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4. SOLIDARIEDADE NO ÂMBITO DOS JULGAMENTOS DOS PROCESSOS

4.2. JULGAMENTO DE PROCESSOS ADMINISTRATIVOS SANCIONADORES PELA

Conforme apontado anteriormente, após a emissão do relatório de ocorrência detalhando as violações à legislação de aviação civil, o agente da ANAC, deverá lavrar o auto de infração, que é o instrumento que contém a delimitação dos fatos que serão objeto de apuração no processo administrativo sancionador - PAS. Após sua instauração, o autuado é intimado para que possa apresentar suas alegações.

Conforme previsto no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal - CR/88, assegura-se aos interessados o direito ao contraditório e à ampla defesa, não só aos litigantes em processo judicial, mas também no âmbito administrativo. Referido direito também se reproduziu na Lei nº 9.784/199, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal:

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. (...)

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS

Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:

I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;

II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;

III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;

IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por força de lei.

Ainda nesse sentido, o artigo 22 da Resolução 472/2018 ANAC, afigura o direito acima mencionado, nos seguintes termos:

Art. 22. O autuado será intimado sobre todos os atos do PAS que resultem em imposição de obrigações positivas ou negativas, ônus, sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos de outra natureza, de seu interesse, especialmente sobre:

I - a lavratura de auto de infração;

II - a juntada de elementos probatórios aos autos, aptos a influenciar na decisão da autoridade competente;

III - a convalidação de vícios, na forma do art. 19, § 1º, desta Resolução; e IV - a prolação de decisão.

Após uma análise apurada das alegações e evidências apresentadas, bem como da legalidade, é emitida pela SPO a decisão administrativa seguindo uma sequência ordenada de atos, podendo o autuado interpor recurso à Assessoria de Julgamento de Autos em Segunda Instância – ASJIN, a qual compete receber, processar e julgar, em segunda instância

administrativa, os recursos interpostos das decisões administrativas exaradas pelos setores de decisão de primeira instância em processos administrativos sancionadores provenientes de infrações e providências administrativas.

No caso de decisão de sanção por multa, esta será expressa em moeda corrente, calculada a partir do valor intermediário constante das tabelas em anexo na Resolução 475/2018, salvo existência de previsão de sanção constante de legislação específica. Não ocorrendo o pagamento da multa no prazo estabelecido, seu valor será acrescido de juros, multa de mora e todos os consectários legais, calculados na forma da legislação aplicável aos créditos da União.

O artigo 295 do CBA aponta ainda a previsão de culminação da sanção de multa com suspensão de qualquer certificado quando for constatada infração grave: “Art. 295. A multa será imposta de acordo com a gravidade da infração, podendo ser acrescida da suspensão de qualquer dos certificados ou da autorização ou permissão. ”

José da Silva Pacheco (2006, p.462) ao analisar este artigo ponta que:

A gravidade, a que se refere o artigo, não deve ser subjetiva ou depender de cada aplicador, mas deve ser considerada em função de:

a) do prejuízo, risco ou perigo para o bem público ou para a segurança do voo; b) e falta por infração de norma obrigatória de tráfego aéreo ou por infração de

norma meramente recomendada;

c) de ser a primeira vez que comete a falta ou ser reincidente.

A suspensão, além de reprimir o aeronauta regulado para que, ao final do período a ser fixado de restrição do direito de sua atividade, se recomponha a legalidade de sua conduta, quer-se prevenir outras infrações por parte de outros entes regulados.

Com relação à decisão de cassação, por não haver previsão legal na legislação, não poderá haver cumulação de multa. Por sua vez, o RBAC 61 traz as seguintes passagens (negritos no original):

“61.4 Cassação de licenças e certificados de pilotos

(a) Quaisquer das licenças ou certificados de pilotos de que trata este Regulamento podem ser cassados pela ANAC se comprovado, em processo administrativo, que o respectivo titular não possui idoneidade para o exercício das prerrogativas especificadas em sua licença ou certificado.

[…]

61.13 Solicitação de licenças, certificados e/ou habilitações […]

(c) O titular de uma licença/certificado expedido em conformidade com este Regulamento, que tenha tido essa licença/certificado cassado, somente pode requerer nova licença/certificado após decorridos pelo menos 2 (dois) anos da data do ato administrativo que determinou a cassação do documento, e desde que fique comprovado que os motivos que levaram à cassação não mais existam ou não produzam mais efeito.

(d) O titular de uma licença/certificado expedido em conformidade com este Regulamento, com habilitações suspensas, não pode requerer qualquer outra licença, certificado, habilitação ou averbação de qualificação enquanto vigorar alguma suspensão.

[…]

61.17 Vigência das licenças de piloto e CPL […]

(b) As prerrogativas da licença não poderão ser exercidas se: […]

(2) o titular tiver renunciado à licença/certificado ou esta se encontre cassada, suspensa ou cancelada pela ANAC; ou

Como visto, o parágrafo RBAC 61.4(a) orienta que a inidoneidade para o exercício das prerrogativas da licença é determinante para motivar a decisão de cassação. Assim, pode- se concluir que enquanto a suspensão de licenças ou habilitações tem a ver com a limitação da atividade aeronáutica por período não superior a 180 (cento e oitenta) dias – renovável por igual período, como estabelece o artigo 296 do CBA, se ainda existentes as condições que levaram à decisão original –, a cassação de licenças ou habilitações tem um só efeito e este é de “pelo

menos” 2 (dois) anos, podendo se protrair no tempo a depender de demonstração de a motivação

para o ato não mais existir.

Conforme apontado, após a notificação da decisão, o autuado pode interpor recurso administrativo. No caso de sanção de multa, o recurso será processado na Assessoria de Julgamento de Autos em Segunda Instância – ASJIN, no caso das sanções de suspensão ou cassação, nas hipóteses previstas na Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, e na legislação complementar, com ou sem cumulação de sanção pecuniária, aplicadas pela SPO, o processo será encaminhado diretamente à Diretoria para distribuição aleatória.

O autuado pode ainda solicitar a revisão da decisão apresentando, dentro do prazo recursal, documentos que comprovem fatos novos não apresentados em sua defesa inicial, conforme estabelece o artigo 65 da Lei 9.784 que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, dita Lei do Processo Administrativo, que:

Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada.

Cumpre ressaltar que tal pedido será analisado pelo mesmo setor que proferiu a decisão administrativa, verificando, previamente os requisitos legais e regulamentares de admissibilidade. Conforme artigo 49 da Resolução 472/2018/ANAC considera-se transitada em julgado a decisão administrativa final proferida no PAS com o exaurimento das possibilidades de recurso ou pelo termo do respectivo prazo.

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