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3 CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL

3.1 REQUISITOS

3.1.6 Lei nº 9.615 – Lei Pelé e seus princípios

A Lei Pele é uma norma jurídica elaborada para regulamentar o desporto brasileiro. Fundamenta-se na CRFB/88, surgiu como uma regulamentação decisiva

para preencher as lacunas existentes na atuação dos operadores do direito em relação à prática desportiva (KOLLER; ANDRETTA, 2016, p. 3).

Desde sua promulgação a referida lei suscitou inúmeros debates. Nas palavras de Schünemann (2018):

A Lei Pelé trata sobre o Desporto em geral, porém a grande polêmica se deu quanto ao esporte de maior prestígio no Brasil, o Futeb ol profissional, no qual a lei pretendeu introduzir profundas transformações na ordem jurídica desportiva brasileira, causando enorme impacto e imediata reação dos destinatários de suas regras.

Melo Filho (2011, p. 24) explica que: “O objetivo foi dar transparência e profissionalismo no esporte nacional regulando o marco jurídico em que deve desenvolver-se a prática desportiva no âmbito do Estado”.

De acordo com Cavazzola Júnior (2014, p. 20): “A lei também definiu os órgãos responsáveis pela fiscalização do seu cumprimento e determinou a independência dos Tribunais de Justiça Desportiva”. Portanto, a Lei Pelé é a principal norma jurídica brasileira sobre o desporto e sua organização.

No Capítulo II – Dos Princípios fundamentais, em seu art. 2º, assim ficaram dispostos:

2º O desporto, como direito individual, tem como base os princípios:

I - da soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva;

II - da autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática desportiva;

III - da democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de discriminação;

IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor;

V - do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas desportivas formais e não-formais;

VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto profissional e não-profissional;

VII - da identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional;

VIII - da educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante, e fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

IX - da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral;

X - da descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual distrital e municipal;

XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial;

XII - da eficiência, obtido por meio do estímulo à prática desportiva e administrativa (BRASIL, 1998).

Dentre os princípios fundamentais do desporto, a soberania não pode ser compreendida de forma literal, mas do ponto de vista de que a organização da prática desportiva, internamente, está também subordinada a normas internacionais de várias modalidades (SCHMITT, 2010, p. 15).

O princípio da autonomia - não se pode conceber que haja interferência no funcionamento das entidades desportivas de modo a impedir que competições sejam organizadas segundo este ou aquele critério (SCHMITT, 2010, p. 16).

O princípio da democratização é preceito constitucional, referindo-se à necessidade de promover o desporto dentre todos os cidadãos, sem exceção de qualquer natureza (MELO FILHO, 2011, p.34).

O princípio da liberdade está ligado a livre prática do desporto, levando- se em consideração a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor (SCHMITT, 2010, p. 16).

O princípio do direito social é um dos grandes avanços da modernidade esportiva. Cumpre ao Estado, por meio de incentivos, criar condições para que a prática desportiva, formal, não formal ou educacional, consiga minimizar a diferenciação na formação do atleta e do cidadão (MELO FILHO, 2011, p. 35).

O princípio da diferenciação busca resguardar direitos e impor deveres àqueles que elejam uma modalidade desportiva como profissão, resultando daí consequências de ordem trabalhista e previdenciária, entre outras (SCHMITT, 2010, p. 16).

O princípio da identidade nacional tem por primado à busca de valores da criação nacional para a valorização de modalidade desportiva que possa atingir degraus de igualdade com outros países(MELO FILHO, 2011, p. 35).

O princípio da educação é justamente aquele que há de garantir recursos públicos para a prática do desporto como meio de formação do homem. A escola não pode prescindir do esporte e vice-versa. O Estado tem o dever de possibilitar e promover a prática desportiva em sintonia com a educação, como mecanismo de integração social e desenvolvimento humano (MELO FILHO, 2011, p. 36).

O princípio da qualidade visa ao aperfeiçoamento do praticante do desporto na sua integralidade dentro da velha máxima de mens sana in corpore sano (MELO FILHO, 2011, p. 36).

O princípio da descentralização - é o eixo da organização desportiva no Brasil, pois orienta o desporto na busca das soluções adequadas para a superação das inúmeras barreiras impostas pelas dimensões continentais de nosso país (MELO FILHO, 2011, p. 37).

O princípio da segurança trata da segurança dos atletas no sentido de preservar sua integridade física e mental, a fim de que a prática desportiva, em que pese seu lado competitivo, não ultrapasse os limites impostos por suas próprias regras (MELO FILHO, 2011, p. 37).

O princípio da eficiência busca o resultado positivo. Não a qualquer preço, mas pela competência na prática da modalidade desportiva. Porém, a eficiência também há de ser uma meta da administração do desporto, e isto, refere-se aos dirigentes (SCHMITT, 2010, p. 16).

Observa-se que as legislações vigentes buscam proteger as relações existentes entre atletas e clubes, mas inevitavelmente os abusos acontecem. No próximo capítulo será estudada a rescisão de trabalho do atleta profissional por doping.

4 A RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL

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