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4. DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

5.4 A política de assistência estudantil na UFC: muito a conquistar

5.4.4 A leitura dos residentes sobre a Politica de Educação Superior: consciência e

Poucos estudantes relataram ter conhecimento sobre o processo de reforma universitária posto em andamento desde o governo Lula . Como se vê no gráfico seguinte, apenas 15% responderam conhecer , enquanto 55% informaram desconhecê-lo.

Gráfico 21 Reforma Universitária

Fonte: Pesquisa direta - elaboração própria.

Esse processo, que de fato consistiu em contrarreforma, segundo o que já foi exposto desde o segundo capítulo, trouxe muitas consequências, entre elas a

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sim mais ou menos não

sim mais ou menos não

Série1 17 33 61

Conhecimento sobre o processo de reforma

universitária

expansão acelerada das instituições privadas, mercantiização dos trabalhos acadêmicos, implantação do sistema de avaliação, entre outros aspectos presentes na LDB de 1996.

A contrarreforma da educação, conforme Sguissardi (2000), trouxe mudanças significativas para Instituições, interferindo na sua autonomia e estrutura. Concordamos com Silva Junior (2003), quando aassere os efeitos negativos da reforma:

Assim, vemos a reforma do Estado brasileiro e, para o que aqui nos interessa, a reforma da educaçãosuperior e a mudança na produção da ciência brasileira, como uma intervenção consentida e realizada pelas autoridades educacionais orientadas pelas agências multilaterais, no contexto da universalização do capitalismo, direcionadas por uma razão instrumental, que se constitui no epicentro de um processo de mercantilização do trabalho imaterial, em geral, e em particular, da esfera educacional em seu nível superior. ( p. 61).

Situando o REUNI no “pacote” da contrarreforma, procuramos saber quais os impactos que os estudantes consideram que este trouxe para a universidade.

Quadro 29

Impacto do REUNI na Universidade

Você acha que o REUNI trouxe efeitos positivos

para a Universidade? Valor absoluto %

Sim 56 50,45%

Não 18 16,22%

Mais ou menos 3 2,70%

Não sei o que é REUNI 33 29,73%

Não informado 1 0,90%

Total 111 100,00%

Fonte: Pesquisa direta - elaboração própria.

Vale destacar que 29,73 dos residentes que responderam não conhecem a proposta do REUNI, 50,45% dos estudantes avaliam que o REUNI trouxe efeitos positivos para a universidade, enquanto 16,22% defendem o contrário.

O REUNI, como já dissemos, foi o mecanismo encontrado pelo governo de Lula da Silva que, sob a promessa da democratização do acesso a educação superior, ganhou apoio político para fragilizar a resistência no interior das IFES,

ansiosas e carentes de recursos, e fazer avançar mudanças profundas na sua dinâmica de funcionamento, comprometendo a autonomia.

Quadro 30

Impacto da Política de Assistência Estudantil

Você considera que a atual política de assistência estudantil abrange todos os alunos

que dela necessitam? Valor absoluto %

Sim 11 9,91%

Mais ou menos 57 51,35%

Não informado 1 0,90%

Não 42 37,84%

Total 111 100,00%

Fonte: Pesquisa direta - elaboração própria.

Somente 9,91% dos pesquisados apontam que a atual política de assistência estudantil abrange todos os estudantes que dela necessitam, enquanto 89% transitam entre a não abrangência dessa política, ou sua insuficiência.

O PNE 2011, cuja votação está em curso (PL 8.035/2010), tem entre suas diretrizes a superação das desigualdades sociais, além de objetivar o fortalecimento da assistência estudantil em todos os níveis de ensino. A abrangência desta política ainda é muito limitada, conforme visto no Capítulo 4, quando analisamos o perfil socioeconômico dos estudantes das IFES.

Os serviços são pouco divulgados e não abrangem todas as necessidades dos estudantes, como no caso daqueles que têm dependentes. O valor das bolsas194 não é suficiente, e a contrapartida de disponibilidade de 12h semanais na universidade pode ser caracterizada como trabalho precarizado, uma vez que não se enquadra como estágio ou emprego, além do fato de que os estudantes desenvolvem atividades que, em muitos casos, não se encaixam na sua formação e não têm nenhuma proteção trabalhista.

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Gráfico 22

Impacto do Plano Nacional de Política Estudantil – Percepção dos estudantes

Fonte: Pesquisa direta - elaboração própria.

Somente 30% dos estudantes têm conhecimento do Plano Nacional de Política Estudantil. Acreditamos que isso ocorre em virtude da pouca divulgação de sua existência entre a comunidade acadêmica, o que leva os estudantes ao desconhecimento e, consequentemente, não acompanhamento de sua execução.

O Plano Nacional de Assistência Estudantil – PNAES foi criado em 2008, durante o governo Lula da Silva, e no ano de 2010 foi transformado em Decreto. O objetivo deste plano é assegurar a permanência nas IFES dos estudantes que não têm condições socioeconômicas para se manterem.

O Art. 2º da Portaria Normativa nº 39, afirma que o PNAES195 :

“se efetiva por meio de ações de assistência estudantil vinculadas ao

desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, e destina- se aos estudantes matriculados em cursos de graduação presencial das Instituições Federais de Ensino Superior”.

A administração e os tipos de serviços que serão implementados ficam a critério de cada instituição. No caso da UFC, a maior parte dos estudantes que são

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Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/portaria_pnaes.pdf. Acessado em 29 de junho de 2012.

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sim não

sim não

Série1 33 78

Você conhece o Plano Nacional de Política

Estudantil?

usuários da política de assistência estudantil, por meio do Programa de Moradia Universitária, desconhece a existência do PNAES. Esse fato torna difícil controlar e fiscalizar por parte dos estudantes.

Quase 66% dos pesquisado desconhecem as demandas do movimento estudantil em relação à política de assistência estudantil e somente 30% dos estudantes têm participação no movimento estudantil, conforme demonstram os gráficos.

Gráfico 23

Movimento estudantil e política de assistência estudantil

Fonte: Pesquisa direta - elaboração própria.

A residência universitária foi uma conquista do movimento estudantil na década de 1960, período de grande consciência política e mobilização da classe trabalhadora. Na atual conjuntura, o pouco conhecimento das demandas do movimento estudantil por parte dos estudantes reflete uma realidade maior, na qual o movimento sindical e os trabalhadores recebem fortes impactos e perdem espaços duramente conquistados. 0 5 10 15 20 25 Parti cipa não parti cipa Não infor mad o Série1 12 24 2 T ít u lo d o E ix o

Participação no movimento

estudantil

0 50 100 não sim não sim Série1 73 38

Conhecimento das demandas do movimento estudantil em relação à política de assistência

Apesar das dificuldades, o Conselho de Residentes- COREU, entidade representativa dos estudantes, com sede nas dependências do RU do Campus Benfica, está presente nos momentos decisivos, lutando e buscando a garantia e ampliação de direitos. Sobre a importância do movimento estudantil, concordamos com a asserção abaixo:

Os movimentos estudantis intimidaram-se nas últimas décadas, mobilizaram-se em sua maioria por condições mínimas de dignidade na vida acadêmica. A massificação do ensino superior desertificou o campo fértil de disputa por liberdade e opção. Porém, ainda assim, este movimento de estudantes esclarecidos de suas lutas sólidas e intensas, sobrevive e reclama por todos, apesar de serem poucos. (FINATTI, 2007, p.75).

No quadro do ensino superior, a expansão da EAD constitui um dos mecanismos de precarização da oferta de educação, ao mesmo tempo em que esvazia o movimento discente. Sobre a EAD os estudantes pesquisados assim se posicionaram:

Gráfico 24

Curso de Graduação à distância

Fonte: Pesquisa direta - elaboração própria.

A maioria dos estudantes (75%) não optaria pela realização de um curso a distância, se tivesse essa opção. Isso ocorre porque os cursos EAD, além de não

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sim não Não

informado Série1 27 83 1 N ú m e ro d e e su d a n te s

Se você tivesse a opção de frequentar algum curso de graduação à distância, escolheria esta opção?

estarem incluídos na política de assistência estudantil, apresentam fragilidades, como o distanciamento do contato entre professor e aluno. Destacamos o pensamento de Rocha (2009):

Ao priorizar a ampliação do acesso através da educação à distância o governo elide as possibilidades democráticas ao conhecimento. Portanto, não há discurso em torno da democracia e da igualdade de acesso que se sustente sobre o fato de que as pessoas terão diferentes percursos formativos, sendo, portanto, negadas àqueles estudantes da EAD, as oportunidades de vivenciarem o processo educativo próprio do campus universitário. (p.192)

A modo de concluir a análise dos indicadores recolhidos, levantamos, por fim, alguns problemas que ganham relevo no Programa de Moradia Universitária.

O REUNI trouxe ampliação do número de vagas ao programa de residência universitária196, e, em certa medida, ampliação do quadro de servidores (contratação de duas assistentes sociais). A ampliação do programa, no entanto, requer mais do que a ampliação de vagas. Necessita-se reestruturação da infraestrutura e dos serviços, além da ampliação de outros serviços afins da universidade.

Ocorre que a atual estrutura logística do Programa de Residência não foi redimensionada para a ampliação de vagas, e os outros setores da universidade que têm relação direta com a acomodação dos estudantes também não (prefeituras, almoxarifado, zeladoria, segurança etc.). Serviços de pequena complexidade, como a retirada de material inservível, serviço de limpeza, dedetização, conserto, reformas, reparos e troca de material, demoram meses para serem realizados.

O processo seletivo também se torna moroso por não haver profissionais suficientes, as salas não possuírem estrutura para atendimento e não haver disponibilidade de carros adequados para a realização das visitas domiciliares, que muitas vezes ocorrem em locais de acesso difícil.

Todos esses fatores, presentes na fala dos estudantes pesquisados, relevam que há muito a ser feito, e que, embora haja mais de 400 vagas nas residências, não

196

O quadro atual de vagas em breve se tornará obsoleto, se de fato ocorrer, nos próximos semestres, maior

há estrutura para acomodar e acompanhar devidamente todos estes estudantes, que são negligenciados em suas necessidades fundamentais, como o acompanhamento pedagógico e psicológico, a prevenção e combate ao uso de álcool e outras drogas, realização de atividades educacionais e de lazer etc.

Percebe-se aí uma grande falha do REUNI: a ampliação de vagas sem a criação de uma estrutura que dê suporte adequado à demanda, fato que se reflete no Programa de Residência Universitária, mas que está presente em toda Instituição, como por exemplo, não existir moradia universitária nos campi do interior, e este serviço ser substituído por auxílio financeiro; sendo que a concessão desse auxílio não é feita por uma equipe de assistentes sociais ou por grupo preparado para isso, mas por profissionais de outras áreas que acabam absorvendo este trabalho, conforme já relatamos.

Enfim, os direitos dos estudantes ainda são muito negligenciados, e é necessária uma forte mobilização da comunidade acadêmica como um todo, para que essa realidade possa ser transformada.

Ademais, é preciso situar o problema das moradias universitárias no contexto da contrarreforma do ensino superior, como já alertamos. A contrarreforma prioriza quantidade e produtividade ao gosto do mercado.

Ampliando nosso raio de análise, a contrarreforma do ensino superior, sob a compreensão da totalidade social, é estratégia indelével do capitalismo em crise, que busca, mediante ajustes do Estado, a contrarreforma de suas instituições.