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3. Revisão bibliográfica

3.1. Síndrome de abdómen agudo Cólica de origem gastrointestinal

3.3.2. Afecções causadoras de Claudicação

3.3.2.1. Laminite

Tradicionalmente definida como inflamação ou edema das lâminas sensitivas do casco, actualmente pensa-se que a laminite se deve a um processo de isquémia passageira associada a uma coagulopatia, que resulta numa degeneração da união entre as lâminas córneas e as sensitivas do casco (Jeffcott, 2005). Os processos mais comuns que se

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pensa estarem na origem de uma laminite incluem, inflamação no interior do casco, isquémia passageira seguida por lesões de reperfusão sanguínea, endotoxémia e activação plaquetária e formação de trombos no interior do casco (Hembroff, 2007). Esta afecção é uma manifestação local duma alteração metabólica sistémica, e pode ser classificada em aguda, subaguda e crónica (Jeffcott, 2005). A laminite afecta um ou todos os membros, mas é mais frequente nos membros anteriores (Ballybrown Veterinary Clinic, 2012).

A laminite aguda é considerada uma urgência médica devido à rapidez com que a rotação da falange ocorre (Jeffcott, 2005).

3.3.2.1.1. Causas

A laminite é, usualmente, secundária a outras afecções como: doença aguda do TGI/cólica grave (particularmente por processos estrangulativos e doenças inflamatórias como a enterite proximal e a enterocolite); sobrecarga excessiva no membro colateral, em casos em que há um membro lesionado; sobrecarga de grão; mudanças bruscas da dieta, especialmente quando há acesso repentino a quantidades excessivas de pastagem verde; retenção placentária e metrite subsequente; pleuropneumonia, e outras doenças acompanhadas de endotoxémia (Eades et al., 2002; Hembroff, 2007).Pode também ser consequência de administração de doses elevadas de corticoesteróides ou outros tipos de medicação (Jeffcott, 2005). Estudos norte-americanos estimam que cerca de 15% dos cavalos são diagnosticados com laminite ao longo da sua vida, e que 75% destes mesmos cavalos desenvolvem laminite grave ou crónica sendo necessária a sua eutanásia(Eades et al., 2002; Hembroff, 2007).

3.3.2.1.2. Factores de risco

Existem vários factores de risco para a laminite, tais como: 1. Raças de grande porte, como os cavalos de tiro;

2. Excesso de peso/ obesidade;

3. Planos nutricionais muito concentrados (grande quantidade de carbohidratos) ou sobrecarga de grão;

4. Póneis e asininos;

6. Episódios anteriores de laminite;

3.3.2.1.3. Sinais clínicos

Os sinais clínicos que surgem na laminite aguda

membros, depressão, anorexia, resistência marcada ao exercício normal de modo a aliviar o peso nos membros

laminite dos dois membros anteriores aliviar a pressão sobre os cascos corpo para suportar mais peso passo lento e curto (Jeffcott, 2005 2008).

Normalmente, o casco do membro

banda coronária; e o pulso nas artérias digitais

dor à palpação com a pinça de cascos, geralmente na zona da ranilha (Menzies-Gow, 2008)

falange pode acontecer durante ou depois da fase aguda fôr realizado rapidamente. A demonstraç

osteíte da terceira falange)

sinais clínicos. As formas agudas e subagudas têm tendê intervalos de tempo variá

caracterizada por mudanças na for agudos (Jeffcott, 2005).

3.3.2.1.4. Diagnóstico

Na laminite aguda e grave, o diagnóstico é baseado na anamnese (sobrecarga de grão, por exemplo), na postura do cavalo, temperatura aumentada nos cascos, pulso digital e relutância ao movimento (

na laminite está relacionada com a separação da falange distal da parede do casco, ou seja, há uma rotação distal da ponta da terceira falange, resultando

paralelismo entre a parede dorsal do casco e a parede dorsal da fala útil colocar uma banda radiopaca

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clínicos que surgem na laminite aguda são: claudicação que afecta um membros, depressão, anorexia, resistência marcada ao exercício e alteração da

aliviar o peso nos membros afectados ("posição de cavalete" s dois membros anteriores- membros anteriores esticados para a frente

os cascos e membros posteriores posicionado

mais peso (Fig.5)). Se forçado a caminhar, o cavalo apresenta um Jeffcott, 2005; Belknap, 2006; Hembroff, 2007;

Normalmente, o casco do membro afectado apresenta-se quente, especialmente junto à nas artérias digitais está aumentado. Há também evidência de dor à palpação com a pinça de cascos, geralmente na zona da sola cranial à

Gow, 2008). A dor pode causar tremores musculares. A rotação da falange pode acontecer durante ou depois da fase aguda, se o tratamento apropriado não fôr realizado rapidamente. A demonstração radiográfica da rotação (rotação e

falange) pode ser verificada logo ao terceiro dia após o mas agudas e subagudas têm tendência a tornar-se intervalos de tempo variáveis, e podem tornar-se crónicas. A laminite

mudanças na forma do casco, usualmente precedidas por episó

Na laminite aguda e grave, o diagnóstico é baseado na anamnese (sobrecarga de grão, por exemplo), na postura do cavalo, temperatura aumentada nos cascos, pulso digital e (Jeffcott, 2005). A primeira evidência radiográfica detectada na laminite está relacionada com a separação da falange distal da parede do casco, ou seja, há uma rotação distal da ponta da terceira falange, resultando

paralelismo entre a parede dorsal do casco e a parede dorsal da falange (Fig.6

radiopaca sobre a parede dorsal do casco, desde a coroa até à

Figura 5.“Posição de cavalete” típica na laminite

membros posteriores (cedida por Portal Online, 2012)

claudicação que afecta um ou mais lteração da postura posição de cavalete" numa s para a frente para membros posteriores posicionados por baixo do Se forçado a caminhar, o cavalo apresenta um Hembroff, 2007; Menzies-Gow,

se quente, especialmente junto à Há também evidência de sola cranial à ponta da dor pode causar tremores musculares. A rotação da se o tratamento apropriado não rotação e possível após o início dos se recorrentes, em A laminite crónica é precedidas por episódios

Na laminite aguda e grave, o diagnóstico é baseado na anamnese (sobrecarga de grão, por exemplo), na postura do cavalo, temperatura aumentada nos cascos, pulso digital e A primeira evidência radiográfica detectada na laminite está relacionada com a separação da falange distal da parede do casco, ou seja, há uma rotação distal da ponta da terceira falange, resultando na falta de nge (Fig.6). Pode ser desde a coroa até à

“Posição de cavalete” típica na laminite dos cedida por Portal Equisport

pinça, de modo a delinear a posição (P3) e assim poder avaliar o grau de

3.3.2.1.5. Tratamento

Matthiessen & Orsini (2000) sugerem laminite aguda:

- Parafina líquida para evitar a absorção intestinal de toxinas (1 por 2 ou mais horas, 4L para um adulto de 500kg);

- Fenilbutazona, 4mg/kg IV inicialmente, seguido por 4mg gradual da dose quando estiver estabilizado;

- Flunixina Meglumina, 1.1mg/kg IV efeito analgésico mas pelo efeito

efeitos da endotoxémia que pode estar na etiologia da laminite - DMSO, em solução a 10%, 1mg/kg IV (100ml para 1L) - Se os cascos estão quentes, mergulhá

- Outros cuidados: deve-se m evitar mover o cavalo; dar f

dar cereais (grão); podem ser também administradas m (15-100mg/dia), ambas por

ferração ortopédica.

Os mesmos autores (Matthiessen & Orsini, 2000) parâmetros como indicadores de prognóstico (Tab.

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pinça, de modo a delinear a posição da parede do casco em relação à der avaliar o grau de rotação (falta de paralelismo) (Butler

Matthiessen & Orsini (2000) sugerem o protocolo seguinte para o tratamento da

para evitar a absorção intestinal de toxinas (1-3 tratamentos separados por 2 ou mais horas, 4L para um adulto de 500kg);

Fenilbutazona, 4mg/kg IV inicialmente, seguido por 4mg/kg PO cada 24h e redução gradual da dose quando estiver estabilizado;

1mg/kg IV a cada 8h durante vários dias (não tanto

pelo efeito anticoagulante e vasodilatador, prevenindo ainda os endotoxémia que pode estar na etiologia da laminite);

DMSO, em solução a 10%, 1mg/kg IV (100ml para 1L);

Se os cascos estão quentes, mergulhá-los em água fria ou colocar gelo

se manter o cavalo em cama mole (areia ou aparas de madeira) dar feno de erva, ou feno de alfalfa e palha e evitar ao máximo podem ser também administradas metionina (30g por dia) e biotina

por via oral, para ajudarem na reparação do casco;

autores (Matthiessen & Orsini, 2000) aconselham o uso de alguns parâmetros como indicadores de prognóstico (Tab.9):

Figura 6. Imagem radiográfica da laminite, onde se

evidencia a falta de paralelismo rotação da falange (P3) (original)

Terceira falange utler et al., 2000).

o protocolo seguinte para o tratamento da

3 tratamentos separados

cada 24h e redução

cada 8h durante vários dias (não tanto pelo seu , prevenindo ainda os

(crioterapia). ou aparas de madeira);

e evitar ao máximo etionina (30g por dia) e biotina ão do casco; e realizar

aconselham o uso de alguns

Imagem radiográfica da laminite, onde se falta de paralelismo provocada pela

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Tabela 9. Indicadores de prognóstico

Prognóstico favorável Prognóstico reservado a desfavorável

Resposta evidente ao tratamento em 24-48h Falta de resposta em 24h, depois de um tratamento anti- inflamatório correcto

Normalização da tensão sanguínea As quatro extremidades afectadas Ausência de sinais de rotação da falange Diminuição do tamanho da falange distal Rotação menor que 5.5º Rotação maior que 11.5º da falange Evidência radiológica de estabilidade durante as 8 semanas de

tratamento. Fracturas transversais da margem da falange distal

Doença crónica associada (infecção crónica, doença hepática, renal ou do TGI, hipertensão)

(Tabela baseada em Matthiessen & Orsini, 2000)

3.3.2.2. Fracturas e luxações

São raras as fracturas no cavalo que são consideradas fatais numa perpectiva puramente fisiopatológica. Fracturas que penetram órgãos vitais ou que danificam vasos sanguíneos importantes podem levar rapidamente à morte do animal, antes mesmo de o médico veterinário ter tempo de avaliar/estabilizar o paciente; felizmente este tipo de fracturas são relativamente raras. A causa mais comum de morte do cavalo por fractura relaciona-se com o envolvimento humano, ou seja, má avaliação do cavalo pelo médico veterinário, desenvolvimento de complicações, mau prognóstico para retorno à actividade desportiva, e principalmente pelo grande encargo financeiro por parte do proprietário na resolução completa deste tipo de lesões (Orsini, 2012).

Um exame meticuloso é obrigatório, mas poderá ser complicado pela gravidade da lesão e outros factores como, por exemplo, a ansiedade, exaustão, desidratação, entre outros. Os objectivos iniciais são estabilização do paciente, aliviar a ansiedade/dor, prevenir o agravamento da lesão, e se for o caso, permitir o transporte seguro para instalações mais especializadas (Smith, 2006).

3.3.2.2.1. Procedimento inicial

Deve-se suspeitar de fracturas ou luxações sempre que se escutar um estalido alto, estiver presente uma claudicação grave sem apoio ou se o membro estiver instável ou desalinhado. O exame deve ser feito num local o mais seguro possível para prevenir mais lesões e deve ser completado antes de qualquer tentativa de mover o animal (Hardy & Wilkins, 2005).

Administração de pequenas doses de tranquilizantes/sedativos e analgésicos estão indicadas para se poder realizar uma avaliação mais completa do paciente e posterior

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estabilização do local da fractura para transporte. O uso de Xilazina (0.2 a 0.5mg/kg) e Detomidina (0.005 a 0.02mg/kg) é comum nos pacientes com fracturas devido ao seu curto efeito sedativo e mínimos efeitos secundários. A administração de AINEs (por exemplo, Fenilbutazona na dose de 2.2 a 4.4mg/kg ou Flunixina Meglumina na dose de 1.1mg/kg) reduz a inflamação e dor no local da fractura e também tem um efeito na redução da ansiedade do animal (Smith, 2006).

A radiografia continua a ser o método mais básico e utilizado para o diagnóstico de fracturas, mas actualmente já estão disponíveis aparelhos de diagnóstico imagiológico como a Ressonância Magnética, a Tomografia computorizada e a Gamma Cintigrafia (Greet, 2011).

3.3.2.2.2. Tratamento de urgência

Os princípios de urgência na imobilização de ferimentos traumáticos incluem: tratamento apropriado das feridas antes da aplicação da imobilização externa, providenciar uma protecção adequada para prevenir abrasões na pele, imobilização da articulação distal e proximal à área da lesão e prevenção do movimento lateromedial e craniocaudal do membro. As feridas devem ser cuidadosamente limpas e desbridadas, podendo ser aplicada uma pomada antisséptica. Uma protecção de algodão deve ser aplicada a todo o comprimento do segmento a imobilizar, colocando por cima uma ligadura não elástica ajustada. As talas são depois aplicadas por cima desta e fixadas, idealmente, com gesso de fibra de vidro (Hardy & Wilkins, 2005; Smith, 2006).

3.3.2.2.3. Prognóstico

O prognóstico vai depender do tipo e local de fractura.As maiores complicações que podem ocorrem são: osteomielite, infecção dos tecidos envolventes, falha na estabilização da fractura, laminite no membro contralateral por sobrecarga, entre outras (Orsini, 2012).

No documento Urgências na clínica equina (páginas 35-40)