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Lógica Clássica de Predicados de 1 a Ordem

No documento Lógica BDI fuzzy (páginas 33-38)

A lógica clássica de predicados de 1aordem surgiu da necessidade de uma maior expressibilidade a qual a lógica

proposicional clássica não era capaz de oferecer. Pois, esta não é suficientemente expressiva para representar perfeitamente em sua linguagem formal expressões do tipo “todos os seres vivos vão morrer” ou “não existem jacas lisas”. Para representar tais sentenças é desejável fazer-se uso de predicados, tais como: LISAS(x) e VAI_MORRER(x), e dos quantificadores para todo (∀) e existe (∃). Assim as sentenças seriam escritas em linguagem formal de 1aordem, respectivamente, por

∀x.(SER_VIVO(x) → VAI_MORRER(x) ¬∃x.(JACAS(x) ∧ LISAS(x)).

Há vários detalhes acerca da construção de sentenças em linguagem de predicados e seus diferentes significados, bem como, a interpretação do ∀ e o ∃ como sendo, respectivamente, uma conjunção e uma dis- junção de predicados ambas infinitas, no entanto, tais detalhes não serão tratados aqui. Preocupar-se-á apenas em mostrar a teoria formal dessa lógica2.

3.2.1 Linguagem de 1

a

Ordem

A linguagem de 1aordem deve ser capaz de considerar o valor de verdade de sentenças construídas a partir de

sentenças atômicas as quais ora são falsas ora são verdadeiras dependendo do valor do universo de domínio, por exemplo: “x é brasileiro” é uma asserção atômica que poder ser verdadeira ou falsa, pois ela é representada

CAPÍTULO 3. LÓGICAS MODAIS E TEMPORAIS 34 em linguagem de 1aordem a partir de um predicado aplicado a um argumento o qual pode assumir diferentes

valores.

Como nas linguagens de 1aordem o alfabeto (Σ) contém variáveis, símbolos de função, símbolos

de predicados e operadores lógicos, então, ele deve ser definido a partir de Σ-estruturas. A linguagem de 1a

ordem, a ser usada neste trabalho, tem seu alfabeto definido a seguir:

Σ = X ∪ ΣC∪ ΣF∪ ΣR∪ ΣL∪ ΣP

onde

1. X = {x, y, z, x1, x2, . . . , y1, y2, . . . , z1, z2, . . .} é um conjunto enumerável de símbolos de variáveis

2. ΣC = {a, b, c, a1, a2, . . . , b1, b2, . . . , c1, c2, . . .} é um conjunto enumerável de símbolos de con-

stantes

3. ΣF = {f, f1, f2, f3. . .} é um conjunto enumerável de símbolos de funções

4. ΣR= {P, P1, P2, P3. . .} é um conjunto enumerável de símbolos de relações ou predicados

5. ΣL= {¬, ∨, ∧, →, ↔, ∀, ∃} é o conjunto de símbolos lógicos

6. ΣP = {(, ), ., , } é um conjunto de símbolos de pontuação.

ΣL é o mesmo para qualquer linguagem de predicados de 1a ordem (a não ser que seja feita a

simplificação desta estrutura e se defina uns operadores derivados de outros), variando o que será chamado de Σd, onde Σd= ΣF ∪ ΣR. Seja aridade : Σd −→ N uma função que indica a aridade dos símbolos de função

e de predicado.

Para a definição da linguagem formal de predicados de 1a ordem (Ling(LP)) primeiramente se

constrói a linguagem dos termos de predicados (Ling(LT)) a qual é usada em Ling(LP) como parte do seu

alfabeto.

Definição 3.2.1 A linguagem dos termos de 1a ordem é a linguagem formal LT tal que LT = Σ, GT onde

Σ = X ∪ ΣC∪ ΣF∪ {(, ), , } e GT = {T1, T2, T3}: T1 − x, x ∈ X T2 − a, a ∈ ΣC T3 τ1, . . . , τn f (τ1, . . . , τn), f ∈ ΣF e aridade(f) = n.

E a linguagem de 1aordem é a linguagem formal LPtal que LP = Σ, G onde Σ = Ling(LT)∪Σ

R∪ΣL∪ΣP

e GP = {F

1, . . . , F8}. Sendo as regras F1, . . . , F8mostradas abaixo.

F1

τ1, . . . , τn

R(τ1, . . . , τn)

CAPÍTULO 3. LÓGICAS MODAIS E TEMPORAIS 35 F2 ϕ ¬ϕ F3 ϕ, φ (ϕ ∨ φ) F4 ϕ, φ (ϕ ∧ φ) F5 ϕ, φ (ϕ → φ) F6 ϕ, φ (ϕ ↔ φ) F7 ϕ (∃x.ϕ), x ∈ X F8 ϕ (∀x.ϕ), x ∈ X

Observação 3.2.1 1. O conjunto LP é o conjunto de fórmulas bem-formadas (fbf) de LP. Ou seja, LP =

Ling(LP). As fbf de qualquer que seja a linguagem apresentada neste trabalho, serão denotadas por

{ϕ, φ, ψ, ϕ1, ϕ2, ϕ3. . . , φ1,

φ2, φ3, . . . , ψ1, ψ2, ψ3, . . .}.

2. Nas regras gramaticais ϕ e φ são meta-variáveis e por isso podem ser substituídas por qualquer fórmula de LP.

3. As fórmulas obtidas pela regra F1são as chamadas fórmulas atômicas e o conjuntos de fórmulas atômi-

cas de LPserá denotado por LP 0.

4. Os conectivos são ordenados da mais baixa precedência para a mais alta como segue: ↔, →, ∧, ∨, ¬. E os parênteses podem ser eliminados seguindo a regra de que ¬ tem a mais alta precedência e ↔ a mais baixa.

3.2.2 Semântica da Lógica de 1

a

Ordem

Definida a linguagem, é necessário definir interpretações para as fórmulas de LP. Seja V uma função que

mapeia uma fbf de LP nos valores verdadeiro (denotado por 1) e falso (denotado por 0). Logo V : LP → B, onde B = {0, 1}. Daí, segue a definição:

Definição 3.2.2 Uma interpretação I para o domínio, ou universo de discurso, I é uma função de tal forma que

∀f ∈ ΣF, I(f ) : Daridade(f ) → D

∀P ∈ ΣR, I(P ) ⊆ Daridade(P )

∀a ∈ ΣC, I(a) ∈ D

.

Daí, para determinar o valor verdade de qualquer fbf de LP dada uma interpretação I e atribuições

CAPÍTULO 3. LÓGICAS MODAIS E TEMPORAIS 36 interpreta-se as fórmulas. Em outra palavras, cada ρ determina uma função de valoração Iρ : Ling(LT) → I

e uma Vρ: Ling(LP) → {0, 1} as quais são definidas recursivamente como segue:

Iρ(x) = ρ(x) para cada x ∈ X

Iρ(a) = I(a) para cada a ∈ ΣC

Iρ(f (τ1, . . . τn)) = I(f )(Iρ(τ1), . . . , Iρ(τn)))

Iρ(P (τ1, . . . , τn)) = I(P )(Iρ(τ1), . . . , Iρ(τn)) para cada P ∈ ΣRcom aridade(P ) = n

e τ1, . . . , τn∈ Ling(LT) Vρ(¬ϕ) = ⎧ ⎨ ⎩ 1 , se Vρ(ϕ) = 0 0 , caso contrário Vρ(ϕ ∨ φ) = ⎧ ⎨ ⎩ 1 , se Vρ(ϕ) = 1 ou Vρ(φ) = 1 0 , caso contrário Vρ(ϕ ∧ φ) = ⎧ ⎨ ⎩ 1 , se Vρ(ϕ) = 1 e Vρ(φ) = 1 0 , caso contrário Vρ(ϕ → φ) = ⎧ ⎨ ⎩ 0 , se Vρ(ϕ) = 1 e Vρ(φ) = 0 1 , caso contrário Vρ(ϕ ↔ φ) = ⎧ ⎨ ⎩ 1 , se Vρ(ϕ) = Vρ(φ) 0 , caso contrário Vρ(∀x.φ) = ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩

1 , se para toda atribuição ρ′: X → I tal que ρ(y) = ρ(y)

∀y.(y = x), Vρ′(φ) = 1 0 , caso contrário Vρ(∃x.φ) = ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩

1 , se para alguma atribuição ρ′

: X → I tal que ρ′

(y) = ρ(y) ∀y.(y = x), Vρ′(φ) = 1

0 , caso contrário

Definição 3.2.3 Seja I uma interpretação e ρ uma atribuição para as variáveis. Uma fórmula ϕ é verdadeira para uma ρ em um I, denotado por I |=ρ ϕ, se Vρ(ϕ) = 1. Neste caso (I, ρ) é dito um modelo de ϕ – uma

fórmula é dita satisfazível se existe algum modelo. E ϕ é falsa para uma ρ em uma I, denotado por I ρ ϕ,

se Vρ(ϕ) = 0. Uma fórmula pode ainda ser verdadeira em uma I, denotado por I |= ϕ, se para qualquer ρ

temos que I |=ρ ϕ – ou uma contradição, se ela é falsa em uma I, denotado por I  ϕ, se para qualquer

ρ I r hoϕ; ou ainda pode ser dita contingente numa I, se existem atribuições ρ e ρ′ tal que I |=ρ ϕ e

I ρ′ ϕ. Por fim, ϕ é dita uma fórmula universalmente válida quando ela é verdadeira para qualquer I e

para qualquer ρ, denotado por |= ϕ – o conjunto das fórmulas universalemente válidas de LP é definido por

F U V = {ϕ ∈ LP/ |= ϕ} –; e é dita insatisfazível, quando não existe um modelo para a mesma, isto é, para

CAPÍTULO 3. LÓGICAS MODAIS E TEMPORAIS 37 Da mesma forma que há a definição de modelo de uma fórmula, define-se o modelo de um conjunto de fórmulas Γ de LP como sendo uma interpretação I e uma atribuição ρ a qual todas as fórmulas ϕ ∈ Γ são

verdadeiras, ou seja, Vρ(ϕ) = 1. Dada as definições anteriores, pode-se definir o conceito de consequência

semântica e lógica de 1aordem:

Definição 3.2.4 Seja a linguagem de 1aordem LPe ϕ ∈ LP. ϕ é uma consequência semântica de Γ, denotado

por Γ |= ϕ se todo modelo de Γ é um modelo de ϕ. Então, a lógica de 1a ordem, denotada por LogP é

definida através de uma estrutura munida de sua linguagem de 1aordem e a consequência semântica definida

anteriormente:

LogP = LP, |=

3.2.3 Teoria Formal da Lógica Clássica de Predicados de 1

a

Ordem

A teoria formal de predicados apresentada aqui é constituída por uma linguagem de 1aordem simplificada

LP

→,∀,¬= Σ − {∧, ∨, ↔, ∃}, G→P,∀, onde G→P,∀= {F1, F2, F5, F8}; um conjunto de Axiomas (∆):

A1 ϕ → (φ → ϕ)

A2 (ϕ → (φ → ψ)) → ((ϕ → φ) → (ϕ → ψ))

A3 (¬ϕ → ¬φ) → ((¬ϕ → φ) → ϕ)

A4 ∀x.(ϕ → φ) → (ϕ → ∀x.φ), onde x não ocorre livre em ϕ

A5 ∀x.ϕ → ϕ[t/x], onde t é livre para x em ϕ e ϕ[t/x] significa a substituição de todas as ocorrências livres

de x pelo termo t em ϕ; e Regras de Inferência:

Modus Ponens (MP):

ϕ, ϕ → φ φ Generalização Universal (Gen):

ϕ ∀x.ϕ Observação 3.2.2 1. Dada uma fórmula ϕ ∈ Ling(LP

→,∀,¬), diz-se uma consequência sintática na teoria

formal TP = LP

→,∀,¬{A1, . . . , A5}, {MP, Gen}, de um conjunto Γ ⊆ LP, denotado por Γ ⊢ ϕ, se

existir uma prova de ϕ a partir de Γ. Ou seja, uma sequência ϕ1, . . . , ϕn ∈ L tal que ϕn = ϕ e para

cada ϕi, 1 ≤ i ≤ n ou é um axioma ou é uma premissa (no caso, alguma fórmula de Γ) ou é uma

consequência direta de ϕjanteriores usando uma das regras de inferência3.

3Tais definições de consequência sintática e de prova se repete para todas as teorias formais, mudando apenas a linguagem, o conjunto

CAPÍTULO 3. LÓGICAS MODAIS E TEMPORAIS 38 2. Um teorema de uma teoria formal T = L, Ax, ℜ (onde Ax é um conjunto de axiomas e ℜ é um

conjunto de regras de inferência) é um elemento ϕ ∈ Ling(L) tal que existe uma prova de ϕ em T . 3. A lógica apresentada pela teoria formal de 1aordem TP, denotado por T (TP) é definida como sendo o

conjunto de todos os teoremas da teoria formal TP:

T (TP) = {ϕ ∈ LP→,∀ / ⊢ ϕ}.

4. Teoremas envolvendo quantificador existencial, conjunção, disjunção e bi-implicação podem ser prova- dos usando as respectivas equivalências:

4.a ∃x.ϕ ≡ ¬∀x.¬ϕ 4.b ϕ ∧ φ ≡ ¬(ϕ → ¬φ) 4.c ϕ ∨ φ ≡ ¬ϕ → φ

4.d ϕ ↔ φ ≡ (ϕ → φ) ∧ (φ → ϕ)

No documento Lógica BDI fuzzy (páginas 33-38)