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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB Lei Nº 9394/1996)

No documento 2011DeloizeLorenzet (páginas 64-68)

3 COMPARATIVO ENTRE AS GESTÕES PRESIDENCIAIS DOS OCTÊNIOS

3.1 As Políticas Públicas da Educação Superior na Gestão Presidencial de Fernando

3.1.2 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB Lei Nº 9394/1996)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394 aprovada em 20 de dezembro de 1996, teve um longo processo de discussão e de elaboração. Mas a condução dada pelo governo de FHC ao assumir a presidência faz com que a mesma tomasse rumos opostos. Esta Lei estava em discussão desde a década anterior, no entanto, os anseios da população em relação à educação, tinham sido sintetizados nas reivindicações de Dermeval Saviani. Porém, o projeto de lei aprovado correspondia ao do senador Darcy Ribeiro, representante do Partido Democrático Trabalhista (PDT/RJ), não contemplando as necessidades elencadas no projeto de Saviani, tal lei foi sancionada apesar de ser escrita, com uma redação final de modo aligeirada.

&RPR DVVLQDOD &XU\  S  ³LPSUHFLV}HV WHUPLQROyJLFDV UHIRUoDUDP D necessidade de uma hermenêutica que viabilizasse XP QRYR WH[WR OHJDO´ ( FRQWLQXD prescrevendo que por causa desta redação apressada, em 10 anos a LDB já acumulou 24 alterações, sendo 23 delas na parte da Educação Básica, e uma na Educação Superior, acumulando a promulgação de mais 11 leis e 10 decretos, alterando em 10 anos, cerca de 24% do texto original. Esse relato revela a ineficiência do texto original.

Cabe lembrar que uma legislação desta natureza define os rumos da educação, pois é uma fonte legal para a regulamentação, a organização, a delimitação de direitos, responsabilidades, definindo competências e incumbências em relação ao funcionamento, dando diretrizes e bases que norteiam a educação em espaços formais e informais porque concebe a educação como formação abrangente. Essa lei, considerada a Carta Magna, foi um marco na educação brasileira, principalmente ao que diz respeito à Educação Superior, alavancando a expansão do sistema, dependente dos investimentos privados, abrindo as portas educacionais para iniciativas mercadológicas, neoliberais, demonstrando uma perfeita sintonia com a cartilha proposta pelos organismos internacionais.

A respectiva lei, no Artigo 21º expressa que a Educação Nacional, possui dois níveis escolares e enfatiza a segmentação entre eles. O primeiro é o da Educação Básica, compreendendo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio e o segundo nível é o da Educação Superior.

Também, marcou significativas transformações para a Educação Superior, principalmente no que diz respeito ao foco deste trabalho: a expansão e o tensionamento

público e privado, devido a expressiva flexibilidade que viabilizou. A respectiva legislação, ao nascer numa época de descrédito estatal, abre um vasto caminho para a mercantilização educacional, fecundando um amplo terreno para a implantação das propostas privadas de educação superior já difundidas internacionalmente.

Esta lei retrata a influência dos organismos internacionais, adotando seu receituário, incutindo preceitos neoliberais, segundo os quais cada cidadão é um consumidor em potencial. Ou seja, é um sujeito que necessita adequar-se às regras do sistema e consequentemente consumir os produtos mercantis ofertados. Para haver este consumo, instituições privadas são vistas como as empreendedoras responsáveis por proporcionar ao país um novo impulso ao desenvolvimento social e econômico. Enquanto que o Estado tem apenas o poder de regulador.

Giolo (2009) ao estabelecer um paralelo entre os dizeres da Constituição Federal de 1988 e a LDB, afirma que há uma inversão no dever de propiciar a educação, na Constituição enfoca primordialmente o estado como responsável, já na LDB a prioridade é atribuída à família.

No caput GR $UW ž GD /'% GH  VH GL] µ$ HGXFDomR GHYHU GD IDPtOLD H GR HVWDGR >@¶ +i DTXL XPD VXWLO GLIHUença em relação ao que sobre isso, reza a &RQVWLWXLomR)HGHUDOGHQR$UWµ$HGXFDomRGLUHLWRGHWRGRVHGHYHUGR (VWDGRHGDIDPtOLD>@¶$RDQWHSRUDIDPtOLDDRHVWDGRQDRUGHPGDVLQVWLWXLo}HV que tem o dever de proporcionar a educação ao povo brasileiro, a LDB sinaliza que, em algum momento ou em alguma dimensão, a responsabilidade privada seria preferida em relação à responsabilidade pública. Isso se deu, de modo especial no ensino superior de graduação (GIOLO, 2009, p.3).

Com este pensamento podemos compreender que quando a responsabilidade do estado é repassada aos demais, alguém precisa assumi-la e nos casos em que há a omissão de todas as esferas há sujeitos lesados, prejudicados. Nesse sentido, principalmente na educação superior nos deparamos com um público desejante por vagas em instituições públicas e, no entanto necessitando juntamente com sua família financiar seu direito aos estudos.

Desta maneira a Lei estabelece já em seu Artigo 3º, referente aos princípios do ensino, no inciVR9³FRH[LVWrQFLDGHLQVWLWXLo}HVS~EOLFDVHSULYDGDVGHHQVLQR´(VWHHVFODUHFLPHQWR revela a fonte de financiamento, porém esta distinção superficialmente de pouca diferenciação, num aprofundamento de investigação norteia mudanças significativas. Ao compreender que nas instituições públicas o ensino é tido como bem público, de direito social

e nas privadas é tido como um produto comercializável, atrelando ao mesmo a oportunidade de gerar lucro.

Posteriormente, no Artigo 19º esclarece que as instituições de ensino são classificadas HP GXDV FDWHJRULDV DGPLQLVWUDWLYDV QR LQFLVR , ³S~EOLFDV DVVLP HQWHQGLGDV DV FULDGDV RX LQFRUSRUDGDV PDQWLGDV H DGPLQLVWUDGDV SHOR 3RGHU 3~EOLFR´ ( QD VHTXrQFLD QR LQFLVR ,, ³SULYDGDV DVVLP HQWHQGLGDV DV PDQWLGDV H DGPinistradas por pessoas físicas e jurídicas de GLUHLWR SULYDGR´ 1R $UWLJR ž Ki XPD VXEGLYLVmR HQWUH DV LQVWLWXLo}HV SULYDGDV XP WDQWR quanto obscura, não identificando com clareza suas divergências, mas indicando que podem ser: particulares, comunitárias, confessionais e filantrópicas. Sendo que ao lermos o item referente às particulares, subentende-se, que estas tem finalidade lucrativa.

De acordo com a LDB, também podemos classificar as Instituições de Ensino Superior (IES), pela sua organização acadêmica, podendo ser consideradas: universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades, instituições superiores ou escolas superiores. Como também existem os centros de educação tecnológica e os centros destinados exclusivamente à formação de professores.

Outra característica significativa desta lei é a descentralização do poder federal, delegando funções, atribuindo a responsabilidade e repassando a competência aos estados e municípios. Para a União, no entanto, é mantida a responsabilidade da coordenação destes sistemas de ensino.

6HJXQGRD/'%HPVHXFDStWXOR,9LQWLWXODGR³'D(GXFDomR6XSHULRU´QR$UWLJRž os objetivos da educação superior são:

Art. 43º. A educação superior tem por finalidade:

I- estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II- formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III- incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

IV- promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

V- suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI- estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e os regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII- promover à extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição (BRASIL,1996, p.16).

Dessa forma, observamos que as finalidades da educação superior são inúmeras, desde a apropriação do conhecimento, o desenvolvimento científico individual, o incentivo à pesquisa, a emancipação intelectual, a formação de pensadores, até a responsabilidade social mediante as produções científicas que são realizadas, mas resta a inquietação: será que as instituições de educação superior cumprem essas finalidades na íntegra ou apenas parcialmente?

De modo geral, salientamos que a LDB alinhavou profundas transformações no acesso, na organização acadêmica, na formação profissional, no financiamento privado e na adequação aos ditames da internacionalização. Destacamos a maneira como impulsionou o processo expansionista privado, conseguindo ancorar novos rumos, principalmente para a educação superior brasileira ao viabilizar o acesso diferenciado, ao estabelecer processos seletivos, ao invés somente dos vestibulares, ao organizar modelos diversificados, como cursos sequenciais, cursos tecnológicos em centros universitários, modificando o percurso realizado até então.

Ao observarmos estes avanços, no entanto, evidenciamos que ainda existem desafios para a Educação Superior, que fogem a esta legislação e precisam ser refletidos e discutidos em caráter de reforma. Reforma que está em processo, sendo conduzida para arquitetar algumas possibilidades, no intuito de superar os desequilíbrios gerados como não só o acesso a ser contemplado, mas a permanência na educação superior de grande parte da população

excluída. Como também ampliar os investimentos públicos na tentativa de amenizar os impulsos mercadológicos e da reapropriação estatal do seu financiamento, na implantação de novas instituições públicas, elaboração de critérios avaliativos de qualidade, condizentes com um padrão a ser estabelecido, que garantam uma oferta comprometida com a sociedade, entre outras necessidades.

No documento 2011DeloizeLorenzet (páginas 64-68)