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CAPÍTULO 3: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO

3.4. Lei 10.639/03

didática;

 Seja conhecimento entre sujeitos.

Assim, é parte integrante do currículo do ensino religioso contemplar as diversas religiões existentes na nossa cultura, dentro desta diversidade religiosa temos as religiões afrobrasileiras. Ainda como forma de contemplar esta diversidade tem a sanção da Lei 10.639/03 modificada pela Lei 11.645/08.

3.4. Lei 10.639/03

A Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003 altera Lei de Diretrizes e Base da

educação nacional número 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelecendo à inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, como também o trabalho de valorização da história do povo negro e afrodescendente, e a contribuição da cultura africana na formação da cultura brasileira, abaixo temos a lei:

Lei Nº 10.639, de janeiro de 2003.

Altera a Lei nº 9.394,, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “ História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.

“Art. 1ºA Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

Art. 26º- A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere o capitulo deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

§ 3º (VETADO)" "Art. 79-A.(VETADO)"

"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’." (BRASIL. Lei 10.639/03, 2003)

Esta lei determina que o conteúdo programático de “História e Cultura Afro- Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira” (BRASIL, 2003); deva incluir diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, portanto conteúdos que abordem a história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas mais diversas áreas como social, política e econômica, pertencentes à história brasileira.

Segundo Bezerra; Chagas (2007, p.10) trabalhar com a temática da História e da Literatura afrobrasileira e africana, no universo escolar é oportunizar aos educandos “conhecerem outras referências indispensáveis a compreensão a história da humanidade, representa, portanto, romper com a hierarquização das culturas”. Conforme é afirmado por Bezerra; Chagas (2007, p.9) o que acontecia era que,

Além de negarmos o negro fisicamente, também violentávamos culturalmente, visto que a história e cultura negra sempre estiveram fora das salas de aula. Por extensão o preconceito, segundo o discurso elitista era “coisa da cabeça de alguns negros”, afinal vivíamos numa democracia racial, uma vez que negros e brancos circulavam por todos os espaços da sociedade. No entanto, não nos informam em que condições os negros viviam na sociedade brasileira (...). Nesse sentido o desafio que a Lei 10.639/03 nos impõe é a possibilidade de rompermos com a tradição, ou seja, a manutenção de um ideário de história e cultura onde os negros são coadjuvantes ou uma peça entrelaçada ao processo produtivo travestido de escravo. (BEZERRA; CHAGAS, 2007, p.9)

A aplicação desta lei encontra-se aliada à necessidade dos indivíduos de discutir no universo escolar as práticas presentes e necessárias para a vida cotidiana. Desta forma, trazer para a sala de aula questões sobre diversos aspectos da história e da cultura africana e afrobrasileira, o que é novo até para os professores que atuam a algum tempo no ensino, é um desafio que se torna necessário diante da situação educacional e política brasileira.

A carência de diálogos sobre a formação da sociedade brasileira em nova roupagem se edifica de forma a desfigurar o modelo de sala de aula pragmática que verificamos nas escolas brasileiras, sendo assim este trabalho se propõe em colidir a lei que foi promulgada e a carência na implementação de subsídios sobre a temática. Nesse caso especifico, observa-se que a escola tem um ambiente propício a realização de um

trabalho desse caráter, tornando-se indispensável para a integração e desenvolvimento humano no tocante a relativização cultural e exercício da cidadania.

3.4.1. Lei 11.645/08

Lei Nº 11.645, de 10 de março de 2008.

Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “ História e Cultura Afro-Brasileira e indígena”.

Art. 1º O art. 26-A da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:

“ Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (BRASIL. Lei 11.645/08, 2008)

A Lei 11.645/08 modifica a Lei 10.639/03, onde estabelece incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro- Brasileira e indígena”, estabelecendo assim que os conteúdos serão aplicados nas áreas de educação artística, de literatura, histórias brasileiras, como também a diversidade religiosa desses grupos serão vistas no Ensino Religioso.

Essas Leis além de serem instrumentos de orientação para o combate à discriminação são também políticas educacionais, que reconhecem a escola como lugar da formação de cidadãos e assim como também sua relevância para promover a necessária valorização das matrizes culturais que formam o Brasil.

Chagas (2010, p.24) nos formula um questionamento a respeito da aplicabilidade dessas Leis, Diretrizes e PCN’S,

embora as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana sejam de 2004, os Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1997, e a LDB, de 1996, recomendavam a inserção da diversidade étnica e racial no currículo na sala de aula, o que incide na inclusão da história da África, da história do (a) negro (a) e da cultura afrobrasileira como conteúdos indispensáveis à compreensão da formação da sociedade brasileira. (CHAGAS, 2010, p.24)

Mesmo sabendo que a recomendação de inclusão dos conteúdos pertinentes à História da África e da cultura afrobrasileira, encontram-se em discussão, como nos afirma Chagas (2010, p.24) “há pelo menos três décadas”, a realidade nos aponta que sua aplicabilidade ainda não se faz presente “em toda rede pública de ensino da Paraíba”. O que se identifica são iniciativas isoladas por parte de alguns grupos professores (as), “que têm impulsionado na escola a discussão sobre o negro e despertado a atenção de estudantes e de professores (as) para a questão do racismo no Brasil”. (CHAGAS, 2010, p.25-26)

Segundo Chagas (2010, p.25-26) entre os (as) professores (as) são identificados quatro modalidades de fazer pedagógico para trabalhar com essa temática. A primeira modalidade diz respeito à abordagem dessa temática a partir da elaboração de projetos em torno das datas instituídas nacionalmente das quais são relevantes o 13 de maio53 e o 20 de novembro54.

Na primeira experiência, essa temática é tratada na escola, mas de modo pontual e aleatório ao currículo obrigatório, limitando-se às ações individuais de grupos de professores (as) que elaboram projetos e, nos dias 13 de maio 20 de novembro, organizam eventos pedagógicos e culturais e discutem os aspectos históricos, sociais e culturais da África e da população negra do Brasil, em especial, a escravidão.

A partir das atividades desenvolvidas por ocasião dessas datas, aprende-se e se ensina a relação Brasil/África. (CHAGAS, 2010, p.26)

A segunda modalidade aponta a presença do negro (a) na sociedade através dos aspectos políticos, dos aspectos culturais e dos aspectos religiosos.

A segunda experiência tem se pautado na crítica ao modelo de compreensão que torna o (a) negro (a) invisível na sociedade, visto

53 Data em que se lembra a abolição da escravidão

que enfatiza a sua condição, desmistifica o discurso de democracia racial ainda marcante e ressalta a luta do (a) negro (a) pela inserção social e afirmação da cidadania, o que fora manifestado nas diversas instâncias da sociedade, a exemplo do aspecto político, com a fundação dos quilombos, da Frente Negra Brasileira e do Movimento Negro Unificado. Também enfatizando o aspecto cultural e apontam os grupos de afoxé, maracatu, maculelê, coco, samba-de-roda e congada, como manifestações em que é possível a identificação de elementos da cultural negra. Nesse patamar, também se inclui o aspecto religioso, com os terreiros de umbanda e de candomblés espalhados pelo Brasil afora, e que tem sido o principal símbolo da resistência negra. (CHAGAS, 2010, p.26-27) A terceira modalidade diz respeito às abordagens do Continente Africano em seus aspectos físicos e geográficos, mais tem apresentado uma imagem errônea do continente, como nos afirma Chagas (2010, p.27),

Reproduz-se a imagem de que a África é a - histórica, incivilizada, um continente pobre, uma vez que quase todos os seus países são subdesenvolvidos e apresentam altos índices de analfabetismo, mortalidade infantil e desemprego.

Já a quarta modalidade da ênfase as discussões como o racismo e a condição da população negra no Brasil (CHAGAS, 2010, p.28). Porém tais modalidades de fazer pedagógico para abordar a temática de História e Cultura Afrobrasileira na sala de aula são ações isoladas de professores (as) da rede pública de ensino da Paraíba, as quais não recebem incentivos por parte dos gestores públicos para que seja dada continuidade. Observamos que mesmo tendo ações como essas isoladas, as religiões provenientes da cultura afrobrasileira têm sofrido com as práticas de intolerância religiosa.