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Capítulo 1 – De Cuba ao Chile: América Latina na obra de Chris Marker

1. A Revolução Cubana no documentário de Chris Marker

1.2. La bataille des dix millions (1970)

Após a experiência de Cuba si, Chris Marker se manteve à distância como um colaborador do ICAIC. Em 18 de agosto de 1968, por exemplo, ele enviou a Alfredo Guevara (2009) um roteiro do cineasta Peter Kassovitz (húngaro radicado em Paris e pai do ator e diretor Mathieu Kassovitz) sobre Salvatore Giuliano, legendário camponês e contraventor que lutou pela separação da Sicília. Marker propunha que o Instituto cubano aceitasse a coprodução desse projeto. Na correspondência, ele indicava como referência o documentário Les chemins de la fortune (1964), no qual Kassovitz havia entrevistado Douglas Bravo ao seguir a guerrilha venezuelana na companhia de Régis Debray. Consultava a opinião de Guevara sobre projetos

                                                                                                               

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A análise de La bataille des dix millions foi feita a partir da cópia em VHS disponível na

Cinémathèque française, em Paris. Para a transcrição das falas e da voz over, foi utilizado o texto

publicado na revista Jeune cinéma (MARKER, 1970). Como o acesso a uma cópia em DVD ou o empréstimo do VHS eram proibidos, não foi possível a inclusão de fotos desse documentário.

cinematográficos do jornalista Jean Lartéguy a serem produzidos pela televisão francesa, que retratavam a luta armada na América Latina. E manifestava a vontade de exibir o recém-concluído Loin du Vietnam (1967) em Cuba.

Nessa carta, fica evidenciado, portanto, que a colaboração entre Marker e o ICAIC não era apenas estilística – ou seja, não visava somente à discussão de novas estratégias fílmicas e modelos estéticos no campo do cinema militante de esquerda –, mas também abordava o processo de produção e difusão de filmes. A criação da SLON, em 1967, mostra que o cineasta francês buscava caminhos para realizar seus próprios projetos e de seus companheiros sem depender das estruturas em voga de finalização e distribuição das grandes produtoras. Nesse sentido, ele procurava parcerias com instituições que pudessem fortalecer o coletivo, como era o caso do ICAIC e da emissora pública francesa ORTF (tema que será retomado no capítulo 3 desta tese).

Um dos frutos da cooperação entre a SLON e o ICAIC foi justamente La bataille

des dix millions (1970)65. O filme também repetiu a parceria de Loin du Vietnam entre Marker e a montadora Valérie Mayoux, que esteve posteriormente presente em outros projetos desse realizador, como na versão francesa de El primer año (1971), em La

spirale (1976) e em O fundo do ar é vermelho (1977). Produzido em um momento

extremamente desfavorável a Cuba, a minuciosa análise presente no filme se reivindica como autocrítica. O lirismo trazido pelas imagens e pela voz over na produção anterior é substituído pelo uso de longas sequências – muitas delas discursos extensos e com poucos cortes de Fidel Castro – que trazem explicações de ordem econômica para a crise da produção de cana-de-açúcar.

Em 1969, Marker voltou a abordar Cuba e intensificou a parceria com o ICAIC. Foi nessa ocasião que montou La bataille des dix millions, no qual utilizou sobretudo imagens do Noticiero ICAIC Latinoamericano e da produção Despegue a las 18.00 (1969), de Santiago Álvarez66. Nesse período, ele pôde acompanhar de perto o desafio empreendido por Castro como solução para os problemas econômicos enfrentados pela ilha. E esse desafio é apresentado pela voz over logo nas sequências iniciais,

                                                                                                               

65 Além da SLON e do ICAIC, participaram da produção de La bataille des dix millions a Radio

Télévision Belge (RTB) e a produtora K.G., de Costa-Gavras.

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Nessa mesma época, ele produziu ainda dois documentários sobre o Brasil, que serão abordados no próximo subcapítulo, On vous parle du Brésil: tortures (1969) e On vous parle du Brésil: Carlos

sobrepostas às imagens do chefe de Estado falando à televisão cubana em meio aos esforços para superá-lo:

Trata-se ainda de alcançar uma cifra excepcional: 10 milhões de toneladas, nem uma libra a menos. Fidel fixou essa norma como um atleta que fixa a barra do salto em altura ao nível do recorde mundial. Nada de meio sucesso: é o recorde ou o fracasso. (La

bataille des dix millions, 1970, tradução nossa)67

Em seguida, o texto explica o porquê da escolha da cana-de-açúcar, o único recurso renovável exportável em larga escala de Cuba, e o porquê dos 10 milhões, a cifra máxima equivalente ao potencial de compra dos países socialistas consumidores do açúcar cubano e à capacidade técnica. A voz over – que nesse documentário deixa muitas vezes a poética de lado em detrimento de explicações técnicas – informa que a União Soviética havia exigido uma planificação para 1970, e por isso a meta havia sido firmada para esse ano. Mas ela afirma que Castro admitia, no referido programa, haver uma grande distância entre os números reais e os ideais. Esse primeiro trecho, composto pelas imagens do líder e o discurso acima proferido pela locução em over, compõe uma espécie de prólogo, inserido antes dos créditos. Nele se conhece o plano, e também sua incapacidade de realização.

A derrota está anunciada desde o início. Cabe, portanto, entendê-la, explicá-la. As cenas seguintes são extraídas do documentário Despegue a las 18.00, de Santiago Álvarez, que retrata os esforços dos trabalhadores da parte oriental de Cuba (especialmente de Girón) para produzir o açúcar. Se havia na montagem original do realizador cubano o objetivo de verificar as falhas e incentivar o trabalhador, no documentário de Marker, as mesmas imagens são usadas para sensibilizar o espectador europeu sobre quem são esses “perdedores”: homens simples, mulheres e crianças. Enquanto a câmera foca o rosto de alguns deles, a voz over se defende de possíveis queixas vindas da esquerda que seu filme poderia receber:

Então, se nós mostrarmos essas imagens cotidianas de Cuba, essas filas intermináveis, essas dificuldades de provisão, esses “No hay”, “não há”, que se repetem como um refrão, se nós dissermos que em Cuba há irritação, estaremos dando armas ao adversário? Um início de resposta talvez seja: essas imagens são de um filme cubano,

Despegue a las 18:00, de Santiago Álvarez, e essas palavras foram

                                                                                                               

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Texto da voz over de La bataille des dix millions, traduzido do original: “Or il s’agit d’atteindre un chiffre exceptionnel: 10 millions de tonnes, pas une livre de moins. Fidel a fixé cette norme comme un athlète fixe la barre du saut en hauteur au niveau du record du monde. Pas de demi-succès: c’est le record, ou l’échec.”.

pronunciadas – entenda você mesmo – por Fidel Castro. (La bataille

des dix millions, 1970, tradução nossa)68

Na parte final, a voz over finalmente quantifica a derrota: ao invés das 10 milhões de toneladas, foram produzidas 8,5 milhões, um recorde, mas distante do desejado. Além disso, os demais setores produtivos da ilha haviam ficado paralisados, agravando a crise econômica. Diante da catástrofe, Castro fala para uma multidão no dia 26 de julho de 1970, em um discurso largamente aproveitado pela montagem de

La bataille des dix millions. Cabe dizer que Fidel Castro é o grande protagonista do

filme e seu maior mérito destacado é a capacidade de fazer uma autocrítica. Ele está presente em inúmeros longos planos-sequências (dispositivo pouco habitual na filmografia de Marker), como nesse em que faz um mea-culpa:

Nossos inimigos dizem que nós temos dificuldades, e nisso nossos inimigos têm razão. Eles dizem que nós temos problemas, e, na verdade, eles têm razão, nossos inimigos. Eles dizem que há descontentamento, e, na verdade, eles têm razão, nossos inimigos. Eles dizem que há irritação, e eles, na verdade, têm razão, nossos inimigos. Como vocês veem, nós não temos medo de admitir quando nossos inimigos têm razão. Nós vamos começar assinalando, em primeiro lugar, em todos esses problemas, nossa responsabilidade a todos – a minha, em particular. (CASTRO Apud

La bataille des dix millions, 1970, tradução nossa)69

Tanto nesse trecho do final como nas sequências iniciais que utilizam planos de Despegue a las 18.00, Marker claramente se dirige aos setores da esquerda que não suportavam as críticas. Nesse sentido, pode-se dizer que La bataille des dix millions inaugura uma fase no cinema militante desse realizador que repensa as próprias estratégias dessa orientação política, sem, no entanto, abrir mão da defesa do socialismo. Ele será seguido, por exemplo, por On vous parle de Prague: le deuxième

                                                                                                               

68 Trecho da voz over de La bataille des dix millions, traduzido do original: “Alors si nous montrons ces images quotidiennes de Cuba, ces queues interminables, ces difficultés d’approvisionnement, ces ‘No hay’, ‘Il n´y en a pas’ qui revient comme un refrain, si nous disons qu’à Cuba il y a de l’irritation, sommes-nous en train de donner des armes à l’adversaire? Un commencement de réponse peut-être: ces images sont celles d’un film cubain, Despegue a las 18:00, de Santiago Álvarez, et ces paroles ont été prononcées – vous l’entendrez vous-même – par Fidel Castro.”

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Discurso de Fidel Castro em La bataille des dix millions, traduzido do original: “Nos ennemis disent que nous avons des difficultés, et là-dessus nos ennemis ont raison. Ils disent que nous avons des problèmes, et en réalité ils ont raison, nos ennemis. Ils disent qu’il y a du mécontentement, et en réalité ils ont raison, nos ennemis. Ils disent qu’il y a de l’irritation, et en réalité ils ont raison, nos ennemis. Comme vous voyez, nous n’avons pas peur d’admettre lorsque nos ennemis ont raison. Nous allons commencer par signaler en premier lieu, dans tous ces problèmes, notre responsabilité à tous – et la mienne en particulier.”

procès d’Arthur London (1971)70, documentário que registra os bastidores de A

confissão (1970), filme dirigido por Costa-Gavras e estrelado por Yves Montand,

ambos parceiros de Marker, e que é baseado no polêmico livro de Arthur London que combatia o stalinismo relatando a perseguição sofrida no ano de 1951, em Praga. Em

On vous parle de Prague, aparecem questões como: “O que é ser um verdadeiro

comunista?”. Em uma entrevista usada na montagem, Jorge Semprún questiona: é preciso fazer a autocrítica mesmo dando “água ao moinho adversário”? Para ele, assim como para Marker, a revisão das ações erradas teria o poder de evitar novos rumos mal escolhidos.

Dessa maneira, La bataille des dix millions, produzido quase

concomitantemente a On vous parle de Prague, analisa as razões da derrota não para “dar água ao moinho adversário”, mas para evitá-la em uma próxima vez. É esse objetivo que dá ao filme o estatuto de um balanço político e econômico, mais do que uma elaboração poética, como a presente em Cuba si. Além dos idealismos, é necessário fazer uma análise minuciosa. Marker insere outro discurso de Castro, proferido na comemoração do centenário de Lenin, em 22 de abril de 1970, no qual o líder afirma que, independente das diferenças, o Estado soviético era um privilégio de qualquer movimento revolucionário. A voz over confirma essa fala ao constatar que, se os Estados Unidos eram a grande ameaça à Revolução, é evidente que seu principal aliado seria o governo de Moscou. A questão cubana não é vista como um episódio local, ela está ligada a um cenário que envolve interesses e lutas políticas em escala mundial. Nesse sentido, ela é, para o diretor, um interesse de todos.

Porém, além desse cenário internacional, estão homens e mulheres cubanos. Após o discurso de Castro, a montagem traz planos curtos de entrevistas com pessoas respondendo à mesma pergunta: o que você falaria para Lenin se ele estivesse vivo? “Quem?”; “o fundador do socialismo, o russo?”, são algumas das respostas. A situação imagética e impossível é proposta a um pescador, a agricultores, à bailarina... A simplicidade das frases, incompletas ou pouco articuladas, evidencia uma distância entre as discussões teóricas e os problemas reais. A voz over traz um importante fator que une a análise política ao cotidiano do povo, e que é o grande argumento presente no documentário para justificar a derrota na produção das 10 milhões de toneladas: o subdesenvolvimento:

                                                                                                               

70 Além desses dois documentários, outros filmes de Chris Marker enveredam pelo viés autocrítico. É o caso de produções abordadas nesta pesquisa, como L’ambassade (1973) e O fundo do ar é vermelho.

É com muitos desses homens que se trava essa batalha dos Dez Milhões. No início dessa empreitada, ninguém sabia ao certo se Fidel pensou que ela poderia ser perdida. Se bem que ganhar ou perder, diante do subdesenvolvimento, toda batalha já é uma vitória. (La bataille des dix millions, 1970, tradução nossa)71

Após essa fala, o documentário traz cenas da propaganda oficial pela produção dos 10 milhões. Em seguida, Castro, em discurso de inauguração do programa em 14 de julho de 1969, se dirige a 30 mil macheteros (como são chamados esse tipo de lavrador em Cuba). No próximo plano, panorâmico em plongée, é possível ver um campo de cana-de-açúcar onde trabalham milhares de pessoas. Alguns planos mais próximos destacam pilhas de cana, máquinas a todo vapor e sacas sendo acumuladas. A montagem estabelece, nessa sequência, uma clara relação de causa e consequência entre as medidas oficiais do Estado e a resposta dos cubanos. Portanto, os motivos que explicam a derrota não passam pela falta de mobilização social. Ao contrário, mais uma vez, o governo revolucionário e o povo estão colados, na visão do realizador.

Os argumentos técnicos que Marker cita para justificar a derrota passam por fatores de ordem econômica. O problema, anuncia a voz over, não está na produção, mas em outras etapas necessárias para se chegar ao açúcar. Inicialmente, tratava-se de uma questão de rendimento, ou seja, muita cana era cortada para pouco produto final. Isso porque a produtividade depende do tempo entre o corte e a queima. A qualidade técnica dessa queima também influi. Fora a difícil logística de distribuição, já que, após resolvida a dificuldade de transportar de maneira mais ágil a matéria-prima, ocorria de algumas usinas estarem sobrecarregadas. No documentário, essas são as principais razões técnicas que explicam o fracasso dos 10 milhões. Como se vê, são argumentos que evidenciam as dificuldades de se produzir em um país subdesenvolvido, com recursos limitados e pouco investimento em tecnologia e infraestrutura.

A questão do terceiro mundo não era central em Cuba si72, cujos esforços exaltavam a cultura cubana sem aprofundar os problemas relativos à sua condição de

                                                                                                               

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Trecho da voz over de La bataille des dix millions, traduzido do original: “C’est avec beaucoup de ces hommes-là que s’est livrée la bataille des Dix Millions. A la veille de la déclencher, personne sans doute ne saura si Fidel a pensé quélle pouvait être perdue. A ceci près que gagnée ou perdue, en face du sous-développement, toute bataille est déjà une victoire.”  

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Cabe ressaltar que o debate sobre a questão do subdesenvolvimento ganhou força ao longo dos anos 1960, especialmente em Cuba. Em 1966, o país sediou a Primera Conferencia Tricontinental de La

nação subdesenvolvida. Em La bataille des dix millions, ela é fundamental para explicar as dificuldades enfrentadas pelo governo castrista. Outro elemento novo em comparação ao documentário anterior é a exaltação de uma solidariedade terceiro- mundista. No começo do filme, há cenas de filas de cubanos querendo doar sangue para vítimas de um terremoto no Peru. “Fraternidade americana, mas também fraternidade do subdesenvolvimento”73, diz a voz over. Ela alerta ainda que o governo peruano se opôs ao imperialismo norte-americano, o que transforma a solidariedade do povo cubano em um movimento de mão dupla. Os Estados Unidos são um inimigo comum, pois bloqueia, na visão do realizador, o progresso real da América Latina.

Junto ao subdesenvolvimento, esse boicote norte-americano a Cuba é apontado como um dos principais fatores para que a safra de 10 milhões não fosse alcançada. Em uma cena de animação, um submarino se aproxima da ilha e um personagem desembarca de dentro dele. Quando tira seu disfarce, revela ser o super- homem. Essa vinheta introduz o episódio no qual a organização anticastrista Alpha-66 apreendeu equipamentos de dois barcos de pesca de uma cooperativa estatal cubana e deteve 11 pescadores em uma ilha das Bahamas. O evento causou protestos na frente da embaixada norte-americana em Havana, porém, o fato teria sido difundido internacionalmente pela Reuters como uma manifestação em razão dos problemas empreendidos na safra de cana-de-açúcar. Como resposta, o governo cubano colaborou para que 100 mil manifestantes tomassem as ruas exigindo a libertação dos detidos.

Dessa forma, em La bataille des dix millions, é correto afirmar que o subdesenvolvimento e o imperialismo são apontados como os dois fatores fundamentais para explicar a derrota na produção da safra. Embora proponha um discurso autocrítico, na análise dos acontecimentos Marker acaba por atribuir a elementos externos às ações da esquerda as razões dessa derrota. Nas estratégias fílmicas, são usados inúmeros recursos para atrelar a imagem de Castro à do povo, demonstrando uma união entre ambos. Isso está claro na multidão que acompanha os discursos do líder, e mais ainda nas sequências dos trabalhadores nas lavouras. A voz

over descreve o duro cotidiano dos macheteros para servir ao país. O trabalho, quando

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

(OSPAAAL). No ano seguinte, foi realizada, também em solo cubano, a conferência da Organización

Latinoamericana de Solidaridad (OLAS), que é citada por Chris Marker no filme On vous parle du Brésil: Carlos Marighela.

73 Trecho da voz over de La bataille des dix millions traduzido do original: “Fraternité américaine, mais aussi fraternité du sous-développment.”

empregado pelo bem comum, caso do episódio representado no documentário, adquire um caráter dignificante74.

Diante dessa argumentação, pode-se dizer que, mesmo reivindicando o papel de repensar a Cuba festiva da Revolução para avaliar possíveis erros, La bataille des

dix millions não rompe com um dos principais argumentos pró-Fidel Castro presente

em Cuba si: a ideia da existência de uma democracia direta. Além das cenas da multidão apoiando o líder, recurso imagético explorado nos dois documentários, no filme de 1970, essa discussão é aprofundada nas sequências finais, que avaliam um provável legado da experiência dos 10 milhões: o desenvolvimento de núcleos autogestores, particularmente nas fábricas cubanas.

A retórica autocrítica de Castro é intercalada na montagem com cenas de entrevistas com trabalhadores. Eles respondem à questão: “O que mais te tocou no discurso de Castro?” A primeira resposta inserida na montagem é também a mais direta: “É o que ele diz sobre a participação dos operários nas decisões”. Com os esforços concentrados nas lavouras de cana, as fábricas estiveram entregues aos seus próprios funcionários. Isso ocorreu principalmente em Santiago de Cuba, onde, conforme informa uma das falas do chefe de Estado, eles demonstraram uma preocupação com a produção com “amor e entusiasmo incríveis”. Ele conclui que:

Com falta de tudo, eles se preocuparam mais com a fábrica e com a produção do que se lhes faltassem pessoalmente... E isso é a confirmação viva, real, de que o proletariado, o proletariado industrial, é a classe verdadeiramente revolucionária, a classe potencialmente mais revolucionária. (CASTRO Apud La bataille

des dix millions, 1970, tradução nossa)75

Portanto, uma das consequências “positivas” da derrota, aquela válida para a elaboração de novas estratégias, foi o surgimento de formas organizativas na indústria e a emergência, em Cuba, de um novo sujeito revolucionário: o proletariado. Essa postura valorizada no final de La bataille des dix millions condiz com as ações do

                                                                                                               

74 Vale destacar que, mais do que Cuba si, La bataille des dix millions retoma a ideia de “homem novo” desenvolvida por Che Guevara como meio de viabilizar economicamente o socialismo aproveitando ao máximo a mão de obra. No caso desse documentário, aparece um certo voluntarismo ligado à cooperação com os companheiros e com a nação que é responsável pelo aumento da safra. 75

Discurso de Fidel Castro em La bataille des dix millions, traduzido do original: “Manquant de tout, ils se souciaient davantage de l’usine et de la production que de ce qui leur manquait personnellement... Et ça, c’est la confirmation vivante, réelle, de ce qu’est le prolétariat, le prolétariat industriel: la classe

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