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Justificativa e opções metodológicas

Capítulo 2 – Sistemas e partidos políticos

2.2. Justificativa e opções metodológicas

O estudo dos partidos políticos a partir de um enfoque Neo-Funcionalista leva a separar o estudo em duas esferas. Uma primeira esfera seria ao nível

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A nacionalização dos partidos é um conceito utilizado por Mainwaring y Zoco, e consiste em verificar as variações de votos de cada partido em cada circunscrição eleitoral para cada eleição (JONES & MAINWARING, 2007). Se um partido se encontra fortemente nacionalizado este obterá porcentagens similares em todas as circunscrições eleitorais. Baixos níveis de fragmentação partem de altos graus de fragmentação, os quais incidem em maiores níveis de volatilidade.

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nacional, compreendendo o movimento dos partidos com relação aos estados e com os diferentes grupos sociais e econômicos relevantes, como as próprias políticas levadas nos âmbitos dos parlamentos nacionais. A segunda esfera compreende o nível supranacional regional, no qual ressaltaria a dinâmica dos partidos quanto aos vínculos com outros partidos da região (Mercosul) e também em âmbitos próprios da integração, como a antiga Comissão Parlamentária Conjunta e, principalmente, no Parlamento do Mercosul. O tratamento do movimento dos partidos em duas esferas separadas, não significa que não se leve em conta a repercussão que a ação efetuada em uma dada esfera possa ter na outra, ao contrário, as duas esferas estão totalmente relacionadas. As funções que os partidos deveriam cumprir em ambas se encontram diretamente afetadas às capacidades próprias destes.

No nível nacional, os partidos políticos cumprem três funções relacionadas com a integração regional:

a) Os partidos incidem no grau de estabilidade dos governos o que gera

melhores cenários de cooperação. Democracias com partidos

institucionalizados possuem atributos de certeza, estabilidade e maiores respaldos para com o Executivo. Esta situação beneficiaria a cooperação entre os países pela simples ausência dos cenários de instabilidade;

b) Quanto maior a estabilidade dos partidos, maior incidência sobre os Executivos e os Parlamentos possuem. Isto gera, em primeira instância, uma maior capacidade de apoio, tanto na função do partido quanto na maioria da Câmara, ou mesmo, como parte de uma coalizão. Em negociações de dois níveis, onde se encontram os governos e os atores nacionais, se realizariam condutas mais coerentes em ambos os níveis. Esta situação poderia gerar uma maior sintonia entre o que é aprovado no

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nível de negociação por parte dos executivos e o que, posteriormente, precisa ser integrado na forma de lei, resolução ou decreto nos países membros;

c) Os partidos mais organizados e com menores níveis de volatilidade podem fomentar e construir a longo prazo, uma política pró-integração, gerando consciência cidadã, atores econômicos, sociais e políticos, mostrando-se, ao mesmo tempo, como representantes estáveis dessa linha política.

No nível supranacional os partidos políticos podem gerar vínculos com outros partidos dos países membros, como propõe a teoria Neo-funcionalista. Estas articulações ou interações gerariam duas ações:

a) A própria interação entre os partidos aumentaria os graus na linha de uma política pro integração. Para isso, são necessários altos graus de estabilidade e coerência ideológica. O caso da UE demonstrou que os partidos políticos se uniram a partir dos vínculos ideológicos. Altos graus de volatilidade podem fazer desaparecer e aparecer partidos inteiros, o que dificulta a estabilidade de uma formação e a construção de pensamentos e políticas conjuntas;

b) A articulação dos partidos pode gerar a construção de estruturas próprias objetivando levar adiante posições com relação ao processo de integração. Esta situação da forma como permite aumentar a consciência pró- integração poderia gerar também maior conhecimento das classes políticas dos países membros e menores graus de desconfiança. Isto favoreceria uma paulatina delegação de soberania para com as instituições supranacionais, gerando efeitos de spillover para outros setores. A interação partidária ajudaria a

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eliminar o cenário de percepção dos outros como um estranho e guardião de seus interesses nacionais, aumentando as possibilidades de construção de uma política de delegação de soberania sobre instituições supranacionais. Para isto, é necessário maiores graus de estabilidade e coerência ideológica que no ponto (a) e, preferencialmente, estruturas de inter-relações pré-existentes.

É no âmbito das duas esferas de participação dos partidos para uma política de integração, que se articulam os indicadores produzidos pela teoria da institucionalização dos sistemas de partidos. O grau de institucionalização permite observar e comparar a capacidade, possibilidade e incidência de ação que os partidos e sistemas de partidos têm sobre o processo de integração. Para isso foram tomados três dos países membros do Mercosul, Argentina, Brasil e Uruguai, utilizando também de referência as circunstâncias que aconteceram nos primeiros anos da União Européia. O estudo do sistema partidário do Paraguai não foi possível de ser realizado pela dificuldade de acesso a dados e bibliografias que permitissem realizar uma análise comparada rigorosa. Nos casos que correspondem ao Mercosul foram utilizados dados sobre Paraguai, já que de maneira geral, todos os dados provêem de fontes únicas, o que permite que a análise seja mais facilmente comparada.

Desta maneira, foi realizada uma análise dos partidos e sistemas de partidos de Argentina, Brasil e Uruguai nas duas dimensões já mencionadas (interno, no nível nacional e externo, no nível supranacional). No nível interno foram pesquisadas as características dos sistemas de partidos e, em segundo lugar, a atuação destes nos congressos nacionais no respectivo à internacionalização de normas do Mercosul.

O primeiro estudo de nível interno se realizou mediante a comparação dos níveis de institucionalização dos sistemas de partidos dos países do Mercosul e tomando como referência quatro dos países mais importantes da UE; França, Alemanha, Inglaterra e Itália para o período que abarca 1957-1979, marcando o

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começo da UE com o Tratado de Roma até o ano da primeira eleição direta do Parlamento Europeu. Para o Mercosul foram estudados os sistemas de partidos na Argentina, Brasil e Uruguai desde o começo do Mercosul com o tratado de Assunção, até 2008. De maneira mais específica, foram analisados os índices de volatilidade, o número efetivo de partidos e a fragmentação partidária.

Para o estudo comparado da institucionalidade dos sistemas de partidos foi levado em conta o problema da qualidade e heterogeneidade de dados. Para manter uma maior rigidez na comparação foi analisada a volatilidade como indicador quantitativo de estabilidade e institucionalidade. Sabendo que a volatilidade mede de forma parcial os níveis de estabilidade e institucionalidade, ela conforma um indicador homogêneo nos dois itens mais importantes para as análises da integração. A volatilidade permite apreciar a estabilidade de padrões de competição gerando previsibilidade na competição partidária, e num segundo momento, permite apreciar de forma indireta os níveis de enraizamento dos partidos na sociedade e, portanto, os níveis de compromisso ideológicos. Para complementar as características de cada sistema de partidos foram estudadas a fracionalização partidária e o número de partidos.

Como segundo indicador, dentro do nível interno, foi pesquisada a internalização das normas emanadas pelos organismos do Mercosul por parte dos países membros e ratificadas ou não, nos parlamentos nacionais. Este estudo permitiria apreciar níveis de compromissos com o projeto do Mercosul, como, por exemplo, os níveis de coordenação tanto a nível dos governos dos países membros entre si, como a relação executivo-legislativo em cada país selecionado em torno do Mercosul.

Sobre a segunda dimensão, em nível externo, foi investigada a ação dos partidos dentro dos Parlamentos do Mercosul. Para isso, analisou-se a composição do Parlamento do Mercosul, relevando a filiação política dos parlamentáres e sua condição em relação ao seu país de origem. Esta análise permitiria ter um mapeamento político e partidário da composição do Parlamento

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do Mercosul de interesses regionais de cada país e os níveis de compromisso das elites político-partidárias. Posteriormente, foram estudados os atos aprovados pelo Parlamento do Mercosul, tomando como referência sua capacidade de impacto e os vínculos entre as diferentes instituições envolvidas, considerando as instituições do Mercosul e os Parlamentos Nacionais. Em segundo lugar, foram relevadas as atas e votações do Parlamento do Mercosul para verificar quais níveis de cooperação e possíveis clivagens poderiam existir com relação a representação mercosuriana. Foram analisados, os debates realizados nas Sessões, na busca de conflitos entre dois ou mais representantes mercosurianos, entendendo conflito como uma divergência sobre um mesmo tema e sua resolução.

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Capítulo 3 – Nível Interno: integração, institucionalização e

Partidos Políticos.

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