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CAPÍTULO 2 –A EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL

2.1 Aspectos históricos do ensino de música no país

2.1.5 As Leis de Diretrizes e Bases

Em 1961, entrou em vigor a primeira Lei de Diretrizes e Bases, nº 4.024 14, que implantou a disciplina de Educação Musical no país. O objetivo da criação da Lei era proporcionar um ensino de música mais democrático e acessível, baseado em métodos que já estavam sendo difundidos na Europa pelo húngaro Zoltan Kodály, pelo alemão Karl Orff e pelo belga Edgard Willems. A nova proposta sugeria que a música deveria ser sentida, tocada e dançada e não só cantada, como acontecia no canto orfeônico. No Brasil, nomes como Antônio de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli Mignone, Gazzy de Sá e o alemão naturalizado brasileiro H. J. Koellreutter eram as referências desse novo momento da educação musical. Entretanto, na prática, a nova realidade do ensino musical nas escolas foi muito diferente, e o que se viu foi cada escola organizar seu currículo de acordo com as possibilidades e os recursos materiais e humanos que possuía, provocando o início de uma grande derrocada do ensino de música nas escolas de educação básica15

Apesar da grande desvalorização do ensino de música da época, que passou a ocorrer devido ao caráter polivalente da Educação Artística que se instaurou nas escolas públicas de educação básica, houve, em contraponto a essa realidade, significativo incremento das escolas particulares especializadas no ensino de música. Isso ocorreu porque os novos métodos não foram incorporados pela educação musical regular nas escolas, mas ganharam espaço em fundações de educação artística, conservatórios e escolas especializadas em música, em todo o país. Esses novos ambientes musicais partilharam os pressupostos dos

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14 BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. 1961. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm> Acesso em: 12 jun. 2011.

15 Os métodos difundidos por esses novos pensadores e educadores musicais serão aprofundados a seguir, ao analisarmos as influências filosóficas do ensino de música no Brasil; aqui, avaliamos as implicações objetivas que esses métodos, chamados “ativos”, tiveram para a educação musical no país.

métodos ativos de que o aprendizado de música é necessário para a formação pessoal do indivíduo, e que deve, portanto, ser acessível a todos, e não somente àqueles que têm o objetivo de se formar músicos; e abandonaram o conceito de talento, de fundamental importância no século XIX, por considerar todas as pessoas capazes de aprender música, desde que sejam submetidas a metodologias adequadas. Segundo Figueiredo (2012, p. 85),

os métodos ativos chegaram ao Brasil, a partir da década de 1950, e foram gradualmente sendo aplicados em contextos restritos, especialmente aqueles relacionados ao ensino particular de música. Diversas razões podem ser consideradas para que os novos métodos não atingissem toda a população escolar brasileira. A Educação Artística e a polivalência – um professor responsável por todas as áreas artísticas na escola – contribuíram para o afastamento dos profissionais licenciados em música da escola regular.

A Lei de Diretrizes e Bases de 1971, nº 5.69216, foi sancionada pelo presidente Médici e transformou a disciplina de Educação Musical em Educação Artística, com caráter polivalente, abrangendo quatro áreas distintas: música, artes plásticas, artes cênicas e desenho. Observou-se, entretanto, que a prática não refletiu diretamente a Lei por não haver profissionais com essa formação polivalente, necessária ao ensino da disciplina de Educação Artística. Com o tempo, a música deixou de ser valorizada como linguagem artística e passou a não fazer parte dos currículos escolares, ficando restrita às atividades do contraturno ou a situações como festas, comemorações e formaturas. Para Loureiro (2001, p. 67),

as novas disposições legais imprimiram outro sentido ao ensino das artes nas escolas. Incorporando o discurso veiculado pelo movimento Arte-Educação, a música passou a ser considerada como uma entre as diversas formas de expressão artística. Buscava-se a possibilidade de desenvolver a sensibilidade pelas artes e o gosto pelas manifestações artístico-estéticas. Na prática, o que ocorreu foi uma interpretação equivocada dos termos integração e polivalência, que terminou por diluir os conteúdos específicos de cada área ou por excluí-los da escola, fato que ocorreu especialmente com a música.

Somente em 1974 foram criados os cursos superiores de Educação Artística, que passaram a formar profissionais com o objetivo de integrar as quatro áreas artísticas contempladas na disciplina. Mesmo assim, os professores ainda apresentavam grandes deficiências em sua formação, pois as faculdades não estavam preparadas para oferecer uma formação sólida e se limitavam a um ensino técnico e sem bases conceituais. A tentativa de

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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. 1971. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/128525/lei- de-diretrizes-e-base-de-1971-lei-5692-71> Acesso em: 8 jun. 2011.

integração dessas áreas e de formação polivalente dos professores de Educação Artística dificultou a consolidação da disciplina de música nas escolas brasileiras, caracterizando-a, de modo geral, como uma atividade festiva ou recreativa, na maioria das vezes, restrita aos atos cívicos e datas comemorativas.

Em 1996, houve nova mudança na Lei, quando a LDB nº 9.394 foi instituída e propôs a obrigatoriedade do ensino de Artes nas escolas brasileiras, abrangendo as áreas de Dança, Teatro, Artes Visuais e Música. A nova LDB não definiu os padrões de atuação a serem adotados em sala de aula nem o tipo de formação do professor e, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1997, ficou a critério da comunidade escolar a decisão de variar entre as quatro formas artísticas propostas, ao longo da escolaridade. Essa realidade tornou bastante desfavorável o ensino de música nas escolas e, nas últimas décadas, poucas escolas públicas e privadas vêm oferecendo a disciplina em seu currículo17

. Entretanto estamos vivendo uma nova realidade com a implantação da Lei 11.769/08.

2.1.6 O retorno da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas: a Lei