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Julgamento dos crimes dolosos contra a vida

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3.5 A INSTITUIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI NO MUNDO

3.5.2 Julgamento dos crimes dolosos contra a vida

Com efeito, é a instituição do Tribunal do Júri, por determinação da Carta Magna, competente para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, ex vi artigo 5º, XXXVIII, letras “a”, “b”, “c” e “d”.

De seu turno, no Título I da parte especial são definidos os crimes que atingem a pessoa humana em seu aspecto físico ou moral. Na Lei Penal, a tutela sobre os direitos de personalidade estão nas normas incriminadoras ali contidas, se refere aos “crimes contra pessoa”, divididos em seis capítulos: I – Dos crimes contra a vida; II – Das lesões corporais; III – Da periclitação da vida e da saúde; IV – Da rixa; V – Dos crimes contra a honra; VI – Dos crimes contra a liberdade individual. No primeiro capítulo, refere-se aos crimes contra a vida, são definidos os delitos de homicídio (art. 121), induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122), infanticídio (art. 123) e aborto (arts. 124 a 128) (MIRABETE, 2004, p. 61).

Do homicídio, que retrata a destruição do homem por outro, será tratado em tópico próprio, pois serão aqui expendidas considerações acerca dos demais

delitos que resultam morte, como o infanticídio, o aborto e o suicídio, dolosos contra a vida, a merecer tal qual o homicídio, o julgamento pelo Tribunal do Júri, além de outros, como roubo seguido de morte (art. 157, §3º), extorsão mediante morte (art. 158, §3º), extorsão mediante sequestro com resultado morte (art. 159, §3º).

3.5.2.1 Induzimento, instigação e auxílio a suicídio

Com efeito, segundo Mirabete (2004, p. 82) o suicídio é a eliminação direta da própria vida. Por razões que se prendem à impossibilidade de punição do suicídio e a política criminal não se incrimina a prática do suicídio, pois a pena não pode passar da pessoa do delinquente (art. 5º, XLV, da CF), seria impossível sua aplicação ao suicida, pois quem quer morrer não se importa com ameaça de sanção. Mesmo quanto à tentativa, o Estado renuncia à punição, que o impede de agravar com a pena alguém que busca sua morte.

Fato é, entretanto, que não se aplica pena ao suicida, mas àquele que pode ser sujeito ativo do crime, com atos de induzimento, instigação ou auxílio, a colaborar com uma causa para morte do suicida, que pode ser tida como uma forma especial do delito de homicídio; distingue-se, entretanto, na circunstancialidade de que o agente não pratica o ato consumativo da morte, que cabe à própria vítima (MIRABETE, 2004, p. 82-83).

Define-se no artigo 122 do Código Penal: “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena – reclusão de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave”.

3.5.2.2 Infanticídio

Tal delito consiste em um verdadeiro homicídio privilegiado, cometido pela mãe em detrimento do filho em condições especiais, porém é ele menos grave do que aqueles incluídos no artigo 121, §1º, que o definiu como delito autônomo e

denominação de política própria, cominando-lhe pena menor que a do homicídio privilegiado. Optou o legislador pelo sistema fisiopsicológico, apoiado no estado puerperal, de problemática influência no psiquismo da parturiente. Protege-se a vida humana do neonato ou daquele que acaba de nascer, numa transição entra a vida endo-uterina e a vida extra-uterina (MIRABETE, 2004, p. 88).

Fenômeno não bem definido, a prescindir de disposição médica, é o estado puerperal, por vezes, confundido com perturbações da saúde mental, mas há diferenciação sensível entre eles, pois se ausente o estado puerperal, responderá a mãe por homicídio, caso tenha ela anomalia mental, a pena será substituída por medida de segurança, nos termos do artigo 26, parágrafo único, do Código Penal (MIRABETE, 2004, p. 89).

A conduta típica do artigo 123 do Código Penal é matar, seja da mais variada gama, por ação ou omissão, isto é, fraturas, sufocamentos, ausência de alimentação, falta de ligadura do cordão umbilical, desde que o fato ocorre durante o parto ou logo após, sem fixação de limite de prazo, pela interpretação do julgador (MIRABETE, 2004, p. 91).

3.5.2.3 Aborto

Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção, seja do óvulo, embrião ou feto, desde que ainda não tenha nascido, pois a vida é protegida, não só ao nascituro, como a vida na integridade corporal da mulher gestante, no caso de provocação de aborto sem o seu consentimento. Diversos são os processos utilizados, como meios químicos, físicos, mecânicos ou morais, desde de que sejam eficazes, pois manobras abortivas praticadas em mulher não grávida ou com o feto já morto, não é considerado aborto mas lesão corporal. O artigo 124 é tido como auto aborto, quando a gestante pratica o aborto em si mesma, mas quando é obtido seu consentimento, migra a figura para o aborto consensual do artigo 126. Se houver dissenso da genetriz, é o aborto provocado por terceiro, em que a gestante também é vítima do crime. Já o artigo 127 decorre das formas qualificadas para os dois tipos penais nos artigos 125 e 126, quando ocorre lesão corporal grave ou morte, da gestante (MIRABETE, 2004, p. 96-98).

Há casos, porém, quando ocorrem circunstâncias que tornam lícita a prática do fato, previstas nos incisos I e II, do artigo 128, quando não houver outro meio de salvar a vida da gestante, ou, se resulta de estupro, duas causas de excludente de criminalidade, embora indiquem causas de ausência de culpabilidade ou punibilidade (MIRABETE, 2004, p. 98-99).

O aborto distingue-se do infanticídio porque somente pode ocorrer antes do início do parto. Praticadas manobras abortivas que geram a expulsão do feto, que sobrevive, não se consuma o delito, mas sua tentativa, além da lesão corporal do terceiro praticada na mãe. Inexistente a gravidez a prática das manobras abortivas que levaram à morte da vítima, constituíram homicídio culposo, já que inexistente objeto próprio para o delito de aborto (MIRABETE, 2004, p. 101).

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