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CAPÍTULO 2 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO SOCIAL

2.1 A lógica do capital

Para entender melhor sobre esse complexo social e sobre as consequências que respaldam na educação é necessário um esclarecimento sobre o modo de produção no qual vivemos. Para isso, utilizaremos as reflexões a partir de Tonet (2012). O sistema capitalista compreende uma relação social na qual se baseia na compra e venda da força de trabalho objetivando uma dominação do capital pelo trabalho. Funciona da seguinte maneira: o trabalhador é livre para vender a sua força de trabalho e o capitalista compra esta força. Por ser a única alternativa do trabalhador, essa liberdade de venda é questionável. Nessa relação vale ressaltar que esse trabalho vivo é o único que gera valor e é agregado ao seu produto final. No término desse processo, o proletariado recebe uma quantia em dinheiro referente à reprodução da força de trabalho – salário. Contudo, este salário não corresponde à produção do proletariado de fato, pois em meio a esse procedimento ocorre a exploração de mais valia.

37 O trabalhador produz durante parte da sua jornada de trabalho o necessário para cobrir com os gastos da sua reprodução, após cumprir com o seu tempo de trabalho socialmente necessário que corresponde ao salário que recebe, o trabalhador produz um excedente que é apropriado pelo capitalista, ou seja, o preço da realização na mercadoria produzida é maior do que o salário que foi pago para quem a produziu, então o capitalista explora a força de trabalho do proletariado se apropriando desse excedente e o transformando em propriedade privada por exemplo (TONET, 2012).

Visto isso, percebe-se claramente a relação desigual e contraditória nesse processo e fica em evidência que essa relação não é uma determinação da natureza, é um processo de relações sociais e histórico-sociais intrínsecas ao capital. É dessa maneira que ele sobrevive e se reproduz, retirando qualquer tentativa de amenizar o processo, pois esta é sua lógica.

Assim, produzir desigualdades sociais não é um defeito da produção e reprodução do capital. É um dado essencial da sua natureza. Por isso mesmo, é absolutamente impossível construir uma autêntica comunidade humana sobre a base do capital. (TONET, 2012, p. 22)

Dando continuidade a questão da desigualdade, podemos observar que ela se expressa de diversas maneiras, não só nessa relação da contradição entre o capital e o trabalho, ela se desdobra e vai além. Como dito acima, nesse complexo social a luta de classe se faz presente e é necessária. Esta luta envolve a disputa entre o vendedor da força de trabalho e o detentor do meio de produção, nesse processo sabe-se que com o avanço da tecnologia, o desenvolvimento das forças produtivas seria capaz de diminuir o tempo de trabalho socialmente necessário possibilitando tempo para se dedicar a outras atividades que não estejam ligadas ao trabalho para que este seja um indivíduo desenvolvido em outros campos e aspectos. No entanto o efeito é ao contrário, quanto mais as forças produtivas se desenvolvem, mais se substitui o trabalho vivo pelo trabalho morto, exigindo mais dos trabalhadores que sobram, aumentando a lucratividade do capital e explorando cada vez mais o proletariado que tem sua jornada de trabalho mais intensificada sob o rótulo do trabalhador polivalente que deve ter sua produtividade aumentada. Isso acontece porque é a lógica do capital.

Na acumulação capitalista, a busca pelo lucro é da essência dessa relação e devido a essa acumulação, as consequências sobram para a classe trabalhadora. A

38 consequência aparece no grande aumento do desemprego, ou seja, o contingente de trabalhadores que não é absorvido pelo mercado de trabalho se acumula no que Marx chama de exército industrial de reserva. Os salários são jogados para baixo fazendo com que cada vez mais haja uma dominação sobre a força de trabalho, as relações trabalhistas são cada vez mais enfraquecidas, flexíveis e vulneráveis no capital, aumenta o trabalho informal, acirra-se as competições e isso esbarra nas relações sociais.

Quando se desdobram essas indagações podemos perceber como ela vai além do espaço/tempo local de trabalho e o agora. O trabalhador que fica desempregado tem família que depende dele, o individualismo nas relações sob a ideia de um Darwinismo Social2 aumenta. A busca excessiva pelo novo emprego lhe custa o tempo com a família, acirra a má alimentação já que o dinheiro é escasso, isso reflete em sua saúde, os filhos ou a própria geração deste trabalhador tem que optar por abandonar os estudos e trabalhar deixando a educação em segundo plano. O contingente de trabalhadores desempregados que não é absorvido pelo mercado e vai se espraiando entre os trabalhadores informais, mendicância e na instauração da barbárie, o recurso usado por muitos é o da violência.

Em suma, essa contradição entre o capital e o trabalho, onde é evidente que a produção de riqueza está necessariamente relacionada à produção de pobreza mostra a essência do modo de produção capitalista, concentração e centralização de capital, fazendo com que as expressões da questão social se manifestem. Os problemas sociais se agravam ganhando expressões nos campos da saúde, segurança, habitação, educação entre outros. A ideia do individualismo e a não percepção de quem é a classe explorada em sua totalidade de fato faz com que se acirrem também as relações entre os indivíduos.

Cada fato desses problemas sociais é desdobrado em diversas bibliografias, o foco desse trabalho é tentar explorar o campo educacional para assim tratar sobre o que acontece nas escolas. Com o panorama da explicitação acima sobre o modo de produção dominante, domínio este não só de mercado, mas também ideológico, já mostra como a educação é permeada nessa sociedade. Para pensar a educação então deve-se levar em consideração todas essas questões, deve-se pensar na violência, na fome, na pobreza, no desemprego, etc. A desvalorização completa das

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Utilizando a construção do pensamento de Darwin sobre a evolução da seleção natural dos seres vivos.

39 escolas públicas, onde se materializa a educação oferecida obrigatória e gratuita para a imensa maioria da população não está à parte desse processo, pelo contrário, o sistema se utiliza dela para se concretizar e dar sustentabilidade das suas ações.