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CAPÍTULO 2 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO SOCIAL

2.2 Políticas Sociais e “Questão Social”

Considerando as compreensões sobre a lógica do capital podemos perceber então o ambiente no qual políticas importantes para a sociedade, como a educação, por exemplo, estão permeadas. Faleiros (2000) tem grandes contribuições ao tema das políticas sociais e afirma que o Estado não é um instrumento ilimitado de acumulação de capital, ou seja, suas ações também são voltadas à classe trabalhadora, mesmo que seja para sustentar a hegemonia burguesa. Mas o processo está sempre permeado por contradições. Isso posto, significa que deve haver intervenção para os interesses da classe trabalhadora neste caso, através de políticas sociais.

Dessa maneira, a intervenção estatal aparece categorizada e as manifestações da “questão social” agrupadas por nomes, fragmentadas, sem serem vinculadas a uma unidade da estrutura econômica. Netto (2001) trabalha em seu texto “cinco notas a propósito da questão social” o entendimento a ela no marco da tradição teórico-política. A dizer, o autor busca sua gênese na terceira década do século XIX onde o termo era utilizado para dar nome ao fenômeno do pauperismo na Europa e essa mudança do termo tem a ver com os desdobramentos sócio- políticos. Já na segunda metade do século XIX passa a ser utilizado pelos conservadores, aos que diziam que tal fenômeno era inerente a toda e qualquer ordem social e que qualquer forma de intervenção reformista apenas atenuaria a situação e aos que diziam que reconheciam a gravitação da questão social e se apelava para medidas sócio-políticas para diminuir os seus gravames, insiste em que somente sua exacerbação contraria a vontade divina. Em qualquer dos casos o que se vê é que qualquer tentativa de enfrentamento é para preservar a propriedade privada e a ordem burguesa.

A afirmação de Netto (2011) dizendo que o cuidado com as manifestações da questão social é expressamente desvinculado de qualquer medida tendente a problematizar a ordem econômico-social estabelecida nos faz observar que se

40 pensarmos nos problemas envolvendo a educação, não há medida que será feita para quebrar com este ciclo da hegemonia capitalista. Não haverá então uma intervenção da melhoria da educação voltada para a emancipação humana, apenas reformas pontuais.

De todo o sentido, é necessário uma consciência política para a compreensão da causalidade da “questão social” que é diferente de uma demanda de escassez anteriormente vivida e também é necessário compreender a relação contraditória em alguns países que viveram o período do Welfare State mascarando a questão social enquanto esta se exaltava nas periferias. Netto termina reiterando que a cada fase do capitalismo se instaura expressões sócio-humanas diferenciadas e mais complexas, correspondentes à intensificação da exploração, logo não há uma nova “questão social” e sim novas expressões da mesma “questão social”.

Posto esses princípios, as respostas oferecidas para tais expressões da “questão social” ora vem em forma de políticas sociais para a educação, a saúde, habitação, porque de alguma forma, medidas devem ser tomadas para a reprodução do próprio sistema e ora vem em forma de intervenção da força institucionalizada. Apesar de aparecer única e exclusivamente como manutenção de um sistema, as políticas sociais também são encaradas como grandes conquistas da classe trabalhadora.

Faleiros sustenta que as políticas exercem funções nesta sociedade, dentre elas a função ideológica. Não há forma mais controladora do que pela ideologia porque ela produz uma falsa consciência sobre os acontecimentos onde se escamoteia e dilui a contradição, passando a ideia de um Estado neutro em suas ações. Essa falsa consciência que esconde a contradição culpabiliza o indivíduo pelo seu fracasso. Então a educação deficiente é o problema do mau comportamento do aluno por exemplo. As políticas sociais também exercem a função de contratendência à baixa tendencial da taxa de lucro, uma vez que o ciclo do capital tende a queda o Estado desempenha artifícios para retardar tal processo.

O Estado capitalista é uma garantia de manutenção das condições gerais de reprodução do capital e da produção, isto é, da acumulação capitalista. Ele assume os investimentos não rentáveis para o capital, assumem os investimentos que demandam recursos que superam a disponibilidade dos capitalistas, transforma os recursos públicos em meios de favorecer e estimular o capital, cria a infra-estrutura necessária para os investimentos e a circulação do capital, estabelece facilidades jurídicas e, sobretudo, gere a moeda e o crédito a favor da acumulação de capital, e investe em grandes empreendimentos, aplanando com tudo isso a

41 concorrência intercapitalista. (FALEIROS, 2000, p.65)

A valorização e validação da força de trabalho também são funções da política social e elas capacitam a força de trabalho, mantendo-a apta para o ingresso ao mercado diminuindo assim os custos do capital e com isso também valoriza este. Além disso, é necessário que o indivíduo se sinta validado socialmente. Em suma ela produz um estímulo à produtividade, ao consumo e mantém a paz social.

As políticas sociais também para o autor contribuem para a reprodução dinâmica das desigualdades, onde se acumula capital e legitima-se a manutenção da ordem social. Lembrando que se deve considerar o movimento real da sociedade onde as políticas sociais se desenvolvem e retraem de acordo com a conjuntura política. Em suma, em contexto de redução da responsabilidade pública, desmobilização da classe trabalhadora, flexibilização das relações de trabalho, intervenção através da força pelo Estado, esta conjuntura tende a não favorecer os reais interesses da população e os setores mais desfavoráveis como a educação sofre fortes perdas. Devemos, porém, afirmar que mesmo nos moldes dessas funções exercidas pelas políticas sociais, os direitos sociais efetivados através delas são passos importantes que podem contribuir para uma forma mais democrática de acesso a direitos.