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BLOCO II – Enquadramento Teórico

1 Estratégias de aprendizagem e a motivação

1.3 Estratégias de aprendizagem segundo a conceção de autores de referência da

1.3.1 Jerôme Bruner (1915 2016)

Bruner defende que a aprendizagem se define como um processo ativo do sujeito, que aprende, organiza e guarda a informação recebida (Tavares & Alarcão, 1989, p. 103). A sua teoria, “discovery learning” (ensino através da descoberta), pressupõe que a aprendizagem acontece a partir de um conjunto de “(…) problemas que se levantam, expetativas que se criam, hipóteses que se avançam e verificam, descobertas que se fazem. É depois organizado em categorias e relacionado com conhecimentos previamente adquiridos e armazenados no cérebro” (Tavares & Alarcão, 1989, p. 103).

Os conteúdos aprendidos por descoberta têm o potencial de serem generalizados para as mais variadas situações, favorecendo a recuperação de informação por parte da memória, na medida em que esta informação passou a compor a estrutura cognitiva a partir de uma construção do próprio aprendiz.21

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Esta teoria contém alguns aspetos de caráter cognitivo provenientes da teoria de Piaget mas acrescenta novos fatores, como por exemplo, o contexto cultural onde se realiza a aprendizagem. Por essa razão, esta teoria também é apelidada como culturalista (Gomes, 2009).

A linguagem funciona como uma ferramenta intelectual e proporciona o pensamento, dependendo deste modo, este da primeira. Porém e ao mesmo tempo, o pensamento interage com a linguagem numa construção recíproca. Nesta perspetiva, a criança, ao ter acesso à linguagem e ao seu significado coletivo, elabora os seus universos conceptuais, de acordo com as estruturas lógicas da comunidade em que se encontra inserida. Assim, esta corrente psicopedagógica acentua o papel da cultura na formação da nossa linguagem e dos nossos pensamentos.22

A teoria de Bruner assenta em quatro princípios fundamentais para a aprendizagem: motivação, estrutura, sequência e reforço.

A motivação segundo este autor define-se em três pontos:

a) Curiosidade: Para Bruner é um dos impulsos para a aprendizagem que deve ser orientado pelo professor. No caso concreto do Ensino Artístico Especializado de música, o professor pode despertar a curiosidade no aluno através de vários procedimentos: incentivar o aluno a pesquisar novo repertório; frequentar concertos de música de estilos musicais que não sejam tão familiares; descoberta de novas técnicas de executar o instrumento, entre outros;

b) Impulso para a competência: Consiste em despertar o interesse dos alunos para executarem atividades em que estes sintam que as executam corretamente. Acontece com frequência, os professores terem necessidade de fazer uma distribuição de repertório atendendo ao nível em que o aluno se encontra no instrumento e também às capacidades do próprio aluno. Este tipo de medida é igualmente importante para o reforço da sua autoestima e também para o sucesso deste tipo de atividades;

c) Reciprocidade: Define-se essencialmente como trabalho cooperativo. Este ponto é particularmente importante no contexto do Ensino Artístico Especializado, na medida em que, por vezes, há tarefas que requerem cooperação mútua. Tarefas como ensaios em conjunto, entre os alunos, apoio dos alunos mais velhos para com os alunos menos experientes. Shinichi Suzuki (1969) foi um dos pedagogos para o ensino da música que explorou este ponto na sua metodologia23.

A estrutura é o segundo princípio onde assenta a teoria de Bruner. A estrutura consiste na forma como a informação é apresentada. A exposição da informação deverá estar adaptada ao nível de experiência da criança. Este conceito revela semelhanças com a teoria de Piaget, quando este

22 Fonte: http://ruijorgecgomes.blogs.sapo.pt/852.html 23 Ver bloco II ponto 1.4.1

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aborda os estádios de desenvolvimento. No entanto, Bruner acredita que qualquer assunto pode ser ensinado a qualquer criança independentemente do seu estádio de desenvolvimento, tudo depende da forma como a informação é apresentada (Sprinthall & Sprinthall, 1993). Bruner propõe três modos de apresentação da informação:

a) Encenativo: Consiste em apresentar a informação a partir de ações físicas. Este modo é essencial na aprendizagem do instrumento, principalmente no início da aprendizagem, dado que a partir da observação da exemplificação, o aluno poderá repetir o que foi exemplificado de forma a assimilar a informação pretendida. No contexto específico da aprendizagem do instrumento, há necessidade de recorrer a este modo independentemente do nível de experiência do aluno;

b) Icónico: Modo que recorre à apresentação da informação através de imagens ou diagramas. No ensino da música, este modo é muito utilizado como estratégia de assimilação de determinados conceitos teóricos, como ferramenta auxiliar na execução das partituras;

c) Simbólico: Neste modo, os recursos de transmissão da informação estão relacionados com o recurso à linguagem verbal e matemática. Como exemplo, na aprendizagem do instrumento e nas classes de conjunto (como orquestras ou outros ensembles instrumentais/vocais, entre outros) é muito frequente os professores recorrerem a metáforas que contribuam para a operacionalização das ideias de interpretação/caráter musical pretendidas.

Para Bruner, a sequência está relacionada com o ordenamento com que a informação é apresentada ao aluno, de forma a que ele consiga compreender. Torna-se assim importante seguir os diferentes modos de apresentação da informação pela ordem anteriormente sugerida.

O último princípio da sua teoria de aprendizagem consiste no reforço. O reforço deve funcionar como feedback que deve ser dado em tempo oportuno e ser compreendido pelo aluno (Gomes, 2009).

Para finalizar, outro conceito fundamental para Bruner é o “currículo em espiral” que consiste num “sistema que ensina às crianças os mesmos conceitos, com uma sofisticação crescente, ao longo de toda a sua escolaridade” (Sprinthall & Sprinthall, 1993, p. 320). Este conceito também é transversal ao ensino da música, na medida em que vários conteúdos irão ser abordados em diferentes níveis com graus de complexidade cada vez maior. No contexto do ensino da música, esta complexidade é demonstrada nos diferentes objetivos de cariz cognitivo e também psicomotor. Cabe ao professor motivar os alunos para a descoberta, procurando que estes compreendam e atribuam sentido aos conteúdos aprendidos (a já referida atribuição de significado pessoal do arco da aprendizagem24) e os relacionem com outros conceitos, cultivando o pensamento crítico.

24 Ver figura 8

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