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1 INTRODUÇÃO

5.1 Políticas e Legislação em Matéria de RSU

5.1.1 Legislação Nacional

“Cabo Verde dispõe neste momento de um quadro normativo amplo, porém, disperso por diversos diplomas, abrangendo a regulamentação de inúmeras matérias, carecendo, no entanto, de organização e sistematização, quiçá, num Código do Ambiente, que facilite o seu conhecimento e divulgação” (Ramos, 2003).

Os documentos legislativos constituem a base das acções a serem desenvolvidas. Neste contexto, a legislação ambiental constitui a base de gestão dos sistemas ambientais. Cabo Verde (CV) tem desenvolvido legislação nesta matéria, destacando-se a Lei de Bases do Ambiente (LBA), Lei nº 86/IV/93-CV de 26 de Julho, que “define as bases da política do ambiente” (Artigo 1º da LBA).

A LBA apresenta os princípios que devem suportar a gestão do ambiente, sendo que: Princípio geral (Artigo 2º):

1. “Todos os cidadãos têm direito a um ambiente de vida sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender, incumbindo ao estado e aos Municípios, (…) promover a melhoria da qualidade de vida, individual e colectiva.

2. A política do ambiente tem por fim optimizar a continuidade de utilização dos recursos naturais, qualitativa e quantitativamente, como pressuposto básico de um desenvolvimento auto-sustentado.”

Princípios específicos (Artigo 3º)

Da Prevenção: as actuações com efeitos imediatos ou a prazo no ambiente devem

ser consideradas de forma antecipativa reduzindo ou eliminando as causas, prioritariamente, à correcção dos efeitos dessas acções ou actividades susceptíveis de alterarem a qualidade do ambiente;

Da promoção de formação e sensibilização;

Do equilíbrio: devem criar-se meios adequados para assegurar a integração das

políticas de desenvolvimento económico e social e de conservação da Natureza, tendo como finalidade o desenvolvimento integrado, harmónico e sustentável;

Da participação: os diferentes grupos sociais devem intervir na formulação e

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Da unidade da gestão e acção: deve existir um órgão nacional responsável pela

política do ambiente e do território, que normalize e informe a actividade dos agentes públicos ou privados interventores (…);

Da cooperação internacional: determina a procura de soluções concertadas com

outros países ou organizações regionais, sub-regionais e internacionais para os problemas de ambiente e de gestão dos recursos naturais;

Da procura do nível mais adequado de acção: implica que a execução de medidas e

políticas do ambiente tenham em consideração o nível mais adequado de acção, seja ele de âmbito internacional, regional, sub-regional, local ou sectorial;

Da recuperação: devem ser tomadas medidas urgentes para limitar os processos

degradativos nas áreas onde actualmente ocorrem e promover a recuperação das mesmas, tendo em conta os equilíbrios a estabelecer coma as áreas limítrofes;

Da responsabilização: aponta para a assumpção, pelos agentes, das consequências

para terceiros da sua acção directa ou indirecta sobre os recursos naturais, sendo o poluidor obrigado a corrigir ou a recuperar o ambiente, suportando os encargos daí resultantes, não lhe sendo permitido continuar a acção poluente.

Destaca-se da LBA a definição de objectivos e medidas (Artigo 4º), que visam, de uma forma geral, a protecção do ambiente, e os instrumentos da política do ambiente (Artigo 27º) que deverão ser implementados para o cumprimento dos objectivos.

A LBA dispõe ainda que os resíduos sólidos poderão ser utilizados como fontes de matérias- primas e energia, procurando-se eliminar os tóxicos pela adopção de medidas que passam pela aplicação de “tecnologias limpas” e de técnicas preventivas orientadoras para a reciclagem e reutilização de produtos como matérias-primas e pela aplicação de instrumentos fiscais e financeiros que incentivem a reciclagem e utilização de resíduos e efluentes.

A LBA define que cada município criará uma comissão especializada na área do direito do ambiente, a qual coadjuvará os órgãos municipais, no que diz respeito à aplicação das disposições deste diploma (Artigo 38º). Segundo Ramos (2003) não há memória de algum Município ter criado qualquer Comissão Especializada na Área do Ambiente.

Os Artigos 30º, 31º e 32º da LBA estabelecem, ainda, os objectivos e o conteúdo dos estudos de impacte ambiental, com o objectivo de manter o equilíbrio entre os diversos componentes ambientais, e compreendem:

- Análise do estudo do ambiente local;

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- Inventariação das medidas previstas para suprimir, reduzir e compensar os eventuais impactes sobre o ambiente;

O Decreto-Legislativo nº 14/97-CV “desenvolve normas regulamentares de situações previstas na LBA e estabelece os princípios fundamentais destinados a gerir e a proteger o ambiente contra todas as formas de degradação, com o fim de valorizar os recursos naturais, lutar contra a poluição de diversa natureza e origem e melhorar as condições de vida das populações no respeito pelo equilíbrio do meio” (Artigo 1º). Este diploma aborda a avaliação e os estudos de impacto ambiental, estabelecimentos perigosos, insalubres e incómodos; resíduos urbanos, industriais e outros; recursos geológicos (pedreiras e outros inertes para a construção civil e salinas); poluição atmosférica e da água, ruídos; protecção de espaços naturais, paisagens, sítios, monumentos e espécies protegidas; regime de fiscalização, crimes e contra-ordenações; deposições diversas.

Relativamente aos resíduos destaca-se do Decreto-Legislativo nº 14/97-CV as seguintes disposições:

- Entende-se por resíduos, o conjunto de materiais, podendo compreender o que resta de matérias-primas após a sua utilização, e que não possa ser considerado subproduto, de que o seu possuidor pretenda ou tenha necessidade de se desembaraçar.

- Entende-se por subprodutos os produtos obtidos de matérias-primas cuja obtenção não foi a razão determinante da utilização daquelas matérias-primas.

De acordo com este DL, compete ao Governo proceder aos investimentos relativos a aterros sanitários e outras estações de tratamento de RSU, para além de estabelecer os planos e directivas, as normas e regulamentos a que devem obedecer a construção, instalação e funcionamento das infra-estruturas destinadas à remoção e tratamento dos RSU, tais como vias de acesso e estações de transferência e de tratamento. É também, da sua responsabilidade, regulamentar as actividades de GR, bem como a fiscalização das mesmas.

Por outro lado, compete aos Municípios, isoladamente ou através das respectivas associações, proceder à definição dos sistemas municipais para a gestão de RSU; promover a implantação de projectos em matéria de GR; elaborar e publicar as posturas sobre a gestão de RSU, estabelecendo as directrizes gerais referentes às operações constantes dos planos de remoção; planificar, organizar e promover a gestão dos RSU, bem como dos detritos e desperdícios industriais e hospitalares que sejam passíveis dos mesmos processos de eliminação.

As empresas são responsáveis por dar destino adequado aos seus resíduos industriais, podendo acordar com as câmaras municipais, ou empresas autorizadas, os procedimentos

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de gestão dos mesmos. Do mesmo modo, as unidades de saúde são responsáveis por dar destino adequado aos resíduos hospitalares.

O DL nº 31/2003-CV, de 1 de Setembro, estabelece os requisitos essenciais a considerar na eliminação de RSU, resíduos industriais e outros e respectiva fiscalização, tendo em vista a protecção do meio ambiente e a saúde pública (Artigo 1º). A seguir apresentam-se os principais aspectos deste diploma:

- Confere a competência para fiscalizar o cumprimento das disposições à DGA, às demais entidades com competência para autorizar operações de eliminação de resíduos, bem como às autoridades policiais (Artigo 24º);

- Estipula que as câmaras municipais, empresas e unidades de saúde deverão organizar e manter actualizado um inventário sobre os seus próprios resíduos, na qual deverá constar: a natureza e quantidade dos resíduos, a origem e o destino dos resíduos e a identificação da operação efectuada (artigo 21º);

- As operações de armazenagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos estão sujeitas a autorização prévia (Artigo 8º), sendo da responsabilidade da DGA, com excepção dos projectos que envolvam resíduos hospitalares, em que, neste caso, é da responsabilidade da Direcção Geral da Saúde (Artigo 9º);

- Para além das contra-ordenações previstas no Decreto-Legislativo n.º 14/97-CV, de 1 de Julho, este DL cria novas contra-ordenações (Artigo 22º), prevendo sanções acessórias, como a apreensão de meios de transporte ou equipamentos que tenham sido utilizados na infracção e o encerramento do estabelecimento ou cancelamento das autorizações (Artigo 23º).

Os diplomas apresentados compreendem assim as principais disposições em matéria de gestão do ambiente, em particular a GR, em Cabo Verde.

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