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Lei das Sociedades Anônimas

A MORTE DE UM LÍDER

SAPATARIA IDEAL de

6. Lei das Sociedades Anônimas

A conceituada empresa sobrelense F. Chagas Barreto &

Cia., experimentou, nas décadas dos anos 1950, 1960 e 1970, um considerável crescimento na área comercial e patrimonial.

Empresa de cunho familiar, comandada por mão de ferro de um ex-ferreiro, seu fundador, Francisco das Chagas Barreto Lima. O empresário centralizava o poder decisório, tendo como escudeiro e substituto eventual, o filho, também comerciante, Cesário Barreto Lima.

No início dos anos 1960, Cesário Barreto, resolveu pedir afastamento das empresas, para dedica-se inteiramente às atividades de natureza política partidária, candidatando-se, nas eleições municipais do ano de 1963, ao honroso cargo de Prefeito de Sobral.

Seu Pai, Chagas, embora bastante contrariado com o seu afastamento das empresas, chamou seu filho adotivo, Joaquim Barreto Lima, para ocupar a vaga do filho Cesário, como seu lugar tenente, na condução dos negócios da família Barreto.

O jovem diretor, com um trabalho sério e inovador, acabou logo, logo, caindo nas graças do poderoso tio, Chagas Barreto.

O professor da Escola de Comércio de Sobral, Joaquim Barreto, com anuência do Diretor Presidente, partiu para assinatura do contrato de distribuidor exclusivo dos produtos da Cervejaria Brahma, e, com o grupo empresarial cearense J.

Macedo, sócio acionário da famosa empresa de fabricação de bebidas, com sede na cidade do Rio de Janeiro.

Em pouco tempo a F. Chagas, sob o comando do jovem diretor comercial, transformou-se em um poderoso grupo regional, representando em 5 Estados os famosos produtos já mencionados.

O sobrinho e filho adotivo do Cel. Chagas, diariamente, introduzia métodos modernos na estrutura do grupo comercial.

Além de Joaquim Barreto, a firma contava ainda como sócios, com os genros do proprietário, Chagas Barreto, com Antônio Amâncio (casado com a filha de Margarida), José Valeniano Dias (casado com Porcina), Maximino Barreto (sobrinho-neto) e José Maximino Barreto Lima (filho caçula).

O céu era o limite para o jovem executivo sobralense.

Participando ativamente de congressos e seminários, patrocinados pelos dois grupos dos quais era representante, Cervejaria Brahma e Grupo J. Macedo. Joaquim Barreto tornou-se um defensor ardoroso da S/A (Sociedade Anônima).

O grupo J.Macedo, por exemplo, já havia colocado na sua estrutura familiar a Sociedade Anônima, estrutura comercial que diluía o capital em ações ou quotas, dando posição de comando a quem mais ações possuísse. Era a novidade da administração dos Estados Unidos da América, nos anos 1950.

O jovem executivo, empolgado com as novidades, tentou convencer ao centralizador e poderoso padrinho, da importância da novidade para o crescimento futuro do grupo empresarial sobralense.

Foi marcada uma reunião no palacete, assim era chamada a residência do Cel. Chagas, ao lado do Teatro São João. Todos os sócios foram convidados para debater a proposta de mudança e tomar conhecimento da palavra final do comandante Chagas Barreto. O filho, Cesário, na época exercendo o cargo de Prefeito Municipal de Sobral, também foi convidado para o evento familiar.

O Diretor Comercial, tomou a palavra e fez uma longa explanação dos benefícios que a empresa iria auferir, atuando como S/A, atraindo novos sócios e investidores, diversificando ainda mais os ramos de atividades e expandindo suas fronteiras comerciais para além das já conquistadas.

Muitas perguntas foram feitas na ocasição. Questões foram levantadas. Um representante deo Grupo J. Macedo foi convidado para apresentar aos presentes os sucessos da introdução da S/A na estrutura comercial da J. Macedo. Os fortes argumentos relativos ao sucesso da novidade acabaram se tornando uma unanimidade entre os participantes da reunião.

O jovem executivo, Joaquim Barreto, empolgado, resolveu finalmente escutar a palavra final do Presidente da F. Chagas Barreto.

– E o Senhor, tio Chagas, qual a sua decisão?

O velho Coronel coçou a cabeça, e com a sua voz tão característica, forte e rouca, respondeu:

– Joaquim, escutei atentamente! Sou testemunha do grande trabalho e amor que você tem dispensando aos negócios da nossa empresa. Você é merecedor de toda a minha confiança, mas, infelizmente, sou contra! Não concordo!

Todos ficaram calados, apenas o genro, Antônio Amâncio, com sua maneira fidalga de tratar as pessoas e merecedor do respeito de todos, perguntou:

– Seu Chagas, nós estamos curiosos e sem entender o motivo de sua recusa.

– Muito simples, Antônio Amâncio, sendo Imperador, eu seria burro se eu proclamasse a República.

Dito isso, levantou e saiu da reunião, deixando a todos perplexos.

– O Coronel enxerga a vida de binóculos. Em time que está ganhando, não se mexe.

Todos caíram na risada e nunca mais se falou em S/A, na família Barreto Lima.

7. A Buzina

Nos dias de hoje, em determinadas cidades do interior, o cotidiano ainda pode ser abalado por motivo de curiosidade, de alvoroço e de disse me disse. A simples chegada de alguém na cidade gera na mente das pessoas especulações e desconfiança.

Agora, imaginemos a chegada de um automóvel de passeio, importado, da marca FORD, chegando em Sobral no final dos anos 1940, vindo do Rio de Janeiro, tendo sido adquirido por um dos mais conhecidos e bem-sucedidos comerciantes local, o senhor Francisco das Chagas Barreto Lima. Foi uma grande novidade! Na época, só existia em Sobral uma frota de não mais que dez veículos, sendo seus proprietários os senhores de mais posses da cidade.

A chegada do carro à cidade foi aguardada com muita euforia e expectativa. O automóvel, fabricado nos Estados Unidos, no ano de 1946, de cor preta, era seminovo, bastante conservado, com bancos de couro e tinha quatro portas. Seu Chagas não sabia dirigir e por este motivo, contratou como instrutor o jovem motorista sobralense, conhecido na cidade pelo apelido de ESPIRRO, em razão do corpo franzino e de sua baixa estatura.

O Seu Chagas Barreto, homem conceituado e próspero sobralense, era um cidadão muito bem relacionado na conservadora sociedade da Princesa do Norte. Era um tipo de homenzarrão, alto e bastante forte. Ele e seu instrutor formavam uma curiosa e engraçada dupla, rodando pelas ruas de Sobral, naquele carrão. Pelo seu corpanzil, o Seu Chagas sé faltava encostar a cabeça no teto do carro, enquanto e que seu instrutor, praticamente desaparecia ao seu lado, no banco do veículo.

Ao começarem as aulas de direção, Sobral, ficou em polvorosa! Ninguém estava mais seguro nas ruas, calçadas e praças, durante aquele horário, em que o aprendiz de “Juan Manuel Fangio” (célebre piloto argentino, pentecampeão mundial de automobilismo), estava à direção do seu carro. Seu Chagas Barreto, durante as suas aulas, já havia atropelado dois pedestres, dois ciclistas, uma vaca e dois jumentos. As mães chegavam a proibir os filhos de brincar fora de casa, enquanto o professor e seu aluno estivessem pelas ruas de Sobral. Finalmente, para a felicidade geral do povo sobralense, graças à valiosa ajuda do professor Espirro, o respeitável senhor foi habilitado na prática da arte de dirigir:

Durante o período em que durou todo o processo da ascensão do Seu Chagas Barreto a motorista amador, ele adquiriu o hábito que tornou-se uma marca registrada, uma particularidade marcante do velho comerciante. Mesmo sendo seu carro equipado com uma potente buzina, Seu Chagas, quando alguém atravessava-se na frente do carro, ele colocava a cabeça pra fora da janela e gritava:

– Sai do meio, filho de uma égua! - esta frase pronunciada com toda a força, veio a ser a buzina oficial do Seu Chagas Barreto, virando patrimônio incorporado ao cotidiano da vida social de Sobral.

Seu Chagas era ainda proprietário de outros bens móveis e resolveu desfazer-se de uma camioneta Rural Willys. Colocou um anúncio no jornal de circulação local, o Correio da Semana, com o número do telefone de sua residência para contrato. Algumas pessoas desocupadas, lendo aquele anúncio, começaram a ligar em tom de brincadeira para a casa do comerciante, perguntando se quem, comprasse a camioneta, levaria a “buzina” de brinde.

Do outro lado da linha, o engraçadinho escutava um tremendo NÃO, acompanhado, evidentemente, de um FDP, dito com todo vigor.

O “sai do meio, filho de uma égua”, ficou patenteado como a buzina do Seu Chagaas Barreto. Ele parou de dirigir aos 83 anos de idade, por estar com problemas de visão.

O carismático Chagas Barreto gostava de gabar-se, de que, graças à sua fantástica “buzina”, nunca havia batido num outro carro, enquanto guiou pelas ruas e estradas do município de Sobral, nos seus 43 anos de direção.