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Jenevaldo Barbosa da Silva

¹Zootecnista, doutor, pesquisador da Embrapa Cerrados, jp.soares@embrapa.br

2Médico Veterinário, doutor, professor, UFRRJ,

argemirosanavria@yahoo.com.br; adivaldofonseca@yahoo.com.br

3Médico Veterinário, mestre, doutorando, FCAVJ/UNESP,

jenevaldo@hotmail.com

Introdução

O parasitismo de ruminantes constitui um dos principais entraves à pro- dução animal em pastagens em regiões tropicais, subtropicais e tam- bém em zonas temperadas, ocasionando efeitos prejudiciais como cres- cimento retardado, perturbações na fertilidade dos adultos, perdas de peso e consequente diminuição da produção de carne e leite. Honer et al. (1990) citam que os parasitos estão entre os principais fatores limi- tantes ao desempenho da produtividade de bovinos. As infecções por nematódeos gastrintestinais causam prejuízos extremamente significati- vos à criação de ruminantes. O déficit produtivo em infecções subclíni- cas acarreta o maior impacto econômico (FORBES et al., 2002). Além disso, há perdas produtivas em infecções clínicas, custos com trata- mentos e, em casos extremos, mortalidade de animais, especialmente jovens e fêmeas no periparto. As doenças parasitárias podem, ainda, forçar a seleção de animais menos susceptíveis aos parasitas em detri- mento da sua performance produtiva (MOTA et al., 2003). O controle destas infecções é, portanto, imprescindível para o sucesso dos siste- mas de produção de ruminantes. Estudos relativos aos impactos econô- micos ocasionados por ectoparasitos na América do Sul determinaram

que no Brasil as perdas foram de 2,5 milhões de cabeças de gado, o que representou a perda de 75 milhões de quilogramas de carne, 1,5 bi- lhão de litros de leite, 8,6 milhões de dólares por danos secundários e 25 milhões de dólares em acaricidas químicos para combater as infesta- ções por carrapatos (LIBERAL, 2009).

Segundo pesquisas da Embrapa Gado de Corte, quatro tipos de pragas afetam a produção animal em sistemas de criação extensiva: as vermi- noses, os carrapatos, a moscas dos chifres e o berne. Grisi et al.(2002) avaliaram os impactos econômicos das principais ectoparasitoses no Brasil e estimaram gastos anuais superiores a 2,650 bilhões de dólares, destacando-se os danos provocados pelo carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus estimados em dois bilhões de dólares por ano. A mosca Haematobia irritans e a larva da mosca Dermatobia hominis soma-ram gastos da ordem de 400 milhões de dólares.

Dentre os principais problemas parasitários vivenciados pelos produto- res de leite no Brasil, destaca-se a presença do carrapato dos bovinos

R. microplus e, consequentemente, a ocorrência das doenças do Com-

plexo Tristeza Parasitária Bovina (CTPB), que tem sido relatada pelos produtores como as principais causas de mortes e gastos com trata- mento, juntamente com processos diarreicos e as pneumonias, todas acometendo principalmente animais jovens (GRISI et al., 1997; GRISI et al., 2002). No Rio Grande do Sul, dentre as enfermidades parasitá- rias, as doenças do CTPB têm sido as maiores causas de prejuízos eco- nômicos em função da mortalidade de bovinos (ALMEIDA et al., 2006). Em Minas Gerais, a Anaplasmose tem sido considerada uma das doen- ças de maior importância e um fator limitante à criação de bezerros (RIBEIRO et al., 1983). Neste contexto, com o desenvolvimento da re- sistência dos carrapatos aos produtos químicos, tem se buscado o con- trole estratégico (FURLONG, 1993). Com o crescimento do mercado para produtos orgânicos, utilizar e desenvolver métodos alternativos pa- ra o controle do carrapato tem se tornado uma preocupação crescente como: a seleção de bovinos resistentes aos carrapatos; cultivo de pas- tagens que dificultam a sobrevivência das larvas (SUTHERST et al.,

1982); rotação de pastagens (ELDER et al., 1980); manejo de predado- res naturais, como Egretta ibis, garça-vaqueira (ALVES-BRANCO et al., 1983); uso de entomopatógenos como o fungo Beauveria bassiana (CORDOVÉS, 1997; BITTENCOURT et al., 1999); bactérias como a Ce-

decea lapagei (BRUM, 1988), fitoterápicos e homeopatia (ARENALES,

2001; ARENALES et al., 2006).

Dermatobia hominis é um díptero cujas larvas são parasitos, que têm

os bovinos como principais hospedeiros (SANAVRIA,1987). Porém, po- dem parasitar também: caninos, caprinos ovinos, felinos, suínos e rara- mente equinos, assim como o homem. O berne alimenta-se de tecidos e líquidos de seus hospedeiros, e como consequência provoca perda na produção do animal, febre, perda de peso e estragos no couro, dimi- nuindo o preço de venda. Essas larvas desenvolvem-se no tecido sub- cutâneo de animais. A principal forma de combate ao parasito tem sido feita por meio de higienização dos estábulos, manejos das fezes, além do uso de inseticidas comerciais.

No Brasil, é comum o uso de produtos químicos organofosforados, lac- tonas macrocíclicas descoberto há mais de 25 anos. Vilela et al., (2001), ao estudarem os efeitos da utilização de formulações comer- ciais tópicas a base de óleo de nim (Azadirachta indica) em infestações experimentais seriadas de Dermatobia hominis (Diptera: Cuterebridae) em bovinos, verificaram que as formulações comerciais de óleo de nim tiveram baixa eficácia no controle da evolução parasitária durante os três períodos de infestação (3, 7 e 14 dias após o tratamento) e não provo-caram modificações no desenvolvimento de D. hominis. A mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) é um díptero hematófago. Elas parasitam os bovinos 24 horas por dia, e quando suficientemente numerosas, resultam em perda de peso do animal, além da queda de produção, devido ao desconforto causado ao rebanho (METCALF; FLINT, 1962). Bezerra da Silva et al. (2009) ao avaliaram a utilização de nim (Azadirachta indica) no controle parasitário em bovinos de pro- dução leiteira em sistema orgânico. Observou-se que tanto a determi- nação da concentração do produto a ser utilizado, quanto o acompa-

nhamento das variáveis climáticas, associadas ao manejo, são essen- ciais para que se alcancem resultados satisfatórios.

Quanto às verminoses gastrintestinais, existem várias espécies de hel- mintos que afetam o sistema de produção. Assim sendo, conhecer im- portantes aspectos da epidemiologia parasitária não somente é uma questão científica, já que também nos fornece a importância da produ- ção animal e a necessidade de argumentar a importância da implanta- ção de um programa adequado para o controle da enfermidade. Sob o ponto de vista da produção, os óbitos determinados pelos parasitos são a forma mais extrema e economicamente de reduzir a produtividade (PERRY; RANDOLPH, 1990). Entretanto, as perdas ocasionadas pele di- minuição da produção de carne ou leite dos animais enfermos direta- mente ou indiretamente afetando suas crias também são muito impor- tantes.

Moya Borja (2003) cita que, para o controle do parasitismo de ruminan- tes, têm-se utilizado, quase que exclusivamente, produtos químicos de síntese; porém, o uso excessivo de tais produtos não tem resultado em melhorias significativas da produção animal. O tratamento químico con- vencionalmente empregado é de alto custo, poluente para o meio am- biente e tem seu uso restrito devido ao aparecimento do fenômeno de resistência. Lumaret (2002) descreveu os efeitos secundários dos prin- cipais antiparasitários empregados rotineiramente sobre a fauna copró- faga e sobre a degradação das fezes nas pastagens. A elevada quanti- dade de resíduos na carne e leite deve ser considerada como uma bar- reira ao comércio entre países.

O controle integrado dos nematódeos gastrointestinais nos ruminantes possui grande importância em nível internacional, uma vez que dessa forma pode-se evitar o uso indiscriminado de antihelmínticos (MICHEL et al., 1997). Tendo como objetivo principal maximizar os benefícios das aplicações com um número menor de aplicações, tornando o con- trole mais efetivo (WALLER, 1996). Além disso, para um controle inte- grado eficaz, é necessário ter um bom conhecimento da dinâmica dos parasitas no hospedeiro e levar em conta fatores ecológicos associados com a continuidade da fase exógena do ciclo evolutivo dos parasitas e sobrevivência dos estágios de vida livre na pastagem (WALLER, 1996).

Significa que o controle de pragas não se restringe apenas à utilização de tratamentos antiparasitários com quimioterapia (HERD, 1996). No Brasil, o controle integrado de parasitas gastrointestinais pouco tem acrescentado no impacto desejado sobre os produtores, uma vez que as medidas de controle praticadas são isoladas com tendências a inefi- ciências, entre os quais podem ser mencionados: a aplicação repetida de produtos, em épocas erradas e para espécies errôneas de parasitas, por vezes, respondendo a uma droga da mesma família e com o mesmo modo de ação, além do que em muitas propriedades não se realiza um manejo zootécnico adequado dos animais para realização de uma me- lhor forma do controle parasitário.

O conhecimento de aspectos epidemiológicos e de controle parasitário em sistema de criação convencional e orgânica e sua correlação com as formas de produção pecuária é fundamental para a recomendação de estratégias de controle que resultem em relação custo/benefício favorá- vel, assim como parte a identificação de predadores naturais com viabi- lidade de utilização como componente biológico no controle integrado. O objetivo deste trabalho será descrever algumas das alternativas para controle sanitário estratégico de ecto e endoparasitos em sistemas or- gânicos de produção de leite.