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1 INTRODUÇÃO

2.5 Gestão de RSU nos Países em Desenvolvimento

2.5.2 Principais Aspectos

O impacte mais óbvio dos resíduos é a estética: a inestética dos equipamentos de deposição ao longo das ruas e a deposição não controlada de resíduos têm impactes visuais significativos (Tin et al., 1995).

Os resíduos dos países em desenvolvimento, em oposição aos desenvolvidos, caracterizam-se geralmente por uma grande quantidade de resíduos orgânicos e elevado teor de humidade e cinzas (Beukering e Gupa, 2000). No entanto este facto depende de factores como os padrões de consumo, valores socioculturais e do próprio sistema de recolha (nível de reciclagem).

Nos países em desenvolvimento, comparativamente aos desenvolvidos, não existe, geralmente, uma aplicação efectiva de uma hierarquia na GRSU. As opções de gestão são diferentes. A seguir apresentam-se alguns aspectos que condicionam essas opções (Beukering e Gupa, 2000; Hogland e Marques, 2000):

 O potencial de redução de resíduos é reduzido uma vez que, geralmente, os padrões de consumo já são baixos e as pessoas têm um nível de vida correspondente às condições mínimas de subsistência;

 O potencial de reutilização/recuperação é elevada uma vez que as pessoas têm tendência a fazer uso dos materiais com base na sua utilidade em detrimento dos

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valores estéticos, sendo que quase tudo o que pode ser reutilizado é reutilizado e as actividades de reparação são potenciadas pela mão-de-obra barata;

 O potencial de reciclagem está largamente dependente da composição dos resíduos, da mão-de-obra disponível e dos custos do processo;

 O potencial de valorização energética é baixo devido à composição dos resíduos, nomeadamente o grande teor de humidade e matéria orgânica, mas por outro lado a compostagem é uma opção cada vez mais viável. A construção de incineradores tem, também, custos elevados, requer tecnologias modernas e qualificadas e trabalhadores especializados;

 O potencial de deposição em aterro sanitário é baixo devido aos custos de construção e monitorização, sendo prática comum a deposição em lixeiras ou valas legais/ilegais.

Nos países em desenvolvimento entre 30% a 60% do total de resíduos sólidos produzidos não são recolhidos e menos de 50% da população tem à disposição um sistema de recolha (Hogland e Marques, 2000).

Na ausência de um sistema de recolha efectiva é habitual a deposição indiscriminada dos resíduos junto às habitações, nas ruas e demais espaços públicos ou ainda a sua queima nas proximidades das habitações. Em alternativa, a prática mais comum nos países em desenvolvimento é a deposição dos resíduos em lixeiras ou valas legais/ilegais, procede-se ainda à queima periódica dos mesmos, a céu aberto, para reduzir o seu volume (Medina, s.d.), o que acarreta consequências nefastas a nível de saúde pública e contaminação do meio.

A decomposição dos resíduos depositados indiscriminadamente em lixeiras leva à produção de lixiviados que contaminam o solo e lençóis freáticos, inviabilizando os terrenos para usos futuros; há produção de metano resultante da decomposição da matéria orgânica, o que aumenta a possibilidade de ocorrerem incêndios e contribui para a poluição atmosférica; os resíduos acumulados podem ainda ser arrastados pela chuva para rios, lagos e mares afectando o ecossistema dos mesmos; os restos de comida presentes nos resíduos atraem aves, ratos, insectos e outros animais potenciando assim vectores de doença (Medina, s.d.). A urbanização não controlada origina geralmente favelas (bairros degradados), isto é, comunidades ilegais que ocupam terrenos de forma indevida. Nos países em desenvolvimento, grande parte das áreas urbanas não cobertas com serviço de recolha de resíduos correspondem precisamente a áreas ilegais, o que agrava a deterioração dessas zonas (Medina, s.d.). Este é um aspecto importante na GRSU e que envolve questões sociais e de Ordenamento do Território. É preciso criar estratégias para gerir esta questão e criar condições de acesso a estas zonas pois as estradas estreitas e as condições do

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pavimento poderão ser suficientes para inviabilizar a recolha, impossibilitando a entrada dos veículos.

A GR é geralmente responsabilidade dos municípios, no entanto verifica-se que muitas cidades de países em desenvolvimento têm uma forte presença do sector privado não oficial, anteriormente referido, na GRSU. Este sector é fonte de rendimento para os grupos sociais desfavorecidos em que as práticas mais comuns são a recolha informal de resíduos e scavenging (recolha de materiais depositados, geralmente em lixeiras, para fins como reparação e uso pessoal ou venda para reciclagem e outros fins) (Medina, s.d.).

Os scavengers vêem assim os resíduos como um “minério”, uma fonte de materiais valiosos que podem ser extraídos e servir de sustento (Hogland e Marques, 2000). A Figura 2.4 demonstra esta realidade, com crianças procedendo à recolha de resíduos numa lixeira.

Figura 2.4 Scavenging, Tanzânia (CAM, 2008)

Apesar dos problemas socioeconómicos e sanitários relacionados com a prática de

scavegning e da recolha informal de resíduos, que deverão ser alvo de medidas, estas

práticas contribuem para diminuir a quantidade de resíduos a serem alvo de eliminação e em muitos casos constituem o único serviço de recolha. Em Santa Cruz, Bolívia, por exemplo, cerca de 37% da população é servida pelo sector informal de recolha de resíduos (Medina, s.d.). Neste âmbito há países que têm reconhecido o contributo destas práticas e têm tentado incorporá-las nas políticas de GR, proporcionando melhores condições sanitárias aos praticantes (Hogland e Marques, 2000).

O bom funcionamento de um sistema de recolha de RSM depende da participação de todos. Nos países em desenvolvimento, geralmente os encargos dos serviços de recolha dos RSM são subsidiados pelas autoridades locais como forma de incentivar o uso dos equipamentos disponíveis e correcta deposição dos resíduos. Caso os encargos da GRSU sejam elevados

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para as populações, elas terão preferência por depositar os seus resíduos em locais públicos, originando lixeiras, em vez de usarem os equipamentos disponíveis. Neste caso os encargos para as autoridades locais serão maiores, daí a subsidiação e sensibilização das populações. (Kumar et al., 2000)

Outro aspecto relevante da GRSU nos países em desenvolvimento é a presença de resíduos perigosos provenientes de pequenas indústrias, hospitais e centros clínicos e que habitualmente são depositados e encaminhados como RSU (Schubeler et al., 1996) (Hogland e Marques, 2000). Apesar de muitos hospitais procederem à incineração dos seus resíduos patogénicos, põe-se o problema do funcionamento adequado dos incineradores, que muitas vezes encontram-se obsoletos (Hogland e Marques, 2000). É necessária a adopção de medidas para reverter a situação e evitar assim o risco que este aspecto representa em termos de saúde pública e contaminação do meio.

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