• Nenhum resultado encontrado

O Plano Diretor da Reforma do Estado ou Reforma Gerencial de 1995 (MARE)

No documento 2011DeloizeLorenzet (páginas 61-64)

3 COMPARATIVO ENTRE AS GESTÕES PRESIDENCIAIS DOS OCTÊNIOS

3.1 As Políticas Públicas da Educação Superior na Gestão Presidencial de Fernando

3.1.1 O Plano Diretor da Reforma do Estado ou Reforma Gerencial de 1995 (MARE)

Conforme já foi elucidado, o Governo FHC foi responsável por grande parte do acuamento das funções estatais, da descentralização das estruturas organizacionais governamentais, creditando este espaço a parcerias de organizações sociais, civis, privadas, enfatizando que deste modo haveria maior autonomia, produtividade e responsabilidade social, em grande parte por estar obedecendo às orientações das agências financiadoras internacionais. Com este projeto o estado deixaria de ser executor ou prestador de serviços e passaria a subsidiar, sendo um regulador, avaliador do sistema.

$WUDYpV GR OLYUR ³A 5HYROXomR *HUHQFLDGD´ de Paulo Renato Souza (2005, p.174), HFRQRPLVWD H 0LQLVWUR GD (GXFDomR WHPRV D VHJXLQWH H[SOLFDomR ³1D YHUGDGH R JRYHUQR procurava redefinir a essência da relação entre Estado e sistema de ensino superior. O Estado deveria diminuir sua função credenciadora de instituições de ensino e aumentar sua função DYDOLDGRUDGRHQVLQR´

No ano de 1995, representando estes anseios iniciou-se a Reforma do aparelho do Estado, da Gestão Pública ou Reforma Gerencial do Estado. Mais conhecida pela sigla que representa o Ministério da Administração e da Reforma do Estado (MARE). Primeiramente, o Ministério da Administração Federal responsabilizou-se pela sua execução e posteriormente esta função foi assumida pelo Ministério do Planejamento e da Gestão26. A justificativa para essa reforma, aparentemente preocupada com o bom atendimento aos cidadãos, é expressa por *DQGLQL H 5LVFDO  S  QRV VHJXLQWHV WHUPRV ³>@ PHOKRUDU R GHVHPSHQKR GD máquina governamental para, ao final proporcionar serviços melhores para o benefício do FLGDGmR´

Entre as prioridades da mudança para o Programa Nacional de Publicização27, como também ficou conhecido, está transferir a administração de hospitais, universidades, escolas técnicas, centros de pesquisas, bibliotecas e museus para novos gestores. O plano consistia em ser uma proposta para a administração destes espaços públicos passando a ser exercida por entidades, organizações, que receberiam recursos e teriam autonomia para realizar a gestão das universidades públicas. Ou seja, o estado transferiria verbas públicas para a sociedade

26

Para obter um aprofundamento informacional acessar o site: <http://www.bresserpereira.org.br/rgp.asp> 27

O termo Publicização foi criado para enfatizar que a responsabilidade do estado passaria para as mãos do público, da sociedade civil, delegando a função, incutindo a sentença de assim procurar administrar com maior autonomia e produtividade.

civil realizar a gestão e a prestação destes serviços, historicamente constituídos como serviços públicos, como se estivessem terceirizando essas ações caracterizadas semelhantemente às de assistência social.

Essa proposta era estimulada pelas agências, mecanismos financiadores internacionais, como uma maneira distorcida de privatização, alegando ser uma estratégia para a redução dos gastos públicos, pois assim, o governo custearia parcialmente estes serviços públicos e a sociedade civil, organizações não governamentais (ONGs) ou empresas privadas que fossem administrar poderiam utilizar outras ações para garantir a arrecadação de outros fundos que cobrissem os gastos. Com esta medida, estavam agindo em prol da descentralização administrativa. Vejamos a proposta desta reforma, através de Carvalho (2006).

A ação governamental direcionada às universidades públicas federais de maior importância foi o projeto de autonomia apresentado, em 1995, pelo Ministério da Administração e da Reforma do Estado (MARE). Em linhas gerais, este consistia em transformar o status jurídico das universidades públicas para organizações sociais, entidades públicas não-estatais, fundações de direito privado ou sociedades civis sem fins lucrativos. A interação entre o Estado e essas organizações sociais se daria por meio de um contrato de gestão, no qual estariam previstos os serviços que seriam prestados, as metas a serem atingidas e os recursos financeiros que deveriam ser transferidos, a cada ano, do governo para a organização. O documento preconizava a adoção de um modelo de administração gerencial para as instituições públicas (CARVALHO, 2006, p.127-128).

Conforme nos alerta Carvalho (2006), o Estado estaria delegando sua função de administrador a outros, enfatizando que as universidades públicas federais, teriam maior autonomia para realizarem suas atividades, como também a população teria maior oportunidade de participar. No entanto, é inquietante analisar que historicamente instituições devotas ao público, sejam intrigantemente administradas por terceiros. Antes, compreendíamos que o Estado, representante da Polis era comprometido com os interesses da população, mas agora uma questão surge em relação às organizações privadas. Será que estas possuem projetos coerentes com as necessidades da sociedade ou são orientadas por outros valores mercantis?

Um Estado, centralizado e forte, passa a ser mínimo, descentralizado e empobrecido, reduzindo seu papel de provedor e cortando as verbas com as áreas sociais, sujeitando-se a medidas que restringem ainda mais o seu poder administrativo. E se não bastasse essa transferência apenas administrativa, inúmeras instituições foram privatizadas na tentativa de

angariar fundos e renegociar prazos e juros, caso fossem insuficientes os recursos para sanar as altas dívidas internas e externas.

Em relação com as recomendações estabelecidas pelas entidades internacionais FHC atende com fidelidade, sendo que seu governo acaba levando a fama de antissocial por reduzir drasticamente as verbas com a prestação de serviços sociais. Esse modo de agir corrobora para que ao término de sua gestão sejam vistos índices alarmantes de desigualdades socioeconômicas e de desemprego, como assinala no balanço de seu governo o autor Lima (2006).

Ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso, os cortes de verbas públicas com as áreas sociais; o aprofundamento da política de privatização; as altas taxas de juros; o contingenciamento do Orçamento Geral da União para o pagamento das dívidas externa e interna, sob a direção dos organismos internacionais do capital, ampliam o desemprego e as desigualdades sociais e econômicas no nosso país. Esses organismos internacionais realizam um conjunto de empréstimos aos países periféricos, como o Brasil, condicionando-os à execução de reformas econômicas e políticas ordenadas pela redução da alocação da verba pública para financiamento das políticas sociais, sob a aparência de resolução de uma suposta crise fiscal do Estado (Leher, 1998). Para o projeto burguês de sociabilidade, o Estado, na periferia GRVLVWHPDGHYHILQDQFLDUHLPSOHPHQWDUSROtWLFDVIRFDOL]DGDVQRµDOtYLRGDSREUH]D H[WUHPD¶ H HIHWLYDU XP FRQMXQWR GH SDUFHULDV FRP R VHWRU SULYDGR EUDVLOHLUR H internacional, para o financiamento e implementação das políticas consideradas como setores não-exclusivos do Estado, identificadas pelo conceito de público não- estatal, expresso no Plano Diretor da Reforma do Estado, elaborado no governo Cardoso (MARE, 1995) (LIMA, 2006, p.30).

De acordo com Lima (2006), identificamos profundos impactos causados pelas políticas públicas adotadas nesta gestão presidencial. Nesta administração o estado aceitou reduzir seu papel funcional e se afastou, ocupando a periferia do sistema, deixando este espaço para ser apropriado pelos setores privados, paulatinamente, com o acúmulo de capital e com a exploração propiciando a maximização das desigualdades. Uma nova concepção entrou em cena, o público não estatal, por ser um serviço prestado para o bem-estar da população, adquirido constitucionalmente como direito assegurado, essencial para seu desenvolvimento e o mesmo deixou de ser realizado com exclusividade da função estatal. Enfim, uma reforma que escancara a todos as debilidades do estado, a crise que o mesmo enfrenta e a ampliação do poder privado na prestação de serviços sociais.

No documento 2011DeloizeLorenzet (páginas 61-64)