• Nenhum resultado encontrado

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.6 Leitura e Escrita

56

Podemos considerar a leitura e a escrita duas tecnologias que se relacionam. Embora seus processos sejam diferentes, elas estão intimamente ligadas, pois há uma relação de dependência entre elas. Ao interpretar a leitura e a escrita sob um ponto de vista cognitivo é importante destacar a competência metacognitiva como característica relevante no estágio em que se encontram os alunos do Ensino Médio, pois essa competência requer a reflexão sobre a construção linguística dos textos. Como destacam Maluf, Zanella e Pagnez (2006, p. 68 apud MUNIZ e MITJÁNS MARTÍNEZ, 2013, p. 956), consiste em “[...] um objetivo básico a ser alcançado na fase inicial de escolarização e dele depende o sucesso da aprendizagem escolar nas fases posteriores.”. Assim, o aspecto que envolve a reflexão acerca dos recursos linguísticos apresentados no texto ocorre em toda etapa de leitura e escrita e contribui para o desenvolvimento das habilidades envolvidas nessas atividades.

Os estudos sobre leitura e escrita concentram-se no processo de aquisição, portanto partem das peculiaridades da fase inicial desses processos: ou em crianças em fase de alfabetização, ou em adultos também em alfabetização. Porém essas habilidades se desenvolvem com a prática e vão atingindo outros estágios. O exercício desses processos, tanto da leitura quanto da escrita, vai permitir ao leitor/escritor desenvolver mais autonomia. Como pontua Bernardin (2003), “[...] a prática da escrita não só influi sobre as competências, mas também sobre a relação com a língua, com o saber, com o mundo circundante.” (BERNARDIN, 2003, p. 190 apud MUNIZ; MITJÁNS MARTÍNEZ, 2013, p. 961).

Além da abordagem cognitiva, a abordagem interativa considera que o fator histórico cultural também determinante no processo de leitura e escrita, visto que relaciona ao processo metalinguístico, às experiências com o mundo e com o outro.

Muniz e Mitjáns Martínez (2013) apresentam em seu trabalho pesquisas que envolvem a leitura e a escrita e destacam que nesse viés faltam trabalhos que investiguem como as experiências subjetivas interferem no aprendizado de leitura e escrita. Apresentam também o silenciamento que pode ocorrer nas aulas de alfabetização quando a criança não entende as diferenças entre a sua língua e a que a escola determina, gerando, além do silenciamento, o apagamento dos conhecimentos que ela acumulou, muitas vezes negado na

57

escola. Essa ação pode resultar em conflitos que vão interferir em todo o processo de aprendizagem dos alunos e ter reflexo em todo o período escolar.

Franco (2002), em pesquisa de mestrado, apresenta como a participação dos alunos em salas de alfabetização muitas vezes é silenciada, dentre outros motivos, pelo confronto com a própria linguagem escolar em relação àquela que estão acostumados a utilizar. Ressalta em suas conclusões a importância do incentivo do professor à participação dos alunos em debates, contribuindo com a alfabetização. (MUNIZ; MITJÁNS MARTÍNEZ, 2013, p. 968).

O incentivo do professor e o trabalho de mediação no aprendizado de leitura e escrita são fatores que tendem a inibir o silenciamento, O trabalho com leitura e escrita na perspectiva do letramento, no entanto, contribui para envolver o sujeito nessas práticas de forma que lhe cause menos desconforto, pois o letramento considera o aprendizado por meio das práticas sociais. Alfabetização e letramento, então, devem ser considerados simultaneamente, pois, como aponta Soares,

alfabetização e letramento são processos diferentes, mas indissociáveis; embora se diferenciem quanto às habilidades cognitivas que envolvem, e, consequentemente, impliquem formas diferentes de aprendizagem, são processos simultâneos e interdependentes. (SOARES, 2010, p. 61 apud MUNIZ E MITJÁNS MARTÍNEZ, 2013, p. 969)

Na perspectiva do letramento, consideramos as práticas de leitura e escrita como ferramentas importantes para o exercício da cidadania. Dessa forma, o exercício da leitura e da escrita devem estar associados a contextos de situações reais, possíveis no cotidiano.

Sobre a leitura e escrita no Ensino Fundamental, Flôres (2016) destaca que a linguagem utilizada pelo aluno nem sempre coincide com aquela ensinada na escola e que a oralidade, modalidade mais utilizada pelos alunos, é pouco explorada. Isso favorece a dificuldade em leitura e escrita.

Como a fala popular tem marcas bastante distintas daquelas dos dialetos cultos, sobretudo, dos textos escritos que circulam no meio escolar, os problemas de incompatibilidade emergem já de início. Assim, se a experiência de leitura/escrita do aluno for pequena, sua fala e sua escrita vão traduzir seu desconhecimento dos gêneros escritos por vezes utilizados em situações sociais com que se defronta fora de seu grupo comunitário, e, na certa, também, do modo como a modalidade da língua mobilizada nesses casos pode ser

58 utilizada nos diversos nichos sociais com os quais ainda não teve contato. (FLÔRES, 2016, p. 43)

O trabalho de leitura e escrita com variados gêneros que circulam na sociedade é fundamental para dar maior familiaridade ao leitor/escritor. Dessa forma, faz-se necessário cambiar os textos e a linguagem apresentada pelos estudantes mostrando a finalidade, o objetivo, o público alvo e a utilidade do texto na sociedade para que se perceba o valor social da leitura e da escrita. Então, essa prática passa a ter mais sentido.

Flôres (2016) afirma que o ato de ler é dialógico e a proficiência e compreensão se alteram com o tempo. Essa implicação está diretamente relacionada ao conhecimento prévio, que contribui para a compreensão da leitura e se modifica constantemente. Nessa perspectiva, a compreensão melhora à medida que mais se acumula saberes.

A autora ainda destaca que a dificuldade em leitura/escrita nos anos iniciais de alfabetização e a falta de prática dessas atividades nos anos subsequentes podem ser determinantes na formação do não leitor “pois essa dificuldade tende a fixar-se, a expandir-se e a acompanhar o leitor durante toda a vida.” (FLÔRES, 2016, p.46)

A leitura e a escrita, como já mencionado, não precisam ser entendidas juntas, porém são atividades complementares. A leitura pressupõe um texto escrito e a escrita pressupõe um leitor. O desenvolvimento dessas atividades não acontece simultaneamente, sendo que o sujeito pode desenvolver mais em uma habilidade que em outra. Sabe-se, no entanto, que a prática de leitura contribui para o desenvolvimento da escrita, e a escrita melhora se houver maior bagagem de leitura.

59

Documentos relacionados