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O líder estudantil

No documento Paulo Egydio conta: depoimento ao CPDOC/FGV (páginas 66-100)

    

O senhor mencionou que seu interesse por política começou quando entrou para a universidade. Como foi isso?

Começou quando entrei para a . E minha participação nesse movimento se deveu a um único fato: eu era um espor- tista. Fui ser esportista porque, quando eu tinha  anos, um amigo me convidou para remar no Flamengo. Remamos no Flamengo, na lagoa Rodrigo de Freitas, e depois no Botafogo. E o que isso tem a ver com a ?

Vocês vão ver. Como já contei, no primeiro ano da Escola de Engenharia estudei muito cálculo. Já no segundo ano, fui convidado a participar da Federação Esportiva Acadêmica, , que abrangia toda a Universidade do Brasil. Eles sabiam que eu remava, porque eu tinha ganhado alguns campeona- tos, e resolveram me convidar. Passei então a ser diretor de remo da Escola. Já que a Escola não tinha uma representação nos campeonatos universitários de remo, que fiz eu? Reuni vários companheiros que se interessaram e levei para o Fla- mengo. No Flamengo, nós tínhamos um técnico sensacional, Rudolf Keller, que tinha sido o técnico de remo da equipe alemã na Olimpíada de , na Alemanha. Era um homem fantástico, porque, além de ser uma sumidade no esporte, era também um formador de caráter. Era um coach amigo. Nós nos relacionávamos com ele fora do Flamengo também. Por exemplo, no fim de semana, um chope com o Keller era absolutamente necessário, rotina. No bate-papo, ele nos trans- mitia a formação do espírito esportivo, a visão ética do es- porte, que é muito importante. Keller me marcou muito, pois era um homem extraordinário.

Nessa época, nós almoçávamos em leiterias, porque a nossa mania era beber um ou dois litros de leite por refeição e comer três ou quatro pãezinhos cortados ao meio com manteiga, ligeiramente esquentados na chapa – chamava-se canoinha. Um dia, estávamos eu,Alberto Caruso e mais uns dois ou três num bar chamado Gibi, no largo de São Francis- co, ao lado da Escola, tomando leite e comendo canoa, quan- do entrou um colega com uma lista perguntando se quería- mos assinar. Vi que era um manifesto: “Nós, estudantes da

Escola Nacional de Engenharia, protestamos contra...”Tinha a ver com a Lei Malaia, do Agamenon Magalhães.17Eu disse:

“Espera um pouquinho, por que ‘nós’? Eu não li. Você não pode usar o meu nome”. Ele: “Vai haver uma assembléia amanhã para decidir sobre isso, então você compareça à as- sembléia”. Eu nunca tinha ouvido falar em assembléia, não sabia o que era. Sabia o que era Diretório Acadêmico, só por causa de uma coisa: apostila. Era lá que se comprava. Diretó- rio Acadêmico era símbolo de apostila, e não só para mim como para a grande maioria.

Fui então com o meu grupo à tal assembléia. No meio da discussão, eu disse: “Presidente...” Perguntaram: “O se- nhor está inscrito para falar? Não? Então, se inscreva.Vá ali com o secretário”. Fui me inscrever e vi que a lista tinha  inscritos. Pensei: poxa, como é que eu vou falar? Cada um tinha direito a dez minutos, mas percebi que quando termi- nava o tempo do orador que estava falando, o seguinte dizia assim: “Sr. Presidente, quero comunicar que cedo o meu tempo ao colega”. E o sujeito continuava a falar. E assim su- cessivamente. Aí eu disse: “Espera aí, Presidente! Isso não pode! Desse jeito só esse cara vai ficar falando! Nós não es- tamos de acordo com isso!” Ele: “Ah, mas o regimento é as- sim”. Eu disse: “Ah, é!?” Fechamos a assembléia. Éramos es- portistas, fortes...Viramos a mesa, viramos aquilo de pernas para o ar. Quem eram os que estavam falando, o que estavam dizendo, nós não sabíamos.

Quando o senhor se inscreveu para falar, queria expressar al- guma opinião?

Eu queria entender melhor o que era a tal da Lei Malaia, que eu ignorava o que fosse. Minha reação foi a do esportista, primeiro, contra o sujeito que estava querendo usar o meu nome indevidamente, e depois, contra o fato de não me dei- xarem falar. Foi uma reação contra a intimidação, que aca- bou provocando uma verdadeira comoção na Escola. Havia uns  que tomavam parte nas assembléias, e o resto não dava a menor bola para aquilo. Mas, com aquele episódio, a Escola pegou fogo. “O que houve?” “Ah, houve isso, não me deixaram falar!” “Quem quer falar tem o direito de falar!” Ia haver uma eleição para o Diretório Acadêmico, e nós disse-

 Agamenon Magalhães foi por três vezes ministro de Vargas – uma vez do Trabalho (-) e duas da Justiça ( e ) –, governou Pernambuco em duas ocasiões (- e -) e foi deputado federal em várias legisla- turas. Como ministro da Justiça, assinou em  de junho de  a primeira lei brasileira antitustre, chamada por seus adver- sários de Lei Malaia em alusão às feições asiáticas do ministro.Ver DHBB.

 Álvaro Americano foi secretário de Administra- ção do estado da Guana- bara (-) no go- verno Negrão de Lima. José Bonifácio Diniz de Andrada Neto, conhecido como José Bonifácio Neto, foi deputado fede- ral (-, -). Fonte: www.tse.gov.br, acesso em //, e DHBB.  O Partido Comunista do Brasil () teve seu registro cancelado pelo Tribunal Superior Eleitoral () em  de maio de . Em outu- bro seguinte o Brasil rompeu relações com a União Soviética.Ambos os fatos se passaram durante o governo de Eurico Gaspar Dutra (-).Ver DHBB.

mos: “Não podemos ficar assim, vamos fazer alguma coisa!” Tudo por causa do jeito totalitário como nos trataram na as- sembléia. Criamos um partido chamado , União Politéc- nica, e fomos disputar o Diretório. Ganhamos! Melhoramos o serviço de apostila, e aí começamos a tomar conhecimen- to de que existia uma outra coisa, chamada União Metropo- litana dos Estudantes, a .

Quem era esse “nós” a que o senhor se refere?

Eu diria, para não errar, que eram % dos estudantes da Escola. Arrisco até a dizer %. Até então era uma minoria que atuava. O presidente da  na ocasião era um aluno da Escola chamado Bento Ribeiro. Bento veio nos dizer que ia haver o Congresso Metropolitano dos Estudantes, e que a Escola teria que mandar cinco representantes. Escolhemos os cinco representantes e fomos para o congresso, no prédio da , na Praia do Flamengo, onde ficava também a sala da . Foi a primeira vez que botei o pé no prédio da . O que era a União Nacional dos Estudantes, eu não sabia mui- to bem. Sabia que era uma entidade acima da .

Nesse congresso, encontramos com os representantes das faculdades da Universidade Católica. Havia dois rapazes de direito que eram brilhantes: Álvaro Americano e José Bo- nifácio. Ambos tiveram depois atividade política no Rio de

Janeiro.18 Eram dois oradores primorosos, e para nós, na-

quela época, pareceram figuras fulgurantes. Álvaro, udenis- ta, e José Bonifácio, pessedista, começaram a nos esclarecer qual era a política da  e da . Foi aí que nós tomamos conhecimento de que aquele movimento esquerdista dos es- tudantes derivava do fato de que o presidente Dutra – nós desconhecíamos isso completamente – tinha posto o Partido Comunista na ilegalidade e em seguida tinha rompido rela-

ções diplomáticas com a União Soviética.19A cúpula do 

entrou então para a Faculdade Nacional de Filosofia, e da Fi- losofia eles tomaram a , para torná-la a porta-voz do partido, que estava ilegal. Eu não tinha a menor noção disso. No desenrolar do congresso da , o mesmo sistema de repressão que tínhamos conhecido na assembléia na Esco- la continuou. Lá pelas tantas, José Bonifácio e Álvaro Ameri- cano chegaram para mim e disseram: “Olha, nós vamos em-

bora, porque não adianta, estamos perdendo tempo, eles já têm uma posição fechada e não há o que fazer”. Eu me virei para os dois e disse: “Se vocês querem sair, saiam. Nós não vamos sair. Quero saber como é isso, e como vai acabar.Va- mos ficar até o fim”. E ficamos sozinhos até o fim, sem poder nos manifestar. Quando acabou, voltamos para a Escola bra- vos, porque estávamos sentindo na pele que havia uma atua- ção realmente totalitária e discriminatória. O conceito de democracia de que ouvíamos falar, também de uma maneira muito ampla, era o de que todo mundo tinha direito de falar, a maioria decidia, esse tipo de coisa.

Logo em seguida a esse congresso, houve a eleição para a diretoria da , que, no Distrito Federal, era a única eleição direta – não era feita em congresso, era cada estudante de cada escola que votava. O pessoal veio me procurar: “Sabe de uma coisa? Já que nós estamos nesse rolo, vamos criar uma , União Universitária, e você vai ser o nosso candidato”. O que foi que eu fiz, já que ia ser candidato? Fiz um programa e passei a ir a todas as escolas, a todas as salas de aula, de manhã, de tarde e de noite. Pedia ao professor três minutos para fazer uma exposição, chegava para o pessoal e dizia: “Olha, vai ha- ver eleição para a , e o que acontece é que eles não estão nos dando liberdade de expressão”. Não usava a palavra “co- munistas”, por um motivo que vocês já vão ver. Sei que com isso houve um comparecimento recorde à votação. Não tenho certo de cabeça, mas acho que votaram oito mil estudantes, e eu ganhei por uns  votos apenas.

Foi então que tomei conhecimento de que existia uma coisa chamada ,Tribunal Eleitoral Metropolitano de Es- tudantes, cujo presidente era Celso Passos, uma grande figu- ra, um indivíduo fora de série, cujo pai, Gabriel Passos, tinha

sido procurador-geral da República no tempo do Getúlio.20

Vieram me dizer: “O  vai se reunir para discutir o que vai fazer”.A tese que o outro lado apresentava ao  era a de que, ao contrário do que determinava a constituição da , tinha sido politizada uma disputa estudantil. O proble- ma era que na Universidade Católica tinham posto um car- taz que dizia o seguinte: “Não votem nos amigos os.Vo- tem na ”. Diziam eles: “Todo mundo sabe que  é uma referência à União Soviética, portanto, ao comunismo! En-

 O pai de Celso Passos, Gabriel Passos, além de procurador-geral da República (-), foi constituinte em  e , deputado federal (-, - e -) e ministro das Minas e Energia do governo João Goulart, no gabinete parlamentarista de Tancredo Neves (-). O próprio Celso Passos foi deputado federal (/-, -).Ver DHBB.

 Célio Borja ingressou na Faculdade de Direito do Distrito Federal em , foi membro da Juventude Universitária Católica () e um dos fundadores do diretório nacional estudantil da . Em  foi eleito vice-presidente da , na chapa encabeçada por Genival Guimarães. No ano seguinte foi desti- tuído do cargo porque se opôs à filiação da  à União Internacional dos Estudantes, com sede em Praga. Foi deputado esta- dual na Guanabara (, -) e secretário de Administração (- ) do governo Carlos Lacerda. Foi ainda deputa- do federal (Arena-, - e Arena/- , -), ministro do Supremo Tribunal Fe- deral (-) e minis- tro da Justiça do governo Collor ().Ver DHBB.

tão, houve interferência política no movimento estudantil! A eleição tem que ser anulada!”

A cena da reunião do  está viva na minha memória. A reunião foi feita na , numa sala grande, que ficou api- nhada. Havia três janelões enormes que davam para a Praia do Flamengo, e havia gente no peitoril das janelas. Não dava para uma pulga entrar. O orador do outro lado, Odilair Am- brósio, estudante de medicina, brilhante, começou a defen- der a tese da anulação. Atrás dele ficou um companheiro nosso, um mineirinho, desses vivíssimos, safos. Odilair fala- va com um vozeirão que deixava todo mundo extasiado: “Houve interferência política! A eleição tem que ser anulada! Imagine, uma Faculdade de Direito de uma Universidade Católica não saber que urso não se escreve com dois esses!” Aí esse companheiro que estava atrás dele soprou: “Se escre- ve com cê-cedilha!” Ele: “Urso se escreve com cê-cedilha!” Quando ele soltou essa, a sala se esvaziou! Foi gente pulan- do para todo lado. Ele ficou passado, sem jeito, mas o impac- to do discurso foi-se embora. Celso Passos, que era uma pes- soa de muita personalidade, restabeleceu a ordem, pôs a questão em votação, e a eleição foi mesmo anulada. Foi feita uma segunda eleição, e ganhei por uns  votos de diferen- ça. Aí foi consagrador, e eu me tornei presidente da . Quem veio me dar a notícia foi o Célio Borja.21Nós estáva-

mos reunidos num bar na Praia do Flamengo, bem próximo à , esperando a conclusão da apuração – a última facul- dade que faltava era a do Catete –, Célio Borja veio nos en- contrar e disse: “Paulo, demos uma lavada!” Estavam comigo nessa época o Célio, o Hélio Bais Martins, o José Augusto Mac Dowell Leite de Castro... Havia outros companheiros de cujos nomes não me lembro.

  

Quando ganhei a eleição para presidente da , Rogê Fer- reira era o presidente da , e José Frejat era o vice-presi- dente. Rogê vinha de São Paulo, onde havia sido presidente do Diretório Acadêmico  de Agosto, da Faculdade de Direito do largo de São Francisco, que desde o Brasil Império tinha

uma importância enorme. Eu já trabalhava nessa época, e às seis e meia, sete horas, saía do trabalho e ia para a . Um dia eu estava entrando – tinha combinado um encontro com um pessoal de remo –, e estava o Rogê com um grupo razoa- velmente grande, de umas dez pessoas, no pé da escadaria. Vira-se ele para mim e diz: “Paulo, estou aqui para lhe dizer que este prédio é da , e que de hoje em diante você está proibido de entrar nele”. Eu disse: “Rogê, sou presidente da , e você não pode me proibir de entrar, porque a minha sala é aqui”. Ele respondeu: “Você não insista, porque, se ten- tar entrar, eu vou pôr você para fora. Eu ou os meus compa- nheiros”. Nesse instante preciso, os companheiros de remo que iam se reunir comigo entraram e ouviram esse fim de diá- logo. Um deles, de cujo nome me esqueço agora, virou-se e disse: “Se isso é um problema entre o Rogê e o Paulo, vocês deixem os dois se entenderem no meio do salão, mas não in- terfiram! Se interferirem, nós também vamos interferir”. Isso foi improvisado na hora. Quando o Rogê viu aquele impacto, subiu a escadaria da , entrou na sala dele e renunciou. Aí assumiu o José Frejat. Parte do meu período na  foi com o José Frejat na presidência da .22

O curioso é que muito tempo depois, há cerca de uns cinco anos, uma secretária do sindicato de jornalistas do Rio fez uma entrevista longa sobre a , comigo e com o José Frejat, e publicou uma ao lado da outra. Não fiquei com esse jornal, mas precisava encontrá-lo, porque é im- pressionante como, com o passar dos anos, a minha visão e a do José Frejat eram a mesma. Nós dois reconhecíamos a lisura da luta, cada um pelo seu ideal, mas sem baixarias, sem apelos. Até liguei depois para o José Frejat, falamos um tempo ao telefone, e perguntei se ele tinha guardado cópia da entrevista. Como eu, ele tinha perdido, e não se lembrava do nome da jornalista. Na minha casa, em São Paulo, existe um tal de Triângulo das Bermudas onde de vez em quando as coisas somem...

Houve invasões do prédio da  na sua época?

Não. Nós é que uma vez fizemos um bloqueio em frente à

por causa do aumento do preço do bonde. E depois blo-

queamos a Praia do Flamengo uma segunda vez, por causa de

 Rogê Ferreira foi eleito presidente da  para o período -, sucedendo a Genival Barbosa Guimarães (-), por sua vez sucessor de Roberto Gusmão (- ). Renunciou três meses antes do fim do mandato e foi substituído por José Frejat.Ambos seguiram carreira política: Rogê Ferreira foi deputado federal (-, -,  e - ); José Frejat tam- bém ocupou uma cadeira na Câmara (/-, -).Ver DHBB.

 Clemente Mariani foi ministro da Educação (-) do governo Dutra.Ver DHBB.

atropelamentos. Não havia um sinal ali, e dois estudantes que estavam indo para a  almoçar foram atropelados. Antiga- mente o restaurante dos estudantes era na , e havia gente que dependia daquela refeição.Vários colegas, meus amigos, para poderem estudar e comer, iam trabalhar no Cais do Por- to como “bagrinhos”, ou seja, como estivadores, carregando saco de café nas costas. Era um grupo grande, não era meia dúzia de estudantes. Quando eu resolvi construir o restauran- te do Calabouço, foi por causa dessa situação calamitosa. Como foi essa iniciativa de construir o restaurante do Cala- bouço?

O prédio da , como contei, tinha as salas da , no pri- meiro andar, e da , no segundo; tinha o Teatro do Estu- dante, do Paschoal Carlos Magno, e tinha um restaurante para estudantes, com refeição subsidiada, mas muito pequeno. O prédio tinha sido sede do antigo Clube Germânia, e durante a guerra Getúlio o desapropriou e o entregou aos estudantes. Era um prédio muito bom, mas a minha sala, por exemplo, não tinha nada.Apenas uma cadeira com pé quebrado. Eu era estagiário numa firma que possuía uma fábrica de móveis de aço, a , Produtos Elétricos Brasileiros, e consegui com o dono – que depois viria a ser meu sogro – que me doasse umas mesas e umas cadeiras que ele fabricava. Ele se entusias- mou com o fato de eu ser um rapaz que estava entrando no movimento estudantil e por isso me doou os móveis.A sala fi- cou caprichada, com mesa de reunião, dava até um certo des- taque ao prédio da . Mas o restaurante era uma coisa ter- rível, porque, além atender a um terço das pessoas que queriam comer lá, era muito mal instalado.

Ao assumir a presidência da , comecei a tomar co- nhecimento de algo de que eu realmente não tinha me dado conta na Escola de Engenharia: de que havia estudantes de várias outras escolas que tinham uma situação social extre- mamente precária.Vendo aquele contraste social intenso, eu disse: “Temos que criar um restaurante muito maior”. Era a

época do ministro Clemente Mariani,23cujo chefe de gabi-

nete, não hei de esquecer nunca, chamava-se Prisco Paraíso. Tive um entendimento muito bom com o ministro e com Prisco Paraíso, e consegui uma verba. Havia também outra

coisa: é que um dos meus companheiros de chapa, Hélio Bais Martins, do Mato Grosso, era filho do senador Vespasiano

Martins,24e o senador também aprovava verbas para a 

no Senado. Clemente Mariani – ou não me lembro agora se o Senado, ou alguém mais – nos fez uma doação para a cons- trução do restaurante do Calabouço e deixou a administra- ção inteiramente entregue a nós. Pudemos fazer um restau- rante amplo, grande, que atendia a praticamente todo mundo, e mantivemos o mesmo preço, que era bastante acessível. E a refeição também era feita por um pessoal que sabia balancear, nutricionistas mesmo.

Como foi feita a escolha do local do restaurante?

O terreno da ponta do Calabouço era o que havia de dispo- nível na época, o que podia ser cedido a nós. Não me lem- bro de qual foi a repartição pública que nos cedeu, mas sei que ali foi possível realizar o sonho do restaurante dos estu- dantes. Era um terreno grande, com um barracão enorme. O barracão foi aproveitado, reformado, adaptado, mobilia- do, e entregue a nós. O restaurante funcionava perfeitamen- te bem e atendia a todos os estudantes, de qualquer faculda- de, mesmo particulares.

A  comandou alguma greve na sua época?

Sim. Havia uma famosa faculdade particular de Ciências Mé- dicas, num subúrbio do Rio, e eu me lembro de que, ainda comigo na presidência da , nós fizemos uma greve con- tra o dono – se não me falha a memória, chamava-se Rolan- do Monteiro.Acabou virando uma greve nacional. O pessoal veio me procurar dizendo que tinha havido, nessa faculdade, um aumento de mensalidade escorchante, que eles não esta- vam conseguindo pagar, e que o tal Rolando Monteiro não dava matrícula sem o pagamento. Muitos estavam no meio do curso, ameaçados de ficar com a carreira interrompida. Olhei, verifiquei, medi, remedi e resolvi fazer uma greve lo- cal. Foi feita então uma greve na área do Distrito Federal. Mas aí verificamos que aquilo não estava tendo suficiente re-

No documento Paulo Egydio conta: depoimento ao CPDOC/FGV (páginas 66-100)

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