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Capítulo I: Enquadramento Teórico

1.3 Kit para Jovens

Considerando as preocupações referidas, nomeadamente, as dificuldades de envolvimento em atividades e ocupações, a Teoria dos Objetivos, como contribuição para o não abandono da intervenção (McMurran et al., 2013), e as suas dificuldades no processo de transição da adolescência para a vida adulta, o “Kit para Jovens” pode ser uma mais valia na intervenção com jovens com PP.

O “Kit para Jovens” é um instrumento recentemente criado por terapeutas ocupacionais (Stewart, 2008), que foi desenvolvido com o objetivo de auxiliar jovens com perturbações do desenvolvimento durante a transição da adolescência para a idade adulta.

Este, é uma ferramenta que promove a organização, definição de metas e autogestão (Gorter et al., 2015), auxiliando, principalmente, ao nível da organização de informações para fornecer a outros sobre si mesmo (por exemplo, dificuldades/facilidades em realizar as

tarefas na/o escola/trabalho); da obtenção de informação sobre si próprio (como boletins informativos ou avaliações de desempenho) e da organização da informação sobre si mesmo, como por exemplo, horário semanal (Freeman et al., 2015).

Este Kit está dividido em dez módulos que abordam diferentes domínios da transição da adolescência para a idade adulta, incluindo, Planear o Futuro (objetivos a curto e longo prazo); Informação Pessoal; Atividades Organizadas; Gestão Financeira; Competências de Vida e Cuidados Pessoais; Condição de Saúde; Informação Social (lista de contactos, planeamento de férias e festas, interesses); Escolar e Profissional; e Outras Importantes.

Cada módulo apresenta uma série de questões e tabelas que a pessoa deve completar com a sua informação (Freeman et al., 2015; Stewart, 2008). O módulo “Planear o Futuro”, é considerado uma secção introdutória que permite ao jovem refletir sobre as suas capacidades em relação aos restantes módulos presentes no Kit e, em seguida, encaminha-os para o processo de definição de objetivos que abarca a definição de objetivos, identificação dos passos necessários para os cumprir e reflexão sobre o que foi realizado (Gorter et al., 2015).

Segundo alguns estudos realizados com o “Kit para Jovens”, este permite, por um lado, a autodescoberta, começando a desenvolver uma compreensão mais profunda sobre si mesmo e sobre as suas capacidades, e, por conseguinte, existe o estabelecimento e, por sua vez, o alcance dos seus objetivos. Por outro lado, à medida que se preenche o Kit o terapeuta consegue fornecer um maior apoio ao jovem, uma vez que começa a descobrir as suas capacidades, sonhos para o futuro, expectativas e desejos (Freeman et al., 2015).

Deste modo, do ponto de vista de mais valias para a TO, a utilização deste “Kit para Jovens” na população de pessoas com PP, tem como benefício específico o aumento do conhecimento, por parte do terapeuta, sobre o domínio volitivo, a habituação e a capacidade de desempenho do cliente, por forma a facilitar a organização dos comportamentos ocupacionais como a escolha, manutenção e organização, para que se desenvolva ou se restaure o ciclo adaptativo (Freeman et al., 2015; Kielhofner, 2008). Mais ainda, a intervenção facilmente seguirá o pressuposto da intervenção centrada no cliente, pois é este que dirige a intervenção com o preenchimento do Kit, esperando-se um reconhecimento da necessidade e procura de mudança por parte do cliente, bem como a responsabilização para o tratamento (CAOT, 1983; Freeman et al., 2015).

Segundo a evidência, o tratamento das PP é um processo minucioso que apresenta mudanças modestas (Stone, 2007). Os sintomas podem frequentemente ser aliviados, no entanto, a personalidade é altamente resistente à mudança (Stone, 2007). Neste caso, pensa-se que, do ponto de vista do cliente, o Kit pode melhorar a perceção de qualidade de vida e

a satisfação com o suporte social bem como diminuir a ansiedade e o evitamento em situações de desempenho e interação social do jovem com PP. Segundo alguns estudos, uma intervenção baseada nas ocupações significativas e na responsabilização do cliente para o processo de intervenção, melhoram a sua perceção de qualidade de vida (Daremo, 2010;

Eklund & Leufstadius, 2007). Também o facto de participar num maior número de ocupações pode levar, consequentemente, a relacionar-se com um número maior de pessoas, existindo oportunidade para aumentar a sua rede de suporte social e fortalecer as redes existentes melhorando, dessa forma, a satisfação com o suporte social e o sentido de pertença (Larivière, 2008; Law, 2002). Também a tomada de consciência das dificuldades em relacionar-se com os outros, aquando do preenchimento do Kit, pode despoletar a procura da resolução deste problema, podendo assim melhorar a interação com a comunidade e, por conseguinte, a satisfação com o suporte social (Freeman et al., 2015; Pridmore, 2010).

Consequentemente, o envolver-se em novas ocupações, nomeadamente em atividades sociais prazerosas, melhorando as redes de suporte social e a interação com a comunidade, vai ajudar a aumentar a motivação para continuar o envolvimento em atividades, o que pode ajudar na diminuição da ansiedade e do evitamento em situações de desempenho e interação social (Gutman & Schindler, 2007; Rebeiro, Day, Semeniuk, O’Brien, & Wilson, 2001).

Segundo a bibliografia, a criação de objetivos sociais que promovem a motivação para estabelecimento de relações e, mesmo a criação de laços sociais positivos, leva à diminuição dos resultados indesejáveis, como a evitação e a ansiedade nas relações sociais (Gable, 2006).

Desta forma, o grupo de investigação, com este estudo, pretende:

1) Verificar se existem alterações ao nível da participação de jovens com PP, nomeadamente, através de um maior envolvimento em atividades e ocupações e um maior grau de funcionalidade, quando utilizado um programa baseado no “Kit para Jovens” no seu processo de intervenção.

2) Verificar se existe uma relação ao nível do envolvimento em atividades e ocupações com a perceção de qualidade de vida, perceção de suporte social e a ansiedade e evitamento em situações de desempenho e interação social em jovens com PP.

3) Verificar a perceção de jovens com PP para a adequabilidade do programa baseado no “Kit para Jovens” como processo de intervenção.

3.1) Obter informação acerca da satisfação dos participantes com o programa baseado no “Kit para Jovens”, designadamente em relação à duração do

programa, frequência das sessões, pertinência e perceção dos temas abordados, no que diz respeito à formulação e cumprimento de objetivos.

De forma a facilitar a resposta a estes objetivos formularam-se, ainda, as seguintes hipóteses:

1.1.A utilização do programa baseado no “Kit para Jovens” promove o aumento do grau de funcionalidade por parte de jovens com PP;

1.2. A utilização do programa baseado no “Kit para Jovens” promove o aumento do envolvimento em atividades e/ou ocupações por parte de jovens com PP;

2.1.O aumento do envolvimento em atividades e/ou ocupações e uma maior funcionalidade, através do programa baseado no “Kit para Jovens”, melhora a perceção de qualidade de vida de jovens com PP;

2.2.O aumento do envolvimento em atividades e/ou ocupações e uma maior funcionalidade, através do programa baseado no “Kit para Jovens” melhora a perceção de suporte social de jovens com PP;

2.3.O aumento do envolvimento em atividades e/ou ocupações e uma maior funcionalidade, através do programa baseado no “Kit para Jovens” ajuda na diminuição da ansiedade e do evitamento em situações de desempenho e interação social de jovens com PP.

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