3. Plano da evolução legislativa na Administração Pública face ao Código de
4.1 Lei 7/2009 de 12 de Fevereiro
Como já anteriormente referido o Código de Trabalho só surge no ano
de 2003 de forma a compilar a maioria de legislação avulsa sobre a matéria
laboral resultando no progresso do sistema jusnormativo laboral.
Palma Ramalho, sobre o CT 2003, refere que “independentemente da
perspectiva do Código sobre a flexibilização, das suas opções sistemáticas e
da sua filosofia de base, ou mesmo do grau de eficácia prática de algumas das
suas soluções, ele constituiu a primeira codificação das leis laborais nacionais
e abriu a oportunidade para a continuação das reflexões sobre os grandes
desafios e as grandes orientações do direito do trabalho no novo século e,
naturalmente, também para o aperfeiçoamento do próprio Código em sede de
revisão, como, aliás, veio a acontecer.
83”
O artigo 20.º do Diploma Preambular ao CT2003 previa a revisão do
Código no prazo de quatro anos. No entanto só houve uma pequena alteração
introduzida pela Lei n.º9/2006, de 20 de Março. A revisão substancial só veio a
ocorrer no ano de 2009, com a Lei n.º7/2009, de 12 de Fevereiro, na sequência
de um trabalho promovido pelo Governo, que se saldou em dois estudos
essenciais: O Livro Verde sobre as Relações Laborais
84de 2006, que procurou
fazer o diagnóstico da aplicação prática dos regimes do CT2003. “Este livro
apontava para a necessidade de modernizar o ordenamento jurídico-laboral,
enquanto instrumento orientado ao alcance dos desejáveis níveis de
competitividade das empresas e de desenvolvimento da economia e à solução
dos problemas com que se deparavam, em particular, alguns sectores e, tendo
em conta, por outro lado, as necessidades de ajustamento ou reacção às
recentes tendências de evolução do emprego, das condições de trabalho, das
82 Aprova a revisão do Código do Trabalho e aprova o CT2009.
83 Palma Ramalho, M.- Direito do Trabalho Parte I - Dogmática Geral. Coimbra: Almedina, 2005
2ªEdição. P. 108. ISBN978-972-40-4010-3
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relações laborais e dos indicadores do desemprego
85”; É neste contexto que a
Resolução do Conselho de Ministros n.º160/2006, de 30 de Novembro criou o
Livro Branco das Relações Laborais
86de 2007, elaborado por uma comissão, e
que apresentou diversas propostas de revisão do Código, a revisão da
legislação laboral enquadrou-se numa estratégia de reforma mais ampla, que
previa a criação de outros instrumentos indispensáveis ao efectivo crescimento
económico, à melhoria da competitividade empresarial, ao aumento da
produtividade, à melhoria da empregabilidade dos cidadãos e da qualidade do
emprego, uma estratégia objectivada, também no sentido do combate às
desigualdades e da promoção da partilha mais equitativa dos resultados do
progresso económico
87.
A revisão do CT2003 e da respectiva regulamentação propunha, no
seguimento da proposta plasmada no Livro Branco das Relações de Trabalho,
um quadro normativo mais eficaz, que unificasse os dois principais
instrumentos legislativos que disciplinam as relações de trabalho, tornando-os
mais compreensíveis. Tinha também a intenção de simplificar e desburocratizar
aspectos das relações entre trabalhadores, empregadores e Administração
88.
Embora seja formalmente apresentado como uma revisão do Código de
Trabalho de 2003, conforme consta da epígrafe do diploma, o conjunto de
normas aprovadas pela Lei n.º7/2009, de 12 de Fevereiro, corresponde
essencialmente a um novo Código do Trabalho (CT2009), não tanto pelas
alterações que introduziu em termos substanciais, mas, sobretudo, por
algumas opções sistemáticas que fez, reveladoras de uma nova organização
das matérias laborais.
Do ponto de vista sistemático, chama-se a atenção no CT2009 para o
seguinte ponto: o abandono da perspectiva dualista da legislação anterior,
assente na articulação entre Código e Regulamentação. No novo quadro
normativo, o CT2009 assume-se como peça central, a complementar por
legislação avulsa nas matérias indicadas no respectivo Diploma Preambular
85 Constante no ponto 4 da exposição de motivos da proposta de Código do Trabalho 2009. 86 Livro Branco das Relações Laborais (ed. Do MTSS), Lisboa, Novembro, de 2007;
87 Vide Ponto 7 da exposição de motivos da proposta de Código do Trabalho 2009. 88 Vide Ponto 8 da exposição de motivos da proposta de Código do Trabalho 2009.
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(art. 12.º n.ºs 3 a 6). Por exemplo, as normas da RCT foram integradas em
disposições do próprio Código, como é o caso do artigo 338.º do CT2009, “que
corresponde ao 382.º do CT2003, que teve por base o artigo 3.º, n.º1, da
LCCT, inspirado no artigo 53.º da CRP”
89.
O CT2009 estabelece a definição legal de contrato de trabalho,
constante do seu art. 11.º, e nos termos da qual o «contrato de trabalho é
aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar
a sua actividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de uma organização e
sob a autoridade destas». Esta norma corresponde, ao art.10.º do CT2003 que
por sua vez correspondia ao art. 1152.º do CC e ao artigo 1.º da LCT, com
duas alterações: “Esclarece-se que o trabalhador é uma pessoa singular e a
subordinação jurídica deixa de ser referenciada apenas pela autoridade e
direcção (do empregador), passando a ser enquadrada pela organização
(empresarial)”, Romano Martinez
90considera desnecessária a primeira, “uma
vez que na ordem jurídica portuguesa essa questão não se colocaria uma vez
que se entendia normalmente que o trabalhador seria uma pessoa singular.
Este autor expõe que estas alterações não vêm resolver os problemas de
qualificação que surgem e podem criar dúvidas e incertezas na aplicação do
Direito, ao alterar uma noção com quatro décadas, já estabilizada na aplicação
jurisprudencial pelo contrário vai aquilatar a discussão em torno da qualificação
do contrato de trabalho, trazendo novos conflitos para este tema sem resolver
os problemas clássicos”.
No mesmo sentido Palma Ramalho
91, refere que “o actual Código do
Trabalho exige expressamente que o trabalhador seja uma pessoa singular e
realça o valor da organização do empregador como elemento essencial do
89 Anotação de Pedro Romano Martinez, ao artigo 338.º do CT de 2009, referente à proibição de
despedimento sem justa causa. Romano Martinez, Pedro. Miguel Monteiro, Luís. Vasconcelos, Joana. Madeira de Brito, Pedro. Dray, Guilherme. Gonçalves da Silva, Luís - Código do Trabalho Anotado - 8.ª Edição. Coimbra : Almedina, 2009. P.907
90 Anotação de Pedro Romano Martinez, referentes ao artigo 11º do CT de 2009. Romano
Martinez, Pedro. Miguel Monteiro, Luís. Vasconcelos, Joana. Madeira de Brito, Pedro. Dray, Guilherme. Gonçalves da Silva, Luís. Código do Trabalho Anotado. 8.ª Edição. Coimbra: Almedina, 2009. P.129 a 132.
91 Palma Ramalho, M.- Direito do Trabalho Parte I - Dogmática Geral. Coimbra: Almedina, 2005
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