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Os últimos quinze anos têm sido marcados, em nosso país, por uma intensa mobilização em torno da temática juventude. Esta visibilidade deve-se, em grande medida, aos problemas sociais que atingem a população como um todo, mas ganham dimensões preocupantes neste segmento etário. Os jovens estão entre as principais vítimas dos efeitos das políticas sociais ineficientes do Brasil. São os que mais sofrem

24 Não farei,neste trabalho, uma revisão bibliográfica da literatura sobre juventude. Cito alguns autores

que enfocaram a juventude em diferentes momentos históricos: Abramo (1997); Feixa (1998); Foracchi (1972); Groppo (2000); Pais (1993); Levi e Schmitt (1996); Eisenstadt (1976); a bibliografia é vasta.

com o desemprego. As estatísticas mostram um acentuado déficit educacional e aparecem concomitantemente como vítima e algoz nos dados sobre violência. Outras questões como gravidez na adolescência, consumo de drogas legais e ilegais e envolvimento com o tráfico, reforçam a necessidade de enfrentar os problemas expostos por esta categoria com a amplitude que eles demandam.

Há mais ou menos dez anos, algumas ações de grandes dimensões vêm sendo propostas, inicialmente pela sociedade civil organizada e por fundações como a Kellog, a Ayrton Senna e o Instituto Cidadania ou ainda por agências internacionais, como a UNESCO que, desde 1997, vem promovendo pesquisas e publicações25 sobre a condição juvenil no país. No âmbito Federal, na década de noventa, já existiam ações compartimentalizadas em diferentes ministérios, mas não era possível, ainda, falar de políticas públicas. Na passagem para o governo Lula as discussões se intensificaram. O Governo Federal constituiu um grupo interministerial para discutir políticas públicas para juventude com a tarefa de formular um conjunto de ações que contemplasse este segmento social. Em 2004, foi criada a Secretaria de Juventude e o Conselho Nacional de Juventude.

No entanto, esta mobilização não significa um consenso, nem entre os diversos segmentos, nem no âmbito de políticas governamentais (Rua, 1998; Sposito, 2005). Os debates são intensos e vão desde a busca por critérios para definir juventude até as reais demandas para as políticas em questão. Enfim, é um debate iniciado, mas que está longe de terminar, apesar das ações em andamento.

25 Em 1997, após o assassinato do Índio Galdino por jovens de classe média, a UNESCO deu início a uma

linha de pesquisa dirigida para a juventude. A primeira foi com jovens de classe média. Também financiou e coordenou a pesquisa que deu origem aos quatro volumes do “mapa da violência”, realizada em dimensão nacional. Atualmente, no campo de pesquisas, a UNESCO desenvolve seis linhas temáticas: 1- Juventude, violência, cultura e cidadania; 2- Escola e educação: desafios e sucessos; 3 - Educação, saúde, governabilidades e avaliações; 4 - Identidades juvenis, vulnerabilidades e participação no urbano e no rural, comparações internacionais; 5 - gênero, sociedade civil e políticas públicas e 6 - Identidade étnico-racial.

Muito se tem avançado e é inegável o esforço governamental na tentativa de enfrentar as demandas emergenciais deste enorme contingente populacional. Duas pesquisas de âmbito nacional foram realizadas, uma encabeçada pelo Instituto Cidadania (2004) e outra pela UNESCO (2004), possibilitando um acúmulo de dados até então inexistentes sobre os jovens no nosso país e servindo de base para as políticas públicas que vêm sendo construídas, apesar de todas as contradições e dificuldades. Além disso, atreladas às pesquisas, foram organizadas publicações que enfocam a juventude a partir de diferentes perspectivas26.

Técnicos e acadêmicos, inspirados em movimentos que já acumulam experiências e ganhos efetivos, como o movimento de mulheres e o movimento negro, procuraram, nos debates, chamar atenção para a importância de conciliar medidas universalistas com medidas focalizadas que abrissem espaço a grupos específicos de jovens. Além disso, enfatizaram a necessidade da inclusão destes nos debates e chamaram atenção para o perigo da institucionalização exagerada, oprimindo o potencial criativo e contestador deste grupo etário.

Um primeiro ponto que merece destaque é que as políticas públicas para juventude no Brasil se destinam a um grupo específico: jovens pobres, com baixa escolaridade, com poucas possibilidades de trabalho e considerados em situação de risco. Esta realidade fala sobre a estrutura social do país e naturalmente faz um recorte de grupo e de necessidades. As temáticas priorizadas são aquelas também encontradas em levantamentos sobre jovens de diferentes países: educação, trabalho, cultura e participação política. As necessidades, no entanto, são diferentes e a lógica utilizada para transformar as informações em ações, também.

26 Refiro-me às três publicações decorrentes do Projeto Juventude: “Juventude e Sociedade – trabalho, educação, cultura e participação”; “Retratos da Juventude Brasileira Hoje” e “Narrativas de Participação Juvenil”.

Os grupos que estão à frente dos projetos e programas imprimem, por sua vez, seu próprio enfoque e são poucos os que incluem os jovens na discussão e elaboração das ações, apesar desta ser uma das recomendações dos documentos resultantes das pesquisas realizadas. Com freqüência, a realidade reforça uma lógica hierárquica e muitas vezes discriminatória. Sposito e Corrochano (2005) comentam a este respeito:

“No terreno das representações dominantes sobre os jovens, ocorre um certo lastro comum que esteve presente no nascimento das ações. Grande parte delas operou com a imagem de uma juventude perigosa, potencialmente violenta, que necessitava de uma ampla intervenção da sociedade para assegurar seu trânsito para a vida adulta de modo não ameaçador a certas orientações dominantes. Por essas razões, o grande tema que ocupa a constituição de uma opinião pública em torno dos jovens no Brasil sempre teve suas origens na violência sobretudo nos centros urbanos.” (Sposito e Corrochano, 2005: 145)

Os dados demográficos revelados e analisados pelas pesquisas quantitativas reforçam a vulnerabilidade da juventude em nosso país. Algumas informações estatísticas serão inseridas neste trabalho para respaldar e reforçar a discussão que está sendo travada.