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4. ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO PERTINENTE ÀS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO

4.3. LEIS MUNICIPAIS

4.3.1. Legislação Municipal de Marechal Floriano

A Lei Municipal nº 168 de 1995, que institui o Código de Obras do Município de Marechal Floriano, trata dos aspectos construtivos das edificações, não abordando questões de ordenamento do território, como a localização das atividades no município, e não apresenta nada especificamente relacionado ao Rio Jucu. Interessam a esta pesquisa as partes que tratam do esgotamento sanitário, que, como apresentado anteriormente, é um grave problema na cidade. O artigo 40, inciso III, diz que não será concedido o Alvará de Habite-se se não houver ligação do esgoto da edificação com a rede pública ou, na falta desta, com fossa séptica. Porém, o que se constata na realidade é a falta de tratamento de esgoto na cidade e o lançamento do esgoto de muitas edificações diretamente no rio. O capítulo que trata da rede de esgoto apresenta-se bastante contraditório. O artigo 91 define a proibição da ligação do esgoto da edificação com a rede pública de águas pluviais. Porém, a seguir, o parágrafo único do artigo 93 estabelece que assim que entre em funcionamento a rede pública de esgoto não será mais permitida a ligação do esgoto da edificação à rede de águas pluviais, ou seja, entende-se que onde não há rede de esgoto pode acontecer a ligação com a rede pluvial. E o artigo 94 diz que poderá ser permitida a ligação do esgoto predial à rede pública de águas pluviais, exceto as provenientes dos vasos sanitários, que devem ser encaminhadas à fossa e ao poço absorvente. Mas o parágrafo primeiro permite a ligação da fossa à rede pública de águas pluviais quando houver a incapacidade de absorção no terreno. Independentemente do que estabelece o referido código, o que se percebe a partir dos dados de infraestrutura e, facilmente, em campo, é que grande parte do esgoto sanitário da Sede de Marechal Floriano segue diretamente para o leito do Rio Jucu.

Destaca-se o artigo 310, que exige a canalização ou a regularização de cursos d’água e de valas nos trechos compreendidos dentro dos terrenos particulares. Este artigo mostra-se equivocado, considerando-se as questões ambientais discutidas neste trabalho e, principalmente, levando-se em consideração o grande número de edificações implantadas nas margens do Rio Jucu. Destaca-se, ainda, o artigo 348, que submete a construção em terrenos acidentados ou em encostas que ofereçam risco de desmoronamento à legislação específica determinada pelo Poder Executivo – que, como não há tal norma na esfera municipal, entende-se que se trata da legislação estadual e federal, ou seja, não há uma lei que considere as especificidades do município.

O Código de Posturas do município de Marechal Floriano, instituído pela Lei Municipal nº 170, de 1995, trata, no capítulo V, do controle da poluição ambiental, de forma bastante superficial. O artigo 116 proíbe a alteração do solo, água ou ar por qualquer substância nociva à saúde, à segurança e ao bem-estar público, à flora e à fauna; que contenha óleo, graxa ou lixo; que prejudique o uso para fins domésticos, agropecuários, recreativos e outros; ou que afete a estética do ambiente. O artigo 117 é completamente inadequado, na medida em que estabelece que esgotos e resíduos poderão ser lançados nos corpos d’água desde que não os torne poluídos, sem fazer menção aos níveis de poluição tolerados, o que inviabiliza o controle. O artigo 119 compromete a Prefeitura com ações para corrigir as fontes poluidoras, controlar novas fontes e promover análises e estudos para controle da poluição, o que não acontece na realidade, em que novas fontes poluidoras do Rio Jucu surgem a cada dia nas suas margens.

O Plano Diretor Municipal de Marechal Floriano, datado de 2008, encontra-se ainda inacabado e, portanto, não vigente, mas será brevemente comentado. Um dos princípios fundamentais determina que o patrimônio histórico-cultural e as áreas de significado ambiental-ecológico devem ser protegidos através da fiscalização, manutenção e qualificação, de modo a que os cidadãos possam deles usufruir sem prejuízo para a coletividade (art. 3º). Alguns dos objetivos indicados no plano são: preservar os recursos naturais, especialmente os hídricos; promover o saneamento ambiental; recuperar a cobertura florestal do município, compreendendo as áreas degradadas, as áreas de preservação permanente e a reserva legal; e promover a

integração regional com políticas voltadas para o transporte público, o saneamento ambiental, a proteção dos recursos hídricos e as bacias hidrográficas (art. 10).

O texto do PDM determina que o Poder Executivo Municipal deve promover a ordenação do parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a prevenir e corrigir as distorções de crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (art. 12).

Em relação à Política Ambiental, o plano expressa que o Poder Executivo Municipal promoverá a valorização, o planejamento e o controle do meio ambiente de acordo com algumas diretrizes, entre as quais mapear as áreas ambientais frágeis, de forma a especificar os usos adequados relativos ao solo, procurando preservar ou restabelecer a vegetação original; delimitar áreas de interesse para preservação ecológica e de proteção aos mananciais de água; compatibilizar usos e conflitos de interesse nas áreas de preservação ambiental e agrícola, especialmente nas de proteção aos mananciais; e preservar as áreas ambientalmente frágeis ocupadas e recuperar as degradadas, especialmente as margens de córregos urbanos, as encostas e as áreas de notável valor paisagístico (art. 17). Quanto à última diretriz citada, vale lembrar que grande parte da Sede do município se enquadra nessas áreas, já que as margens do Rio Jucu estão quase que totalmente edificadas e a ocupação se expande para as encostas dos morros. No que diz respeito à delimitação das Áreas de Preservação Permanente, o Plano segue as disposições do Código Florestal de 1965 (art. 18).

O macrozoneamento divide o território do Município em duas macrozonas (art. 36): Macrozona Urbana e de Expansão Urbana – MUEU e Macrozona Rural e de Proteção Ambiental – MRPA. A área em estudo – Sede – situa-se na primeira, onde o plano indica ações com objetivos de estimular a ocupação com a promoção imobiliária, o adensamento populacional e as oportunidades para habitação de interesse social; otimizar e ampliar a rede de infra-estrutura urbana e a prestação dos serviços públicos; melhorar a relação entre a oferta de emprego e moradia; atrair novos empreendimentos econômicos; e promover a regularização fundiária e urbanística em geral, com especial destaque aos locais de moradia de população de baixa renda (art. 38).

A Macrozona Urbana e de Expansão Urbana é dividida no PDM de Marechal Floriano em (art. 42): Zona Residencial, Zona Comercial e de Serviços, Zona de Uso Misto, Zona de Expansão Urbana e Zonas Especiais. Estas últimas subdividem-se em Zona Especial de Interesse Social – ZEIS, Zona Especial de Interesse Turístico e Cultural – ZEITC, Zona Especial de Interesse Industrial – ZEII, Zona Especial de Interesse Público – ZEIP, Zonas Especiais de Interesse Ambiental – ZEIA e Zona Especial de Interesse Urbanístico – ZEIU. Porém, a informação obtida na Prefeitura Municipal é de que o plano não teria sido concluído, não existindo ainda os mapas de Macrozoneamento e Zoneamento Urbano. A ausência destes mapas dificulta uma análise mais aprofundada, sendo possível somente apresentar alguns comentários a partir da localização das áreas referentes às zonas identificada por meio do texto da lei.

Na Sede municipal, a área da Rua Delimar Schunk, entre a Estrada de Ferro Leopoldina e o Rio Jucu (figuras 117 a 123 apresentadas anteriormente) constitui uma ZEIS – A, que corresponde aos assentamentos habitacionais consolidados, surgidos espontaneamente, carentes de infra-estrutura urbana e ocupados sem título de propriedade por população de baixa renda (art. 45).

As margens do Rio Jucu Braço Sul em praticamente toda a Sede Municipal – desde a CESAN, onde o rio adentra a cidade, até Rua Delimar Schunk – constituem uma das Zonas Especiais de Interesse Público – ZEIP, definidas como “área em que o Poder Executivo Municipal tiver interesse em implantar equipamento e serviços públicos” (art. 48), não ficando definida no plano, que não dispõe de mapas, a largura da abrangência dessa zona. Por outro lado, a lei cita como Zonas Especiais de Interesse Ambiental – ZEIA as definidas como Áreas de Preservação Permanente no Código Florestal vigente (art. 49), mas não faz menção alguma às margens do Rio Jucu especificamente na descrição desta zona. O texto da lei – ainda não aprovada – é, portanto, contraditório neste quesito, pois estabelece o uso por parte do Poder público Municipal de uma área protegida por Legislação Federal.

No capítulo que aborda o uso, ocupação e parcelamento do solo, é apresentada uma repetição da legislação federal e estadual, em especial da Lei de Parcelamento do Solo. O plano peca, portanto, em não considerar as especificidades locais no ordenamento do território, pois apenas reproduz a legislação superior.

Deste modo, mesmo com a análise prejudicada pela ausência dos mapas de Macrozoneamento e de Zoneamento Urbano, é possível afirmar que a legislação municipal de Marechal Floriano é insuficiente e, no que diz respeito às Áreas de Preservação Permanente, superficial. É preocupante que uma cidade com as peculiaridades de Marechal Floriano – confinada em um vale e atravessada por um rio, portanto com ocupação de risco de desmoronamentos e alagamentos, percorrida por uma ferrovia internamente à área urbana – não tenha ainda uma legislação de ordenamento do território, permitindo, dessa forma, que a expansão urbana continue acontecendo de forma desordenada, com sérios danos sociais e ambientais.