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Lei 4036/07 – As pessoas passaram a se interessar mais, ou fugir mais

Gráfico 03 Expansão de matrículas em Taguatinga

2. As relações entre a escolha de diretores e três estratégias de gestão

2.1. O conselho escolar

2.1.3. Lei 4036/07 – As pessoas passaram a se interessar mais, ou fugir mais

Para o conselho escolar, a lei 4036/07 manteve a composição não paritária observada na legislação 274/99 e restringiu mais a participação do segmento dos estudantes ao reduzir a faixa etária apta a participar. Quais eram então suas atribuições? No cenário da lei de 2007 o conselho foi definido como de natureza “consultiva, deliberativa, mobilizadora e supervisora das atividades pedagógicas, administrativas e financeiras” (art. 1º do decreto 29.207/08), ampliando sua possibilidade de ação dentro da gestão em relação à legislação anterior.

Neste sentido, o que se verificou nas práticas desenvolvidas na escola foi uma presença mais constante do conselho escolar nas escolas e um maior afluxo de interessados em compô-lo,

haja vista mudanças significativas nos valores dos recursos disponíveis para as escolas a partir do estabelecimento do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira – PDAF e algum aporte no sentido da formação destes conselheiros. Ademais, exigências do PDAF de aprovação de plano de aplicação pelo conselho escolar para a liberação de verbas demandaram sua organização de maneira a concretizar o repasse das verbas.

A partir de 2008 mais pessoas passaram a se interessar. Porque o governo que entrou fez umas mudanças que aumentaram a verba. […] Então quem manipulava, por exemplo, R$ 10.000,00 por ano passou a manipular 200 mil, 300 mil. Então aí aumentou um pouco a responsabilidade, aumentou o critério de escolha e as pessoas passaram a se interessar mais, ou fugir mais. (Diretor 11)

As mudanças ocorreram, teve mudanças sim, porque depois saíram livros orientando o conselho escolar, o que antes não tinha. Então depois que há essa participação maior, você tem pessoas que se predispõem a participarem do conselho escolar […]. (Diretor 7)

Ao atrelar a efetivação do PDAF à aprovação do conselho escolar, a legislação regulou (BARROSO, 2006) indiretamente o estabelecimento e a reestruturação este órgão colegiado em relação à experiência vivida entre 1999 e 2006. Assim, observou-se maior expressividade na caracterização do conselho escolar como mediador entre as demandas da comunidade e a escola (CURY, 2006). Todavia, este alinhamento entre a ação do conselho e o PDAF também teve como consequência a ênfase que passou a se dar a suas atribuições na tomada de decisões relativas ao uso do dinheiro e seu papel fiscalizador, circunscrevendo sua co-responsabilidade na gestão (PARO, 2001) a estes aspectos.

[...] ainda me lembro, era sempre as primeiras segunda-feiras de cada mês que a gente se reunia. Aí tinha pauta, a gente, cada segmento levava para os seus representados o que que eles desejavam do conselho. 'Ah, a gente precisa comprar um quadro assim.' 'Ah, a gente precisa comprar uma televisão, a gente precisa

comprar isso...' Entendeu? Aí cada um ia com suas demandas, os representantes

de segmentos. E lá a gente trabalhava os segmentos. A gente fazia leitura do que tinha sido produto de reunião da assembleia anterior, do que que tinha acontecido, tinha evoluído, não tinha. […], aí depois entrava no assunto da próxima. (Diretor 9, grifos da autora)

Mas, assim, ultimamente a gente tem falado mais com o conselho escolar a respeito das verbas porque a direção, a gente não assina mais nada, desde o governo Arruda. (Diretor 12)

Mesmo neste cenário, revela-se também o quanto o conselho tem sido pouco preparado para exercer suas funções, ainda que em nível federal tenham-se observados programas voltados para sua formação139. Neste sentido, o diretor revela preocupação quanto a como o conselho

escolar desenvolvia estas funções, como analisava o uso das verbas e como seu trabalho de aprovação se dava ainda com característica de referendo ao que a direção apresentava, a 139O Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, segundo sítio web do MEC, tem promovido cursos de formação à distância e com encontros presenciais desde 2005.

exemplo do que fora observado no período entre 1999 e 2006 com relação ao tipo de apoio que o conselho oferecia à direção.

Pois é, eles aprovavam as coisas muito na confiança do diretor. Tá, porque o diretor se empenhava junto aos poucos órgãos da Secretaria de Educação que manipulavam essas verbas, e chegava com os relatórios para o conselho e.... Eles se preocupavam muito, eu diria para você, de ver se alguém não estava roubando nada. Isso eles eram bastante seguros. Mas dizer se o cara aplicou, por exemplo, na pintura duma sala de aula um dinheiro que poderia comprar uma máquina, essas coisas eles não se preocupavam. Eles queriam saber o seguinte: 'Ó, esse dinheiro foi gasto aqui na escola?' (Diretor 11)

Esta maneira de atuação verificada para o conselho pode ser resultante da ausência de um processo formativo contínuo para estes órgãos, visto que o processo natural de rotatividade dos representantes dos segmentos demanda que cursos sejam feitos frequentemente, de maneira a contemplar novos membros. A característica de referendo, por sua vez, mostra-se como movimento de continuidade da vivência estabelecida entre 1999 e 2006, o que não significa que esta necessariamente se mantenha nos anos posteriores, mas que a tradição vigente nos anos anteriores, em parte reflexo da própria configuração autoritária da escola (PARO, 2001) e das relações hierárquicas que a permeiam (MENDONÇA, 2000), ainda perdura na ação do conselho mesmo após promulgação de nova legislação. Assim, embora a proatividade do órgão colegiado não seja ainda uma realidade nas escolas, ela é admitida pela direção como possível no contexto da lei 4036/07. Neste sentido, nota-se uma expectativa não concretizada por parte da direção de que o envolvimento do conselho seja ativo (LIMA, 2008), embora não tenham sido registradas estratégias de maior aproximação da comunidade além de sua convocação para reuniões e para a composição do conselho.

[...] na verdade ele sempre está assim, digamos, ativo. Mas o conselho escolar pode ser acionado por qualquer segmento. Pode ser pelo aluno, pelo professor.... geralmente, assim, ele auxilia constantemente na utilização da verba, ou se eles querem alguma mudança, assim, que não depende só da decisão da direção. (Diretor 12)

Ademais, observou-se continuidade no papel do conselho de auxiliar a gestão escolar em especial em casos extremos, para os quais o diretor busca respaldo em sua convocação, como observado muito particularmente nas práticas dos anos anteriores.

Dependendo do problema, a gente sempre conseguiu resolver. Mas assim, às vezes pode ser que um problema seja mais... que a gente tenha mais dificuldade, pelas contradições de cada um, as controvérsias. […] Por exemplo, a gente teve um problema agora porque a escola há uns três anos ela está passando por uma transição para virar escola polo de EJA. A gente tinha [ensino] regular. […] Então essa transição foi muito difícil. Foi onde a gente teve que chamar mais vezes o conselho escolar […]. (Diretor 12)

E como a direção relacionava-se com o conselho escolar? Observou-se continuidade em relação ao período anterior, visto a denominada tranquilidade a que se referem os diretores advir de um posicionamento não conflitivo verificado para os membros do conselho escolar.

No segundo mandato ainda foi melhor ainda, porque aí eu já conhecia o grupo todo. Mas foi tranquilo. E o relacionamento era... O conselho ele é eleito de 2 em 2 anos, renovado ou não. E era tranquila. A nossa relação era tranquila. (Diretor 9)

De forma tranquila. Sem grandes atritos, sem grandes problemas. Não tinha... nunca tive problema não. (Diretor 11, grifos nossos)

Assim, notou-se certa continuidade no trabalho do conselho como auxiliar da gestão e como figura de suporte à direção, com manutenção de sua ação de referendo para diversas situações. E como o processo seletivo seguido de eleição pela comunidade escolar refletiu no conselho escolar e em suas atribuições? Considerando que o processo eletivo neste contexto tem características de referendo da decisão governamental, não surpreende a verificação da manutenção de aspectos registrados para o período de 1999 a 2006, tais como o peso das relações hierárquicas e da configuração autoritária da escola nas relações entre direção e conselho, bem como uma participação passiva (LIMA, 2008) dos membros do conselho aliada a função de apoio centrada nas decisões relativas ao recebimento e à utilização dos recursos.

Entretanto, para o período de 2007 a 2010 também o estabelecimento do PDAF deve ser enfatizado com relação ao processo de regulação da ação do conselho, visto que suas exigências demandaram uma regularidade na ação do órgão e um direcionamento e sua responsabilização pela definição de aspectos financeiros que tem se mostrado benéfica para a consagração e a consolidação de sua atuação dentro do espaço escolar. No entanto, após a um período de atuação mais passivo observado ao longo da vivência entre 1999 e 2006, a ampliação das atribuições do conselho inaugurada pela 4036/07 mostrou-se ainda incipiente em termos de sua concretização no dia a dia das escolas.

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