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3. Jornalismo turístico

3.2 Jornalismo turístico na investigação em turismo

Ao lermos um jornal ou uma revista, qualquer que seja, há uma grande probabilidade de nos depararmos com algum tipo de artigo sobre viagens e lazer. Cada vez são mais as revistas especializadas assim como os artigos sobre turismo em publicações não especializadas (Fürsich & Kavoori, 2001). O jornalismo turístico tem crescido, abordando os mais diversos nichos e temas, desde montanhismo, turismo de aventura, cruzeiros, entre outros (Fürsich & Kavoori, 2001). Apesar deste crescimento, são ainda poucos os estudos sobre o jornalismo aliado ao turismo. Segundo Hanusch (2010) e Fürsich & Kavoori (2001), isso acontece porque o jornalismo de viagens é considerado soft news, ou, como o primeiro autor refere, o ‘irmão menos importante’ do jornalismo sério, que informa sobre acontecimentos importantes locais, nacionais e internacionais, ou hard news, como é chamado dentro do meio.

O facto de não haver muitos estudos sobre este género jornalístico é algo que tem intrigado os investigadores e, como tal, têm surgido teorias explicativas deste facto. Este tema tem sido considerado demasiado frívolo para ser estudado de forma séria. E isto não acontece só com o jornalismo turístico. O próprio turismo é visto como um tema pouco sério e,

entanto, o turismo e o lazer têm um lugar de destaque na vida da sociedade contemporânea. É exatamente por causa deste destaque que se deve investir no estudo do jornalismo aliado à atividade de lazer (Fürsich & Kavoori, 2001).

Atualmente, começa-se a investigar o turismo e o lazer associado à Internet e também às redes sociais. Isto acontece uma vez que as tecnologias são cada vez mais acessíveis para as pessoas, sendo poucas as que conseguem viver o seu dia-a-dia sem acesso a estas. São cada vez mais os textos que analisam o impacte das redes sociais nos destinos turísticos e nas escolhas dos mesmo por parte dos visitantes (Hudson & Thal, 2013; Lange-faria & Elliot, 2012; Leung, Law, Van Hoof, & Buhalis, 2013; Sigala, Christou, & Gretzel, 2012; Varfis & Salamoura, 2013). Junta-se o fascínio pelas redes sociais e pela Internet à queda do jornalismo como o conhecemos (Deuze, 2008), delineando-se uma ideia do porquê de não se investigar a sua relação com o turismo. Como refere Deuze (2008), “the internet makes all other types of newsmedia rather obsolete”1 (p. 1). Em simultâneo, o autor acrescenta que o jornalismo não irá acabar por causa das evoluções tecnológicas. Mais, refere ainda que todas as evoluções que se foram fazendo a nível tecnológico tornaram-se aliadas dentro das redações, facilitanto profundamente a vida aos jornalistas. Ao mesmo tempo, começou a ser exigido mais dos mesmos, aumentando os níveis de stress dos profissionais da área.

Apesar de existirem poucos estudos científicos sobre o assunto, verifica-se que existe um grande crescimento no número de artigos relacionados com lazer e turismo que aparecem em revistas especializadas ou não (Holland & Huggan, 1998). As viagens passsaram a ser mais acessíveis às pessoas. Esta democratização conduz a uma maior procura de destinos, assim como um maior interesse em escrever sobre os mesmos (Holland & Huggan, 1998). Além disso, já se tornou claro que antes de viajar, a primeira informação que se procura não é junto da indústria turística, mas sim de amigos e familiares e de revistas (Hanusch, 2010). Se há uma procura crescente por este tipo de artigos, as publicações só têm a ganhar com a sua publicação. E não é só as vendas que aumentam. As vantagens passam também pela publicidade que conseguem.

É amplamente aceite por grande parte dos autores que as matérias sobre viagens têm em si uma grande parte de publicidade (Daye, 2005; Fürsich & Kavoori, 2001; Hamid-Turksoy, Kuipers, & Zoonen, 2014; Hanusch, 2010, 2012; Mcgaurr, 2010; Santos, 2004a). Elas estão a mostrar um local ao leitor, falando sobre as suas vantagens, raramente referindo pontos negativos. A verdade é que para que estas viagens sejam divulgadas, os jornalistas são grande parte das vezes chamados pela própria indústria. Como diz Hamid-Turksoy et al. (2014), quanto maior for a secção de turismo, maior a publicidade que a publicação tem.

Assim, começa-se a ter uma ideia da importância que este tipo de jornalismo tem. Todos os dias, milhares de pessoas consomem estes artigos. E apesar disso, poucas são as investigações realizadas sobre este assunto. A explicação passa pela pouca importância dada pelos académicos por o considerarem um género inferior, que não se compara ao das hard news e que, por isso, não tão digno de atenção e de investigação. No entanto, é possível encontrar alguns (poucos) estudos sobre o assunto, dando especial destaque à importância do jornalismo para o turismo.

Para facilitar o estudo do jornalismo turístico, Hanush (2010) identificou quatro possíveis áreas ou vertentes que servem para orientar quem investiga o tema. Em primeiro lugar, identificou a dimensão cultural, na qual o investigador se foca na representação que é feita dos destinos. De seguida existe a orientação para o mercado, onde se procura perceber como é que a informação é dada e de que forma os artigos são capazes de entreter as pessoas. O aspeto motivacional também foi identificado como uma possível área de estudo. Neste caso, procura-se perceber como é que as matérias falam dos destinos – se, por um lado, tentam motivar o leitor a fazer a viagem ou se, por outro, são críticas e não incentivam. Em último lugar, também se pode estudar o jornalismo turístico na sua vertente ética, ou seja, como é que é a ligação do turismo e das redações à publicidade, e como se gere as ofertas por parte da indústria turística. Estas quatro vertentes são também usadas neste projeto.