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A viabilidade de um desenvolvimento na área contábil, através da educação, é necessidade eminente, não apenas pela falta de padronização da profissão e das normas, mas principalmente pelas ameaças de fatores econômicos, tais como abertura de mercado, internacionalização de capitais, globalização, novas modalidades de investimentos, entre outros.

Portanto, a relevância da investigação proposta advém da importância que o profissional contábil assume perante o cenário econômico-social, pelo fato de ser o responsável pela “mediação do conflito distributivo existente entre os principais grupos de agentes econômicos” (PEREIRA, 2005).

Este cenário segundo Hernandez (1999) se deve ao processo de globalização, fruto do sistema capitalista, que as economias mundiais estão passando, atreladas ao desenvolvimento acelerado dos diversos meios de comunicação, impactando sobremaneira a sociedade e o meio empresarial em toda parte do mundo.

As diretrizes educacionais, para a formação de um profissional contábil global, proposto pelo ISAR, tiveram a incumbência de fomentar discussões que evidencie a

importância de se desenvolver um currículo que abarquem disciplinas de conhecimentos gerais e técnicos, bem como desenvolver habilidades e consciência profissional, com base em avaliações de competência e da educação continuada, e se estes estão concatenados com as prerrogativas de um mundo altamente interligado.

Como também, o trabalho procurou contribuir para o aprimoramento do ensino em Ciências Contábeis, devido ao fato das mudanças nas tendências educacionais do contador ser visíveis e amplamente discutidos em encontros em todo o mundo. Como por exemplo, no XV Congresso Mundial de Contabilidade, com o trabalho intitulado “Em Busca do Contador Global”, realizado em Paris em 1997.

Relativo à UNCTAD, já ocorreu 11 conferências, inclusive a última, realizada no Brasil, na cidade de São Paulo, em outubro de 2004, onde foram debatidos temas concernentes à educação na área contábil e nas demais áreas relativas ao desenvolvimento e ao comércio. As premissas da UNCTAD, concernente à área contábil, dispostas no seu sítio oficial diz que “enquanto há normas internacionais para a provisão dos serviços, não há normas globais para os provedores destes serviços” (UNCTAD, 2000).

Destacam-se também as sessões do ISAR, que são realizadas anualmente, para discussões no âmbito da educação dos contadores, bem como da promoção sobre a aplicação prática das questões relacionadas às normas internacionais de informação financeira.

Outra evidência no fomento ao debate sobre educação e o Contador, a XVIII Convenção dos Contabilistas, realizada no Brasil (no Estado do Espírito Santo), em setembro de 2005, trouxe como temática: “Contador Global na Era Digital”.

Corroborando com a relevância do presente estudo, o membro efetivo do ISAR, o Prof. Dr. Nelson Carvalho, em matéria destinada à categoria, concernente a prerrogativa para a formação do Contador, expõe que:

De nada adiantaria concluir o esforço de elaboração de normas globais de Contabilidade e auditoria se não houvesse o contador global apto a entendê-las e explica-las, ajudar que fossem implantadas, e capaz de auditá-las [...], daí foi um passo para o ISAR abraçar a causa de produzir um currículo de formação profissional para o Contador Global.

Portanto, torna-se aceitável a justificativa do ISAR em elaborar um currículo para a formação desse profissional, apto a desenvolver seus serviços dentro da perspectiva de um mercado/sociedade mutável e mundial. Dessa forma, fica evidente que o esforço institucional necessário para a implantação deste currículo, dado o cenário global, precisam intensificar-se cada vez mais, no sentido de criar meios viáveis e flexíveis de se formar profissionais capazes de ser uma referência no que diz respeito à Contabilidade.

Da mesma forma, Riccio e Sakata (2004), afirmam que, quanto maior for à aderência entre o currículo adotado em determinado país e o Currículo Mundial (CM), tanto maior serão evidenciados aspectos de harmonização na educação contábil desse país.

Por fim, considerando que estes profissionais são de grande valia dentro de uma economia e de uma sociedade é que surge o interesse pela investigação proposta, em analisar o Programa Mundial de Estudos em Contabilidade proposto pelo ISAR/UNCTAD/ONU ante aos conteúdos dispostos nas grades curriculares de Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil, especificamente a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), atrelados à percepção dos

professores que formam o corpo docente destas instituições, no intuito de evidenciar desafios, ações e perspectivas na formação do contador atual.

A escolha das instituições, objeto dessa investigação se justifica pelo fato de que estas fazem parte do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós- Graduação em Ciências Contábeis, onde é oferecido o mestrado acadêmico em Contabilidade. Bem como, considerando o caput do Art. 11 da Resolução no. 10/2004 do CES/CNE/MEC, em que os cursos deveriam adequar seus componentes curriculares às Diretrizes emanadas por esta Resolução em até dois anos após a sua publicação. Entretanto, as grades curriculares adotadas atualmente pelas três instituições federais, objetos desse estudo, estão em vigor desde 1994, ou seja, há 17 anos que não se teve nenhuma adequação dos componentes curriculares adotados por estas instituições pelo que estabelece tal Resolução.

Vale salientar que o interesse da opinião dos docentes, quanto à formação do Contador, que lecionam no curso de Ciências Contábeis, embasa-se na concepção de que estes são integrantes essenciais no processo ensino-aprendizagem das IES, pois são os transmissores práticos do conhecimento sistematizado no currículo, isto é, são os operadores do currículo em sala de aula.

Neste sentido Dutra (2003) considera que “o perfil do egresso será o reflexo do que os professores imaginam para o curso e constroem em sala de aula com os educandos”. Com base nisto é que a opinião dos professores se torna importante para reforçar a consecução do objetivo proposto.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

• Evidenciar desafios, ações e perspectivas das Universidades Federais dos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, no que diz respeito à formação do Contador, através da análise crítica das grades curriculares adotadas atualmente em relação ao Programa Mundial de Estudos em Contabilidade proposto pelo ISAR/UNCTAD/ONU, bem como da percepção dos professores que compõem o quadro docente dos cursos de bacharelado em Ciências Contábeis destas instituições.

1.4.2 Objetivos Específicos

• Traçar a tipologia evolutiva dos currículos dos cursos técnicos e de bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil, demonstrando os fatores que contribuíram para a evolução do ensino da Contabilidade, bem como na conceituação e caracterização do termo currículo, em sua origem e sua aplicação;

• Desenvolver referencial teórico acerca das exigências globais e empresariais da profissão do Contador, e dos documentos oficiais: TD5, TD6 e TD21, a fim de detectar os atuais cenários nacionais e internacionais, bem como servir de sustentação ao delineamento da investigação realizada;

• Descrever as grades curriculares do curso de Ciências Contábeis das Universidades Federais dos Estados de Pernambuco (UFPE), Paraíba (UFPB) e Rio Grande do Norte (UFRN), no que tange as disciplinas oferecidas atualmente;

• Classificar as disciplinas oferecidas no currículo das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), objetos do presente estudo, de acordo com disciplinas classificadas nos blocos de conhecimentos definidos pelo Programa Mundial de Estudos em Contabilidade proposto pelo ISAR/UNCTAD/ONU, que servirá de base conceitual das evidências referentes a fatores comuns, diferenciadores e de globalização dos currículos, acompanhadas de análise crítica;

• Identificar a percepção dos professores que compõem o quadro docente dos cursos de bacharelado em Ciências Contábeis, das IFES selecionadas, relativas ao Programa Mundial de Estudos em Contabilidade, bem como analisá-las à luz dos preceitos legais vigentes no País e do propõe o PMEC, quanto à formação do contador dessas IFES.

1.5 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA

Assim como na maioria dos estudos de pesquisa, este estará sujeito a algumas limitações.

Primeiro, a análise das grades curriculares foi de caráter exploratório- descritivo, uma vez que este trabalho não pretendeu trazer conclusões sobre todos os aspectos da qualidade do ensino superior. Até porque a qualidade do ensino é influenciada por diversos outros fatores além da estrutura curricular, tal como a qualidade docente, infra-estrutura da instituição, aspectos metodológicos, pedagógicos e didáticos, dentre outros fatores.

A evidenciação dos desafios, ações e perspectivas na formação do Contador foram resultantes das atividades indutivas dos questionários aplicados junto aos

professores, concomitante à análise crítica da aderência ou não das grades curriculares das instituições estudadas, com o PMEC.

Convém lembrar que esta análise curricular possa não ser determinante na aderência ao currículo mundial, pois não se pode afirmar que os conteúdos são ensinados em sua totalidade, e de que forma são ensinados. Como também, ao evidenciar as percepções dos professores quanto à formação do contador, segundo o PMEC, poderá haver discrepâncias do que o professor pensa e o que o mercado demanda realmente.

Segundo, a coordenada determinada da delimitação do estudo está definida de forma clássica pelo espaço e tempo na análise realizada. Como espaço determinado tem-se o nordeste do Brasil, especificamente os Estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no que diz respeito às IFES presentes nesses estados, que são: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em que estejam presentes os cursos de Ciências Contábeis. Conseqüentemente, os achados que emergirem da amostra estudada neste estudo possa não ser representativo das populações inteiras de IFES do Brasil.

Outra particularidade a ser considerada é que os cursos analisados têm sede (campus) nas respectivas capitais, ou seja, Recife (UFPE), João Pessoa (UFPB) e Natal (UFRN). Optou-se em delimitar as capitais, tendo em vista que cada instituição oferece o curso em mais de um campus. Como é o caso da UFPE, que além do curso em Recife, oferece em Vitória de Santo Antão e na cidade de Caruaru. Já a UFPB, além do campus na capital, tem também no interior do estado, que fica na cidade de Mamanguape. E a UFRN oferece o curso também no interior, na cidade de Caicó.

Terceiro, quanto ao aspecto temporal fica delimitada a análise curricular em vigência pelos organismos reguladores federais, sendo o foco, a análise das grades curriculares ofertadas das instituições investigadas. Salienta-se que a pesquisa em tela não considerou as diferenças que há entre as IFES selecionadas, como por exemplo, aspectos relacionados à metodologia de ensino, qualificação docente e infra-estrutura do curso, mas sim a análise focará aspectos curriculares e de percepção de professores quanto ao PMEC.

Por fim, o estudo não se propõe a elaborar uma proposta curricular a ser adotada pelas IFES investigadas, mesmo porque o próprio modelo proposto pelo ISAR/UNCTAD/ONU estabelece que o currículo deva atender as peculiaridades regionais, e para tanto necessitaria de uma pesquisa empírica, com a comunidade empresarial, estudantes, professores e demais atores envolvidos no processo de formação, para a definição das peculiaridades setoriais e/ou regionais do mercado de trabalho dos profissionais contábeis que compõem estes estados.

2 REFERENCIAL TEÓRICO