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2.8.1 Constituição Brasileira

A Constituição brasileira (BRASIL, 1988) contém os seguintes preceitos para as atividades nucleares:

“Art. 21. Compete à União: ...

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas;

c) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; ...”

d) “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: ...

XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; ...”

XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; ...”

“Art. 177. Constituem monopólio da União: ...

V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados.

...

§ 3º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de materiais radioativos no território nacional.

...”

“Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

...

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

...”

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

...

§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. ”

Das disposições citadas, verifica-se que todas as atividades relacionadas à área nuclear são de competência exclusiva da União. A única exceção é a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas, que pode ser realizada por terceiros, por meio de concessão ou permissão.

Já o transporte de material radioativo deverá ser regulamentado por lei, de acordo com o texto constitucional.

2.8.2 Legislação Infraconstitucional

Leis

 Lei nº 4.118/62 — alterada pelas leis nº 6.189/74, e nº 6.571/78 — destaca-se pela criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, como autarquia federal, de acordo com seu artigo 3º. (BRASIL, 1962).

 Lei nº 6.189/74 — modificada pela Lei nº 7.781/89 — estabelece, em seu artigo 1º, que a União exercerá o monopólio sobre as atividades nucleares por meio da CNEN, como órgão superior de orientação, planejamento, supervisão, fiscalização e de pesquisa científica, e por meio da Empresas Nucleares Brasileiras S/A. - Nuclebrás e de suas subsidiárias, como órgãos de execução. (BRASIL, 1974)

Decreto

 Decreto nº 2.648/98, decreta:

Art. 1º A Convenção de Segurança Nuclear, assinada em Viena, em 20 de setembro de 1994, apensa por cópia ao Presente Decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 8º Referente ao órgão regulatório:

1. Cada Parte Contratante estabelecerá ou designará um órgão regulatório, encarregado da implementação do arcabouço legislativo e regulatório referido no Artigo 7, e dotado de autoridade adequada, competência e recursos financeiros e humanos para desincumbir-se das responsabilidades a ele atribuídas.

2. Cada Parte Contratante tomará as medidas apropriadas para assegurar uma efetiva separação entre as funções do órgão regulatório e aquelas de qualquer outro órgão ou organização relacionado com a promoção ou utilização da energia nuclear. (BRASIL, 1998, Grifo do autor).

Competências Legais da CNEN

Em seu artigo 2º, a Lei nº 6.189/74 define as competências da CNEN, que abrangem um amplo espectro relacionado à questão nuclear, como formulação de política, regulação, guarda de rejeitos radioativos, prestação de serviços, realização de pesquisas científicas e produção e comercialização de materiais e equipamentos, conforme transcrição a seguir:

“Art. 2º - Compete à CNEN:

I - colaborar na formulação da Política Nacional de Energia Nuclear;

II - baixar diretrizes específicas para radio proteção e segurança nuclear, atividade científico-tecnológica, industriais e demais aplicações nucleares;

III - elaborar e propor ao Conselho Superior de Política Nuclear - CSPN, o Programa Nacional de Energia Nuclear;

IV - promover e incentivar:

a) a utilização da energia nuclear para fins pacíficos, nos diversos setores do desenvolvimento nacional;

b) a formação de cientistas, técnicos e especialistas nos setores relativos à energia nuclear;

c) a pesquisa científica e tecnológica no campo da energia nuclear; d) a pesquisa e a lavra de minérios nucleares e seus associados; e) o tratamento de minérios nucleares, seus associados e derivados;

f) a produção e o comércio de minérios nucleares, seus associados e derivados; g) a produção e o comércio de materiais nucleares e outros equipamentos e materiais de interesse da energia nuclear;

h) a transferência de tecnologia nuclear a empresas industriais de capital nacional, mediante consórcio ou acordo comercial.

V - negociar nos mercados interno e externo, bens e serviços de interesse nuclear; VI - receber e depositar rejeitos radioativos;

VII - prestar serviços no campo dos usos pacíficos da energia nuclear;

VIII - estabelecer normas e conceder licenças e autorizações para o comércio interno e externo:

a) de minerais, minérios, materiais, equipamentos, projetos e transferência de tecnologia de interesse para a energia nuclear;

b) de urânio cujo isótopo 235 ocorra em percentagem inferior ao encontrado na natureza;

IX - expedir normas, licenças e autorizações relativas a: a) instalações nucleares; b) posse, uso, armazenamento e transporte de material nuclear;

c) comercialização de material nuclear, minérios nucleares e concentrados que contenham elementos nucleares.

X - expedir regulamentos e normas de segurança e proteção relativas: a) ao uso de instalações e de materiais nucleares;

b) ao transporte de materiais nucleares; c) ao manuseio de materiais nucleares;

d) ao tratamento e à eliminação de rejeitos radioativos;

e) à construção e à operação de estabelecimentos destinados a produzir materiais nucleares e a utilizar energia nuclear.

XI - opinar sobre a concessão de patentes e licenças relacionadas com a utilização da energia nuclear;

XII - promover a organização e a instalação de laboratórios e instituições de pesquisa a elas subordinadas técnica e administrativamente, bem assim cooperar com instituições existentes no País com objetivos afins;

XIII - especificar:

a) os elementos que devam ser considerados nucleares, além do urânio, tório e plutônio;

b) os elementos que devam ser considerados material fértil e material físsil especial ou de interesse para a energia nuclear;

c) os minérios que devam ser considerados nucleares; d) as instalações que devam ser consideradas nucleares. XIV - fiscalizar:

a) o reconhecimento e o levantamento geológicos relacionados com minerais nucleares;

b) a pesquisa, a lavra e a industrialização de minérios nucleares; c) a produção e o comércio de materiais nucleares;

d) a indústria de produção de materiais e equipamentos destinados ao desenvolvimento nuclear.

XV - pronunciar-se sobre projetos de tratados, acordos, convênios ou compromissos internacionais de qualquer espécie, relativos à energia nuclear; XVI - produzir radioisótopos, substâncias radioativas e subprodutos nucleares, e exercer o respectivo comércio;

XVII - autorizar a utilização de radioisótopos para pesquisas e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas;

XVIII - autorizar e fiscalizar a construção e a operação de instalações radioativas no que se refere a ações de comércio de radioisótopos.” (BRASIL, 1974)

A Constituição Federal de 1988 conferiu ao TCU8 o papel de auxiliar o Congresso

Nacional no exercício do controle externo. As competências constitucionais privativas do Tribunal constam dos artigos 71 a 74 e 161.

As funções básicas do Tribunal de Contas da União são incorporadas com o seguinte formato: fiscalizadora, consultiva, informativa, judicante, sancionadora, corretiva, normativa e de ouvidoria. Algumas de suas atuações assumem ainda o caráter educativo (TCU, [s.d.]).

O Relatório de auditoria de natureza operacional no programa nacional de atividades nucleares e no monitoramento do cumprimento das determinações contidas nos acórdãos 519/2009 e 1.550/2011, ambos do TCU, faz as seguintes recomendações à CNEN, dentre outras:

 Seguir protocolo internacional sobre segurança nuclear, após o acidente de Fukushima verificando as modificações com impactos no Brasil...

 A possível criação de uma agência reguladora para o setor (Agência Nacional de Segurança Nuclear – ANSN), com poderes de polícia administrativa que lhe permitirão o cumprimento das atividades de fiscalização e aplicação de sanções. A proposta é que as atividades de regulação e fiscalização não sejam mais de competência da CNEN e que o cerne da nova agência seja constituído pela atual Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS), que seria desmembrada da CNEN, juntamente com uma parcela da estrutura administrativa da atual Diretoria de Gestão Institucional (DGI).

Corroborando com as recomendações do TCU e evidenciando a necessidade da criação de um órgão regulatório independente pelo estado, Santos e Siqueira (2014) analisam da seguinte forma:

O acidente em Fukushima, evidenciou riscos do desenvolvimento da tecnologia nuclear, exigindo dos países atitudes mais firmes no sentido de garantir o adequado funcionamento de suas instalações. É fundamental que o governo garanta um controle e fiscalização rígidos e eficientes. Há necessidade da criação de um marco regulatório para a indústria nuclear, a partir da proposta de uma agência reguladora própria, em análise pela Casa Civil. É notório que nos dias de hoje exista uma incoerência de um mesmo órgão exercer monopólio sobre a atividade e promover seu controle, licenciamento e fiscalização (SANTOS; SIQUEIRA, 2014).

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