Capítulo III – Contexto da intervenção
8. Breve caraterização do Concelho de Albufeira
8.2. Justificação da intervenção
No início dos anos 90, a comunidade cigana alvo deste projeto, tinha ocupado uma construção abandonada sita no local da Orada, em Albufeira, terreno pertencente à SCMA. Durante mais de vinte anos a comunidade foi crescendo e transformando a área num acampamento composto por habitações abarracadas (figura 3.1).
55 Os Órgãos Sociais da SCMA, preocupados com as condições em que aquelas pessoas viviam, promoveram um levantamento das suas necessidades para definir a intervenção a realizar.
Foi elaborado inicialmente um pré-diagnóstico pela equipa da SCMA, que identificou que um dos problemas era a falta de condições habitacionais e de salubridade. Ficou claro que a comunidade cigana não poderia continuar naquelas condições (fig.3.2 e 3.3) e que era necessário definir um projeto de realojamento.
Identificados os principais problemas, a equipa começou a elaborar o diagnóstico social da comunidade cigana da Orada. Nesse documento, assume-se que “um bom diagnóstico é o garante da adequabilidade das respostas às necessidades locais e fundamental para garantir a eficácia de qualquer projeto de intervenção” (Guerra, 2002, p.131).
Para Idánez e Ander-Egg (2008), o diagnóstico é um instrumento aberto que está sempre a sofrer alterações consoante se vai obtendo conhecimento da realidade durante a intervenção. Para estes autores, o diagnóstico é
um processo de elaboração e sistematização de informação que implica conhecer e compreender os problemas e necessidades dentro de um determinado contexto, as suas causas e a evolução ao longo do tempo, assim como os fatores condicionantes e de risco e as suas tendências previsíveis; permitindo uma discriminação dos mesmos consoante a sua importância, com vista ao estabelecimento de prioridades e estratégias de intervenção, de forma que se possa determinar de antemão o seu grau de viabilidade e
56 eficácia, considerando tanto os meios disponíveis como as forças e atores sociais envolvidos nas mesmas. (p.27)
No diagnóstico iniciado, em 2014, esta comunidade era constituída por oito agregados familiares, um total de 39 indivíduos, 15 adultos e 24 crianças/jovens, sendo 19 indivíduos do género masculino e 20 do género feminino, 2 dos membros estavam e continuam a cumprir pena de prisão. Esta comunidade apresenta um baixo nível de escolaridade, dos 15 adultos, apenas 3 tinham o 4º ano de escolaridade. Dos restantes não tinham qualquer escolaridade nem formação profissional. A maioria vivia dos abonos de família, alguns do RSI, bem como de alguma economia paralela. Apenas dois dos agregados familiares tinham rendimentos de trabalho (tabela 3.1). Todos os nomes apresentados na caraterização dos agregados familiares são fictícios, e escolhidos pelos elementos da comunidade, de forma a garantir o anonimato.
Tabela 3.1- Caracterização geral dos agregados familiares da comunidade cigana da Orada
Agregado familiar Nome Idade Escolaridade Rendimentos
1
João 55 anos Sem escolaridade Abono de família
Joana 55 anos Sem escolaridade
Manuel 16 anos
Mário 12 anos
2
João 39 anos Sem escolaridade RSI e abono de família
Micaela 35 anos Sem escolaridade
Miguel 18 anos José 15 anos Paulo 11 anos Maria 5 anos Miguel 10 meses 3
Constantino 33 anos Sem escolaridade RSI e abono de família
Francisca 33 anos Sem escolaridade
Paula 15 anos Tânia 13 anos Rita 11 anos Micael 9 anos Francisco 7 anos 4
Margarida 30 anos Sem escolaridade Vencimento e abono de
família
Joaquim 34 anos Sem escolaridade
Fátima 12 anos
Miguel 9 anos
Filipe 7 anos
5
Maria 26 anos Sem escolaridade Abono de família
Pedro 10 anos
57 No diagnóstico realizado pela SCMA, constatou-se que a população vivia em habitações abarracadas sem saneamento, sem água canalizada e sem eletricidade, que todas as crianças e jovens estavam integrados em percursos educativos mas com grande absentismo e insucesso escolar, que as principais fontes de rendimento eram subsídios do Estado (RSI e abonos de família) e que a integração profissional era pontual, através de contratos de emprego e de trabalho informal.
Com estes dados foi possível concluir que a falta de condições de habitabilidade era o fator preponderante para o insucesso escolar e para as dificuldades na inserção do mercado de trabalho, pelo que a linha de ação foi considerar o Realojamento como objetivo prioritário, seguido da promoção das competências pessoais, sociais, parentais e da integração profissional.
Durante as visitas domiciliárias e outras atividades levadas a cabo pela SCMA, os elementos da comunidade cigana sempre afirmaram como prioridade a saída daquele lugar para outro com melhores condições, nomeadamente, para habitações com água, luz e saneamento básico.
Como não era do interesse da SCMA separar esta família alargada, se isso fosse contra o interesse dos seus membros, procedeu-se, em conjunto com a autarquia de Albufeira e com os membros da comunidade, a uma procura de terrenos onde fosse permitido colocar habitações pré-fabricadas. Este projeto iniciou-se em janeiro de 2014, tendo vindo a sofrer algumas alterações, nomeadamente, houve alguns agregados que abandonaram o acampamento e o local escolhido para o realojamento também sofreu alterações. Os constrangimentos ao longo deste processo foram muitos, o que permitiu a perceção de que ainda existe muita discriminação e racismo para com os ciganos.
Isabel 5 anos
6
Florbela 21 anos Sem escolaridade Abono de família
João 23 anos Sem escolaridade
Miguel 2 anos
7
Paulo 20 anos 4º ano Abono de família
Paula 16 anos 4º ano
Alicia 1 ano
8
Tiago 45 anos Sem escolaridade
Vencimento e abono de família
Teresa 32 anos Sem escolaridade
Paula 14 anos
Núria 12 anos
Cristina 7 anos
58