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1. CONCEITOS OPERATIVOS DA PESQUISA

1.3 Juventude e música

Na Educação Musical, são várias as pesquisas que tratam de temas relacionados aos jovens e à música. Os autores que vêm discutindo essa temática expõem seus argumentos sob vários aspectos e contextos diversificados. Podemos citar como subtemas ou enfoques os assuntos abaixo: gosto musical, interações

musicais, música do dia a dia, música no ensino regular, ensino e aprendizagem de música. Pesquisadores como Almonte (2013); Arroyo (2013); Santos (2012); Silva (2012); e Santos (2009) discutem o tema música e juventude.

Na literatura internacional podemos destacar Almonte (2013) que desenvolve pesquisas com adolescentes no Chile sobre gosto musical. Os significados emocionais que os estudantes atribuem à música preferida estão relacionados com os aspectos sociais, aspectos psicológicos e culturas individuais. Para a autora, a classe social, a identidade sonora de cada indivíduo, o entorno cultural contribui para as escolhas dos gêneros musicais populares que sofrem constantes mudanças e rápidas transformações na cultura.

Muitos trabalhos publicados, que tratam da relação dos jovens com a música, podem ser encontrados em um Guia Bibliográfico organizados por Arroyo (2013). A autora faz um levantamento de obras de várias áreas de conhecimento, de forma multidisciplinar, formado por 150 títulos entre nacionais e estrangeiros publicados entre 1996 a 2011 que tratam desse assunto.

Com relação ao gosto musical, Santos (2012) buscou em sua pesquisa com jovens, entre 14 e 17 anos, estudantes de um colégio da Polícia Militar compreender como esse gosto é construído a partir das relações entre jovens estudantes e o Sertanejo Universitário. A autora identificou práticas que os jovens estabelecem com o Sertanejo Universitário e destacou como o gosto é apropriado nas/a partir dessas diversas práticas e, por conseguinte, traz os processos de aprendizagem existentes nessas relações. A pesquisa de Santos (2012) apresenta como marco teórico a teoria do gosto, de Antoine Hennion. Essa teoria ressalta em seus fundamentos três pilares: o gosto como uma performance, a construção do gosto com apoio na atividade coletiva e a reflexividade do amador. As observações realizadas permitiram a autora visualização das ações dos jovens envolvidos com a música, além de reflexões sobre a escola como um espaço no qual os jovens realizam diversas práticas musicais.

Os resultados da pesquisa de Santos (2012) evidenciaram o gosto como decorrência de uma série de práticas que os jovens estabelecem com a música, tais como: a escuta constante, o canto, a dança, dentre outras. Além disso, a autora afirma que foi possível conhecer as estratégias utilizadas por esses jovens para a realização de suas práticas musicais.

Percebemos na pesquisa de Santos (2012) que os jovens constroem seus gostos musicais praticando e fazendo música com colegas, amigos, famílias, entre outros. A música é, nas palavras de Santos (2012) uma atividade coletiva, de interação com o outro. Essa interação acontece no discurso musical desenvolvido entre os jovens. A esse respeito, Silva (2012) investigou o discurso de jovens sobre seus consumos musicais e como estes operam na distinção entre o que se denomina “música boa e música ruim em seu cotidiano escolar”. A autora acredita que os consumos musicais dos jovens que compõem a sala de aula devem ser incorporados também no repertório trabalhado nesse espaço.

As relações que permeiam as concepções e expectativas de alunos do ensino médio a respeito da aula de música na escola podem ser verificadas no trabalho de Santos (2009). A autora buscou compreender as concepções de alunos e significações que estes atribuem a escola, a aula de um modo geral, e a música no que se refere aos processos de ensino e aprendizagem em música, bem como a aula de música da escola, especificamente. Para tanto, Santos (2009) construiu seus argumentos fundamentando-se na teoria do saber de Bernard Charlot.

Bernard Charlot (2001) em sua obra os jovens e o saber perspectivas mundiais discute sobre os jovens de diferentes culturas dando ênfase para aquilo que considera mais importante que é o aprender e quais as suas relações entre o saber e a vida. Nesse sentido, o autor trata ainda de assuntos relacionados ao saber sob a perspectiva do jovem, como protagoniza e objetiva conhecer para além da escola o lugar de saber na vida, além de compreender as experiências desses jovens relacionadas a aquisição de saberes e o papel da escola nesse contexto.

Os jovens do ensino médio investigados por Santos (2009) foram considerados pela autora como sujeitos que são diferentes por suas individualidades e características pessoais, mas que, por outro lado, assemelham-se pelas relações sociais e pela condição que os coloca na escola, como alunos em confronto com a necessidade de aprender. Para a autora pensar no perfil do aluno que frequenta a escola, é reconhecer a sua diversidade seja nos aspectos social, de gênero, de idade, de etnias, de gostos, de opiniões, de ideias.

Um dos resultados da pesquisa de Santos (2009) é que os alunos atribuem sentido a aula de música a partir de suas vivências, tendo a si mesmo como referência. Assim, conseguem se colocar no lugar do outro ao simular uma situação

de ensino e aprendizagem em música e indicar abordagens de ensino, criticar, dar ideias, bem como identificar possíveis processos de ensino e aprendizagem em música. Santos (2009) elucida ainda, que quando o aluno fala daquilo que sabe de música indica conteúdos para ensino de instrumentos e apreciação musical. Para a autora, os alunos indicam que a escola serve para ajudá-los a saber ouvir música de forma diferente, saber interpretar e saber tocar bem. A aula de música é um espaço que possibilita a aceitação do outro, a partir do tipo de música que o outro gosta.