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O investigado José Orlando foi mencionado por executivos da CARIOCA ENGENHARIA (Rodolfo Mantuano e Roberto José Teixeira Gonçalves) como uma das pessoas responsáveis pelo recebimento da propina, chamada de “taxa de oxigênio”, por orientação de Hudson Braga. Disse Rodolfo Mantuano (fls. 266/268):

JFRJ Fls 1768

“que nesse ato, o depoente reconhece nas fotos apresentadas, as pessoas de WAGNER (FOTO 1) e JOSÉ

ORLANDO (FOTO 2); consigne-se nesse momento, que a

pessoa reconhecida por WAGNER corresponde a WAGNER JORDÃO GARCIA CPF 752115487-87, fotografia extraída do sistema INFOSEG; que a pessoa reconhecida como JOSÉ ORLANDO é JOSÉ ORLANDO RABELO, CPF 500123477-87, fotografia extraída do INFOSEG; que HUDSON BRAGA nos idos de 2010

pediu ao depoente que a Carioca pagasse essa taxa de 1 % dos valores que administrava na Secretaria de Obras do ERJ; que o próprio HUDSON chamou essa taxa de

OXIGÊNIO; que o depoente esclarece que, como diretor da Carioca, frequentava a Secretaria de Obras pelo menos uma vez por semana; que em uma dessas visitas, o depoente foi solicitado por HUDSON desse OXIGÊNIO; que nesse momento o depoente estava sozinho com HUDSON na sua sala, no antigo Banerjão; que o depoente levou esse pedido à direção da Carioca, tendo sido autorizado o pagamento do OXIGÊNIO por ROBERTO MOSCOU; que ROBERTO MOSCOU é ROBERTO JOSÉ TEIXEIRA GONÇALVES; que esclarece que esse pagamento, na verdade, nunca chegou a alcançar o valor de 1 % dos valores contratados; QUE esclarece ainda que quando levou esse assunto a ROBERTO MOSCOU, este não respondeu ao depoente de imediato, mas sim depois de um tempo; que ROBERTO MOSCOU era diretor geral, a quem o depoente estava subordinado; que reafirma que a empresa não queria pagar esse valor; que, na verdade, apenas depois de um tempo - e a contragosto - ROBERTO MOSCOU autorizou esse

pagamento; que JOSÉ ORLANDO e WAGNER

JFRJ Fls 1769

normalmente eram pagos fora da secretaria de obras, mas nas suas imediações; que ao que o depoente se lembra, pagava a WAGNER ou JOSÉ ORLANDO no carro, ali pela Nilo Peçanha; que inicialmente começou pagando ao WAGNER; QUE depois de um tempo passou a pagar a JOSÉ ORLANDO e, no final, voltou a

ser pago a WAGNER; que o depoente reafirma que, pelo que se lembra, sempre pagou esses valores no seu carro; que um deles entrava no carro, eles davam uma volta no quarteirão e entregava o dinheiro; que o depoente pode dizer que pagou esses valores, pelo menos, até o final de 2013, podendo ter se estendido até o começo de 2014; (...) que JOSÉ ORLANDO e WAGNER eram pessoas das relações operacionais do depoente, sendo estranhos às pessoas na Carioca; que talvez por isso os pagamentos eram na secretaria de obras e não na Carioca; QUE o depoente não sabe dizer quais as funções específicas de JOSÉ ORLANDO e WAGNER na secretaria de obras; que pode dizer, contudo que JOSÉ ORLANDO tinha uma sala na

secretaria e, de fato, exercia alguma função ali;” (grifei)

Em depoimento que guardou simetria com o anterior, o colaborador Roberto José Teixeira Gonçalves, também conhecido como Roberto Moscou, disse (fls. 276/277):

“Que Hudson Braga dizia que os valores pagos a

título de "oxigênio" eram para ser divididos no âmbito da Secretaria de Obras; Que não sabe dizer se, de fato, era

verdadeira a afirmação a respeito da distribuição de recursos no bojo da SEOBRAS; Que Rodolfo Mantuano era a pessoa responsável por fazer o controle do pagamento dos valores

JFRJ Fls 1770

devidos à SEOBRAS; Que José Orlando em, pelo menos,

duas oportunidades, uma delas na Sala de Hudson Braga no Palácio Guanabara, e outra no diretório de campanha do PMDB em Jacarepaguá, cuja foto do local ora junta-se, entrou com uma planilha em mãos dizendo o quanto a Carioca estava devendo de "taxa de oxigênio"; (grifei)

A relação de proximidade, ou pelo menos o intenso contato, entre os investigados José Orlando e Hudson Braga pode ser medida pela quantidade de ligações telefônicas entre ambos (627), bem como pelo volume de e-mails (238) trocados, como bem observa o MPF, o que talvez justifique a confiança depositada, ou cumplicidade, depositada por Hudson Braga no investigado José Orlando, atribuindo-lhe a função de “recebedor da propina”.

A propósito dessa tarefa (receber propina), chama atenção o teor do e-mail obtido com a quebra de sigilo antes deferida. No documento, que enviado por Hudson Braga e posteriormente respondido por José Orlando (imagem à fl. 148), adredemente intitulado de “caixinha”, o investigado Hudson Braga parece cobrar o pagamento de propinas atrasadas ao dizer:

“O prazo dos srs Esgotou hoje e nenhum de vcs dois me trouxeram nada!!!!

Eh lamentável eu ter que ficar cobrando!!!

Gostaria de inverter essa lógica!!! Não estou conseguindo mais ficar cobrando minha pressão não está ajudando!!! Foi a minha última cobrança !!”

O investigado José Orlando, outrora chefe de gabinete do então Secretário de Obras Hudson Braga, não obstante sua atual vinculação

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profissional ao gabinete do deputado estadual Jorge Picciani (imagem à fl. 149) mantém seu vínculo com o investigado Hudson Braga, pois, como se vê no e-mail apresentado em fl. 149, o mesmo segue trabalhando em favor do investigado Hudson Braga, através da empresa H. Braga Consultoria.

A atuação constante e relevante de José Orlando, como acima relatei e demonstram as várias mensagens obtidas (por ex. as mensagens de fls. 149/150.), dão uma mostra de sua importância para o funcionamento da Organização Criminosa descrita pelo Parquet Federal.

Há, portanto, fortes indícios de que esse investigado participa de muitos negócios ilícitos, em especial por determinação de Hudson Braga, estando em andamento muitos contratos e seguidas transferências bancárias supostamente irregulares, como parece em vista das mensagens obtidas.

A permanência em liberdade de José Orlando representa efetivo risco de que reiteração delituosa, seja pelos vários relatos que sugerem práticas ilícitas recentes de lavagem de dinheiro e ocultação de

patrimônio, seja pela gravidade concreta que atribuo à sua participação na

Organização Criminosa descrita, a partir de uma apreciação ainda preliminar dos elementos de prova trazidos pelo MPF. Aplicam-se aqui, outrossim, as mesmas observações que lancei a respeito do investigado Sérgio Cabral, em especial sobre a gravidade do comportamento deste

investigado contra a ordem pública. É cabível, portanto, a prisão

preventiva requerida.

Não cabe falar em substituição da medida extrema por outras cautelares menos gravosas (art. 319, CPP), pois em se tratando, em princípio, de Organização Criminosa, com a prática de vários atos e contratos fraudulentos, que provavelmente oculta registros úteis à investigação, somente a segregação imediata, aliada a outras medidas, poderia permitir a completa elucidação dos fatos.