. O instrumento vi- sou realizar uma anamnese e traçar o perfil do grupo, identifi- cando características, expectativas e motivos que os levaram a buscar o projeto, além de suas experiências e a de seus famili- ares com relação às práticas corporais no tempo de lazer.

2 Além de estudarmos a questão da maturidade, um dos objetivos do subprojeto de pesquisa consistia em re- significar as práticas corporais voltadas para pessoas na maturidade, tanto como meio de promoção de saúde, quanto como meio de superação do interesse de conquista de modelos e estereótipos de beleza predominantes. A resposta para esse objetivo encontra-se no artigo de MELO et al. Desenferrujando as dobradiças: as práticas corporais na maturidade. In SILVA, A. M.; DAMIANI, I. (Orgs.). Práticas Corporais, v. 32. Florianópolis: Nauembeu Ciência e Arte, 2005. p. 107-127.

O questionário, do tipo aberto, foi formado por uma primeira parte, referente a dados pessoais e de nível sócio-econômico, totalizando 23 itens a serem preenchidos, e por uma segunda parte, denominada de apresentação dos participantes, com- posta por 15 questões.

Outro instrumento foi a observação direta participante, na qual, segundo Quivy & Campenhoudt (1992), o próprio pesquisador busca as informações sem se dirigir aos sujeitos interessados. Essa observação direta, realizada durante todas as aulas-encontro, considerou os seguintes aspectos: por quê, para quê, como, o quê e quem observar. Nisso, destacam-se aspectos da dinâmica de cada aula, tais como: o desenvolvi- mento das atividades (objetivos, conteúdos e encaminhamen- tos), as relações interpessoais, o comportamento dos partici- pantes, as possíveis aprendizagens e dificuldades e as condi- ções de experiência desenvolvidas no decorrer das aulas-en- contro, além de aspectos gerais.

Essas informações foram, diariamente, registradas em um diário de campo, atentando para a necessidade de se ter fide- lidade aos fatos, sem misturá-los aos nossos desejos e avalia- ções pessoais. O registro também foi realizado por meio de fotografias, buscando momentos marcantes do grupo, postu- ras, dificuldades, etc.

Realizamos duas entrevistas coletivas semi-estruturadas, de cunho exploratório, que visaram conhecer a opinião do gru- po acerca do tema que compõe a especificidade desta pesqui- sa, a maturidade. Foram consideradas as respostas daquelas que estavam presentes nas aulas-encontro escolhidas para as dinâmicas, sendo que todas foram avisadas previamente.

Em uma das entrevistas, a dinâmica foi deflagrada a par- tir da divisão da turma em três grupos, que deveriam desenhar

em um papel pardo o contorno do corpo de alguma delas e, a partir daí, dialogar e apontar no desenho as transformações que elas identificavam em seus corpos na maturidade. Depois cada grupo apresentou o relato.

Na outra, disponibilizamos três textos, de linguagem aces- sível, que tratavam dos seguintes temas: “apenas respire”; “co- luna: eixo das emoções” e “meditação: aliada de toda hora”. Dividimos a turma também em três grupos, e cada uma esco- lheu o texto por afinidade. Após entregarmos os textos, que foram o “tesouro” encontrado numa atividade de “caça ao tesouro” desenvolvida naquela aula-encontro, pedimos uma lei- tura para a próxima aula. Chegada essa aula, entregamos três perguntas para cada grupo, que deveriam ser discutidas inter- namente para depois serem expostas no grande grupo.

Chegando próximo do final das intervenções, aplicamos um questionário composto por 15 questões, de cunho avaliativo, com o objetivo de buscar a opinião do grupo acerca do traba- lho realizado até aquele momento. Todas as alunas-pesquisadas responderam o instrumento.

Finalizado o período de intervenções, retomando os eixos norteadores da pesquisa, realizamos uma entrevista individual semi-estruturada, que visou identificar as opiniões do grupo após a vivência das atividades e a perspectiva da experiência resignificada e objetivou também acumular informações sobre as possíveis aprendizagens corporais, fruto da experiência vivenciada. Essa entrevista foi realizada com as participantes que obtiveram frequência superior à 75% nas aulas-encontro. No total, responderam o instrumento 16 alunas-pesquisadas.

Salientamos que no campo colhemos uma grande quanti- dade e qualidade de dados. As manifestações e respostas aos instrumentos de coleta culminaram em uma fonte riquíssima de

estudo sobre as práticas corporais na maturidade e outros temas relacionados. Entretanto, nesse artigo, apontamos os resultados que respondem de forma mais direta aos objetivos propostos.

No documento A prática teorizada e a teoria praticada (páginas 65-69)