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Capítulo IV – Balanço do Projeto

9. Potencialidades e Constrangimentos

9.1. Potencialidades

 Carácter transitório do projeto

O projeto “Aldeia do Sanacai” é um projeto transitório. Numa primeira fase, pretendeu-se proporcionar à comunidade em questão, condições condignas de habitação, de forma a permitir trabalhar individualmente cada agregado familiar sobre várias temáticas da vida em sociedade. Este trabalho é desenvolvido para uma plena integração futura em habitações definitivas e autonomização de cada agregado familiar. A equipa técnica considera que, o facto de ser um projeto transitório, é uma mais-valia porque os habitantes da aldeia encontram-se motivados para adquirirem competências que permitam a sua integração social num menor espaço de tempo possível. Os próprios habitantes são os primeiros a verbalizar que querem o seu próprio espaço, a sua privacidade e que já não se identificam com o facto de viverem todos em comunidade.

 Equipa multidisciplinar

O projeto foi orientado por uma equipa multidisciplinar composta por profissionais de diversas áreas, com formações académicas diferentes, nomeadamente, Serviço Social, Psicologia, Educação Social, Ciências da Educação e da Formação, Terapia da Fala, etc. Estes profissionais têm ângulos diferentes de saber, o que permite intervir de forma mais eficaz em prol de um único objetivo. No entanto, foi importante a equipa ter uma Psicóloga Clínica, pois desde o diagnóstico inicial, que se verificou que alguns jovens apresentavam comportamentos de risco, nomeadamente pequenos delitos, indisciplina e absentismo escolar. Deste modo, a Psicóloga reúne periodicamente com a restante equipa e é delineado um projeto de intervenção para a criança ou jovem e para o restante agregado.

Atualmente, considera-se que existe uma boa relação entre os técnicos e os habitantes, o que permite uma melhor intervenção social. Os habitantes da aldeia utilizavam o dialeto cigano para comunicarem entre eles, porque desta forma os técnicos não entendiam o diálogo. No entanto, já não o utilizam com tanta frequência, porque existe uma boa relação com a equipa.

Esta relação de proximidade entre técnicos e os habitantes da aldeia é um mecanismo facilitador no processo de intervenção o que proporciona aos habitantes uma maior motivação para a mudança.

96 A equipa técnica encontra-se na aldeia de segunda a sexta-feira, entre as 9h e as 17h. Sempre que seja necessário este horário é alterado. Os habitantes da aldeia, sempre que considerem necessário, também podem contactar telefonicamente a equipa. A intervenção realizada tem sempre presente a perspetiva de ser “uma acção social para a comunidade, - uma acção social na comunidade, - uma acção social com a comunidade” (Marchioni, citado em Lopes, 2008, p. 47)

A disponibilidade que a equipa tem para trabalhar com os habitantes da aldeia, permite uma maior proximidade e, por conseguinte, os habitantes procuram os técnicos diariamente para as suas dificuldades do dia-a-dia.

Numa das atividades realizadas mensalmente, a gestão do orçamento familiar, os habitantes elaboram em conjunto com a equipa a lista de compras e realizam as compras acompanhadas por elementos da equipa. Neste contexto, alguns dos habitantes verbalizaram que esta atividade é muito importante porque, quando fazem as compras, escolhem mais conscientemente os bens alimentares, o que lhes permite gerir melhor o orçamento familiar.

São realizadas visitas domiciliárias com regularidade, que consistem na verificação de cada divisão da habitação. Para tal, utiliza-se uma grelha de observação que é preenchida por um dos adultos do agregado familiar e verificada por um técnico da equipa técnica. Inicialmente, quem fazia as verificações das habitações era a equipa técnica. Contudo, com o decorrer da intervenção percebeu-se que o mais importante era que, pelo menos, um dos elementos adultos de cada agregado familiar verificasse e se consciencializasse sobre os aspetos positivos e a melhorar na própria habitação.

O acompanhamento realizado pelos técnicos pode passar igualmente por acompanhar habitantes a entidades externas. Num dos acompanhamentos realizados, a um hospital, o segurança referiu à técnica que os acompanhava: “Dra, desculpe o que é que lhes fazem lá por Albufeira que eles agora estão diferentes? Já acatam as minhas ordens e sabem esperar pela sua vez” (NC). São situações como esta que validam o trabalho diário efetuado pela equipa.

Os habitantes reconhecem as mudanças de comportamentos e atitudes dos seus familiares o que faz com que acompanhem estas alterações e aos poucos mudem também. Por exemplo, a maioria dos habitantes não punha em prática regras de sociabilidade, nomeadamente, dizer: “Bom dia”, “Boa tarde”, “Obrigado/a”, “Por favor”. No entanto, uma das habitantes foi sensibilizada sobre as regras de cortesia e

97 começou a utilizá-las. Alguns habitantes, ao observarem-na esta mudança começaram também a fazê-lo.

Até julho de 2017 já se verificaram algumas mudanças de atitudes e comportamentos por parte de alguns habitantes, o que, na opinião da equipa técnica, se deve ao facto da intervenção ser quase diária. A intervenção tem como pilar, “trabalhar lado a lado” com os habitantes, o que permite que estes adquiram competências através de “aprender a fazer, fazendo”.

 Boa relação com entidades parceiras

A Câmara Municipal de Albufeira é a entidade financiadora e sem esta não seria possível a implementação do projeto. O transporte escolar do Município de Albufeira é um elemento fundamental na intervenção pois é através deste que as crianças e jovens da Aldeia têm o acesso ao ensino;

Com o Agrupamento de Escolas de Ferreiras. A equipa técnica, em articulação com o agrupamento escolar, acompanha o percurso escolar dos menores envolvendo sempre a participação dos encarregados de educação, com um contacto próximo com os docentes. Este acompanhamento tem sido importante no sentido em que se tem vindo a verificar que há uma redução do absentismo escolar e dos comportamentos desadequados.

Com a EAPN, Núcleo de Faro. A EAPN tem acompanhado o projeto desde a sua conceção. Tem havido uma partilha de experiências sobre a intervenção com comunidades ciganas entre técnicos de entidades que trabalham diretamente com estas comunidades. O Núcleo de Faro da EAPN costuma organizar formações no âmbito da Pobreza e Exclusão Social o que dissemina o conhecimento sobre diferentes metodologias e contribui para uma melhor intervenção. Uma das técnicas da EAPN de Faro visitou a aldeia passados cinco meses do realojamento e após conversa com a equipa técnica e com os habitantes da aldeia enviou um e-mail com o seguinte teor:

Foi com satisfação que verifiquei que o projeto está a ser cumprido, ou seja todas as crianças estão a frequentar escola, sendo o transporte facultado pela instituição e os jovens e adultos frequentam formação profissional com vista à sua empregabilidade. Senti existir uma relação de confiança com as técnicas do projeto, que no fundo funciona como Centro Comunitário, ou seja prestam-lhes o apoio necessário a muitas situações do dia-a-dia, numa ótica de autonomização, ou seja, incentivam as pessoas a tomarem as suas

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decisões, a gerirem o seu orçamento, e a utilizarem uma comunicação eficaz nos vários contextos. Para além deste trabalho, a equipa articula com os vários parceiros (Escola, Empresas, CPCJ entre outros) com vista a promover o seu bem-estar, e francamente a presença desta equipa parece- me fundamental para quebrar o seu isolamento. (E-mail da EAPN)

Com a equipa do Protocolo do RSI- Associação Humanitária Solidariedade Albufeira. Através desta parceria são organizadas e implementadas diversas ações com o objetivo de refletir e debater várias temáticas com os habitantes da aldeia.

 Crianças e jovens

A equipa considera que as crianças e jovens são a grande potencialidade deste projeto. As crianças e jovens atualmente têm as necessidades básicas asseguradas, o que lhes facilita a aprendizagem de novas competências, que são fundamentais para a sua futura autonomização. Esta também constata que através das crianças e jovens consegue-se incutir competências, nos seus progenitores, que são determinantes para o sucesso da sua integração. O facto de estarem integradas em meio escolar facilita igualmente este processo de aquisição de competências, uma vez que, o trabalho desenvolvido pela equipa do projeto é complementado pelo trabalho que a escola exerce e vice-versa. Daí a importância da parceria com o agrupamento de escolas pois assim trabalhamos juntos para o mesmo objetivo que é formar estas crianças e jovens para que sejam cidadãos conscientes, responsáveis e com competências para a vida.