• Nenhum resultado encontrado

EDUCAÇÃO SUPERIOR COMO VIA DE ACESSO AO MUNDO DO TRABALHO.

A escolha profissional é um tema bastante presente na sociedade, de carga valorativa, motivações e desejos que desde cedo vão reverberar na vida dos sujeitos. Escolher uma profissão é o passo inicial para se alcançar mobilidade social e/ou elevação do status social, tendo em vista que na sociedade atual os sujeitos são quantificados e qualificados, a partir da profissão escolhida e o retorno financeiro que esta pode oferecer. Nesse contexto, a juventude passa a ser depositário dos anseios e perspectivas futuras, principalmente, no que concerne à entrada no mercado de trabalho. Chiesi e Martinelli (1997) dissertam que uma das razões pela qual estes assuntos são relacionados ao tema juvenil é o fato do trabalho ser um mecanismo de socialização, importante para o desenvolvimento de relações entre gerações e favorecer processos de reprodução econômica e social.

Castells (2005) diz que o trabalho, em uma dimensão social, vai produzir códigos, rituais de acesso e permanência, além de hierarquizar e eleger legislações próprias que vão influenciar diretamente no modo de estruturar a sociedade, e mais precisamente a família, considerando que:

[...] a ideia de profissão construída a partir das corporações profissionais, com seus longos programas de formação e fixação de padrões de produção e de produtos, que sugeriam um fazer vitalício, estável, permanente, ao qual o profissional dedicava toda sua existência. Pelo seu ofício era reconhecido socialmente, e muitas vezes o agregava a seu nome, e o constituía como um patrimônio imaterial, um legado para a família (CONDE, 2012, p. 48).

Para Castells (2005), com a concepção de desenvolvimento humano em fases diferenciadas entre infância, juventude, adulto e velhice, foi possível promover uma classificação etária de acesso ao trabalho. Neste contexto, em determinado período da vida, o sujeito era solicitado a escolher uma ocupação e exercê-la, uma vez que “O aprimoramento profissional sinalizou uma qualificação pessoal, que foi associada à maturidade.” (CONDE, 2012, p. 96).

Deste modo, a juventude marcaria o período em que as pessoas são solicitadas a eleição de objetivos para a vida adulta, tendo o apelo maciço concentrado na escolha profissional, principalmente nas expectativas familiares, no contexto escolar ou na sociedade, razão pela qual são feitos investimentos de diversos aspectos: econômicos, de informação e de tempo para formação de um futuro profissional. Serpa (2003) aponta para este processo como sendo psicossocial e dialético, tendo o jovem que selecionar atividades profissionais que julgue condizentes com suas afinidades e, ainda, ter que equilibrá-las junto às influências de seu contexto histórico, socioeconômico e cultural.

Sobre fazer tal escolha, Super (1975) parte da compreensão que esta não é um acontecimento que tem começo, meio e fim, mas um processo em que são ponderadas uma série de decisões específicas e exploratórias, servindo como norte à escolha de uma ocupação. Dentre os fatores psicológicos, o autor disserta sobre aptidões, interesses e valores “[...] como qualidades que determinam, respectivamente, o nível, o campo de escolha e o esforço” para a escolha da profissão. Ainda, o conceito de si, que o autor atribui às características subjetivas que o jovem tem de si, como seus valores e preferências, vai determinar a eleição de alternativas frente ao modo que o sujeito vê a si mesmo, suas inclinações e aptidões diante da situação de escolha (SUPER, 1975, p. 14).

Importante ressaltar que tal ação implica também na identificação com habilidades que envolvem a prática, os valores, o reconhecimento social e a remuneração, que vão ser formativos da identidade profissional, já que:

A socialização profissional é, portanto, esse processo muito geral que conecta permanentemente situações e percursos, tarefas a realizar e perspectivas a seguir, relações com outros e consigo (self), concebido como um processo em construção permanente. É por esse e nesse ‘drama social do trabalho’ que se estruturam mundos do trabalho e que se definem os indivíduos por seu trabalho (DUBAR, 2012 p. 358 grifo e aspas do autor).

Nessa perspectiva, Cruz e Aguiar (2011) dizem que a vinculação do sujeito a uma categoria profissional permite o compartilhamento de crenças e atitudes, vivenciar relações

que são perpassadas por cargas valorativas, como fonte de sentido e de pertencimento. Assim no contexto social que cada vez mais requer a qualificação como condição de acesso ao mundo do trabalho, a entrada na educação superior torna-se uma exigência na medida em que produções identitárias permeiam a atividade laborativa como parte da identidade pessoal.

Importante pontuar que ao fazer uma escolha profissional, o jovem adentra um campo novo que tem como tarefa possibilitar o alcance de conhecimentos e práticas para realizar a execução da futura profissão. A universidade se mostra como local em que tais escolhas vão ser efetuadas. Cabe indicar que a educação superior no Brasil nas últimas décadas vem refletindo as reformas educacionais e políticas que aconteciam no contexto internacional, em que organizações internacionais como o Banco Mundial (BM) e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) apontavam diagnósticos e estratégias para a resolução de problemas no campo da educação superior e promoveram o debate sobre a estrutura e políticas de acesso à educação superior no Brasil. De Arruda e Gomes (2012) pontuam que tais agências, ao compreender a educação como bem público e direito humano, incentivavam e promoviam que esta deveria ter como pressuposto a igualdade de acesso pela facilitação e ampliação deste por grupos sociais que eram tradicionalmente menos privilegiados, como mulheres e povos indígenas, tendo em vista que a educação superior contribui para o crescimento pessoal e econômico, fortalecendo o desenvolvimento de países em emergência.

Após tentativas de reestruturação da Educação Superior, com políticas voltadas para a criação de cursos, vagas e matrículas em instituições privadas, foi nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva que o discurso de democratização e expansão da Educação Superior, com a criação de políticas públicas voltadas para a expansão e popularização da educação, ganha força e sai do papel (MANCEBO, 2013). Assinala-se o REUNI que objetiva avançar no desenvolvimento de regiões desprivilegiadas e, para tal, inicia a interiorização da educação superior, profissional e tecnológica. Desse modo, foi possível que parte dos jovens residentes nessas regiões permanecesse em seus municípios de residência diminuindo assim a necessidade de migração para grandes centros urbanos com o objetivo de estudar.

Para Torban e Fusco (2012), a democratização do acesso ocorre de fato quando se nota que parte de jovens pobres talvez não teriam acesso à universidade se houvesse a necessidade de deslocamento para regiões mais distantes. Sobre isso, Dias Sobrinho (2011) reflete acerca das possibilidades e entraves que tais ações promovem no âmbito da inclusão e exclusão social, questões que estão para além do aumento quantitativo de vagas para matrículas. Para ele a relevância estaria em permitir uma democratização da sociedade e justiça social, com

uma mudança de cultura que antes podava o acesso ao nível superior pela presença de um elitismo que favorecia um abrandamento das assimetrias sociais, já que para “[...] além da expansão das matrículas e da inclusão social de jovens tradicionalmente desassistidos em razão de suas condições econômicas, preconceitos e outros fatores, é imprescindível que lhes sejam assegurados também os meios de permanência” (DIAS SOBRINHO, 2011, p. 122).

Lubambo e Bastos (2014) apontam para outro fator importante nesse movimento de interiorização ao possibilitar a dinamização econômica dessas regiões pela especulação imobiliária, à criação de empregos e de espaços destinados a esse público, como escolas de idiomas e livrarias, apresentando também impactos em nível de mudanças de hábitos culturais e políticos vistos de maneira lenta e menos expressiva. Santos (2013) corrobora esta questão ao trazer em sua tese duas vertentes para se pensar na dinâmica que a instituição de ensino imprime na região que está instalada: a chegada de uma Instituição Federal de Educação (IFE) se traduz em desenvolvimento e deslocamento populacional para esses espaços. Desenvolvimento pela corresponsabilidade junto às políticas desenvolvimentistas municipais, a universidade passa a contribuir com soluções aos problemas locais frente ao conhecimento que aí é produzido; atrai recursos das esferas governamentais e aumento da produtividade local e assim colabora com o desenvolvimento regional:

Os conhecimentos científicos e tecnológicos dão à comunidade a possibilidade de ampliar a visão de mundo em que vivem. Os benefícios vão além do saber, uma vez que a instituição pode articular a alocação de recursos para obras e pesquisas que vão transformar a vida da região (SANTOS, 2013, p. 29).

A segunda dinâmica reflete o que foi tratado no capítulo anterior, em que muda o foco de atratividade para regiões do Brasil que até então eram centros receptores de mão de obra qualificada e de pessoas em busca de estudo, já que essas regiões se apresentam como interessantes do ponto de vista econômico por apresentarem um custo de vida mais acessível do que em grandes centros urbanos.

Nesse contexto, a formação profissional ganha novos contornos ao se pensar uma formação pautada no retorno social, uma vez que por estar inserida em determinado contexto, a universidade dispõe seu currículo nele pautado e, nessa medida, na tentativa de como solucionar os problemas sociais que a circundam. A formação passa a ser pensada concomitantemente ao papel social da universidade e de como promover mecanismos de permanência do jovem que em uma sociedade que apresenta disparidades e desigualdades sociais gritantes, o acesso à educação superior não é um fim por si só, mas requer uma série

de ações e investimentos que favoreçam a construção de um profissional responsável com sua realidade e seu papel social (DIAS SOBRINHO, 2010).

6 MÉTODO