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A comunicação social é, hoje, um produto para todos os públicos. Não só na importância de manter a simplicidade para que todos possam compreender cada assunto abordado pelos media, como também pela variedade de temáticas abordadas, todos os dias, em cada jornal, página da internet, programa de rádio ou de televisão. Tudo pode ser notícia, se tiver valor- notícia. E um público que receba a mensagem.

O mercado editorial também tem cada vez mais temas de oferta, desde que tenha um receptor interessado. O interesse pessoal do público move, aliás, um grande volume de negócios nos meios de comunicação atuais. O receptor quer escolher aquilo que quer ver, ler e ouvir, conforme os seus gostos. A forma como as audiências absorvem aquilo que recebem através dos media é estudada em vários trabalhos sobre Estudos Culturais. Num deles, sobre a receção da audiência, White escreve que “toda a cultura tem um ethos e uma visão do mundo dominante, e isso tende a se expressar, consciente ou inconscientemente, na leitura preferencial codificada pela midia. A fórmula clássica ensina que as audiências são livres para seleccionar, porém em determinadas situações que não são de sua própria escolha. O consumo de conteúdos veiculados pela mídia é determinado mais pela disponibilidade, pela oferta de programação do que pela seleção que as pessoas provavelmente gostariam de fazer” (1994, p.64).

Esta procura mais pessoal fomentou o crescimento daquilo a que chamamos de jornalismos especializados. A heterogeneidade das audiências e das atividades sociais inspiram a uma maior profundidade temática. Segundo Tavares, existem três vertentes na especialização jornalística: pode relacionar-se com meios de comunicação específicos, como a rádio, a web ou a televisão; com diferentes temáticoas, como o desporto, a cultura, a economia ou a moda, por exemplo: pode ser associada a produtos que resultam da junção entre os meios de comunicação e os temas (por exemplo, o jornalismo desportivo na rádio) (2009). Este autor acredita que, enquanto apenas houve imprensa, sempre se falou de coisas específicas, sem grande nível dr profundidade. Mas, a introdução dos outros meios de comunicação e de outras rotinas de produção noticiosa levou à necessidade de uma maior especialização. Afinal, é necessário manter o interesse do público para poder sobreviver:

nesse estágio em que as escolhas individuais prevalecem sobre o engajamento com a coletividade faz sentido que a informação procure atender às especificidades ao se dirigir aos públicos diferenciados (Abiahy, 2000, p.5).

A especialização correspondeu também a uma nova viragem na construção do jornalismo e da comunicação de massas. Na opinião de Tavares, a especialização no jornalismo é “menos uma questão de conteúdos ou de audiências, a especialização deve ser pensada também como ligada a uma nova metodologia do trabalho jornalístico, fundadora de novos produtos (no sentido de notícias e textos)” (p.118). Se o jornalismo generalista oferecia sempre os mesmos produtos, com o surgimento do jornalismo especializado criou-se a possibilidade de fugir à “mesmice” que por vezes carateriza a agenda e os conteúdos generalistas.

O jornalismo ganha assim um papel quase educativo no que toca a construir uma maior percepção sobre temáticas como a política, a economia, a ciência, o desporto, as viagens, a gastronomia ou a moda. O jornalismo tem um novo objetivo: “buscar intermediar saberes especializados na sociedade, construindo um tipo de discurso que, noticioso, ou “apenas” informacional, promova um outro tipo de conhecimento que se funde – geralmente – na compreensão conjunta do universo científico e do senso comum” (Tavares, 2009, p.123). Um nível de especialização maior no jornalismo implica, também, um maior nível de envolvimento nos temas abordados. O jornalismo especializado carateriza-se por um maior nível de profundidade, uma linguagem mais técnica e mais formal, com um texto mais criativo e livre, não sendo exigidas as normas e regras da construção da notícia no jornalismo generalista. É sim, exigida, a mesma isenção e os mesmos príncipios que regem a atividade jornalística, como a verdade e a objetividade. A missão deste jornalismo não é só divulgar a informação, mas sim divulgar conhecimento, contextualizando-o. Ao invés do jornalismo generalista, o especializado explica causas e consequências, com argumentação, documentação detalhada, revelando um nível bem mais acentuado de profundidade, mas também mais seletivo.

E no papel do jornalista, o que muda? Muda a atenção, o dominar do assunto e a preocupação em perceber que está a enviar uma informação a um público que já tem um certo nível de conhecimento sobre aquela temática, mas que quer aprender mais.

“Um jornalista especializado é antes de mais nada um jornalista entre todos os outros. Ele torna-se um jornalista diferente quando adquire um caráter seletivo, restingindo o âmbito do assunto. Este parece ser o profissional cada vez mais adequado ao futuro dos meios de comunicação a caminho da segmentação. É este profissional que, dirigindo a cobertura de determinados assuntos em função de certos públicos, poderá dar a notícia um caráter específico” (Puiatti, 2011, p.8).

Há quem defenda que o nível de especialização exigido pelo público mais atento não deve ser executado pelos jornalistas, mas sim pelos especialistas da área. Se a publicação ou o segmento do meio de comunicação é dedicado à medicina, entrão deveria ser um médico a escrever. Se for dedicada à economia, então deveria ser um economista a fazê-lo. Lage

afirma que “o trabalho do jornalista não poderia ser transferido ao especialista, pois cabe ao jornalista, como agente do público, relatar sobre as coisas do mundo com critérios do senso comum, o que não faria o especialista” (Tavares, 2009: 120). Além disso, é necessário ter ainda em conta as questões ética e deontológica da profissão jornalística, que exigem um nível de imparcialidade e de objetividade que o trabalhador da especialidade não tem. Por isso, é mais produtivo, e até económico para as redações, que seja o jornalista a especializar- se, a obter formação e experiência. Até porque o nível de crescimento em determinadas temáticas jornalísticas é alto. É aquilo a que Puiatti chama de macroespecialização, onde podemos integrar áreas como o jornalismo desportivo e o automobilismo, o jornalismo científico e, aquele que mais nos interessa, o jornalismo dedicado à moda (2011).