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Parte 5 – Os telejornais da pesquisa

5.4 Jornal da Globo

Contrariando a máxima da Rede Globo que a televisão deve criar o hábito no telespectador, o Jornal da Globo não tem um horário rígido para a sua entrada. Sua duração também não é fixa: na segunda-feira, entra no ar às 23h40 e dura 35 minutos; na terça, entra às 23h20, durando os mesmos 35 minutos; quarta, pode entrar às 23h45 ou às 23h55 dependendo da atração anterior (futebol ou filme), e pode durar de 35 a 40 minutos; quinta, vai ao ar às 23h30, durando 35 minutos. Finalmente, na sexta, entra às 23h40 e dura 30 minutos. Durante a gravação do programa para coleta de material, houve dia em que o telejornal entrasse à aproximadamente 00h15 numa quarta-feira. Essas variações se devem basicamente à posição do programa dentro da grade pois, sendo uma das últimas atrações, vê incidir sobre o horário de sua entrada as conseqüências de todas as alterações imprevistas que ocorram durante a programação diária. Toda sua redação encontra-se na Central Globo de Jornalismo de São Paulo e seu editor-chefe é Erick Bretas.

5.4.1 Linha Editorial

O Jornal da Globo tem uma linha editorial mais sofisticada, equilibrando as notícias factuais com comentários e matérias mais analíticas. Erick Bretas, o editor-chefe do telejornal o definiu assim:

“As características fundamentais do jornal, eu diria que é um jornal analítico, ele prima pela análise do noticiário. Além de oferecer o noticiário propriamente dito, a gente tenta entender porquê e como as coisas estão acontecendo, além do que está acontecendo. É um jornal também que se interessa muito pelas notícias da noite.”169

Luciana Cantão, do Bom Dia Brasil acrescenta:

“O Jornal da Globo é o que tem, acho, o perfil mais parecido com o Bom Dia Brasil porque também é um jornal que pega um público qualificado, um público formador de opinião, que está voltando do trabalho, são

também muitos empresários. Então, é um jornal que tem um perfil mais ou menos parecido com o Bom Dia Brasil, embora as matérias ali sejam um pouco menores, pois eles não têm tanto tempo no ar quanto o Bom Dia Brasil. Então, eles fazem matérias mais curtas. Mas são os que têm o perfil mais parecido, de todos os quatro, são o Bom Dia Brasil e Jornal da Globo.”170

Fazem ainda parte da composição temática do telejornal a parte de esportes que, normalmente, cobre os resultados de partidas esportivas realizadas à noite e uma vigorosa seção cultural.

“O Jornal da Globo tem um editoria que a gente brinca e chama de ‘Artes e Espetáculos’ que é um nome que você empresta do jornal impresso, mas a gente dá muita matéria de música, de artistas que estão no Brasil, um artista estrangeiro que está no Brasil fazendo show ou um ritmo.”171

Por ser um telejornal analítico, o Jornal da Globo utiliza-se de reportagens de maior duração, bem como comentaristas e, mais raramente, entrevistas ao vivo. Os comentaristas fixos são Arnaldo Jabor, que faz comentários variados em um quadro gravado no Rio de Janeiro sem se prender a temas específicos, Alexandre Garcia, que comenta principalmente política em entradas de Brasília, e Carlos Alberto Sardenberg, que comenta economia em estúdio.

A linha editorial deste telejornal é marcada também pela sua posição na grade de programação, o que coloca sua entrada no ar apenas 3 horas após o encerramento do

Jornal Nacional:

“Nunca a gente repete uma notícia do Jornal Nacional. Repetir a matéria, jamais. Mas a gente tenta atualizar. Se alguns assuntos que foram cobertos pelo Jornal Nacional não estavam concluídos, então a gente dá o desfecho.(...) Então, a gente tenta atualizar as coisas que foram alvo de matéria no Jornal Nacional, mas que não estavam concluídas e, para aqueles assuntos que já estão concluídos, quando é o caso, a gente

170 Em entrevista a mim em novembro de 2006

adiciona uma dose de análise, uma visão um pouco mais profunda sobre porquê aquela notícia se deu daquele jeito.”172

Desta forma, podemos assumir que o Jornal da Globo procura atingir um público com maior grau de instrução e que baliza-se por seu horário de entrada, bom como pela busca de uma abordagem mais profunda da pauta do dia. Por fim, vale destacar que o

Jornal da Globo é o único dos jornais abordados pela pesquisa que não tem previsão do tempo.

5.4.2 Cotidiano

Por ser um telejornal com entrada próxima à meia-noite, o Jornal da Globo tem sua produção concentrada no final do dia, conforme descreve Erick Bretas:

“O dia do jornal começa por volta de 4 horas (da tarde), quando os editores começam a chegar; 16h30, a gente tem uma reunião... é uma reunião de ‘caixa’ que a gente fala por rádio e por vídeo conferência com as Globos do Brasil inteiro e com as nossas afiliadas. A gente fala com Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Salvador, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Fortaleza, São Luiz, Belém e Manaus. São todas aquelas que têm... Mais Rio, Minas (Belo Horizonte), Brasília e Recife. Essa últimas quatro são por vídeo conferência porque são as Globos. As outras são por rádio conferência. A gente termina essa reunião por volta das 17h30, às vezes até às 18h quando a gente fica discutindo pauta e, aí, a gente tem um momento inicial quando os editores conversam com os repórteres, falam o que estão pensando em relação àquela notícia, do que esperam que a matéria tenha. Às 20h15, a gente vê o Jornal Nacional para ver o que... O Jornal Nacional meio que ‘reapruma’ um pouco das nossas previsões. A gente vê exatamente o que o Jornal Nacional deu, como deu. Aí, depois do JN, a gente, normalmente,

muda de rumo algumas matérias ou pede outras e o fechamento começa pelas 21h30 e vai até a hora que o jornal entra no ar.”173

A apresentação do telejornal é realizada na redação da Central Globo de Jornalismo de São Paulo, na mesma bancada onde ocorre a apresentação do Jornal Hoje, sendo que fazem a mudança de alguns elementos de fundo para acrescentar identidade visual do jornal ao cenário.

5.4.3 Forma e Estética

A duração variada do Jornal da Globo não permite uma organização interna clara. Sobre isso falou Erick Bretas:

“Normalmente, os assuntos mais importantes, mais quentes do dia, entram no primeiro bloco. A gente dosa para que os blocos tenham um equilíbrio de notícias interessantes, mas, normalmente, no fim do jornal ficam várias notícias de cultura, de comportamento, de eventos, de festas e a gente, normalmente, coloca o factual no primeiro bloco. Mas isso não é uma regra, isso pode mudar.”174

É possível notar também que este telejornal possui uma programação visual mais próxima do Jornal Nacional, privilegiando cores mais frias, em especial o azul.

A abertura do telejornal é diferenciada dos demais, uma vez que, após um

travelling de grua pela redação acompanhado de trilha musical, entra um longo comentário feito pelos âncoras sobre uma reportagem do dia, para, só depois, seguir a escalada com as manchetes e imagens do dia separadas por uma vistosa vinheta em computação gráfica pontuada por um efeito sonoro de passagem.

173 Erick Bretas. Op. Cit.

5.4.4 Música Tema

O tema musical da Jornal da Globo é de autoria de Marcos Baroni com arranjo atual de Leonardo Matsumoto, que comentou: “No caso do Jornal da Globo, a gente procurou deixar ela um pouquinho mais eletrônica, não exagerar muito, mas dar um toquinho mais eletrônico.”175 Visão reforçada por Erick Bretas: “Eu identifiquei ali uma tendência, claramente, uma batida de drum´n bass.”176 A composição é em tom menor e possui harmonia tonal. Nos arranjos atuais, conforme descrito por Leonardo Matsumoto, foram usados metais, guitarra e baixo tocados com uma parte seqüencial e eletrônica. São quatro arranjos177.

O primeiro é utilizado na chamada do patrocinador que entra antes e depois do telejornal, e possui um andamento mais lento e uma seção rítmica mais discreta.

Antes do comentário inicial, acompanhando o traveling da câmera pelo estúdio, é usado um arranjo com um forte ataque de guitarra no primeiro tempo de cada compasso. A melodia é alterada, apenas lembrando o tema e, no final, já é apresentada a frase de assinatura antes do comentário do âncora que é feito sem trilha. Este mesmo arranjo é utilizado durante os destaques nas chamadas interblocos que, curiosamente, não fazem uso de vinheta, nem da frase de assinatura.

Após o comentário, entra a escalada com um arranjo que se inicia em um tutti para depois, durante a leitura das manchetes, cair para BG em um arranjo cíclico que, diferente dos outros telejornais analisados, possuí a melodia evidente e uma vinheta de passagem para cada uma das manchetes. A finalização do telejornal é feita com este mesmo arranjo que é executado durante os créditos finais.

Na vinheta de abertura, a música fica mais eletrônica e pesada. Há também bastante adição de pronunciados efeitos sonoros que pontuam os movimentos da computação. A música é encerrada com o tradicional tutti da frase de assinatura.

175

Em entrevista concedida a mim em dezembro de 2006 176 Em entrevista concedida a mim em fevereiro de 2006 177 Ver CD-Rom anexo

Há ainda um quarto arranjo na rápida vinheta de abertura dos blocos intermediários do telejornal que, apesar de se assemelhar ao arranjo da abertura, possui elementos mais agudos em sua instrumentação.

5.4.5 Músicas Internas

O Jornal da Globo não faz uso de vinhetas em seu corpo. Não há também a previsão do tempo. Desta forma, não há nenhuma música que componha algum quadro fixo e, assim, possa ser considerada como uma música interna do telejornal. Esta ausência parece ser compensada pelas reportagens.

5.4.6 Reportagens

Dentre os telejornais abordados nesta pesquisa, o Jornal da Globo revelou-se o de maior experimentação em termos de linguagem em conseqüência, provavelmente, do pretenso aprofundamento analítico proposto por sua linha editorial. Esse aprofundamento gera matérias maiores que acabam demandando maiores recursos audiovisuais.

“O Jornal da Globo tem um pouco mais, digamos assim, liberdade estética. Nós temos a opção de adicionar uma trilha, por exemplo.(...) Então, como a gente faz matérias maiores, é muito difícil você fazer uma matéria grande no ar sem sonorizar. (...) A matéria “embarriga” com muita facilidade. Ela é um tema que você está repetindo o tempo inteiro, então, você precisa usar a música, você precisa usar a trilha como uma coisa que vai reavivar de vez em quando o interesse do teu telespectador para aquela matéria. E porque é um jornal que experimenta um pouquinho mais os formatos.”178

A experimentação de formatos a que se refere Erick Bretas vai além da sonorização, permeando o texto das reportagens, o tratamento gráfico, vinhetagens e a edição.

5.4.7 Análise de reportagens do Jornal da Globo