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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 27 Contextualização e problema de pesquisa

1.3 Justificativa do tema

Para Loureiro (2007) é opinião comum daqueles que se ocupam do setor elétrico brasileiro – entes institucionais, agentes econômicos, consumidores e estudiosos – que sua base normativa é extensa e pouco orgânica, prejudicando e tornando complicada a compreensão segura do marco jurídico do setor elétrico. Ocorrem, com isso, disputas desnecessárias, diminuem- se investimentos e não se consegue alcançar um completo conhecimento, por parte dos consumidores, de seus direitos e deveres por um lado, e por parte da empresa agente, por outro. Conclui o autor: perdem o Estado e a Sociedade.

Camargo (2005) ressalta que o setor elétrico brasileiro repousa sobre instrumentos normativos assim ordenados a partir da Constituição de 1988, com os seguintes institutos: Leis Específicas e Gerais, Decretos Específicos, Portarias Intermediárias do Ministério de Minas e Energia, Resoluções e Instruções Normativas do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica e ANEEL.

Tantos instrumentos normativos geram complexidade no gerenciamento de seu conteúdo e aplicações. Loureiro (2007, p. 5) comenta que por vezes um texto mais recente limita-se a regular de modo diverso tema já tratado por outro, sem qualquer referência à norma anterior. Outro problema é o hábito do legislador de elaborar longuíssimos e complexos artigos nas leis setoriais, gerando uma cadeia de problemas. Pode-se compreender a complexidade, abundância, variabilidade e dificuldade inerentes à regulação do setor elétrico, evidenciando, inclusive, a vulnerabilidade a que uma distribuidora está exposta quando não detém controle das mudanças e vigências normativas. Disso resulta um alto índice de conhecimento tácito (em detrimento do explícito) que é volátil, pois permanece sob o domínio de poucos profissionais e não resulta benefícios duradouros nem aprendizagem na empresa de energia elétrica.

Em contrapartida, o regulador vem cumprindo sua missão de proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade. No Brasil existiam 64 distribuidoras no ano de 2009, sendo que duas se fundiram (Companhia

Energética do Amazonas e Manaus Energia, formando a Amazonas Distribuidora S.A.). Assim, hoje existem 63 concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica.

Limitado a regular e fiscalizar a geração, distribuição, permissão, autorização, além das atividades das cooperativas de eletrificação rural e a comercialização de energia elétrica, o regulador vem executando tais atribuições com inúmeras publicações como se pode ver no gráfico 1. Além disso, a ANEEL tem produzido uma quantidade de normas regulamentares cujo esforço, segundo Moreira (p. 162, 2011), é louvável, ―mas a profusão de normas dificulta (senão impede) o seu conhecimento‖.

Gráfico 1: Publicações de Atos Regulatórios Fonte: ANEEL

A ANEEL vem mantendo um elevado número de publicações anuais de atos regulatórios, o que também intensifica suas fiscalizações e ocasiona a aplicação de multas aos agentes do setor.

Segundo Moreira (p. 163, 2011) ―a multiplicação normativa restringe o número de pessoas cientes das normas e de sua aplicação‖. A concessionária precisa acompanhar as mudanças e estar sempre em conformidade com a norma, pois além de

regular, o regulador fiscaliza e exige qualidade no atendimento. Neste contexto, há uma preocupação recorrente das distribuidoras em estarem aderentes aos novos atos regulatórios publicados para, com isso, mitigar os riscos sobre algum tipo de punição por parte da ANEEL. Há possibilidade de que as multas tenham sido aplicadas por não compreensão ou mesmo cumprimento das normas.

Desde fevereiro de 2008, a Agência Reguladora de Serviços Públicos de Santa Catarina (AGESC) firmou convênio com a ANEEL e tem participado dessa atividade. Essas fiscalizações resultaram na emissão de cinco autos de infração, com aplicação de multas no total de R$ 12 milhões, em valores nominais.

Em 2010, a ANEEL realizou 1.770 fiscalizações nas áreas de geração, transmissão e distribuição e econômico-financeira. Na figura 1 é possível ver com maior detalhamento as fiscalizações ocorridas ano passado.

Figura 1: Fiscalização da ANEEL em 2010

Fonte: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/noticias

A tabela 1 apresenta a situação das multas aplicadas, excluindo aquelas que se encontram em processo de julgamento.

Ano Multas Valor (R$) % 1998 4 1.075.221,70 0,3% 1999 93 31.540.109,75 9,8% 2000 48 26.148.099,72 8,1% 2001 54 24.246.174,86 7,5% 2002 170 45.364.451,03 14,1% 2003 81 76.507.242,71 23,8% 2004 54 35.218.874,26 11,0% 2005 64 36.585.861,33 11,4% 2006 57 44.493.201,30 13,9% Total Geral 625 321.179.236,66 100,0% Tabela 1: Multas aplicadas

Fonte: ANEEL

Baseado nisso, a proposta de um modelo para representação do conhecimento legal do processo de regulação de energia elétrica se justifica por sua importância ao estabelecer uma maior compreensão acerca deste ambiente que é regulado por normativas amplas e necessita de um referencial dinâmico, prático e confiável no emaranhado de leis e normas por vezes confusas e excessivamente dinâmicas.

A principal função dessa ontologia deve ser de explicitar os conceitos e aspectos envolvidos em um domínio, visando o aprimoramento da comunicação entre os colaboradores de uma determinada ação (GUARINO, 1998). Ou seja, o desenvolvimento da ontologia aqui proposta visa a aprimorar a comunicação e permitir a colaboração acerca das ações relacionadas à regulação do setor elétrico, de modo a permitir usufruir de seu ambiente e tornar sua gestão mais precisa.

Por conseguinte, torna-se oportuno um estudo para compreender teorias e conceitos relacionados à Engenharia e Gestão do Conhecimento e ontologias relacionados ao contexto regulatório em questão, pois possibilita representação do conhecimento da regulação do setor de energia elétrica existente nas pessoas, arquivos e sistemas e deve ser extraído e modelado em um formato computacional empregando ontologias,

assim permitindo que o conhecimento seja processado por computadores.

Por fim, lembram Studer, Benjamins e Fensel (1998), que um aspecto central na Gestão do Conhecimento é a construção e manutenção de uma memória organizacional como um meio para a conservação, distribuição e reutilização do conhecimento, sendo este um dos efeitos esperados deste trabalho. Neste aspecto, a gestão da regulação exige sólida fundamentação e entendimento da regulação do setor elétrico brasileiro e prescinde de estudos como este que avancem em pesquisas aplicadas, para a compreensão do arcabouço regulatório e acompanhar das mudanças advindas do Agente Regulador.