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Lei Geral Tributária

No documento Planeamento fiscal (páginas 31-34)

2.3 Composição do Sistema Fiscal Português

2.3.2 Lei Geral Tributária

A Lei Geral Tributaria8 (LGT) enuncia e define os princípios gerais que regem o direito fiscal português e os poderes da administração tributaria e garantias dos contribuintes. A Assembleia da República decreta, nos termos dos artigos 161.º, alínea d), 165.º, n.º 1, alíneas b) e d), e 166.º, n.º 3, da Constituição, o seguinte:

6Artigo 104º da Constituição da República portuguesa

7 Formula que permite integrar uma estrutura única e progressiva de taxas, enquanto instrumento ótimo de personalização e

redistribuição secundaria de rendimento

1. Fica o Governo autorizado a aprovar uma lei geral tributária donde constem os grandes princípios substantivos que regem o direito fiscal português e a articulação dos poderes da Administração e das garantias dos contribuintes.

2. A lei geral tributária visará aprofundar as normas constitucionais tributárias e com relevância em direito tributário, nomeadamente no que se refere à relação tributária, ao procedimento e ao processo, com reforço das garantias dos contribuintes, da participação destes no procedimento, da igualdade das partes no processo e da luta contra a evasão fiscal, definindo os princípios fundamentais em sede de crimes e contraordenações tributárias9.

A LGT vem consagrar expressamente o que constava implicitamente nas normas de incidência dos impostos. Entre as normas que consagra destacaremos:

A Interpretação

Na interpretação, não se pode transcender a linguagem, a construção linguística (sintático- formal) para afirmar um significado que não esta expressa na lei. Sempre que, nas normas fiscais, se empreguem termos próprios de outros ramos de direito, devem os mesmos ser interpretados no mesmo sentido daquele que aí têm, salvo se outro decorrer diretamente da lei.

Do ponto de vista dos órgãos que realizam a interpretação podem-se referir (Silva A. V., 2007):

a) Interpretação Autêntica, emanada de um órgão legislativo como por exemplo a Assembleia da República ou o Governo, e é feita através de uma Lei interpretativa10.

b) Interpretação oficial é a que é feita de valor inferior ao da norma interpretada. Esta interpretação pode vincular em termos de obediência hierárquica (interpretação que o Ministro der por despacho a certa norma pode ser vinculativa

9Lei n.º 41/98 de 4 de Agosto

10As normas interpretativas são disposições legais que visam aclarar o sentido de outras normas ou de expressões usadas nas normas

para o seu ministério, por obediência hierárquica); não vincula para além disso e designadamente não vincula os tribunais.

c) Interpretação judicial é a que é feita pelos tribunais num processo (salvo o caso particular dos assentos). Só tem valor vinculativo no processo em si. Fora disso, pode persuadir pela força da exatidão dos argumentos, não mais.

d) Interpretação doutrinal ou livre é aquela que é feita pelos juristas, pelos órgãos administrativos ou por particulares. Não tem qualquer força vinculativa; apenas o valor persuasivo que resulta da coerência lógica da argumentação.

e) Interpretação Administrativa que é feita por diversos agentes da Administração Fiscal.

A interpretação não deve ficar só na letra da lei, mas sim recorrer a todas as potencialidade de transmissão do pensamento que se podem retirar da análise jurídica do preceito, e assim fazem uma interpretação lógica ou racional das leis.

Aplicação da Lei Tributaria no Tempo

Esta temática tem interesse para saber o início da vigência das normas fiscais, a cessação da vigência das normas fiscais e a sucessão de normas fiscais no tempo. Em termos de aplicação da lei, aplica-se a lei que vigora no momento da ocorrência do facto gerador. A cessação verifica-se com a revogação, por qualquer meio, da lei. O direito dos impostos rege-se pelo princípio constitucional e legal da proibição da retroatividade. Este, como decorre do que dissemos, apresenta dois níveis: o nível constitucional e o nível legal. O artigo 103.º da CRP, veio dispor que “Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da Constituição, que tenham natureza retroativa ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei.”

Aplicação da Lei Tributária no Espaço

No nº 1 do artigo 13º da LGT verifica-se o princípio da territorialidade objetiva ou real e no nº 2 do artigo princípio da territorialidade pessoal ou subjetiva.

Agostinho Silva (2007) analisa o elemento de conexão entre os diversos impostos e a sua fonte. Nos impostos sobre o rendimento os elementos de conexão são a residência do beneficiário e o local da produção do rendimento. O primeiro elemento leva à tributação do

rendimento total do contribuinte, em que se verifica o princípio da universalidade ou do rendimento mundial. O segundo conduz a uma tributação limitada dos rendimentos obtidos no território como acontece no caso dos não residentes.

Em sede da tributação do património e/ou do capital também se verificar os mesmos elementos de conexão acima referidos, mas como é facilmente compreensível o elemento de conexão aplicado é a lei do lugar da situação dos bens patrimoniais (lex rei sitae). Em relação aos impostos sobre o consumo os elementos de conexão são a origem ou o destino dos bens transacionados. A regra é de que os impostos devem ser lançados no país de consumo, fazendo com que o benefício reverta a favor do Estado em que os bens são consumidos. Por exemplo, na prestação de serviços a tributação é feita onde os serviços são materialmente executados. No país de origem em que o bem foi produzido geralmente procede-se à isenção com restituição (ex. IVA) ou isenção (impostos monofásicos como os IECs) do imposto no momento da exportação.

É também pelo princípio do destino que se continuam a reger as transações intracomunitárias, embora existissem e existam tentativas para que o elemento de conexão passe para o país de origem. Nesta última situação há a oposição dos países economicamente mais fracos que, sendo mais dependentes da importação, perderiam uma grande perda de receitas do IVA.

No documento Planeamento fiscal (páginas 31-34)