2 REQUERIMENTOS DE COMPATIBILIDADE
2.2 REQUERIMENTOS DE COMPATIBILIDADE NAS
2.2.2 Línguas com Requerimento de Compatibilidade Parcial
ocorrem em termos de Compatibilidade de Caso. Ou seja, quando o Caso fornecido pelo núcleo da sentença matriz não é compatível com aquele fornecido pela sentença encaixada. Essa incompatibilidade de Casos se revela de três formas: ou há sincretismo de Casos, ou o pronome relativo realiza apenas um dos Casos, ou há um clítico resumptivo que recebe o Caso de um dos núcleos envolvidos na
(i) [RL S kime god budeš pricáo] osvojiće šampionat.
Com quem quer-que tu falou ganhará o-campeonato. (ii) [RL Kome god budeš pomogao] osvojiće šampionat.
Quem quer-que tu ajudou ganhará o-campeonato.
(IZVORSKI, 1996, p.91) Voltaremos a esse assunto na seção (2.3.2.1) “RLs que funcionam como sujeito” e argumentaremos para provar que sentenças com (i) são, na verdade, relativas com núcleo nominal implícito.
construção da sentença (van RIEMSDIJK, 2000). Em qualquer das possibilidades, o Requerimento de Compatibilidade ocorre apenas em termos de Compatibilidade Categorial.
O sincretismo de Casos ocorre em línguas que têm pronomes relativos com a mesma forma para um ou mais Casos abstratos, como alguns pronomes relativos do alemão e do polonês; e em línguas sem marcação de Caso morfológico, como o PB. No alemão, por exemplo, o pronome relativo was tem a mesma forma para o nominativo e acusativo:
(7) Was du gekocht hast ist schimmlig. O+que você cozinhou está mofado.
(RIEMSDIJK, 2000, p.18) Em (7), o pronome relativo was pode “escolher” o seu Caso: receber acusativo do verbo gekocht (cozinhar) da sentença encaixada, já que é seu argumento interno; ou receber nominativo da flexão Iº do verbo ist (estar) da sentença matriz, já que encabeça a RL que é sujeito da sentença.
No polonês, o pronome relativo quem tem a mesma forma kogo para o acusativo e genitivo:
(8) Jan nienawidzi kogo (kolwiek)ACC/GEN Maria lubi eACC.
João odeia quem (quer-que) Maria gosta.
(CITKO, 2000, p.10) A segunda possibilidade de incompatibilidade de Casos ocorre quando o pronome relativo realiza o Caso de apenas um dos núcleos envolvidos na construção da sentença. Vogel (2001, 2002), que trabalha com a Teoria da Otimalidade, coloca nesse grupo o islandês, alemão A, alemão B, gótico, romeno e grego moderno. O interessante dessas línguas é que mesmo não havendo Requerimento de Compatibilidade casual, há certa regularidade nas marcações de Caso.
No islandês, o pronome relativo realiza o Caso atribuído por um núcleo da sentença matriz e apaga o Caso que seria fornecido por um núcleo da sentença encaixada:
(9) Ég hjálpa hverjum / *hvern (sem) ég elska. Eu ajudo quemDAT / *quemACC (que) eu amo.
(9) só é gramatical se o pronome relativo realizar o Caso dativo hverjum (quem) atribuído pelo verbo hjálpa (ajudar) da sentença matriz.
Ao contrário do islandês, na variante A do alemão, o pronome relativo sempre carrega o Caso atribuído por um núcleo da sentença encaixada e apaga aquele atribuído por um núcleo da sentença matriz: (10) Er zerstörte was / wer ihm begegnete.
Ele destruiu o+que/quemNOM eleDAT afrontou.
‘Ele destruiu o que/quem o afrontou’.
(VOGEL, 2001, 2002) Em (10), o pronome relativo wer (quem) tem a forma nominativa, atribuída pela flexão Iº do verbo da sentença encaixada begegnete (afrontar). Também é possível que o pronome relativo tenha a forma neutra was. Nesse caso, não sabemos quem é o atribuidor de Caso já que esse pronome apresenta sincretismo de Caso (cf. (7)). Segundo Vogel (2001, 2002), o Caso atribuído por um núcleo da sentença matriz só não pode ser apagado se ele for da forma oblíqua (dativo, genitivo ou PP). Nesse caso, a RL tem Requerimento de Compatibilidade Pleno.
Na variante B do alemão, as RLs são sensíveis a seguinte hierarquia de Casos: nominativo < acusativo < dativo, genitivo, PP (PITTNER45, 1991 apud VOGEL, 2001, 2002):
(11) a. *Er zertörte, wer ihm begegnete. Ele destruiu quemNOM oDAT afrontou.
b. Ihm begegnete, wen er zerstören wollte. eleDAT afrontou quemACC ele destruir queria.
‘Quem ele queria destruir o afrontou’.
(VOGEL, 2001, 2002) Pela hierarquia de Casos apresentada por Pittner, o Caso mais marcado é o que está mais à direita. Para ser gramatical, o Caso deve ser atribuído por um núcleo da sentença encaixada e esse Caso deve ser mais marcado/mais especificado do que aquele fornecido por um núcleo da sentença matriz. Ao contrário do alemão A (cf. 9), no alemão B, (11a) é agramatical. O pronome relativo wer (quem) realiza o Caso nominativo atribuído pela flexão Iº do verbo begegnete (afrontar) da sentença
45 PITTNER, Karin. Freie relativsätze und die kasushierarchie. In:
encaixada. No entanto, o caso mais marcado, que foi apagado, seria o acusativo atribuído pelo verbo zertörte (destruir) da sentença matriz. Em (11b), o Caso mais marcado é o acusativo atribuído pelo verbo zerstören (destruir) da sentença encaixada. O nominativo, disponibilizado pela flexão Iº do verbo begegnete (afrontar), por ser menos marcado, é apagado.
A mesma hierarquia de Casos do alemão B vale para o gótico e para o romeno. Essas línguas, porém, são mais flexíveis. Apenas exigem que o Caso mais marcado seja o realizado pelo pronome relativo: (12) Romeno:
a. Cuí í se dă de mîncare trebuie să muncească. QuemDAT ele mesmo dar de comer deve SUBJ trabalhar.
‘Quem quer comida deve trabalhar’.
Gótico:
b. Jah po-ei ist us Laudeikaion jus ussiggwaid. E ACC-compl é de Laodicea você lê.
‘E você lê o que é de Laodicea’.
(VOGEL, 2001, 2002) Em (12a), do romeno, o Caso mais marcado é o dativo, atribuído ao pronome relativo cuí (quem) pelo verbo da sentença encaixada dă (dar). Em (12b), do gótico, o Caso mais marcado é o atribuído pelo verbo da sentença matriz ussiggwaid (ler). O Caso nominativo de ambas as sentenças de (12) são apagados por serem menos marcados.
Por fim, o grego moderno:
(13) Agapo opjon /*opjos me agapa.
Amo quemACC / *quemNOM me ama. (VOGEL, 2001, 2002)
Nessa língua, o pronome relativo realiza o Caso atribuído por um núcleo da sentença matriz. Em (13), o Caso realizado pelo pronome relativo tem que ser o acusativo, opjon (quem), atribuído pelo verbo apago (amar) da sentença matriz. No entanto, se o Caso atribuído por um núcleo da sentença encaixada for da forma oblíqua, um clítico resumptivo terá que ser inserido para receber esse Caso:
(14) Tha voithiso opjon tu dossis to onama um. Ajudarei quem+quer+queACC clit.GEN der o nome meu.
Em (14), o clítico tu é inserido para receber o Caso genitivo atribuído pelo verbo da sentença encaixada dossis (dar). O pronome relativo opjon (quem) recebe Caso acusativo do verbo tha voithiso (ajudar) da sentença matriz.
Em resumo, vimos que o Requerimento de Compatibilidade se manifesta de maneira paramétrica entre as línguas. Há as que têm Requerimento de Compatibilidade Pleno e obrigatório e há aquelas que variam, mas mesmo assim são regradas na compatibilidade de Caso. Nesse último caso, estão, entre outras, línguas com morfologia casual rica que não apresentam o Requerimento Casual de Compatibilidade. Essas línguas se encaixam em um dos três grupos: sincretismo; atração de Caso e inserção de um clítico para realizar o Caso de um dos núcleos envolvidos na construção da sentença.
2.3 ASSENTANDO OS REQUERIMENTOS DE COMPATIBILIDA- DE DO PB