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15. 1 — Aforismos racionais mecânico-físico-médicos acerca do conhecimento das causas e cura da maioria das doenças, 1787

Montpellier, Fonds Anciens, Bibliothèque Universitaire de Médecine – Tradução de Adriano Aprigliano.

AFORISMO RACIONAIS MECÂNICO-FÍSICO-MÉDICOS ACERCA DO CONHECIMENTO DAS CAUSAS E CURA DA MAIORIA DAS DOENÇAS

que, com Deus por guia e os aupícios da Mãe de Deus,

tentará defender, no mui augusto Ludovicée Medical de Montpellier, seu autor,

Joaquim-José A. Sousa Ribeiro, da cidade de São Salvador, outrora capital do Brasil, Mestre das Artes Liberais bem como aluno desta tão célebre Universidade,

Para a obtenção do grau de Baccalauréat.

Non qui multa, sed qui utilia scit, ille sapir. Sen.

[“Sabe não quem conhece muito, mas quem conhece o que é útil.” Sêneca]

Montpellier,

Junto a JEAN MARTEL, primogênito, tipógrafo usual do Rei, dos Comices d’Occitanie e da Universidade.

1787

Ao criador do mundo.

Dou-te graças porque nos espinhosos caminhos meus, 1º por Portugal, 2º pela Itália e 3º pela França, entre tantas terríveis tempestades marítimas, digo, entre tantas crises abertas e crescentes perigos, me conservaste por toda parte seguro, são, salvo e incólume: Tu então, desde a flor de minha idade, dirigiste meus trêmulos passos, conduziste-me pela mão de modo que eu me desenvolvesse na útil e quase divina ciência da Medicina.

Dou-te graças ainda porque em toda carreira de minha vida, entre tantos grandes incômodos de estultos inimigos e entre os gravíssimos perigos da amizade inútil sempre me favoreceste; enfim porque entre tantas vicissitudes das situações a que fui exposto, entre as jucundas, digo, e ingratas, boas e más, felizes e tristes, a todas estas mihi sufficisti [sic; suffecisti?] œquum, constantem, fortem, erectum; por isso, Deus onipotente, como sinal de gratidão, consagra-te estes Aforismos

o pio e devoto J. J. S. R.

AO LEITOR

Desejo pedir [rogatum concupisco] que o benévolo leitor se digne a desculpar a brevidade, visto que, se eu proferisse tudo o que aqui se devia dizer, teria que escrever não uma pequena dissertação mais todo um volume.

194 PROLEGÓMENOS

§. I.

Alguns médicos118 acreditavam que as verdadeiras [genuinas] causas das doenças provinham do súlfur, do sal e do mercúrio; alguns119, da bile, da pituíta e do ácido;

outros120 do húmido, do seco, do quente e do frio; muitos121, que derivavam da influência dos astros. Os mecânicos [mecaniscistas], enfim, reconheceram, por meio de sua ciência, a física mecânica, as sementes das doenças. Mas o divino velho, Hipócrates, e seus seguidores, como o incomparável Boerrhav [Boerhaave], o rational Fridric Hoffman, e muitos médicos de época recente foram aqueles que iluminaram o caminho [facem praferre] a esses autores. Eu, confesso, ainda estranho na experiência [hospes in experientia, “inexperiente no assunto”], mas imbuído do método mecânico-físico-médico, tentarei transmitir [ensinar] as causas das doenças em ordem sistemática bem como o tratamento delas. Enfim, nestes aforismos meus, tomo como causas das doenças (comecei grande empresa; oxalá termine bem!) os enormes excessos dietéticos [ou desvios dietéticos incomuns?], i.e., coisas [res] não naturais. Pois aquele que deseja compreender a Medicina, deve ter duplo esteio: a razão, decerto, e a experiência. Mas aquela, devido à grande dificuldade, é ainda para muitos médicos ofuscada por trevas, nebulosa e conspurcada; decerto esta razão, eu a tentarei explicar com os verdadeiros esteios na Ciência Médica.

§. II. Ovídio canta “inter utrumque tene (...) medio tutissimus ibis” [“Fica entre um e outro (...) viajarás mais seguro no meio”, Metam. II.140 e 137]. A sentença do poeta vale muito na Medicina, pois os animais se conservam sãos quando permanecem no equilíbrio apropriado; contrariamente, os extremos destróem a máquina humana.

§. III. O princípio fundamental dos mecânicos é reconhecer a fibra relaxada e tensa; e é tão fácil o método de cura [sintaxe estranha]; a esse princípio deve-se adicionar a consideração dos vícios que sobrevêm aos/com [?] os fluidos, a partir dos quais os médicos são capazes de formar indicações curativas verdadeiras [genuinas].

§. IV. As seis coisas [res] chamadas não naturais, i.e., os vícios dietéticos, geralmente ocorrem, nos mortais, complicados [somados]. Contento-me em tratar de cinco apenas, como os [vícios] simples, com o mesmo número de [vícios] opostos, pois as afecções do ânimo são alheias aos mecânicos.

§. V. Pelo AR frio os humores se tornam muriáticos. Demonstração: o sangue, no inverno, e ingualmente todos os líquidos, conservam-se dentro ou fora do corpo pelo sal aéreo atmosférico; contraem natureza muriática; logo, se pecarem em excesso, [ocorre] a doença.

§. VI. Também pelo a AR frio os sólidos se tornam rígidos. Demonstração: os homens e os jovens são mais robustos na região setentrional que os austrais; logo, etc.

§. VII. Essas fibras e humores são curados por mucilagens e malváceos, gomados e banhos mornos.

§. VIII. Pela FOME os humores se tornam para a pobreza [?]. Demonstração: pela fome, digo, perecem as partículas gelatinosas dos humores.

118 Os herméticos.

119 Os Sylvios [?, seguidores de Jacobi Silvii/Jacobus Sylvius (1478-1555) ou de Francisci Sylvii/Franciscus Sylvius (1614-1672)].

120 Os galênicos.

121 Pappen.

195

§. IX. Pela FOME, os sólidos se tornam finos [?] [gracilia]. Demonstração: os pobres têm músculos no lugar das membranas sem os humores [?].

§. X. Essas fibras e humores são curados por sopas/caldos bem gordos [saginati = saginatis?], que estão cheios de doce moleza [qui dulci turget mollitie, turgent ?].

§. XI. Pelo MOVIMENTO os fluidos se tornam flogísticos. Demonstração: se os homens, ao caminhar, fizerem exercícios imoderados, os humores gradualmente se tornam flogísticos.

§. XII. Pelo MOVIMENTO os sólidos se tornam mais tenazes. Demonstração: o corpo dos operários se torna mais tenaz pelo movimento; cotidianamente vemos com nossos próprios olhos que as mãos deles são calosas.

§. XIII. Estas fibras e humores muito bem são curados por subácidos.

§. XIV. Pelas VIGÍLIAS os fluidos se tornam acres; Demonstração: se os mortais buscarem o leito e não dormirem, é certo que o sal e o óleo dos humores se tornará áspero, por isso o humor se torna acre.

§. XV. Pelas VIGÍLIAS os sólidos se tornam macilentos. Demonstração: aquele que, trabalhando, dedicando-se às letras, revolve muita coisa durante a noite, parece macilento.

§. XVI. Estes fluidos e sólidos são curados por gordos (pinguibus), e.g., oleósos, butilaceis etc.

§. XVII. Pelas EXCREÇÕES os fluidos se tornam densos. Demonstração: o sangue é composto destes dois, i.e., soro e crúor, mas o soro sai dos vasos antes do crúor, por isso o sangue ou os fluidos do corpo vivo se tornam densos.

§. XVIII. Pelas EXCREÇÕES os sólidos se tornam ardentes (torrida?). Demonstração:

os muitíssimo libidinosos, pela atração por mulheres, se mostram ressecados e ardentes.

§. XIX. Estas fibras e humores são curadas por sopas/caldos aguados (aquosis) e frutas da estação.

§. XX. Pelo AR QUENTE os fluidos se tornam glutinosos. Demonstração: os ilustríssimos Newton & Muschenbroek [Pieter van Musschenbroek], demonstraram por meio de experiências físico-matemáticas que no verão são gerados/produzidos humores glutinosos, e contrariamente no inverno.

§. XXI. Pelo AR quente as fibras se tornam fluidas. Demostração: os homens na região austral são mais débeis/fracos que os setentrionais.

§. XXII. Estas fibras e humores são curados pelos salinos, que livra do humor glutinoso, e no Brasil costumamos temperar as carnes com sal por causa do glúten.

§. XXIII. Pelo ALIMENTO os fluidos se tornam copiosos. Demonstração: os jovens que comem muito alimento sofrem de graves hemorragias do nariz [das narinas].

§. XXIV. Pelo ALIMENTO os sólidos se tornam túrgidos. Demonstração: os que se alimentam de alimento lauto e nutriente têm fibras túrgidas, a não ser que intervenha uma vida de muito trabalho.

§. XXV. Estes sólidos e fluidos são curados com acres.

§. XXVI. Pelo REPOUSO os fuidos se tornam acídulos. Demonstração: os melancólicos e os histéricos, devido à vida sedentária, esputam saliva acídula, que colagula o leite.

§. XXVII. Pelo REPOUSO os sólidos se tornam tenros. Demonstração: os que não se movimentam apresentam sólidos mais tenros dos que aqueles que sempre se exercitam.

196

§. XXVIII. Estes fluidos e sólidos são curados pelos amargos devido a [sua]

força/propriedade tónica.

§. XXIX. Pelo SONO os fluidos se tornam oleosos. Demonstração: quem dorme muito é obeso e em (seus) humores encontra-se gordura [pinguedo].

§. XXX. Pelo SONO os sólidos se tornam gordos; Demonstração. Ex. aforismo 29.

§. XXXI. Este sólidos e fluidos são curados por estípticos/adstringentes [stipticis].

§. XXXII. Pelas RETENÇÕES os fluidos se tornam ténues/leves. Demonstração: Se tivermos supressões da urina, do vente e da perspiração, aparecem tumores e congestões em nossa máquina além das naturais.

§. XXXIII. Pelas RETENÇÕES os sólidos se tornam húmidos. Demonstração: da supressão das excreções serosas se formam hidropisias.

§. XXXIV. Este sólidos e fluidos são curados por secos.

Com ânimo ardente sustentaremos nesta segunda parte três problemas médicos:

O método de curar as causas simples da maioria das doenças, já propostas nos meus aforismos.

As virtutes, ora simples122, ora compostas, dos medicamentos123, tomadas ao sabor [?] [ex sapore petitas]; e como os Médicos, por meio da razão e da experiência, podem determinar apropriadamente as doses.

Quais são as doenças que são curadas por alguns contrários e como são estimuladas [excitentur]. [?].

FIM

ARGUMENTARAM

N. N. D. D. PROFESSORES RÉGIOS

N. D. PAUL- JOSEPH DE BARTHEZ, Chanceler & JuIz N. D. GASPAR- JEAN RENÉ, Decano.

N. D. ANTOINE GOUAN, Pró-decano.

N. D. FRANÇOIS BROUSSONET.

N. D. FRANÇOIS VIGAROUS.

N. D. JEAN SABATIER.

N. D. JEAN - CHARLES DE GRIMAUD.

N. D. HENRI LOUIS BRUN

122 Os sabores são cinco simples com seus opostos. (De modo perfeitamente semelhante aos fenómenos [?]).

123 Os purgantes e os eméticos são sabores compostos dos simples, e por se tornam nauseabundos.

197 15. 2 — A possível participação de Souza Ribeiro na Revolução do Haiti

Arquivo Nacional, GIFI, pacote 6, I, 79

Documentação não encontrada.

Referida em:

Reis, João José; Gomes, Flávio dos Santos, “Repercussions of the Haitian Revolution in Brazil, 1791-1850”, in David Patrick Geggus and Norman Fiering (eds.), The World of the Haitian Revolution, Bloomington, Indiana University Press, 2009, pp. 284–314.

198

Apêndice 16 — A Memória de Antonio Joaquim de Medeiros sobre a cauza