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O JOVEM INSTRUÍDO NA PRÁTICA DOS SEUS DEVERES RELIGIOSOS{1)

No documento Escritos Espirituais de S.joao Bosco (páginas 94-106)

UMA PROPOSTA DE SANTIDADE JUVENIL

I. O JOVEM INSTRUÍDO NA PRÁTICA DOS SEUS DEVERES RELIGIOSOS{1)

Não é apenas um manual de orações e de devo­ ção. Dom Bosco quis apresentar “um método de vida cristã”, como diz no prólogo, um vade-mécum do jovem cristão que nele aprende a iluminar a fé e a orientar a conduta, além de rezar e cantar os louvores de Deus. O elemento mais importante para nós é vermos Dom Bosco expor a sua concepção da vida espiritual do jovem

cristão.

t

Para redigi-lo Dom Bosco, segundo o costume de então, serviu-se abundantemente da literatura, anterior e contemporânea, para os jovens, especialmente de Go- binet, reitor do colégio Duplessis em Paris (1613-1690), educador notável, impregnado do espírito de São Fran­ cisco d e,Sales: Instruction de la Jeunesse en la piété

chrétienne, tirée de TEcriture Sainte et des Saints Pères

(Paris 1655), traduzido e profusamente difundido no Piemonte; e também do Guida Angélica: pratiche istru-

zioni per la gioventü, de um sacerdote milanês (Turim

1767), inspirado também em Gobinet e na corrente 1

(1) l.“ edição, Paravia, Turim 2847, pequeno formato 8x12,5 cm, pp. 352, com o título “O jovem instruído... nos exercícios”. O enorme sucesso do manual, que somente na edição italiana (houve duas fran­ cesas) superou o milhão de cópias em vida de Dom Bosco, levou-o a aumentar e melhorar pouco por vez o conteúdo. Em 1851 enriquecia-se com uma parte apologética sobre a Igreja. A partir de 1863 era impresso no Oratório e tinha 430 páginas. A edição de 1885 terá 520 páginas. Citamos aqui a edição de 1863. O título original é “11 giováne provveduto

jesuíta que punha em relevo a figura do jovem São Luís de Gonzaga.

Servindo-se embora desse material, Dom Bosco deu ao seu manual um cunho profundamente pessoal: a simplicidade e a concretitude do estilo e o seu conceito de santidade juvenil. As linhas essenciais do seu pensa­ mento são as seguintes:

1. Não se pode conceber a vocação humana fora da perspectiva da salvação. Somos todos salvos: o Deus do amor, no seu Filho, nos chama à sua própria vida

(= graça).

2. Por conseguinte: Meus filhos, somos feitos para

a alegria!, certamente para a alegria eterna, mas tam­

bém para uma alegria presente, que se oferece agora aos meninos, aos adolescentes, aos jovens: Justamente a alegria de sentir-se filhos de Deus e de amá-lo ativa­ mente. Contrariamente ao que diz o mundo, o jugo do pecado é que é pesado, leve é o do Senhor.

3. Essa alegria invade todo o ser; pode e deve ser vivida no dia a dia de toda a vida. Conserva-se ou recu­ pera-se com a comunhão eucarística e a confissão sin­ cera. A santidade é, pois, possível também para os jovens; é até fácil, está ao alcance da mão.

4. Deus ama os jovens com particular amor. É sumamente importante corresponder a ele quanto antes, desde a juventude. As três maiores virtudes com que se exprime esse dom de si, são: o amor de Deus (ao qual se une estreitamente o amor a Maria), a obe­ diência, isto é, a confiança nos guias providenciais, e a pureza, isto é, a salvaguarda do caráter espiritual do ser, da vida, da alegria (2).

Com a graça de Deus e a própria dedicação, Dom Bosco viu esse programa encarnar-se na vida de cente­ nas dos seus meninos.

Os trechos que apresentamos são tomados da edição de 1863, a última de que temos a certeza de

(2) Cf. P. Stella, Valori spirituàli nel “Giovane Provveduio. di

haver saído das mãos de Dom Bosco (3). Serão comple­ tados com a leitura dos conselhos que Dom Bosco dava aos seus jovens na segunda parte do Regolamento

delVOratorio di San Francesco di Sales per gli estemi

e do Regolamento per le Case delia Societa di San

Francesco di Sales (4).

23. Prólogo. “A juventude”. O nosso Deus é o Deus da alegria

Dois os principais ardis de que se vale o demônio para afastar os jovens da virtude. O primeiro é fazê-los acreditar que para servir o Senhor é preciso levar uma vida triste e longe de qualquer divertimento e prazer. Não é assim, queridos jovens. Vou indicar-vos um método de vida cristã que vos torne alegres e contentes e ao mesmo tempo vos dê a conhecer quais os verda­ deiros divertimentos e os verdadeiros prazeres, de modo que possais dizer com o santo profeta Davi: sirvamos ao Senhor em santa alegria: servite Domino in laetitia. Esse o escopo deste livrinho: ensinar a servir ao Senhor sem perder a alegria.

O outro engano é dar-lhes esperança de uma vida longa e de se converterem mais tarde, na velhice ou na hora da morte. Atenção, meus filhos, porque muitos se deixaram enganar. Quem nos assegura que chega­ remos à velhice? Seria preciso firmar um pacto com a morte para que nos espere até lá: porém a vida e a morte estão nas mãos de Deus, que delas pode dispor como Lhe aprouver.

E ainda quando vos concedesse vida dilatada, ouvi o grande aviso que vos d á : o homem segue na velhice e até à morte o caminho que principiou a trilhar em sua adolescência. Adolescens juxta viam suam etiam

cum senuerit non recedet ab ea. Vale dizer que se

agora que somos jovens começamos a viver bem, sere­ mos bons quando entrados em anos, boa será a nossa

(3) Nas edições seguintes intervieram colaboradores de Dom Bosco, P. Bonetti e P. Berto. Entretanto Dom Bosco reserva a si a revisão definitiva.

(4) Podem-se ler em Braido, S. Giovanni Bosco. Scritti sul sistema

preventivo, La Scuola, Brescia 1965, pp. 379-390 e 430-452. Textos da

morte e princípio de uma felicidade eterna. Se pelo contrário deixarmos que os vícios se apoderem de nós durante a mocidade, é muito provável que assim con­ tinuemos até à morte, presságio funesto de muito infeliz eternidade. Para que tal não vos aconteça, apre­ sento-vos uma norma de vida breve e fácil, mas sufi­ ciente para que venhais a ser a consolação dos vossos pais, honra de vossa pátria, bons cidadãos na terra e depois venturosos habitantes do céu(1).

Esta pequena obra divide-se em três partes. Na primeira encontrareis o que deveis praticar e o que deveis evitar para viverdes como bons cristãos. Na segunda encontrareis as principais orações do cristão, como se rezam ordinariamente nas igrejas e casas de educação. A última contém o ofício de Nossa Senhora, vésperas do ano e o ofício dos mortos. No fim da terceira parte encontrareis um diálogo sobre os princí­ pios fundamentais da nossa santa religião católica adaptados às necessidades do tempo 1 (2), e também uma série de loas sacras.

(1) Estes primeiros parágrafos nos apresentam os dois temas fun­ damentais da catequese de Dom Bosco: o “serviço de Deus”, em que consiste a vida cristã, é fonte de alegria profunda e contínua; e a juven­ tude compromete todo o futuro: vida adulta, morte, vida eterna. O

Jovem Instruído ensina, pois, um método de vida cristã que visa a

dois escopos: dar alegria, garantir um futuro feliz, perspectivas que estão em profunda sintonia com a psicologia dos adolescentes e dos jovens. Note-se a expressão: “bons cidadãos na terra, venturosos habi­ tantes do céu”, que se tornará um dos motivos condutores de Dom Bosco: a educação cristã abrange o homem inteiro em todas as suas funções e cuida do seu bem temporal e eterno.

(2) “ O diálogo” não existia na primeira edição de 1847. As “necessidades do tempo” lembram a confusão dos espíritos e o perigo de relativismo religioso provocados pela borrasca anticlerical de 1848, particularmente pelos decretos de 17 de fevereiro e 29 de março de 1848: o rei Carlos Alberto concedia os direitos civis aos valdenses e aos judeus. Os valdenses lançaram-se então a audaciosa propaganda. Na edição do Jovem Instruído, em 1851, Dom Bosco, sempre preocupado em atender situações concretas, introduziu uma parte apologética, em forma de diálogo, sobre a verdadeira Igreja e as suas notas (parte diretamente inspirada em opúsculos que imprimira em 1850). Será depois retomada e completada duas vezes. O que nos permite salientar que Dom Bosco, sob a pressão dos acontecimentos, fará a realidade da Igreja entrar cada vez mais na sua perspectiva de santidade, e, com os teólogos do seu tempo, afirmará um tanto apressadamente que a santidade não pode florescer fora da Igreja católica.

Meus caros, eu vos amo de todo o coração, e basta que sejais jovens para que vos ame muito, e posso garantir-vos que podereis encontrar muitos livros escritos por pessoas bem mais doutas e virtuosas do que eu, mas dificilmente encontrareis quem mais do que eu vos ame em Jesus Cristo, e quem mais deseje vossa verdadeira felicidade(3). O Senhor, portanto, esteja sempre convosco e vos conceda a graça de poder- des, com a prática destes poucos conselhos, salvar as vossas almas, e assim aumentar a glória de Deus, fina­ lidade única deste livrinho.

Sede felizes, e o santo temor de Deus seja a vossa riqueza durante toda a vossa vida.

Afeiçoadíssimo em J. Cristo P. João Bosco

(3) Quando se dirige aos jovens Dom Bosco facilmente se comove, e o seu “coração” encontra as expressões mais carinhosas para mani­

festar-lhes afeto sacerdotalmente paterno. Exprime também esta verdade, para ele evidente: “Amar é querer a felicidade do outro”.

DE QUE PRECISA UM JOVEM PARA SE TORNAR VIRTUOSO <4) 5

24. Art. I. Conhecimento de Deus (5)

Erguei os olhos, queridos filhos, e contemplai tudo quanto existe no céu e na terra. Tempo houve em que o sol, a lua, as estrelas, o ar, a água, o fogo não existiam. Com a sua onipotência Deus os tirou do nada e criou, e por esse motivo se chama Criador.

Este Deus, que sempre existiu e sempre há de existir, depois de ter criado tudo o que há no céu e na terra, deu existência ao homem, a mais perfeita de todas as criaturas visíveis. De modo que os nossos olhos, os pés, a boca, a língua, os ouvidos, as mãos, tudo é dom do Senhor.

O homem se distingue de todos os outros animais especialmente porque é dotado de uma alma que pensa, raciocina e conhece o que é bem e o que é mal. Sendo puro espírito, a alma não pode morrer com o corpo, mas quando o corpo for levado à sepultura, a alma

(4) Esta secção contém seis breves “artigos” . Citamos os princi­ pais (com seus títulos) pelo interesse pastoral que apresentam. Os temas são mais interessantes que as fórmulas: estas se ressentem evidentemente do estilo religioso da época, aqueles expõem as verdades básicas da vida cristã que Dom Bosco propunha aos seus meninos.

(5) A vida cristã, que é relação com Deus, começa evidentemente com o conhecimento do Interlocutor divino. Ele é inseparavelmente “Criador onipotente” e “Pai amoroso”, de modo que todas as realidades criadas são “dons” que nos faz, e o destino preparado para o homem é a vida eterna feliz “com Ele” . É então proposta uma espiri­ tualidade da felicidade. Mas também da liberdade, ao ponto que Deus pode ser “constrangido” a não receber quem o rejeita.

começará rima nova vida que não terminará jamais. Se for virtuosa, será para sempre bem-aventurada com Deus no Paraíso, onde gozará de todos os bens por toda a eternidade; se praticar o mal, será punida com terrível castigo no inferno, onde sofrerá para sempre toda a espécie de suplícios.

Por isso convencei-vos, queridos filhos, de que todos fostes criados para o Paraíso, e Deus, pai amo­ roso, experimenta imenso desgosto quando se vê cons­ trangido a condenar alguém ao inferno.

Oh! quanto o Senhor vos ama e deseja que prati­ queis boas obras para depois vos tornardes participan­ tes da grande felicidade que Ele preparou para todos etemamente no Céu!

25. Art. II. Deus tem um amor especial à juventude Persuadidos, queridos filhos, de que todos nós fomos criados para o Paraíso, devemos encaminhar todas as nossas ações para esse grande fim. A isso deve animar-nos o prêmio que Deus nos promete e o castigo com que nos ameaça, mas o que mais que tudo nos deve atrair ao seu amor e serviço é o grande amor que Deus nos dedica(6). Porque embora ame todos os homens como obra de suas mãos, consagra todavia particular afeto aos jovens, encontrando neles suas delícias: Deliciae meae esse cum filiis hominum. Sois assim as delícias e o amor do Deus que vos criou. Ele vos ama porque ainda tendes tempo para praticar mui­

(6) Proposição que merece ser sublinhada, como de resto todo o artigo no seu conjunto. A insistência de Dom Bosco na prática das "virtudes” e na fuga dos “pecados” poderia merecer-lhe a acusação de “moralismo”, estreito até. Ao invés, é de fato uma perspectiva de “aliança” que propõe aos meninos: as virtudes são “muito mais” exi­ gência do amor de Deus para conosco e “respostas” do nosso amor com ele. E Dom Bosco insiste nisso sobretudo porque Deus tem “um amor especial aos jovens”. A citação da Escritura de Prov 8,31 (a Sabedoria criadora) é evidentemente empregada em sentido acomoda- tício. Mais significativa a lembrança da atitude de Jesus segundo o Evangelho. A conclusão é límpida: viver como cristão, é “corresponder” a esse amor, “agradar” a Deus em tudo. Outro não foi o programa de Jesus: O Pai não me deixou sozinho, porque faço sempre o que é do

tas obras boas; ama-vos porque estais ainda na idade da simplicidade, humildade e inocência, e em geral não chegastes a ser presa infeliz do inimigo infernal.

Provas de especial benevolência para com os me­ ninos deu-as também o nosso Salvador. Assegura que considera como feito a si mesmo tudo o que se fizer em benefício dos meninos.

Ameaça terrivelmente os que vos dão escândalos com palavras ou ações. Eis aqui as suas palavras: Se alguém escandalizar a algum destes pequenos que crêem em mim, melhor seria que lhe pusessem ao pes­ coço uma mó de moinho e o lançassem no mais pro­ fundo do mar. Gostava de que os meninos o seguissem, chamava-os para junto de si, abraçava-os e lhes dava sua santa bênção.

Uma vez que o Senhor tanto vos ama na idade em que vos achais, como não deve ser firme o vosso pro­ pósito de corresponder a ele, procurando fazer tudo o que fôr de seu agrado, e evitando tudo o que poderia causar-lhe desgosto?

26. Art. IV. A primeira virtude de um jovem é a obediência aos seus pais (7)

Assim como uma delicada plantinha, conquanto colocada no bom terreno de um jardim, cresce torta e

(7) É quase fora de moda hoje recomendar aos meninos a obe­ diência, sobretudo como “primeira virtude”! Mas, falando assim, Dom

Bosco não segue apenas o ensinamento tradicional do seu tempo, baseado numa “moral do dever”. Guia-o a experiência e a própria audácia da sua proposta de santidade aos jovens (cf. o final do artigo). Dois argu­ mentos se apresentam. Um natural: um jovem, no período instável da sua evolução, é fraco, volúvel, “delicada plantinha”; tem necessidade de ser “guiado”, não somente para não errar e cair, mas sobretudo para encontrar o bom caminho e trilhá-lo com segurança, ou, para empregar outra comparação, crescer harmoniosamente, desenvolver os próprios dotes, produzir frutos abundantes, até à santidade. O outro argumento apela para a fé: o próprio Cristo foi obediente; e obedecer aos guias providenciais é obedecer a Deus.

Acrescentamos dois elementos importantes que permitem não desfi­ gurar essa obediência salesiana: desenvolvendo-se num clima de mútua confiança, de franqueza e afeição, ela supõe nos educadores a vontade do “maior proveito” dos educandòs, e deixa-lhes sempre maior espaço à iniciativa pessoal. Isso aparecerá com maior evidência nas vidas de Savio e de Magone.

definha se não for cultivada ou por assim dizer guiada até certo ponto, assim vós, meus queridos filhos, haveis de pender certamente para o lado do mal se não vos deixardes guiar pelos encarregados da vossa educação. Tal guia encontrareis na pessoa dos vossos pais e dos que lhes fazem as vezes, a quem deveis obedecer com toda a exatidão. Honra teu pai e tua mãe e viverás longo tempo sobre a terra, diz o Senhor. Mas em que consiste esta honra? Consiste na obediência, no respei­ to e na assistência. Na obediência: e por isso quando vos ordenarem qualquer coisa, fazei-a prontamente sem vos mostrardes contrariados, e não sejais daqueles que encolhem os ombros, sacodem a cabeça, e o que é pior respondem com insolência. Estes fazem grande injúria, não só a seus pais, mas ao mesmo Deus, que por meio deles vos manda fazer isto ou aquilo. O nosso Salvador, embora todo-poderoso, quis ensinar-nos a obedecer submetendo-se em tudo a Nossa Senhora e a S. José, no humilde mister de carpinteiro. E para obedecer ao Pai celeste morreu por entre sofrimentos na cruz.

Deveis, do mesmo modo, ter muito respeito a vosso pai e a vossa mãe. Por isso não façais nada sem sua licença, nem vos mostreis impacientes em sua presença, nem deis a conhecer os seus defeitos. São Luís nada fazia sem licença, e na ausência dos pais pedia-a aos seus criados...

Deveis também prestar assistência a vossos pais em tudo o que necessitarem, quer com os serviços domés­ ticos que puderdes fazer, e muito mais ainda, entregan­ do-lhes todo o dinheiro, presentes, qualquer coisa que vos possa vir às mãos, empregando tudo conforme eles aconselharem. É outrossim obrigação escrita para todo jovem cristão rezar de manhã e à noite pelos seus pais, a fim de que Deus lhes conceda todos os bens espiri­ tuais e temporais.

Tudo o que vos digo a respeito de vossos pais, entende-se também a respeito de todos os vossos supe­ riores eclesiásticos ou leigos, como ainda de vossos mestres, cujos ensinamentos, conselhos e correções deveis receber com humildade e respeito, porque tudo

o que vos ordenam é para vosso maior bem, e porque a obediência que prestais a vossos superiores é como se a prestásseis a Jesus Cristo e a Maria Santíssima.

Duas coisas vos recomendo de todo o coração. A primeira é que sejais sinceros com os vossos supe­ riores, não encobrindo com mentiras as vossas faltas, e ainda menos negando-as. Dizei sempre a verdade, com franqueza; pois as mentiras nos tomam filhos do demônio, príncipe da mentira, e servem unicamente para, descoberta a verdade, serdes tidos por mentirosos e desacreditados perante vossos superiores e perante vossos companheiros. Em segundo lugar que tomeis por norma de vossa vida e de vossas ações os conselhos e advertências de vossos superiores. Felizes de vós, se assim fizerdes; os vossos dias serão venturosos, todas as vossas ações serão sempre boas e de edificação ao próximo. Concluo, portanto, dizendo-vos: o menino obediente tornar-se-á santo. O desobediente pelo con­ trário caminha por uma estrada que o levará à perda de todas as virtudes.

27. Art. VI. Leitura e palavra de Deus

Além das orações habituais da manhã e da noite, exorto-vos a que empregueis também algum tempo na leitura de algum livro que trate de coisas espirituais, como a Imitação de Jesus Cristo, a Filotéia de S. Fran­ cisco de Sales, a preparação para a morte de S. Afonso, Jesus ao coração do Jovem, vidas de Santos ou outros semelhantes(8).

(8) Colocar nas mãos dos jovens livros de “leitura espiritual” próprios para eles foi sempre uma preocupação de Dom Bosco. O

Jovem Instruído satisfazia em parte a finalidade. O fruto que esperava

era o conhecimento reflexo e o “gosto” das coisas de Deus e de uma vida generosa. As obras aqui citadas são interessantes. A Imitação de

Jesus Cristo tão apreciada por Dom Bosco (cf. acima, trecho das MO

pág. 69) era oferecida aos mais fervorosos, como atesta o cap. XIX da vida de Domingos Sávio. Seguem-se depois duas obras de que Dom Bosco sempre se serviu: a Filotéia de S. Francisco de Sales e a Prepa­

ração para a morte de S. Afonso. Jesus no coração do Jovem de

Zama Mellini era um manual de devoção amplamenle difundido então na Itália. Quanto às vidas dos Santos ou de cristãos exemplares, Dom Bosco mesmo cuidará de escrever certo número num estilo acessível aos jovens.

A leitura de trechos desses livros será de muito grande proveito para a vossa alma. Teríeis ainda mérito redobrado diante de Deus, se contásseis aos outros o que haveis lido, ou se lesseis para os outros, sobretudo para os que não sabem ler.

Assim como o nosso corpo sem alimento adoece e

No documento Escritos Espirituais de S.joao Bosco (páginas 94-106)

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