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CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1. CONCEITOS CHAVE:

2.1.1. Língua Materna; Língua Segunda

A língua acompanha a história da sociedade de que ela é o veículo de comunicação. Ela é considerada um dos aspectos mais determinantes da identidade, visto transcender todos os outros traços culturais, na medida em que tem a capacidade de tudo nomear, tudo exprimir, avaliar e transmitir para além de ser o factor de união entre povos, independentemente da sua área geográfica.

No mundo de hoje, são muitos e numerosos os casos em que as línguas diferentes convivem, em áreas geográficas limitadas. Esta coexistência é o resultado de condições políticas, sociais, culturais, comerciais, científicas, técnicas, entre outras. É assim que surgem falantes de duas ou mais línguas com estatutos diferentes e, por conseguinte, é necessário explicitar e contextualizar os conceitos.

Concretamente, no caso da LP, ela alarga o seu contacto com outras línguas a partir do século XV, altura do início da expansão marítima europeia. Portugal é o país europeu pioneiro deste grande empreendimento político e económico da europa. Como a língua faz parte da identidade de qualquer povo, a LP viaja com os navegadores portugueses e começa assim, o início de uma doradoira convivência com as línguas dos continentes americano, africano e asiático. Assim, a LP, passa a ter estatutos diferentes LM, L2 e LE, dependendendo das opções políticas de cada país.

Vamos falar primeiramente da língua de primeira aquisição-LM. As definições de LM na literatura da especialidade, não têm sido lineares pois não é fácil, segundo estudiosos estabelecer uma fronteira entre esta e uma outra, considerada estrangeira.

Para Ançã (1999), o conceito de LM remete-se para os seguintes aspectos: Afectivo, a língua falada por um dos pais; ideológico- a língua falada no país onde se nasceu e onde se vive; auto-designação/pertença, a língua pela qual o falante manifesta um sentimento de posse mais marcado do que em relação a outras línguas: primazia, a primeira língua compreendida e aprendida; por último, domínio, ou seja, a língua que se domina melhor.

Outrossim, a expressão língua materna baseada na etimologia provém do termo mãe. Costume em que as mães ou parente próxima eram as únicas a educar os seus filhos na primeira infância, fazendo com que a língua da mãe fosse a primeira a ser assimilada pela criança, condicionando O seu aparelho fonador ao seu sistema linguístico. Outras considerações alegam que a denominação L M justifica-se por ser aprendida e utilizada como primeiro instrumento de comunicação, desde a mais tenra idade. Também é a língua do país de origem do sujeito falante. Esta última afirmação não é de todo tida em conta, pois em certos países a língua do falante (criança) não é a mesma da dos seus pais. Ançã (2005) contrapõe “esta definição pode ser ambígua em contextos onde coabitam mais de uma língua (casa, país) ”. Acrescenta, “Além do mais, a própria língua materna, tendo sido adquirida em meio familiar e sendo usada apenas em casa e entre pares, não apresenta bases que permitam uma consciencialização sobre ela, nem a possibilidade de estabelecer pontes com a língua que se aprende na escola” (Ançã, 1999).

Segundo Sim-Sim (1998), LM de um sujeito é “o sistema adquirido espontânea e

naturalmente, e que identifica o sujeito com uma comunidade linguística”. Esta

definição aproxima-se das outras que defendem que a língua materna é aquela adquirida num momento mais favorável à aquisição da língua, aquela que a criança é exposta logo à nascença. Esta linha de pensamento aproxima-se da chamada “língua nativa”. Conceito que não é linear, pois a língua que se aprende

primeiro pode não ser a língua materna, devido a influências posteriores ou outras.

Galisson & Coste, (1983:442), a LM “é assim chamada porque é aprendida como

primeiro instrumento de comunicação, desde a mais tenra idade e é utilizada no país de origem do falante”

Dabène (1994: 9-27) conclui que há uma "verdadeira constelação de noções" que estão por detrás do termo língua materna: (i) falar, que corresponde ao conjunto das potencialidades individuais dum sujeito e às práticas daí decorrentes; (ii)

língua reivindicada, que corresponde ao conjunto de atitudes e de representações

dum sujeito ou grupo, face à língua como elemento de identidade: (iii) língua

descrita, que corresponde ao conjunto de instrumentos heurísticos de que dispõe

o aprendente. Em situações monolingues, os três níveis estariam tão próximos que se poderiam confundir.

Torna-se impossível uma definição únivoca de LM. Refere-se em adquirir a LM de forma espontânea e natural, é de salientar que sempre existe orientação pedagógica mesmo que em ambientes informais através de correcções, repreensões e repetições.

Mackey (1992), citado por Ançã (1999) propôs três critérios para definição de LM, segundo os países em que desenvolveu o seu estudo: primazia, a primeira língua aprendida e a primeira língua compreendida (Canadá), domínio, a língua que se domina melhor (Suíça), associação, pertença a um determinado grupo cultural ou étnico (Áustria). Entretanto, qualquer definição de LM pode ser sempre contestada. Por exemplo, as definições que privilegiam o critério “domínio“ (LM é a língua que o sujeito domínia melhor). Embora alguns autores demonstrem que o critério domínio deve prevalecer, outros teóricos, nomeadamente, Ançã (2007) questiona-o quando afirma “ o domínio [que] pode focalizar, ao longo da vida,

Se o termo LM é devido à sua aquisição “natural” e outros pressupostos, tendo em conta a nossa realidade linguística e apoiando-se em várias teses, então, diremos que a LM em Cabo Verde é CCV, língua falada desde o berço e aquela em que o cabo-verdiano tem maior domínio (oral).

Mas, a nossa realidade linguística é constituída por duas línguas que convivem quotidianamente de forma harmoniosa. Uma língua que é falada no convívio familiar e informal e uma outra que pertence ao mundo da escrita, do ensino e utilizada em contextos formais (LP).

Quanto ao conceito de L2. O Dicionário de Didáctica das Línguas regista a seguinte definição ”Língua segunda e língua estrangeira definem-se ambas como

não-maternas (são instrumentos de comunicação secundários e auxiliares), mas distinguem-se uma da outra pelo facto da língua segunda beneficiar oficialmente de um estatuto privilegiado. Enquanto a língua estrangeira é aprendida por indivíduos, a língua segunda é ensinada como língua veicular a toda uma comunidade em que a (ou as) língua (s) materna (s) é (ou são praticamente desconhecida (s) fora das fronteiras do país.” (Galisson & Coste, 1983: 442-443).

Para Ançã (2007) “o termo L2 surge, por vezes, como sinónimo de língua

estrangeira. No entanto, um espaço próprio onde deva caber a língua segunda, distinta da língua materna e também da língua estrangeira, parece inevitável”. A

L2 é definida como uma língua de natureza não materna, mas com um estatuto particular. Ou é reconhecida como oficial em países bilingues ou plurilingues, nos quais as línguas maternas ainda não estão suficientemente descritas. Caso dos países africanos de expressão portuguesa ou ainda os casos de comunidades multilingues,sendo essa língua uma das línguas oficiais (ex. a língua francesa na Suíça).

Leiria (1999) sustenta que a L2 é frequentemente a ou uma das línguas oficiais. É indispensável para a participação na vida política e económica do Estado e é a língua, ou uma das línguas da escola. A L2 tem determinadas características que

a distinguem de outras variedades nacionais ou regionais da mesma língua, características essas que se reflectirão no discurso do falante não-nativo.

Richards (1987:7) comenta “o termo segunda língua (…) tem sido cada vez mais

usado em linguística aplicada para referir a aprendizagem de qualquer língua depois da primeira, indepentemente do estatuto dessa língua em relação a quem a aprende ou ao país em que essa língua está a ser aprendida”.

No tocante à LP, Leiria afirma que existe uma diversidade de situações de contacto e de contextos de aprendizagem de que têm resultado produtos linguísticos, de grupo ou individuais entre si. Continua, confirmando que esses produtos são designados pelos termos Português língua segunda e Português língua estrangeira. Questiona se todos estarão de acordo quanto à terminologia atribuída a cada um. É perempetória em responder que não.

Stern (1983:16), a LS/L2 é utilizada para classificar a aprendizagem e o uso de uma língua não nativa dentro de fronteiras territoriais em que ela tem uma função reconhecida enquanto que a LE deve ser usada para classificar a aprendizagem e o uso em espaços onde essa língua não tem qualquer estatuto sociopolítico.

Já Ngalasso (1992) propõe duas definições para a L2: uma cronológica e outra institucional. A primeira definição assenta em critérios psicolinguísticos e tem a ver com a ordem pela qual a língua é adquirida, isto é, língua segunda, língua adquirida em segundo lugar, a seguir à materna enquanto que a segunda definição, baseia em critérios sociolinguísticos. Esta aponta para uma língua internacional, que recobre as funções sociais consideradas oficiais, num dado país. Consequentemente, é considerada a língua de prestígio.

Aproximamo-nos da tese sustentada que a L2 é língua oficial e escolar, enquanto LE, apenas espaço da aula de língua. A L2 deve ser encarada como língua de comunicação, assentando a sua pedagogia num conjunto de actividades conducentes à aquisição de uma competência comunicativa. Igualmente, o seu

ensino deve respeitar a variante ou variedade de cada país, pois qualquer língua varia entre outros aspectos no espaço.

Referindo-nos concretamente à LP, devemos ter em conta que se encontra espalhada pelos cinco continentes mas com estatutos diferentes (LM, L2 e LE) e matizes, também, diferentes. A este respeito, Ançã (2003) refere que “Os conceitos LM, L2 e LE são/podem ser evolutivos (…)”, integrando estes conceitos um espaço mais lato que designamos por Lusofonia, ou seja, a LP que é comum ou património de milhões de falantes, mas realizada em diferentes variedades.

2.1.2. A escrita: Uma breve abordagem e aprender a escrever uma actividade