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dos valores recebidos pela obra do PAC Favela Manguinhos: Que apresenta planilha de valores

pagos a representantes da SEOBRAS; Que não sabe nem

participou nas negociações que deram ensejo ao início dos pagamentos; Que na planilha a primeira coluna representa o valor total do contrato que era de R$ 232.009.048,29 pelo consórcio; Que no decorrer do contrato foi feito aditivo no valor de R$ 57.946.375.56; Que na última coluna há os reajustamentos, num total de R$ 22.794.153,01; Que por fim há o somatório das três colunas, totalizando R$ 312.749.576.86 recebidos pelo consórcio; Que todas as três

empreiteiras (AG, EIT e CAMTER), ao que sabe, deveriam pagar 1 % do valor total do que recebiam pelas obras; Que não tem como afirmar se EIT e CAMTER

honraram com seus compromissos; Que da parte referente

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à AG (60% do consórcio) foram pagos a título de propina o valor total de R$ 1.876.497,46;” (grifei)

Além dessa planilha, os colaboradores Alberto Quintaes e Rafael Campello forneceram o número de telefone utilizado para tratar diretamente com o investigado Wagner Jordão, o qual, de acordo com informações da operadora Nextel, pertence de fato a esse investigado.

Outras provas foram produzidas, além das declarações dos colaboradores, dentre as quais aquelas obtidas por meio do afastamento do sigilo telemático de Wagner Jordão autorizado por este Juízo. Ali foi identificada uma mensagem eletrônica, enviada por Alex Sardinha (CONSTRUTORA ORIENTE) a Wagner Garcia, em que é mencionado o faturamento de R$7.780.500,00 pela empresa e, em razão disso, seria devido o valor de R$ 77.850,00 referente à “taxa de oxigênio”.

Como bem destaca o MPF, essa relevante prova que não foi

trazida aos autos por nenhum colaborador, foi obtida durante as

investigações e comprovaria não apenas da existência da cobrança da “taxa de oxigênio” por Hudson Braga, mas que sua cobrança também se daria sobre outras importantes obras públicas contratadas no âmbito da Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro.

Além disso, a referida prova, corrobora, além das impressões iniciais do MPF acerca dos fatos ilícitos relatados pelos colaboradores, os importantes elementos de prova que foram produzidos a partir do afastamento judicial dos sigilos fiscal e bancário determinado por este Juízo. É indício veemente da razão pela qual Wagner Garcia movimentou em sua conta bancária valores incompatíveis com sua renda declarada. O investigado, a propósito, recebeu em suas contas bancárias no período de 2005 a 2016 depósitos em dinheiro no montante de

R$2.231.898,20 e, de acordo com relatório da Receita Federal (fls. 1.196),

“há indícios de movimentação financeira incompatível nos anos 2008, 2009, 2010, 2013 e 2014” em suas contas correntes. Assim, terá o

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investigado Wagner Garcia, a partir de agora, a oportunidade de esclarecer tais indícios de práticas criminosas que, por ora, perecem desfavoráveis.

No entender do órgão ministerial, as provas obtidas durante a investigação, a maioria delas mediante decisões cautelares preparatórias deferidas por este Juízo, denotam a existência de um grande esquema de ocultação e lavagem das vantagens espúrias, auferidas pelo investigado, quando exercia função pública na Secretaria Estadual de Obras e cobrava das empreiteiras a tal “taxa de oxigênio”. O órgão ministerial sustenta, e assim o faz com base em elementos obtidos das quebras dos sigilos bancário, fiscal, telemático e telefônico, que Wagner Garcia estaria lavando o dinheiro amealhado com a cobrança de propina (“taxa de oxigênio”), do mesmo modo que outros investigados.

Por fim, apenas registro por ora o relatório de inteligência do COAF nº 23764 (fls. 786/823) informa que “a empresa AWA

Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda foi objeto de comunicações de

operações financeiras de que trata a Lei 9.613/98 com valor associado total de R$ 2.075.272,00 referente a operações em espécie, dos quais R$

807.000,00 foram registrados em conta por ela titulada e o restante em contas de terceiros”. Além disso, a Receita Federal, destaca que há “indícios de omissão de rendimentos para o casal nos anos 2009, 2010, 2011, 2012, 2014 e 2015”.

Como bem observado pelo Parquet Federal, há indícios relevantes de que o investigado Wagner Garcia estaria utilizando sua

empresa (AWA CONSULTORIA E ASSESSORIA), na qual é sócio de

sua esposa Angela F S Garcia e que nunca teve nenhum empregado registrado, para ocultar e lavar dinheiro oriundo do recebimento de

propinas, fatos que, numa avaliação ainda preliminar, sugerem situação de flagrância em tais crimes, além do fato de sua relevante atuação nessa Organização Criminosa a qual, comprovados os elementos de prova

iniciais, além dos danos causados sociais por estar arraigada no seio do

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Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, é extremamente organizada e capitalizada.

Finalmente, sua permanência em liberdade representa o efetivo risco de que reiteração delituosa, seja pelos vários relatos que sugerem práticas ilícitas recentes de lavagem de dinheiro e ocultação de

patrimônio, inclusive demonstradas pela movimentação financeira atípica

revelada, seja pela gravidade concreta que atribuo à sua participação na Organização Criminosa descrita, a partir de uma apreciação ainda preliminar dos elementos de prova trazidos pelo MPF.

Aplicam-se aqui, outrossim, as mesmas observações que lancei a respeito do investigado Sérgio Cabral, em especial sobre a

gravidade do comportamento deste investigado contra a ordem pública, se confirmadas as suspeitas iniciais, até por seu vínculo com a

Secretaria Estadual de Obras do Estado do Rio de Janeiro na época dos fatos.

Não cabe falar em substituição da medida extrema por outras cautelares menos gravosas (art. 319, CPP), pois em se tratando, em princípio, de Organização Criminosa, com a prática de vários atos e contratos fraudulentos, que provavelmente oculta registros úteis à investigação, somente a segregação imediata, aliada a outras medidas, poderia permitir a completa elucidação dos fatos.