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5.1. DESCOBRINDO O DISCURSO SBTISTA

5.1.1. Afetividade

5.1.1.1 Jornalismo da emissora citado na concorrência

Figura 15 - Logomarca do SBT no Jornal Nacional84

A imagem 16 mostra uma entrevista exclusiva que o jornalismo do SBT conseguiu no caso “Queiroz”85

(ex-motorista de Flávio Bolsonaro), que repercutiu em toda a mídia, permitindo que o Jornal Nacional (Rede Globo) utilizasse o conteúdo em uma edição, citando o SBT algumas vezes durante a veiculação do conteúdo.

A manifestação de afeto já fica clara com a utilização do emoji86 “apaixonado” – rosto sorridente com dois olhos em formato de coração, usado pelo enunciador para simbolizar o deslumbramento. O ícone remete à amorosidade quanto a observar a logomarca da emissora no principal telejornal do país.

A excitação também é notada pela abertura do enunciado: “Olhaaaa”. A utilização da palavra com a terminação repetida da letra “a” remete à “sonorização”

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Disponível em:<https://www.facebook.com/groups/SBTConnected/permalink/1948247221961606/>. Acesso em 10 jun. 2019.

85 O caso “Queiroz” é o nome atribuído a uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que, foi iniciada a partir divulgação de movimentações bancárias atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em dezembro de 2018. O relatório divulgado apontava

movimentações, no valor superior a 1,2 milhões de reais, em uma conta bancária de titularidade de Fabrício José Carlos Queiroz, ex-motorista e ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, filho do Presidente Jair Bolsonaro e então deputado estadual.

86 São conhecidos como “emojis” (origem japonesa “e”, imagem e “moji”, letra), imagens que transmitem a ideia de uma palavra ou frase. Também utiliza-se a expressão Emoticons (do inglês emotion (emoção) + icon (ícone), ou seja, são ícones utilizados em conversações no ciberespaço para descrever emoções).

simbólica que o enunciador quer produzir, no sentido de que aquilo que está falando/anunciando deve “ecoar” e chamar a atenção dos outros membros da comunidade.

Figura 16 – Comentários: SBT no Jornal Nacional

Os enunciatários interagem de forma irônica e sarcástica sobre o assunto, mas se referem à situação em si - a concorrente (Globo), que precisou “se render” ao conteúdo jornalístico/informativo do SBT e não com o enunciado produzido pelo membro da comunidade: “Impressão minha ou o Jornal Nacional copiou o pacote gráfico do SBT?”. Nesse comentário, fica evidente a presença de um interdiscurso, como apontado no início deste capítulo, ou seja, as trocas de sentidos interpretados de acordo com a cultura do enunciatário. Além disso, fica visível o sarcasmo, com a utilização do emoji “chorando de rir” (representando uma gargalhada exagerada) para finalizar a sua oração.

Ainda é possível perceber a surpresa de um membro (primeiro comentário da imagem 17) quando enuncia: “Nossa, falaram tanto “no SBT” [...] amei”. Aqui, nota-se um sentimentalismo, ou seja, um sentimento de afeição que se manifesta de maneira exagerada, sobre o qual foi abordado no capítulo 4, e que, também é comunicado nas campanhas institucionais da emissora. Como consequência, estão presentes também no discurso do fã.

Os comentários: “O relojinho cafona na tela da Globo. kkkkk” e “(...) o relógio ridículo foi junto kkkk” são, por um lado, uma demonstração de ironia, que é evidenciada pelo uso repetitivo das letras “k” (utilizada como transcrição do riso) e, por outro lado, uma crítica ao pacote gráfico do telejornal SBT Brasil: “cafona”, “ridículo”. Os fãs, que riem da emissora, demonstram capacidade crítica e bom

humor, ao rir de si próprios.

Silvio Santos, em 1991, em uma entrevista para o Jornal Folha de São Paulo, foi indagado quanto à programação popular e brega utilizada no SBT. A matéria buscava compreender o “auge” do sucesso da primeira versão da novela Carrossel que, conforme comentado no capítulo 4, estava a ponto de vencer “a toda poderosa” Rede Globo.

Folha: A vocação do SBT é ser uma emissora de programação popular, o vulgo brega? Silvio: Esse negócio de brega é mania que o pessoal tem com relação ao Silvio Santos, porque o Silvio Santos é brega, já nasceu brega. Então, tudo o que o Silvio Santos faz é brega. Vou continuar sendo brega. Esse estigma até me envaidece, não empobrece. Sendo brega, lançando aquilo que o público gosta, eu consigo dar emprego para mais de três mil funcionários aqui em São Paulo e a 60 afiliadas em todo o Brasil. Então, é preferível ser brega, ter uma programação popular e ter dinheiro para poder, no final do mês, pagar o salário aos funcionários (APOLINÁRIO, 1991, p. 6- 1 apud MARTINS, 2016, p. 147).

Nesse sentido, percebe-se que o dono do canal assume o “breguismo” e orgulha-se disso, pois, nas palavras dele: “o público gosta”. A partir disso, a comunidade de fãs aceita o brega como algo que faz parte da emissora, mas que não a desmerece. Todavia, percebe-se, por baixo desse discurso, que a critica só pode partir deles, ou seja, se alguém que não pertence ao circulo afetivo da comunidade de fãs criticar a emissora eles, provavelmente, vão defendê-la.

A dublagem realizada no episódio “O professor apaixonado” do seriado “Chaves”, o qual possui uma canção cantada pelos personagens “Dona Florinda” e “Professor Girafales” celebrando um amor exagerado: “Somos cafonas/ isso é conosco, sim / e nunca com ninguém mais/ somos cafonas, sim / nós aceitamos / e que nos deixem em paz”87

é trazida por Martins (2016) para complementar a postura da emissora e reforçar o sentimentalismo aflorado presente nas campanhas do SBT, como citou-se no capítulo 4.

Para o autor, no canal de Silvio Santos, ser brega ou sentimentalista não configura problema algum. Pelo contrário, potencializa o afeto e as emoções que aproximam e diferenciam a proposta de interação com o público. Nessa linha, a postura também esta presente no discurso dos fãs na rede.

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