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Nascido no dia 19 de maio de 1929 na cidade do Rio de Janeiro, Alfredo José da Silva, ou Johnny Alf, foi iniciado no estudo do piano aos 9 anos de idade com a professora Geni Borges, através do repertório erudito. Sua formação musical foi influenciada por compositores do cinema norte americano, como George Gershwin, Cole Porter e Nat King Cole. A adoção do pseudônimo Johnny Alf ocorreu em 1949, quando frequentava um fã clube voltado à apreciação da música norte-americana no Instituto Brasil – Estados Unidos (I.B.E.U.).

Estreou profissionalmente em 1952 tocando na “Cantina do César”, restaurante do jornalista César de Alencar, e depois se estabeleceu na boate do Hotel Plaza em 1954. Segundo Menezes Bastos, “Johnny Alf, muito mais em termos da música instrumental e das harmonias ‘revolucionárias’ e melodias criadas então como cantor, transformou-se num nome simbólico de música ´moderna` no Brasil”.

Como referência do “samba-canção moderno” ou “samba pré bossa-nova” (GARCIA, 1999), a música de Johnny Alf passou a atrair espectadores interessados em sua sonoridade jazzística e na interpretação de suas composições, como Rapaz de bem, Céu e

mar ou O que é amar. Dentre os espectadores, estavam Tom Jobim, João Gilberto, Lúcio

Alves, Dick Farney, João Donato e músicos mais jovens, que interessavam-se pelo sistema de “cifra musical”, pouco comum na prática da época. (CASTRO, 1990, p. 95)

Walter Garcia (1999) reconhece que um traço estilístico da interpretação de Johnny Alf, influenciada pelo jazz, é que o acompanhamento do piano não ocorre através da repetição de um determinado padrão rítmico do início ao fim da música, pois sua função é “comentar” o canto. Neste tipo de acompanhamento, as intervenções rítmicas têm como função responder ou apoiar o discurso melódico, cantado pelo próprio pianista. Gomes (2010) define este rompimento com padrões celulares constantes como “colocações cruzadas”, o que, segundo o autor, é um procedimento oriundo dos estilos de jazz que surgiram a partir do estilo bebop. Para ele, Johnny Alf “é um dos primeiros músicos que

instaura a possibilidade de se empregar procedimentos jazzísticos sobre a matriz rítmica do samba [através de variações associadas ao paradigma do Estácio]” (GOMES, 2010, p.48), cuja referência é o primeiro registro fonográfico de Alf, realizado em 195236.

Para Bittencourt (2006), o estilo de cantar de Johnny Alf traz a influência da cantora Sarah Vaughan, onde os motivos melódicos adquirem flexibilidade rítmica irregular à métrica da composição e enfatizam as tensões dos acordes.37

Em 1955, Johnny Alf mudou-se para a cidade de São Paulo a convite de Heraldo Funaro, para inaugurar a casa noturna chamada “Baiúca”, que se transformou no “ [...] santuário de todos os músicos da cidade. Era o centro de atenção da mídia. Era a casa que tinha a aura de mostrar o que de melhor havia em termos musicais na noite paulistana”.(MARIANO, 2001p.95) Cesar Camargo Mariano também trabalhou na Baiúca de 1961 a 1963.

Meses depois, Johnny Alf foi apresentado à família de Cesar Camargo Mariano pelo contrabaixista Sabá, com quem tocava na boate Baiúca. Com o piano em casa, as reuniões musicais na casa da família se intensificaram e Cesar passou a tocar também em duo com Sabá. Foi por intermédio deste que a família recebeu o ilustre visitante, que ali fixou residência por quase oito anos, passando então a ser mais um membro da casa a contribuir com o já movimentado ambiente musical familiar.

Cesar Camargo Mariano relata um pouco de sua admiração por Johnny Alf na época:

Eu me sentava na cozinha ou na ante-sala, ou às vezes ficava lá mesmo junto do piano, no chão ou no sofá [...] vendo-o tocar, calado, por horas e horas todos os dias. Aquela entrega dele ao piano, à música, ao detalhe de sua execução, aos acordes, ao ritmo trabalhado... a maneira como se deixava possuir, tranquila, profunda... o respeito que eu percebia que ele tinha pela arte... tudo aquilo foi entrando em mim, nota por nota, sentimento por sentimento. Quando hoje penso na música e no trabalho de criá-la, seja em arranjo, composição, produção ou interpretação, sou tomado por uma sensação de reverência ao tudo aquilo que veio daquelas tardes, escutando o Johnny tocar, absorvendo seu bom gosto e seu empenho em expressá-lo em toda a integridade. (MARIANO, 2011, p. 63)

As composições de Johnny Alf fizeram parte do aprendizado musical de Cesar Camargo Mariano, sendo que muitas foram gravadas por este último. Numa relação entre “mestre e aprendiz”, as ações de Johnny Alf eram um modelo para Cesar, apesar de Johnny não se ater a aspectos técnico-musicais e pianísticos.

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Sua primeira gravação é o 78 RPM que grava pela Sinter, com as músicas “De cigarro em cigarro” (Luis Bonfá) e “Falseta”, do próprio Johnny. O disco contava ainda com Vidal no contrabaixo e Garoto ao violão.

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Ele jamais me deu conselhos, nem veio me ensinar nada, a gente só conversava sobre música e cinema [...]. Mas de maneira alguma ele pretendia ser um tutor, um mentor, nada disso. Quando se levantava para fazer ou tomar café, eu corria para o piano. Na verdade, tocava para ele ouvir, é claro. Ele jamais comentava qualquer coisa sobre esses momentos, e eu tinha até mesmo a impressão de que ele não estava sequer escutando. Hoje acho que ele fazia de propósito, para eu ter

mesmo de me esforçar, até ele prestar atenção. (MARIANO, 2011p.63)