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LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS ANTERIORES E A NOVA LEI DA

No documento Universidade do Estado do Rio de Janeiro (páginas 44-47)

1 A BIODIVERSIDADE NO BRASIL E A CONJUNTURA INTERNACIONAL

1.6 LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS ANTERIORES E A NOVA LEI DA

No Brasil, o quadro jurídico da proteção à biodiversidade precede a Convenção sobre a Diversidade Biológica, pois a Constituição Federal de 1988 já previa, em seu artigo 225, os preceitos a serem observados pelo Legislador ordinário, no que se refere ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a preservação da biodiversidade (MENUCHI; AMARANTE SEGUNDO; ARAÚJO, 2016).

Conforme explica Batista (2010), a Constituição Federal, por meio do artigo 225, parágrafo 1° e incisos, tutela o meio ambiente e projeta algumas medidas de prevenção da biodiversidade, dentre estas a criação de unidades de conservação dos recursos naturais além de sanções administrativas expostas posteriormente pela Lei 9.605/98, artigo 72 a 76. No mesmo artigo e incisos verifica-se a determinação do Poder Público quanto à preservação da diversidade e integridade do patrimônio genético, com escopo de fiscalizar as entidades voltadas as pesquisas e manipulação de material genético.

Mas, no que se refere a regulamentação de forma específica, houve na legislação brasileira o decreto executivo 2.519 de 1998, o qual veio a internalizar a CDB de 1992 (CARDOSO; WARSZAWIAK, 2017). Porém, como a CDB teve um

caráter de soft law, que permitia flexibilizações, no dia seguinte ao encerramento à

CDB, ainda em 1992, o presidente à época enviou ao Congresso Nacional projeto de lei de patentes para permitir o acesso à biodiversidade sem qualquer compensação (DAVIES; KASSLER, 2015).

Em 14 de maio de 1996, foi aprovada a Lei de Propriedade Industrial, que permitia o patenteamento de microrganismos, o que regulamentava a proteção do acesso aos processos e produtos gerados pela indústria biotecnológica. Com isso,

ficava faltando uma regulamentação do acesso aos recursos genéticos, o que foi posteriormente regulado por medidas provisórias, decretos e resoluções (DAVIES; KASSLER, 2015).

A partir de 1995 começaram a surgir alguns projetos de lei, federais e estaduais, procurando normatizar a questão do patrimônio genético brasileiro. Mas apenas em 2000 foi editada a primeira Medida Provisória (MP) sobre o tema, a MP nº 2.052, em 29 de junho de 2000. Esta MP se sobrepôs a toda discussão que vinha, até então, sendo travada no Congresso Nacional sobre a matéria, dispondo sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e a transferência de tecnologia para sua conservação e utilização (ANDRADE, 2013).

A MP nº 2.052 sofreu sucessivas reedições até chegar à MP nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, que ganhou caráter definitivo após a Emenda Constitucional

nº 32/2001. Assim, a MP nº 2.186-165 constituiu-se no marco legal sobre acesso ao

patrimônio genético e aos conhecimentos tradicionais associados no País e definiu de forma detalhada a nova concepção do tema (ANDRADE, 2013).

Um fator importante sobre esta MP foi que ela trouxe um novo conceito sobre

o patrimônio genético, inserindo a noção de “informação de origem genética”, ou

seja, o patrimônio genético não se restringe ao ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA), mas também abrange todo e qualquer material que contiver essa informação de origem genética, como as biomoléculas, que são alvos frequentes de bioprospecção (que pode ser definida como a busca sistemática por organismos, genes, enzimas, compostos, processos e partes provenientes de seres vivos em geral - coletivamente chamados de recursos genéticos - que possam, eventualmente, levar ao desenvolvimento de um produto) (ANDRADE, 2013).

Após o Protocolo de Nagoya, que não teve a ratificação do Brasil, e a Rio+20, a regulamentação brasileira sobre o assunto ainda continuou como uma colcha de retalhos, com MPs expiradas, quatro decretos complementares e nenhum debate no legislativo, até que, em 20 de maio de 2015, foi instituída a Lei n° 13.123, chamada

de Nova Lei da Biodiversidade6. Após 15 anos de experiência e aprendizado, essa

Nova Lei buscou regulamentar o acesso ao patrimônio genético, o uso de

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A MP nº 2.186-16 de 2001 será novamente abordada no tópico 2.3.8, fazendo-se uma análise sobre o que ela significou em relação à repartição de benefícios.

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A Nova Lei da Biodiversidade será novamente abordada no tópico 2.3.9, fazendo-se uma análise sobre que mudanças ela trouxe em relação à repartição de benefícios.

conhecimentos de comunidades tradicionais e a repartição de benefícios (CECHIN; BARRETO, 2015).

Brito e Pozzetti (2017) fazem um comparativo entre a MP nº 2.186-16/2001 com a Nova Lei nº. 13.123/2015, e observam que, no que tange ao conhecimento tradicional associado, a Nova Lei considera em seu artigo 8º, parágrafo 2º, que conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético é um bem do patrimônio cultural brasileiro. Na legislação anterior, o conhecimento tradicional era tido como propriedade intelectual e, assim, passível de patenteamento. Era comum um empresário se aproximar de uma comunidade tradicional para adquirir seus

conhecimentos e os patentear, tornando-se “proprietário” destes. Ocorre que

conhecimento tradicional vai além de algo intelectual. Representa cultura e emerge expressões de identificação de um povo, portanto, devendo ser protegido como tal.

Outra novidade trazida é a respeito de um conceito novo, ao estabelecer a existência do conhecimento tradicional associado de origem não identificável, ou seja, em que não há a possibilidade de vincular a sua origem a, pelo menos, uma população indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional. A lei também estabeleceu novo procedimento para a realização do acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado, sendo necessário somente o cadastro do pesquisador no sítio eletrônico, com os documentos exigidos, e não mais a autorização prévia do Órgão responsável, o CGEN (BRASIL, 2015; BRITO; POZZETTI, 2017).

Esta novidade foi motivo de comemoração pela comunidade científica, pois facilitou as pesquisas envolvendo biotecnologia, alterando a realidade anterior, visto que uma das grandes críticas era a alta burocracia que envolvia este ramo, dificultando o desenvolvimento tecnológico e econômico do país, proporcionando, inclusive, o aumento de biopirataria e de pesquisas irregulares. Porém, esta lei ainda possui lacunas a respeito à repartição de benefícios e conhecimento prévio informado, principalmente em identificar qual população seria a real recebedora desses benefícios, tendo em vista que muitas vezes esses conhecimentos são repassados de uma comunidade à outra, não sendo possível encontrar a sua fonte originária (BRASIL, 2015; BRITO; POZZETTI, 2017).

No documento Universidade do Estado do Rio de Janeiro (páginas 44-47)