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5 AS EMPRESAS E AS CONDIÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DE REDES DE

5.2 USO DA INFRAESTRUTURA PARA INOVAÇÃO

5.2.2 Laboratórios, Bibliotecas e Consultorias

As condições de infraestrutura oferecidas pela Universidade às startups são inúmeras. Com a criação do Parque Científico e Tecnológico da UFRGS, alguns trabalhos importantes de mapeamento de laboratórios foram feitos. Com esse trabalho, a Rede de Laboratórios Tecnológicos foi criada e divulgada. São laboratórios preparados para receber empresas ou que já possuem uma interação tanto com as internas quanto com externas.

A Empresa B informou tem alguns equipamentos de investimento próprio que são comprados com dinheiro da empresa, mas também usufruem de equipamentos

de uso comum com outras empresas como sala de lavagem, autoclaves, estufas, microscópios, e destacou que “estão finalizando o laboratório de fermentação, que a

gente vai poder usar, também [...] nem tudo eu preciso comprar” (Empresa B,

14/09/2017, Porto Alegre). No entanto, perguntado novamente sobre continuar ou não dentro da UFRGS, respondeu que:

Gostaria de ter condições de ter uma sede própria, mas é inviável. É inviável. E não preciso de uma estrutura muito grande para fazer o que a gente faz. E como eu tenho uma interface muito próxima junto à academia, já que eu trabalho com pesquisa, é interessante eu estar dentro de um parque tecnológico. (Empresa B, 14/09/2017, Porto Alegre)

A Empresa H relatou que fez falta, principalmente, o fato deles não conhecerem a Universidade nem a estrutura dela. A experiência que um dos sócios tinha era insuficiente para o que seria necessário, ou seja, auxiliar a desenvolver o negócio. Não conheciam a estrutura dos laboratórios, nem os professores, nem os pesquisadores ou coisas do tipo que acontecem dentro da UFRGS. Ao analisarmos a fala do entrevistado, identificamos que o fato de estarem “isolados”, nas palavras dele, dificultou o acesso às informações e às trocas internas, porque estavam longe da Universidade e das pessoas que a conheciam.

Tanto a Empresa C quando a D citaram fazer uso das bibliotecas da Informática. O sistema de publicações de periódicos gratuitos é visto como um importante meio de acesso à produção da ciência na área. Relataram que o custo médio de acesso a cada periódico é de $10 dólares e que por serem da UFRGS utilizam o Portal de Periódicos da Capes:

Pelo Instituto de Informática tu consegues acessar os periódicos [...] Mas sem isso, tu não consegue acesso à ciência, à produção da ciência. É, não sei como as outras empresas fazem. Tem que pagar, daí. O problema é que... Pelo menos eu acho que... Quando tu acessas um trabalho, às vezes tu lê o início e não é nada a ver com o que tu quer[...] (Empresa C, 06/11/2017, Porto Alegre)

Outro exemplo interessante foi o acordo celebrado entre o SEBRAE e o LAMEF/UFRGS28 para desenvolver maquinário e protótipos dentro do laboratório por iniciativa da incubadora Héstia após “brigar muito”, segundo relato de um dos sócios

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O Laboratório de Metalurgia Física faz parte do Departamento de Metalurgia da Escola de Engenharia da UFRGS e conta com professores, engenheiros e um técnico que em conjunto com alunos de doutorado, mestrado e de iniciação científica formam uma equipe de aproximadamente 200 pessoas trabalhando em diferentes áreas de atuação. A escolha de temas para pesquisas e serviços em geral desenvolvidas junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais tem sido balizada nas parcerias desenvolvidas com o setor público e privado, conferindo-se aos trabalhos realizados um equilíbrio entre o enfoque prático e o acadêmico.

da Empresa H entrevistado. Ele explicou que “isso foi uma demanda que surgiu das

empresas e que a incubadora começou a ir atrás e conseguiu fazer com que o acordo acontecesse” (Empresa H, 05/03/18, Porto Alegre). Todavia, esse projeto

não gerou os resultados esperados, porque na época o diretor do laboratório faleceu e houve uma reorganização interna do LAMEF. Apenas uma das empresas acabou conseguindo usar esse recurso. Esse edital foi aberto também para empresas de fora e não só da UFRGS.

A Empresa G afirmou fazer uso frequente dos laboratórios da engenharia elétrica, por conta dos contínuos processos de aperfeiçoamento do produto que desenvolve na área de sensoriamento remoto, bem como ter usado serviços como consultoria contábil e jurídica na área de marketing. E o gestor acrescentou: “disponibilizada e financiada pelo Parque, então é interessante não é!” (Empresa G, em 23/04/2018, Porto Alegre.

Sobre custeamento das empresas em participações de feiras e afins, a Empresa F destacou a importância de se estar incubado e dentro da infraestrutura da Universidade. Explicou que “conforme a empresa demonstra [...] pelo

acompanhamento que o CEI faz para ver qual empresa que está correndo atrás, conforme o desempenho da empresa, eles vão estar apoiando com um valor financeiro” (Empresa F, 02/05/2018, Porto Alegre). E acresceu um exemplo na

prática de como funciona esse apoio institucional da incubadora para o crescimento da empresa startup:

Em 2018, no meio do ano, no mês que vem, vai ter a Feira Hospitalar em São Paulo, que é uma feira bem importante para conhecer outras empresas, para conhecer até clientes. Tem tudo que envolve hospital – é a

maior feira da América Latina – então tudo que envolve hospital vai ter lá:

software, equipamentos, pessoas procurando esses sistemas. E o CEI, com essa taxa do condomínio [...] acaba bancando... Não toda a viagem [...] mas ele paga 40% do custo, por exemplo, da stand. Eles nos ajudam. A gente faz parte do projeto SEBRAE, que é esse que nos leva para a feira. O SEBRAE cobre parte do custo. Não me lembro com quantos por cento o SEBRAE entra, e o CEI, como nós estamos incubados, eles também cobrem mais uma parte através da FAURGS, que pode fazer os investimentos. (Empresa F, 02/05/2018, Porto Alegre)

Esses exemplos acima demonstram que as ações e serviços que o Parque e as incubadoras estão promovendo surgem efeito nas empresas que conseguem traduzir (OLIVEIRA, 2008) e aumentar sua rede de contatos. Ainda sobre a Empresa F, outra fala é bem significativa do papel de conectar os atores tem o ambiente de inovação trabalhado pelo Parque, indicando as empresas a participarem de reuniões

como a do Cluster da Saúde:

O CEI nunca fechou um negócio para nós [...] eles nos enviam... “vai ter

uma reunião em algum lugar aqui em Porto Alegre, que vai unir empresas”. E o CEI ficou sabendo disso, então como o nome do CEI, diz assim: “ah, eu gostaria que tais empresas pudessem participar. Digamos assim, nos coloca dentro de uma reunião para conhecer mais pessoas. Através do CEI, a gente acabou [...] numa reunião do Cluster de Saúde que [...] é do

Estado. [...] vimos que ia ter o cluster, aí “vamos lá”, sem ser convidado.

Hoje a gente faz parte do Cluster de Saúde que tem aqui no Estado. O cluster, em si, não faz nada, digamos assim. Ele só se reúne e conversa sobre como está o cenário da saúde aqui no estado. Mas acaba que a informação é um privilégio [...]sabendo como é que está a movimentação: “ah, surgiu o cluster, saiu o edital que tem o investimento de 20 milhões para os hospitais conseguirem projetos”. Se gente sabe que tem esse edital, a gente pode chegar até o hospital e perguntar: “vocês sabem do edital? Por que a gente não faz um projeto?”. Então dessa forma, a gente consegue ter informação e chegando no pessoal e propondo, para que... A maior parte dos investimentos é público e não é para empresas. Não é para uma empresa desenvolvedora de TI, mas é para um hospital. Então o hospital pode pedir apoio do governo, ao Ministério da Saúde, para desenvolver o projeto terceirizando a gente. A gente costuma propor isso para os hospitais. (Empresa F, 02/05/2018, Porto Alegre)

Além de reuniões mensais, informado tanto pelas Empresas F e H, promovendo o encontro entre as empresas das incubadoras, essas e outras iniciativas de conectar as empresas surtem efeito no nível de envolvimento na rede de inovação.