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JOSÉ DOS SANTOS PINTO: OBOÍSTA, PEDAGOGO, COMPOSITOR E MAESTRO A DESCOBRIR

Ana Margarida Brito Cardoso (Universidade de Aveiro)

Recentemente foi doado o espólio de José dos Santos Pinto (1915-2014) ao município de Mangualde e Banda de Lobelhe do Mato, facto que levou ao início do tratamento do mesmo e a uma investigação, no sentido de descobrir e posteriormente divulgar o papel deste como oboísta, pedagogo, maestro e compositor. Procura-se, com esta investigação, responder a questões como as seguintes: Que pistas nos poderão ser fornecidas pelos manuscritos deixados? Por que meios circulou? Como era visto como oboísta, compositor e chefe de orquestra? Que dinâmicas sociais poderão ser extrapoladas a partir de documentos da época? Acima de tudo revela-se importante dar a conhecer o contributo de Santos Pinto para a sociedade do seu tempo, bem como para as gerações futuras.

Palavras-Chave: José dos Santos Pinto; compositor; pedagogo; bandas filarmónicas;

instrumentistas

Introdução

Esta comunicação pretende apresentar os resultados de uma investigação pessoal iniciada aquando da doação do espólio de José dos Santos Pinto ao Município de Mangualde e à Banda de Lobelhe do Mato, localidade natal do investigado. Depois de ler uma biografia, previamente elaborada por um familiar do mesmo, e consultar o espólio deixado percebi que se tratava de um músico com uma carreira e legado musical desconhecidos, pelo que era conveniente a sua divulgação.

As questões levantadas ao longo desta reflexão são as seguintes:

a) Como é descrita/observada a atividade musical de Santos Pinto do ponto de vista do maestro, compositor, oboísta e professor?

b) Que factos sobre a atividade artística da época podemos extrapolar através deste estudo?

c) Que legado pode ter deixado como instrumentista, professor, maestro e compositor?

Importa salientar que esta pesquisa não atingiu ainda o seu término, logo existem vários factos que ainda estão por descobrir e que serão alvo de comunicações ou projetos futuros. Inicialmente, a informação disponível era bastante escassa. O espólio deixado integrava essencialmente as partituras, a biblioteca pessoal do compositor, o seu oboé e algumas palhetas; aparentemente o compositor não deixou muitos diários ou escritos e dos que deixou, alguns desapareceram.

Perante isto, era necessário recorrer a arquivos com informação referente às várias instituições por onde Santos Pinto passou, bem como contactar pessoas ligadas ao oboísta, como os seus alunos José Coutinho, Manuel Lopes da Cruz, Francisco Luís Vieira e Ricardo Lopes. Nesta pesquisa outro problema se levantou, o período de tempo que se pretendia consultar, aproximadamente as décadas de 40 a 90 do séc. XX, estavam ainda por tratar. Para além disso, não existe um estudo sistemático dos músicos das orquestras portuguesas do séc. XX.

A primeira tarefa a realizar seria a elaboração de uma nova biografia ou cronologia tendo como ponto de partida a pré-existente, procurando comprovar cada facto, de onde surgiram algumas incongruências. Como tal, procurarei transmitir primeiramente o percurso biográfico e artístico do compositor, aludindo a documentos obtidos e reflexões realizadas, abordando posteriormente as facetas de maestro, professor e compositor.

José dos Santos Pinto nasceu a 17 de Julho de 1915 em Lobelhe do Mato, freguesia do concelho de Mangualde. Iniciou os seus estudos musicais com o seu pai na banda local, onde aparentemente tocava requinta. Esta banda chegou a ser dirigida pelo seu pai e por um dos seus irmãos1.

Em 1935 Santos Pinto terá ingressado na Banda Regimental de Viseu2 ou seja, a

Banda do Regimento de Infantaria nº 14, dirigida pelo musicólogo Manuel Joaquim. Segundo o historiador viseense Alexandre Alves, este maestro tinha como objetivo incentivar músicos como Santos Pinto a investir num futuro na música. Em 1937,

1 Seia, Arquivos Particulares Ana Margarida Brito Cardoso (APAMBC), Entrevista realizada a Alda Maria

Santos Pinto, 25/VIII/14

houve uma ordem de redução de bandas militares e a Banda do Regimento nº 14 foi extinta “para desgosto do seu maestro e dos seus músicos”3.

Extinta a sua banda, Santos Pinto fez provas para o Batalhão de Caçadores nº 5, ao qual já tinha concorrido mas não teria entrado, segundo a família, por falta de vagas. Uma vez elemento do Batalhão, o oboísta muda-se aproximadamente em 1940/41 para Lisboa. Neste batalhão, José dos Santos Pinto foi louvado (1949) e agraciado com uma medalha militar4.

Santos Pinto fez também parte da Banda da Guarda Nacional Republicana (vulgo GNR), novamente não se sabe ainda a data de entrada e saída na banda, no entanto e segundo a família, terá entrado aproximadamente em 1941 e saído antes de 19755.

Sabemos sim que em 1967 ainda faria parte da mesma, ano em que a banda, dirigida por Silva Dionísio, interpretou um dos seus poemas sinfónicos, Canção da Serra. Santos Pinto era nesta altura “primeiro-sargento da banda da GNR”. Nesta banda, ganhou duas medalhas de prata, duas de ouro e dois louvores6.

Será neste ano, 1941, que Santos Pinto inicia os seus estudos no Conservatório Nacional, nas classes de instrumentos de palheta do Prof. Abílio da Conceição Meireles e composição do Prof. Jorge Croner de Vasconcelos, das quais obtém diploma. Termina também o curso complementar dos liceus7.

Santos Pinto já faria parte da Orquestra Filarmónica de Lisboa neste ano, o que não seria estranho, visto que esta orquestra foi formada em 1937 por Ivo Cruz (pai) a partir da colaboração de professores e alunos do Conservatório Nacional8 . Tanto

Santos Pinto como o seu professor faziam já parte da orquestra em 19419.

Existe a certeza de que em 1948 Santos Pinto já realizava concertos com o Quinteto Nacional de Sopro, um conjunto de música de câmara da Emissora Nacional,

3 Alexandre Alves: “Tenente Manuel Joaquim: Justa Homenagem”, Revista Beira Alta, XLIII, 1984, pp. 20-34. 4 Lisboa, Arquivos Particulares Alda Santos Pinto (APASP), documento intitulado “Prémios, condecorações e

louvores”.

5 Seia, APAMBC, Entrevistas realizada a Alda Santos Pinto, 25/VIII/14, 28/V/15. 6 Lisboa, APASP, documento intitulado “Prémios, condecorações e louvores”. 7 Cf. http://josesantospinto.blogspot.pt/ (Consultado a 12/10/15).

8 Seia, APAMBC, Entrevista realizada a José Coutinho, 15/VII/15; Cristina Fernandes: “Orquestra

Filarmónica de Lisboa”. Enciclopédia da Música em Portugal do Séc. XX, Salwa Castelo-Branco (ed.), Lisboa, Círculo de Leitores, 2001., p. 943.

9 Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, Teatro Nacional de São Carlos, Programa do Festival Coral

da qual também faziam parte: Luís Boulton ou Carlos Franco em flauta, Carlos Saraiva ou Marcos Romão em clarinete, Ângelo Pestana em fagote e Adácio Pestana em trompa10. Este quinteto colaborou assiduamente na Sociedade de Concertos SONATA,

cujo objetivo era divulgar essencialmente reportório de música de câmara contemporâneo, ainda pouco ouvido pela sociedade portuguesa e ainda estrear obras de compositores portugueses como Lopes Graça, Frederico de Freitas, entre outros.

Fazendo parte deste quinteto, supõe-se que o oboísta teria feito parte da Orquestra da Emissora Nacional, no entanto, foram encontrados documentos que provam que este apenas realizou serviços esporádicos para a orquestra, não constando o seu nome dos programas da orquestra sinfónica11. Ficam deste modo por

apurar as razões pelas quais o músico fazia parte do quinteto mas não da orquestra da Emissora, contrariamente aos seus colegas.

Em relação aos anos 1951 e 1952 não surgiram até ao momento quaisquer programas ou críticas de concerto por qualquer formação de que fazia parte Santos Pinto. Isto porque em 1951, ganhou uma bolsa do Instituto de Alta Cultura para estudar no Conservatoire Nationale de Musique em Paris, bolsa essa que lhe terá sido prolongada por mais um ano. Para além desta, a Fundação Calouste Gulbenkian teria também financiado os cursos de composição e direção de orquestra na Academie d’ Étè em Nice, bolsa que o governo francês prolongou também por mais um ano. Ou seja, tudo aponta para que Santos Pinto tenha estado em Paris e Nice durante esses dois anos. Santos Pinto diplomou no Conservatório em Paris: oboé, música de câmara, fuga, composição, direção de orquestra e direção coral. A bolsa do Instituto de Alta Cultura apenas financiava o curso de oboé, no entanto e segundo a família, Lourenço Santos Pinto (seu irmão) tê-lo-ia ajudado a frequentar os restantes cursos12.

O ano de 1953 parece ter sido um ano-chave na vida artística de Santos Pinto. Foi neste ano que terá sido iniciada a construção do oboé original de Santos Pinto, um oboé projetado pelo mesmo e fabricado pela marca Marigaux. Este instrumento tem

10 Lisboa, Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), Arquivo da Academia de Amadores de Música,

Programa do 47º Concerto SONATA (1948).

11 Lisboa, Arquivo da Rádio Televisão de Portugal (ARTP), Bobine nº 541,2 AI 2570, Queiróz, A. d’Eça

[Carta] 8 de Março de 1958, Lisboa [Para] Diretor do Conservatório Nacional; Lisboa, ARTP, Bobine nº 541,2 AI

2570, Rogeiro, Clemente [Carta] 26 de Maio de 1959, Lisboa [Para] Diretor do Conservatório Nacional. 12 Seia,

um sistema único denominado “meio-buraco automático” que, sem me prolongar em pormenores técnicos, visava essencialmente facilitar duas notas que no oboé são menos afinadas através da adaptação da posição oitavada às mesmas. Os seus alunos Lopes da Cruz, José Coutinho e Ricardo Lopes referem que essa dedilhação irregular causava uma certa dificuldade técnica ao oboísta13.

A partir de 1953 temos vários vestígios da sua atividade concertística, por exemplo, num concerto a solo com a Orquestra Filarmónica de Lisboa no Teatro Nacional de São Carlos, onde a imprensa salienta o seu regresso de Paris. Pode observar-se uma das críticas, da possível autoria de João de Freitas Branco, no Jornal O

Século de 2 de Novembro do mesmo ano, dizendo que Santos Pinto teria regressado com

notáveis progressos na sonoridade14.

Após este ano, o músico continua a realizar concertos no âmbito da sociedade de concertos SONATA, quer a solo ou com o quinteto de sopro. Destaca-se o concerto à capela realizado em 1954 na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde Santos Pinto executou “em primeira audição” as 6 Metamorfoses segundo Ovídio, de Benjamin Britten15. A crítica realça a “beleza de som” do oboísta mas também uma dicção a

melhorar16.

Santos Pinto realizou inúmeros concertos no âmbito de outra sociedade de concertos, desta vez um órgão da Emissora Nacional, a Pró-Arte. Esta foi uma criação de António Russinho, em 1952, com o objetivo de levar os concertos realizados na capital aos vários pontos do país. Terá interpretado várias obras acompanhado de pianistas como Helena Sá e Costa, Maria Vitorino, Celeste Picotto. Santos Pinto apenas poderá terá iniciado estes concertos após 1953, mais uma vez após a chegada de Paris. A sua participação nesta iniciativa é referida por Ivo Cruz (pai) no seu livro O que fiz e o que não

fiz, juntamente com a de Saúl Silva, da Orquestra da Emissora Nacional no Porto17.

13 Seia, APAMBC, Entrevista feita a Manuel Lopes da Cruz, 05/X/15; Entrevista feita a Ricardo Lopes, 11/X/15;

Entrevista feita a José Coutinho, 15/VII/15.

14 João de Freitas Branco: “Musica: São Carlos”, O Século, 6, 1953.

15 Lisboa, SNBA, Arquivo da Academia de Amadores de Música, Programa do 53º Concerto SONATA (1954). 16 Francine Benoit: “Sonata”, Diário de Lisboa, 16/I/1954; J. Blanc Portugal: “73º Concerto Sonata”, Diário da

Manhã, 14/I/1954.

Em 1954/55 Santos Pinto terá iniciado a sua carreira como professor no Conservatório Nacional, a qual só terá terminado em 1987, ou seja com 72 anos, mais dois do que seria permitido por lei18.

Em 1959, e com a Orquestra Filarmónica de Lisboa, Santos Pinto interpretou o Concerto

para Oboé e Orquestra de Mozart no Teatro Nacional de São Carlos, e em 1962

o Concerto para Oboé e Orquestra de Strauss acompanhado pela Banda Sinfónica da GNR e dirigido por Silva Dionísio19.

Santos Pinto participou nos Cursos de Férias da Costa do Sol, fundados por Manuel Ivo Cruz e Isaura Pavia de Magalhães em 1962, com o objetivo de trazer nomes do panorama musical internacional ao nosso país e desta forma promover não só a formação dos músicos, maestros e compositores portugueses, como a execução de reportório moderno. Santos Pinto terá participado em 1966 em Direção de Orquestra e em 1970 em Música de Câmara20.

À data de 1975 e segundo a família, Santos Pinto estaria ainda no Conservatório Nacional como docente, teria deixado a Banda da GNR e não integraria a recente Orquestra Sinfónica do Teatro Nacional de São Carlos, formada a partir da Orquestra Filarmónica de Lisboa, ou seja, a esta data tornar-se-ia apenas professor no conservatório e continuaria a realizar concertos pontuais. Estão ainda por apurar as razões pelas quais não integrou a recém-formada orquestra, e que terão levado a um processo interposto por Santos Pinto contra o Teatro Nacional de São Carlos21.

Santos Pinto tinha experiência e formação como maestro, tal como já referido. Dirigiu o coro da casa das beiras, assim como os alunos da classe de orquestra na Cidade Universitária em Paris, no âmbito do curso de direção que frequentava.

Em 1986, Santos Pinto dirige, no Teatro São Luiz, a Orquestra Sinfónica da RDP que interpreta o seu poema sinfónico Canção da Serra e a sua Sonata ao Espírito Clássico (em versão oboé e orquestra), tendo como solista o seu aluno Lopes da Cruz. O maestro que o terá permitido foi Silva Pereira, maestro da orquestra à data, que

18 Seia, APAMBC, Entrevista feita a Alda Santos Pinto, 25/VIII/14.

19 Mário Moreau: Teatro Nacional de São Carlos: dois séculos de história, Lisboa, Hugin, 1999, pp. 643-624. 20

Lisboa, APASP, Junta de Freguesia da Costa do Sol, Programa da Audição de Alunos do V Cursos Musicais

Internacionais da Costa do Sol (1966); Estoril, Aspecto dos Cursos Musicais Internacionais de Férias da Costa do Sol (1970).

segundo Lopes da Cruz, costumava dar esta oportunidade a músicos que tivessem escrito obras e dado provas de saber dirigir22.

Tal como já foi dito, em 1987 Santos Pinto reforma-se como professor do Conservatório Nacional e naturalmente que a sua vida artística começa a decrescer. Como oboísta os seus alunos salientam a sua bonita sonoridade e fraseado, facto que as criticas corroboram, mas evidenciam alguns problemas técnicos causados pela diferente digitação do seu oboé, assim como dificuldades pedagógicas23. Certo é que

não existiam muitos oboístas, professores de oboé, ou mesmo métodos de ensino, pelo que o autodidatismo era muitas vezes a melhor opção. Outras vezes o melhor seria concorrer a bolsas para o estrangeiro, como aconteceu com Santos Pinto, Lopes da Cruz e muitos músicos que frequentaram o Conservatório de Paris.

Após alguma pesquisa foi possível elaborar um diagrama da relação professor- aluno de oboé em Lisboa, tendo percebido que Santos Pinto em Lisboa foi um dos professores através do qual viria a brotar uma grande quantidade de oboístas de renome nos nossos dias.

No que diz respeito às obras, fazem parte do espólio: poemas sinfónicos, marchas, sonatas, concertinos, um quinteto para sopros, uma canção, um hino e uma sinfonia. Por uma questão de economia de tempo não me será possivel abordar todas as obras, pelo que me cingirei às obras programáticas e sonatas estreadas ou a estrear24.

A Canção da Serra é um tema e variações baseada numa melodia que, segundo a partitura, foi ouvida por uma “linda cachopa” que a cantava numa “pitoresca aldeia da Beira Alta”. Cada variação corresponde a um momento de um dia de romaria nessa mesma aldeia. Foi estreada pela primeira vez em 1964 pela Banda da GNR, no Quartel do Carmo, e interpretada novamente em 1967, 1971 e 1976 pela mesma banda. Em 1986, e como já foi dito, foi dirigida pelo seu compositor num concerto com a

22 Lisboa, APASP, Lisboa, Radiodifusão Portuguesa, Programa do 4º Concerto Sinfónico (1986); Seia,

APAMBC, Entrevista feita a Manuel Lopes da Cruz, 05/X/15.

23 Seia, APAMBC, Entrevista feita a Manuel Lopes da Cruz, 05/X/15; Entrevista feita a Ricardo Lopes, 11/X/15;

Entrevista feita a José Coutinho, 15/VII/15.

24 Mangualde, Espólio de José dos Santos Pinto pertencente ao Município de Mangualde e Banda de Lobelhe do

Orquestra Sinfónica da RDP25. A Aguarela Portuguesa é um trio para violino, violoncelo e

piano com o mesmo tema e estrutura da Canção da Serra.

O poema sinfónico Fátima, é também programático e segundo José Coutinho, ganhou uma menção honrosa num concurso interno no Conservatório de Paris, ou seja, pode ter sido escrita aquando da estadia do compositor nesta cidade26. Esta obra foi

interpretada duas vezes em 1986, pela Banda da PSP27, e retrata a aparição de Nossa

Senhora aos pastorinhos. Através dela podemos ver o forte caráter religioso de Santos Pinto, evidenciado também pelos seus alunos e família.

Ainda nas obras programáticas saliento a obra Quadras ao Gosto Popular, onde o compositor utiliza poemas de Fernando Pessoa com o mesmo nome. É uma obra para orquestra sinfónica com coro, que nunca foi estreada.

A Sonata em Espírito Clássico foi já editada (pela Ava Musical Editions) na sua versão para oboé e piano28, no entanto, foram também escritas versões para oboé e

orquestra, clarinete e piano e clarinete e orquestra. Tal como o nome indica é uma sonata com sonoridade e estrutura clássica, escrita em 1952, e estreada em Paris numa audição da classe de composição, da qual Santos Pinto fazia parte. Para além desta, escreveu também uma 2ª Sonata, com a mesma estrutura e instrumentação, mas com um caráter mais virtuosista.

Foi possível observar em anotações na partitura do Quinteto para Sopros,

Concertino para Clarinete e poema sinfónico Fátima, a vontade e procura de Santos Pinto

em encontrar orquestras e/ou músicos que tocassem as suas obras. Enviou ainda a partitura de Fátima para o maestro da Orquestra de Paris, Gérard Devos, para que este a apreciasse, o que constituiu a meu ver, mais uma tentativa de executar a obra29. Por várias

vezes tentou que a Orquestra da Emissora fosse a Mangualde, mas tal nunca

25 Lisboa, Arquivo da Guarda Nacional Republicana (AGNR), Concerto pela Banda de Música do Comando Geral

da Guarda Nacional Republicana (1964); Lisboa, APASP, Concerto pela Banda da Guarda Nacional Republicana

(1971); Lisboa, APASP, Concerto oferecido pela banda de música à polulação com a Colaboração da Câmara

Municipal de Lisboa (1976); Lisboa, APASP, Concerto Sinfónico (1986).

26 Seia, APAMBC, Entrevista feita a José Coutinho, 15/VII/15.

27 Lisboa, APASP, Concerto da Banda de Música da Polícia de Segurança Pública (1986); Lisboa, APASP,

Concerto pela Banda Sinfónica da PSP no Centro Pastoral Paulo VI (1986).

28 José dos Santos Pinto: Sonata em Espírito Clássico: para oboé e piano, Lisboa, Ava Musical Editions, 2015. 29 Mangualde, Biblioteca Municipal Dr. Alexandre Alves, Espólio de José dos Santos Pinto, Dévos, Gerard [Carta]

provas dessas tentativas .

Em jeito de conclusão, estes músicos (como Santos Pinto, Marcos Romão, Adácio Pestana, entre outros) não eram só músicos, mas também maestros e compositores, sendo muitas vezes apenas reconhecidos pelas suas capacidades performativas e instrumentais. Não podemos também esquecer que muitos deles, formados em bandas filarmónicas (ou militares) vieram a constituir a secção de sopros das orquestras deste tempo.

Estes músicos, na ausência de professores, métodos de ensino ou mesmo reportório “novo” e desafiante, tinham que encontrar sozinhos a melhor maneira de progredir e singrar no seu instrumento.

Estes músicos foram os professores dos muitos músicos que conhecemos hoje em dia e a meu ver, a sua obra musical e não-musical deve ser conhecida e divulgada, tal como a de tantos outros que compuseram as orquestras portuguesas durante décadas. É para esse trabalho que espero contribuir!

30 Lisboa, APASP, Associação Cultural de Azurara da Beira, [Carta] 19 de Março de 1986, Mangualde [Para]

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